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Pachler (2009) aponta a aprendizagem móvel como tema em amadurecimento na academia. Este processo de maturação se evidencia pelo número crescente de estudos publicados em revistas e congressos, assim como a emergência de frameworks teóricos que buscam explicar os complexos processos e aspectos relacionados a este campo de estudos.

Com o intuito de delinear o cenário da pesquisa sobre aprendizagem móvel, Mülbert e Pereira (2011) realizaram levantamento sistemático de publicações científicas disponíveis na Base de Dados Scopus, que indexa trabalhos multidisciplinares de significativa representatividade no cenário internacional. Nesta investigação o tema mobile learning aparece pela primeira vez em uma publicação científica em 2001. A primeira referência foi encontrada em dois artigos da Revista T and D, da Sociedade Americana de Treinamento e Desenvolvimento. Nela Abernathy (2001) e Powell (2001) usaram o

termo para apresentar a tendência e o potencial futuro da aprendizagem viabilizada por meio de dispositivos móveis e destacaram as vantagens de estudar em qualquer lugar e a qualquer tempo. O foco destes trabalhos está nos benefícios para as organizações e indivíduos na capacitação continuada mediada por dispositivos móveis, mas limita-se a destacar seu potencial sem esclarecer como isso seria feito.

No ano seguinte, em 2002, são publicados os dois primeiros artigos apresentados em eventos científicos. Lo et al. (2002) apresentaram uma técnica para incrementar a interação e comunicação entre professor e alunos em uma plataforma de m-learning usando multiagentes. Este artigo enfoca aspectos computacionais e está associado mais à tecnologia do que à aprendizagem em si. Sharples (2002), no mesmo ano, apresenta uma teoria sobre a aprendizagem conversacional que visa trazer recomendações sobre o desenvolvimento de tecnologias móveis mais adequadas à aprendizagem. Esta publicação tem enfoque mais educacional do que tecnológico. A partir de 2004 começa a crescer de modo mais expressivo o número de publicações sobre o tema. A Figura 3 apresenta a quantidade de trabalhos publicados sobre o tema na base de dados Scopus. Verificou-se, portanto, que a evolução do tema, se comparada com outras áreas de pesquisa, é bastante recente.

Figura 3 - Total de publicações científicas na base de dados Scopus sobre m- learning, de 2002 a 2011

Fonte: Mülbert e Pereira (2011).

Mülbert e Pereira (2011) evidenciaram a associação do tema da aprendizagem móvel com estudos sobre educação a distância, pois 24%

2 2 12 47 75 102 154 198 253 435 374 0 100 200 300 400 500 2002 2001 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

dos trabalhos analisados tinham como palavras-chave a duas temáticas ao mesmo tempo. Também observaram que significativa parcela das publicações está associada a três áreas de conhecimento: Ciência da Computação (66,7%), Engenharia (33,1%) e Ciências Sociais (33,1%). O tema tem sido, portanto, mais abordado pelas áreas tecnológicas do que as sociais e humanísticas. A tônica dos trabalhos relacionados às ciências da computação e engenharia refere-se ao desenvolvimento de aplicações, infraestruturas, arquiteturas e protótipos de hardware e softwares para a implementação de tecnologias móveis em contextos educacionais. Diversos são os estudos de caso publicados relatando o uso de telefones celulares e outros dispositivos de mão (handhelds, palmtops, etc) em ambientes educacionais formais e informais. Tais resultados evidenciam a ênfase tecnológica que o tema tem recebido bem como a concentração em estudos experimentais.

Também em estudo sistemático sobre as publicações científicas no período de 2001 a 2010, Hwang e Tsai (2011) apontaram para o rápido crescimento das publicações na primeira década deste milênio. É notória a liderança, a partir de 2005, de Taiwan como o país com maior número de publicações, fato este claramente relacionado a políticas e programas de educação a distância fomentados pelo governo daquele país.

Wu et al. (2012) realizaram meta-análise de publicações científicas sobre aprendizagem móvel, também no período de 2001 a 2010, e apontaram sete tendências da pesquisa nesta área:

a) parte bastante significativa dos estudos tem buscado investigar aspectos da eficácia da aprendizagem baseada na mobilidade. É também significativo o número de trabalhos que apresentam o projeto de sistemas para aprendizagem móvel;

b) métodos experimentais e surveys são os métodos de pesquisa mais utilizados;

c) os resultados de pesquisa obtidos são significativamente positivos; d) telefones e PDAs foram os dispositivos mais comumente adotados

(até 2010), mas estes podem ser substituídos no futuro por tecnologias emergentes;

e) a aprendizagem móvel prevalece no ensino superior;

f) a aprendizagem móvel apoia estudantes principalmente de estudos profissionalizantes ou na área de ciências aplicadas, seguidos pelas áreas de humanas e ciências formais;

g) os artigos mais citados são dedicados ao projeto de sistemas seguidos pelos estudos de eficácia.

Rushby (2012), editor da British Journal of Educational Technology, corrobora com algumas dessas tendências ao afirmar que grande maioria dos artigos sobre aprendizagem móvel recebidos pelas revistas científicas focalizam aspectos relacionados à aceitação da tecnologia pelos usuários. Estes estudos utilizam pequenas amostras, baseiam-se na percepção do usuário sobre sua participação nos experimentos e apresentam como resultados discreta melhora na aprendizagem. Contudo, o editor afirma que para o desenvolvimento futuro do tema, tais estudos tendem a não contribuir mais para a ampliação do conhecimento que já se tem sobre aprendizagem móvel. Para ampliar o conhecimento no tema é preciso desenvolver pesquisas que aprofundem aspectos educacionais, econômicos e sociais da aprendizagem móvel, ou ainda que mostrem como e porquê as aplicações podem falhar ou frustrar expectativas.

Assim sendo, Rushby (2012) propõe que a agenda da pesquisa sobre aprendizagem móvel seja dividida em quatro áreas: a) as questões pedagógicas; b) as questões administrativas, c) os desafios tecnológicos; e d) os resultados e impactos das aplicações de m-learning. Destaca também que estes estudos devem contribuir para a compreensão sobre a sustentabilidade das iniciativas de aprendizagem móvel, de modo a esclarecer se a temática é ou não um modismo. Nas questões pedagógicas o editor exemplifica com tópicos como: processos cognitivos do sujeito em movimento, estilos de aprendizagem em contextos de mobilidade, a concentração na aprendizagem em movimento e outros. Na área administrativa destaca a necessidade de compreender o gerenciamento da oferta da aprendizagem móvel em larga escala, ou seja, para um grande número de alunos com uso concomitante. Na área tecnológica, destaca aspectos como a apresentação da informação em pequenas telas, a latência na entrega de mensagens de texto, o design de sistemas móveis para acesso concorrente em larga escala, questões de infraestrutura como custo de largura de banda, tamanhos de tela, variados sistemas operacionais e tecnologias para desenvolvimento de objetos multimídia (RUSHBY, 2012).

Caudill (2010) também analisa o cenário da pesquisa sobre m- learning e destaca que há vários aspectos importantes a serem pesquisados sobre este tema. Dentre eles destaca a necessidade de investigar sobre como as ferramentas de aprendizagem baseadas na mobilidade podem ser integradas aos sistemas educacionais formais. Isso significa ir além de encontrar modos de disponibilizar hardware, software ou tecnologias de rede aos estudantes. Significa encontrar

caminhos para integrar esses recursos em sistemas educacionais de modo a suplementar as metodologias existentes e prover ferramentas melhores para apoiar a experiência do estudante.

Segundo Kukulska-Hulme (2009a), à medida que o tema da aprendizagem móvel amadurece e se torna mais integrado aos processos educacionais, desenvolve-se a identidade de um novo campo de pesquisa com características e interesses específicos. Neste sentido, é natural que inicialmente a pesquisa sobre m-learning incorpore abordagens de pesquisa de outras áreas temáticas afins, mas que aos poucos identifique seus próprios desafios e dificuldades. Sobre a pesquisa em m-learning a autora destaca alguns aspectos específicos da pesquisa sobre o tema que já estão evidentes:

a) a pesquisa deve estar em sintonia com um novo modo de pensar a aprendizagem, pois a mobilidade muda o quê, quando e como se aprende;

b) a pesquisa deve considerar o impacto do contexto, pois o cenário onde ocorre a aprendizagem exerce significativa influência;

c) a pesquisa deve considerar diferentes tipos de dados e análise. Em diferentes e múltiplos contextos a captura de dados pode envolver dados espaciais, temporais, do estudante, etc., demandando também múltiplos tipos de análise;

d) é conveniente que a pesquisa envolva o estudante como coparticipante, com participação ativa na pesquisa e como um sujeito que colabora com o design das atividades de aprendizagem.

Apesar de haver um evidente crescimento do interesse no tema e uma predisposição a caracterizar as iniciativas de aprendizagem móvel como positivas, o trabalho científico, por natureza, demanda visão crítica e fundamentada dos fenômenos. Neste sentido, Wright e Parchoma (2011) realizaram análise crítica da literatura cientifica sobre aprendizagem com mobilidade e identificaram diferentes discursos permeando os trabalhos publicados. O discurso mais frequente e predominante é o dos defensores do uso das tecnologias móveis na educação, que pode ser encontrado nos estudos que apresentam as tecnologias móveis como artefatos educacionais por meio dos quais é possível aprender. Contudo, há também outros tipos de discursos. Há o discurso encontrado nos estudos que se posicionam contra as mudanças e rupturas causadas pela tecnologia, e também o dos estudos que apontam a tecnologia como instrumento político, abordando questões sobre (des)igualdade de acesso e potencial de emancipação dos indivíduos. Em relação ao discurso predominante dos defensores do uso educacional das tecnologias móveis, os autores observaram que os

estudos focalizam e enaltecem os aspectos positivos da aprendizagem móvel e dão menor ou quase nenhuma atenção a aspectos negativos como limitações e barreiras de estudar em movimento. A análise crítica feita por esses autores destaca também que as pesquisas realizadas sobre artefatos e experiências de aprendizagem com mobilidade são, em sua maioria, baseadas em tecnologias selecionadas e controladas pelos pesquisadores. Há poucas pesquisas que enfocam a adoção/escolha espontânea das tecnologias pelos estudantes. Dessa forma, perde-se a possibilidade de investigar contextos autênticos e com aprendizagem situada no contexto onde o estudante está naturalmente inserido.

Verifica-se que a pesquisa sobre aprendizagem móvel é um campo emergente e complexo. Precisa expandir-se para extrapolar os estudos limitados a pequenos experimentos e com foco disciplinar. Além disso, a pesquisa sobre aprendizagem móvel traz consigo também o desafio de contribuir para o desenvolvimento de novos modos de aprendizagem, que não são mais sustentados pelos paradigmas do ensino tradicional.

2.6 LIMITAÇÕES E DESAFIOS DA APRENDIZAGEM COM