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As iniciativas existentes para o desenvolvimento de atividades de aprendizagem baseadas na mobilidade evidenciam o interesse sobre o assunto. Estudantes demonstram interesse em aproveitar tempos de deslocamento para estudar, e educadores demonstram interesse em investigar novas formas de promover a aprendizagem. Koole (2009) aponta como benefícios da aprendizagem móvel as possibilidades de melhorar a codificação, descoberta e transferência do conhecimento. Isso ocorre devido à capacidade de prover acesso a conteúdos em múltiplos formatos, que contribuem para destacar o contexto e o uso da informação no ambiente real e em situações autênticas de aprendizagem. Contudo, segundo Peters (2008), a aprendizagem móvel é também vista por alguns como um modismo, uma ameaça, e limitada a responder às necessidades de aprendizagem de trabalhadores com pouco tempo disponível para o estudo. Assim, além das potencialidades atrativas que aprendizagem em movimento pode prover, é também importante compreender quais são os limites inerentes a esta forma de aprender.

Orr (2010) destaca que algumas limitações para a aprendizagem com mobilidade são similares às existentes na educação a distância, em que há pouco contato entre estudantes e professor, há isolamento do estudante e também problemas de suporte técnico. Mas há também

outras limitações específicas, que estão relacionadas principalmente com o tamanho do dispositivo, as limitações de conectividade, a usabilidade, a carência de aplicações disponíveis para os dispositivos e as dificuldades de atenção do usuário quando em movimento.

A seguir são relacionadas as limitações destacadas por Orr (2010), Hashemi et al. (2011) e Korucu e Alkan (2011):

a) pequena tela dos dispositivos, o que causa limitações na apresentação de conteúdos com qualidade e conforto;

b) capacidade de armazenamento limitada; c) limitada duração da bateria;

d) falta de um sistema operacional padrão para os dispositivos; e) falta de um hardware padrão, o que dificulta o desenvolvimento de

conteúdo para todos os tipos de dispositivos;

f) menor robustez do dispositivo, se comparado aos computadores tradicionais;

g) limitação dos recursos de entrada de dados, o que dificulta o engajamento do estudante em atividades mediadas pela tecnologia; h) dificuldades para processar mídias gráficas e com movimento; i) potencial de expansão da capacidade dos dispositivos é limitado; j) os dispositivos se tornam obsoletos rapidamente;

k) largura de banda ainda é limitada e pode degradar se houver grande numero de usuários;

l) dispositivos apresentam poucos recursos para impressão;

m) alta dependência de conectividade com servidores uma vez que muitas aplicações móveis pressupõem utilização de recursos de computação em nuvem;

n) o desenvolvimento de aplicações para dispositivos móveis é ainda muito inferior ao disponível nos computadores tradicionais;

o) dificuldade de desenvolvimento de aplicações para rodar em dispositivos de múltiplas plataformas;

p) tendência para desenvolvimento de aplicações empobrecidas para poder rodar em múltiplas plataformas;

q) tendência do usuário realizar múltiplas tarefas quando está em movimento, o que gera dificuldade de atenção e baixa aprendizagem;

r) alto custo da transmissão de dados por dispositivos móveis.

Observa-se que algumas limitações apontadas podem ser transitórias

Estas limitações estão principalmente concentradas em aspectos tecnológicos e se configuram como obstáculos, principalmente quando comparadas com outras tecnologias aplicáveis na educação. Porém,

algumas limitações podem ser transitórias haja vista que este tipo de tecnologia tem sofrido significativa e frequente atualização. Este é o caso, por exemplo, da capacidade de memória, de processamento e de bateria dos dispositivos móveis, que são limitadas se comparadas aos computadores tradicionais, mas podem ter avançado o suficiente para apoiar tarefas a serem executadas em movimento. O uso a ser feito pode, então, amenizar as limitações desde que seja adequadamente concebido. Segundo Romiszowski (2004), o sucesso de uma iniciativa educacional baseada em tecnologia não depende do que é feito e sim de como ela é realizada, independente da tecnologia adotada.

De modo similar, Ting (2012) diagnosticou que se houver um design apropriado, as dificuldades impostas pela tecnologia podem ser superadas de modo propiciar um espectro mais amplo de atividades baseadas na mobilidade. Por isso, Kukulska-Hulme (2009b) aponta como desafio o discernimento sobre quais são as atividades que funcionam melhor em ambientes presenciais e quais funcionam melhor no ambiente por onde o estudante circula, e ainda, no modo como elas estão inter-relacionadas.

Terras e Ramsay (2012) abordam limitações da aprendizagem com mobilidade por outro ângulo, mais centrado nos aspectos psicológicos do indivíduo que aprende. Neste sentido, destacam aspectos de natureza comportamental e cognitiva que podem ser determinantes do sucesso ou não da aprendizagem. Tais aspectos estão relacionados com o fato de que o estudante, com seu dispositivo, passa a ter a possibilidade de realizar atividades de aprendizagem em qualquer lugar, ou seja, em lugares que não são propriamente preparados para a aprendizagem. Assim, se por um lado o acesso ampliado é uma força, também apresenta desafios psicológicos que precisam ser enfrentados (TERRAS; RAMSAY, 2012).

As capacidades cognitivas, memória, conhecimentos prévios, emoções e motivações do estudante são aspectos relevantes para a aprendizagem com mobilidade. Tal afirmação baseia-se na compreensão de que o conhecimento prévio, a capacidade intelectual, a motivação e o estado emocional têm um impacto significativo sobre a codificação, retenção e transferência da informação (KOOLE, 2009). A capacidade humana de prestar atenção, de relembrar, de processar informações, de responder a estímulos, a destreza manual e os modelos mentais do indivíduo são determinantes para o uso da tecnologia (TERRAS; RAMSAY, 2012).

Assim, Terras e Ramsay (2012) identificaram cinco desafios comportamentais e cognitivos que precisam ser compreendidos e

enfrentados para que se possa promover atividades de aprendizagem com mobilidade bem sucedidas. São eles:

a) A memória é dependente do contexto: A memória exerce um papel chave na aprendizagem e o fato dela ser dependente do contexto é aspecto relevante para a aprendizagem móvel. Processos de codificação e recuperação da memória são afetados pelo estado fisiológico, emocional e motivacional dos indivíduos. Além disso, quando a codificação e a recuperação de uma memória acontecem no mesmo contexto, o processo de memorização é de qualidade superior. Tais aspectos têm implicações sobre a aprendizagem móvel, pois a mobilidade pode provocar ruptura no papel apoiador que o contexto pode ter nos processos de codificação e resgate das memórias, influenciando assim na capacidade de memorização dos indivíduos. Por isso, os autores recomendam que o desenho das atividades de aprendizagem acomodem essas necessidades.

b) Os recursos cognitivos humanos são finitos: o sistema cognitivo humano tem limitações quanto à sua capacidade de memorização e de aprendizagem. Tais limites são estabelecidos pela limitada capacidade de atenção e de memória de trabalho do ser humano, que são desafiados pela movimentação do estudante. O estudante em movimento precisa ter melhores habilidades para inibir os estímulos indesejáveis e desenvolver um nível superior de controle sobre sua atenção em ambientes que não foram especialmente concebidos para a aprendizagem. Ambientes ruidosos, distrações provocadas pelas mídias sociais e interrupções impõem demandas adicionais sobre a capacidade de atenção do estudante. É crucial que o estudante em movimento não seja vítima de tais distrações, que podem minar seus recursos finitos de atenção e degradar sua experiência de aprendizagem. O estudante em movimento está também mais vulnerável a interrupções não solicitadas que ocorrem mais facilmente em ambientes públicos e não controlados. Para retomar sua atividade após uma interrupção, o estudante precisa relembrar seu propósito original, relembrar em que ponto estava na execução de sua tarefa e ainda estar motivado para retomá-la. A carga cognitiva à qual o indivíduo é submetido tem também papel importante sobre sua capacidade de atenção e aprendizagem. A pressão exercida por uma carga cognitiva excessiva, oriunda de tarefas complexas e do modo como esta é apresentada, pode ser determinante no sucesso ou não da atividade de aprendizagem. c) A cognição é distribuída e a aprendizagem situada: a cognição

compartilhamento de modelos mentais e representações sociais do mundo, de modo que a cognição está distribuída através de pessoas, artefatos e representações compartilhadas. Além disso, a aprendizagem é situada, o que significa que o aprendiz continuamente constrói, reordena e rearranja seus conhecimentos enquanto interage com os recursos educacionais. À medida que a aprendizagem se dá, cada vez mais interconectada por recursos da web 2.0, o estudante está mais exposto a um grande volume de contextos que podem ser fontes de recursos para compreender as coisas. Isso se dá por meio das interações em mídias sociais ou pelos estímulos cada vez mais abundantes do ambiente. Porém, nem todas as interações com indivíduos ou outros estímulos ambientais são relevantes para seu processo de aprendizagem. Por isso, o desafio do estudante está em desenvolver habilidades que lhe permitam discernir o que é relevante e filtrar o que não tem valor para a aprendizagem.

d) A metacognição é essencial para a aprendizagem com mobilidade: para que os dispositivos móveis se tornem realmente artefatos de aprendizagem, o estudante em movimento necessita ter consciência de como aprende, ser sensível para as demandas envolvidas no estudo em movimento e saber como gerenciar este processo. Por isso, precisa desenvolver habilidades metacognitivas que lhe permitam resistir às interrupções do ambiente, processar e reter informações, organizar e realizar tarefas, controlar a atenção, inibir comportamentos. Em contextos de aprendizagem móvel é crucial que o indivíduo seja capaz de realizar seu automonitoramento e autogestão para ser bem sucedido. Neste sentido, tornam-se importantes as iniciativas de apoiar os estudantes no desenvolvimento de suas habilidades metacognitivas que o capacitem para a aprendizagem em movimento.

e) As diferenças individuais são importantes: as particularidades de cada indivíduo são determinantes no uso que este faz da tecnologia. As razões que levam um indivíduo a intencionalmente adotar tecnologias móveis como recursos de aprendizagem variam conforme sua idade, habilidades, gênero, modalidade de ensino em que está inserido e outros aspectos que ainda carecem ser completamente entendidos. A compreensão dos fatores motivadores para a adoção pode ajudar no desenvolvimento de atividades de aprendizagem que maximizem as possibilidades de aprendizagem baseada na mobilidade. É importante, então, reconhecer as diversas formas que a tecnologia pode ser usada, e para que haja um uso bem

sucedido, o estudante precisa também compreender como a tecnologia pode apoiá-lo e qual o seu papel pedagógico.

Segundo Ting (2012), as limitações de atenção podem ser parcialmente superadas por meio de uma adequada exploração do contexto em que o estudante está inserido no momento da experiência de aprendizagem. Em atividades contextualizadas, a significância da experiência vivida pode compensar as possíveis distrações e desvios de atenção que o estudante pode ter quando em movimento.

As limitações da aprendizagem móvel podem também estar relacionadas às condições sociais e culturais em que os estudantes estão imersos. Apesar do movimento de expansão e crescimento da disseminação das tecnologias móveis, há ainda grandes desafios relacionados às oportunidades de acesso e disseminação mais ampla dessas tecnologias. As diferenças de oportunidade de acesso são evidentes e variam conforme as diferentes classes sociais e o nível de desenvolvimento dos países. Terras e Ramsay (2012) destacam as limitações impostas pela exclusão digital, tanto em termos de acesso à tecnologia e infraestrutura de comunicação quanto das oportunidades educacionais que permitem o desenvolvimento das habilidades necessárias para lidar com a tecnologia. Neste sentido, apontam que o potencial educacional da tecnologia se realizará plenamente somente quando as carências de recursos físicos e educacionais forem sanados.

Para identificar caminhos para a superação das limitações e obstáculos que desafiam as atividades de aprendizagem móvel, estudos científicos têm sido desenvolvidos de modo a compreender em maior profundidade os fatores que motivam os estudantes a adoção dos dispositivos móveis em atividades de aprendizagem. Esta questão é abordada no item a seguir.