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3 GESTÃO AMBIENTAL

3.1 A importância da gestão ambiental nas organizações

As organizações visam o lucro e a rentabilidade como razão primeira de sua existência e encontram, no atendimento às necessidades dos clientes, o caminho principal para o atingimento desse lucro. No mundo dos negócios atual, a sociedade cobra das organizações uma política de gestão sócio-ambiental, de forma a intensificar o consumo de produtos ambientalmente corretos, ou seja, produtos e serviços projetados para causar o menor impacto possível ao meio ambiente (COELHO, et al., 2008).

Ottman (1994) apud Epelbaum (2004, p. 23) analisa que a mudança do comportamento da sociedade e dos consumidores, afirmando que passaram a buscar uma visão de longo prazo, uma experiência coletiva (mais do que individual) e a qualidade no consumo acima da quantidade (“menos é mais”).

Ballestero-Alvarez (2010, p. 15) defende que “não se entenda mais que o desenvolvimento econômico seja conseguido à custa da qualidade de vida e da destruição da Terra. É possível conciliar os interesses do crescimento econômico com a justiça social, a prudência ecológica e a ética profissional.”

Segundo Barry e Rondinelli (1998, p. 38), o mundo passa por uma nova Revolução Industrial e, devido às pressões exercidas pelo mercado, as organizações necessitam atuar de forma proativa quanto ao gerenciamento do meio ambiente e dos recursos naturais. “A sustentabilidade ambiental consiste em um novo valor que deve ser adotado pelas multinacionais para que possam se tornar mais competitivas em bem sucedidas.”

No âmbito da gestão empresarial, o termo sustentabilidade é constantemente referido como a perpetuação de condições favoráveis à organização. Além disso, a esse conceito são incorporadas, por meio da visão sistêmica, as dimensões social e ecológica, para que se forme um conhecimento mais amplo sobre os objetivos econômicos dessas empresas e a necessidade dos consumidores (FARIA, 2008; EPELBAUM, 2004).

Na definição de Barbieri (2007, p. 25) a gestão ambiental se constitui nas: “diretrizes e nas atividades administrativas e operacionais, como, planejamento, direção, controle, alocação de recursos e outras realizadas com o objetivo de obter efeitos positivos causados pelas ações humanas, ou evitando que eles surjam”.

Para Epelbaum (2004, p. 48) “a gestão ambiental é entendida como a parte da gestão empresarial que cuida da identificação, avaliação, controle, monitoramento e redução dos impactos ambientais a níveis pré-definidos.”

A expressão “impacto ambiental” é conceituada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) no âmbito da Resolução n°. 01/86 como sendo “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas.”

Reforçando esse conceito, Almeida (2009, p. 1) define a gestão ambiental como:

O processo de articulação das ações dos diferentes agentes sociais que interagem em um dado espaço com vistas a garantir a adequação dos meios de exploração dos recursos ambientais – naturais, econômicos e sócio-culturais – às especificações do meio ambiente, com base em princípios e diretrizes previamente acordados/definidos.

Essa preocupação dos consumidores com o ambiente é fator determinante para a decisão de compra nas relações comerciais modernas e tem se intensificado cada vez mais, devido à freqüência de eventos ambientais (terremotos, maremotos, enchentes e mudanças climáticas), impactando fortemente na sobrevivência das pessoas em todos os locais do planeta.

Essa nova “consciência ambiental” da sociedade tem direcionado a busca das organizações por métodos e técnicas de operações de produção que preservem os recursos

naturais e/ou diminuam o impacto gerado pelo seu processo produtivo, como forma de melhorar sua vantagem competitiva e a imagem relacionada aos seus produtos e serviços (ALMEIDA, 2009; NASCIMENTO; LEMOS; MELLO, 2008).

Sob esse mesmo enfoque, Sanches (2000, p. 77) ressalta que “as empresas industriais que procuram se manter competitivas percebem cada vez mais que, diante das questões ambientais, são exigidas novas posturas, num processo de renovação contínua.” Nesse sentido, a gestão ambiental pode ser interpretada como a ciência que busca identificar, avaliar e controlar a redução dos impactos ambientais e desenvolver estratégias para a preservação dos recursos naturais.

Porter e Linde (1995) defendem que as organizações devem investir em inovação para alcançar a um patamar de destaque quanto à competitividade ambiental, em face das pressões exercidas pelos stakeholders e principalmente devido às fiscalizações dos governos quanto à regulamentação ambiental. Daí, muitas organizações têm se preocupado não apenas em atender ás exigências governamentais, mas também em adotar práticas de competitividade ambiental. Entendem que para se tornarem realmente competitivas necessitam desenvolver estratégias inovadoras para a redução da poluição e dos desperdícios, atuando de maneira mais produtiva como forma de oferecer aos clientes uma solução ambiental sustentável, buscando se posicionar em um patamar de alta competitividade.

A estratégia de diferenciação consiste da capacidade de uma empresa destacar-se da concorrência, atuando de forma única em alguma área de interesse para os compradores (PORTER, 1989). Desta forma a organização desenvolve uma série de ações junto ao seu processo produtivo para oferecer aos clientes, produtos e serviços específicos e diferentes dos que já são ofertados no mercado. Assim aumenta o valor agregado dos produtos, e melhora a qualidade percebida pelos consumidores.

Na visão de Porter (1989 p. 111-113):

Uma empresa diferencia-se da concorrência, quando oferece alguma coisa singular valiosa para os compradores além de simplesmente oferecer um preço baixo. A diferenciação permite que a empresa peça um preço-prêmio, venda um maior volume do seu produto por determinado preço ou obtenha benefícios equivalentes, como uma lealdade do comprador durante quedas cíclicas ou sazonais.

Sob esse enfoque a estratégia de diferenciação poderá ser desenvolvida com a implantação de um sistema de gestão ambiental, utilizando-se de métodos e técnicas inerentes a este processo. Assim, os produtos e serviços podem obter um maior valor agregado pela diminuição das emissões atmosféricas, redução dos desperdícios e a utilização de fontes renováveis de energia, além de pela inclusão de matérias-primas recicladas ou reaproveitadas pelo processo produtivo.

A gestão ambiental atualmente é vista pelos consumidores como um fator importante na decisão de compra, sobretudo pela grande quantidade de concorrentes que já desenvolvem uma estratégia ambiental para alcançar uma maior parcela do mercado. Esta estratégia de diferenciação ainda deve se manter sustentável ao longo do tempo, exigindo que a empresa execute suas atividades de modo a garantir a constante inovação e melhoria da qualidade oferecida aos seus consumidores (PORTER, 1989; EPELBAUM, 2004).

A pressão exercida pelos stakeholders, se iniciou com maior incidência na década de 1970, onde diversos países começaram a desenvolver políticas governamentais que tinham como objetivo tratar questões ambientais de forma integrada e baseada na prevenção dos impactos causados pelos processos produtivos de grandes organizações (BARBIERI, 2007).

Historicamente a Conferência de Estocolmo de 1972 foi o ponto inicial nesta iniciativa global para a criação de medidas e acordos multilaterais, buscando a redução dos impactos ambientais e a melhor utilização dos recursos naturais.

Esta ação de gestão ambiental incentivada pelo poder público é denominada como política pública ambiental, que Barbieri (2007, p. 71) a define como “o conjunto de objetivos, diretrizes e instrumentos de ação que o poder público dispõe para produzir efeitos desejáveis sobre o meio ambiente.” Efetiva-se na criação de leis e normas que visam coibir a degradação ambiental, bem como de órgãos governamentais que atuam na fiscalização e autuação de empresas que desrespeitam estas normas.

Outro conceito que, associado aos demais aqui apresentados assume especial importância nos processos operacionais das organizações é de produtividade, caracterizado pela menor utilização de recursos com o intuito de alcançar melhores resultados financeiros. Sua adoção permite que se descortine uma nova maneira de olhar tanto à totalidade dos custos

dos sistemas produtivos como para o nível de valor agregado aos produtos e serviços oferecidos aos consumidores (CORRÊA; CORRÊA, 2005; PORTER, 1989).

Ineficiências no processo produtivo e falta de gerenciamento de recursos são mais óbvias dentro de uma empresa sob a forma de estoques em demasia, não utilização de materiais e falhas nos controles de processo e retrabalho, resultando em gastos desnecessários, alto índice de defeitos e excesso de sobras de produção.

Por outro lado existem outras fontes geradoras de custos escondidas no ciclo de vida do produto, a exemplo de: embalagens descartadas pelos distribuidores ou clientes, que causam desperdícios de recursos e ainda degradam o meio ambiente, se não descartados de forma correta (PORTER; LINDE, 1995).

Desta forma identifica-se que a busca pela melhoria no desempenho ambiental nas organizações realizada por meio da redução dos desperdícios e das emissões atmosféricas, ou ainda de uma melhor combinação de insumos, representará um ganho de energia ou ainda de materiais dentro do processo produtivo, de modo que essas empresas possam transformar as despesas oriundas desse processo de redução em resultados financeiros positivos, seja na redução de custos de produção ou no reaproveitamento dos resíduos e no aumento das possibilidades de reciclagem destes materiais (DONAIRE, 1995).

Os esforços despendidos pelas organizações modernas na melhoria ambiental, ainda negligenciam esses custos nos sistemas. Talvez por isso, mantenham o foco no controle da poluição buscando melhorar a identificação, o tratamento e a eliminação de resíduos, que se caracterizam por abordagens de alto custo.

Recentemente, as empresas mais avançadas quanto a aplicação de práticas ambientais e ainda os agentes reguladores adotaram o conceito de prevenção da poluição, que encontra na redução da fonte poluidora um dos métodos mais eficientes para a limitação do impacto ambiental, ou seja atuando antes que este ocorra. Mas, embora a prevenção da poluição seja um importante passo na direção da competitividade ambiental, as empresas precisam desenvolver a melhoria do sistema ambiental como um todo, tendo como foco a geração da produtividade e a melhor utilização dos recursos (PORTER; LINDE, 1995).

Em complementação aos autores, Nascimento, Lemos e Mello (2008) afirmam que a otimização da função produção estaria intimamente ligada ao sucesso da implantação da gestão ambiental nas organizações, visto que esta função tem como objetivo principal transformar insumos em produtos finais e esse processo, normalmente, ocasiona a geração de resíduos e emissões atmosféricas.

Nesse cenário, observa-se uma crescente necessidade de estruturas organizacionais “enxutas” e flexíveis na busca de obter vantagem competitiva. Para tanto, é necessário que se procure entender todo o contexto em que se desenvolvem as culturas de Produção Enxuta, a fim de possa se adotar uma sistemática que assegure sua implantação, não somente como um modismo, mas, sobretudo, como uma ferramenta de mudança de otimização nos processos produtivos. Por essa razão a área de produção necessita manter seus objetivos alinhados aos objetivos da gestão ambiental ao longo de todo o processo produtivo, reduzindo ao máximo os impactos ambientais (emissões atmosféricas, geração de resíduos sólidos, altos índices de desperdícios), e trazendo resultados financeiros à organização.

As estratégias de gestão ambiental que possuem seus objetivos alinhados aqueles desenvolvidos pela produção enxuta e, buscam a utilização conjunta de métodos e técnicas proeminentes de diferentes estratégias ambientais podem contribuir para elevar o nível de efetividade da produção enxuta. Isso se dá por meio da visão sistêmica que as organizações possuem, contribuindo assim para a redução dos desperdícios e o aumento da produtividade (COELHO et al., 2008).

Na visão de Suzaki (1987) apud Reis e Figueiredo (1995, p. 40), o conceito de desperdício atribuído pela Toyota é definido como: “Será tanto melhor, quanto menos se usa de equipamento, materiais, peças, espaço e tempo de mão-de-obra, de acordo com o absolutamente essencial, para adicionar valor ao produto. Se não for assim, é desperdício.”

Autores como Simons e Mason, (2003) afirmam que, a diminuição dos resíduos e emissões atmosféricas pode ser ocasionada pela utilização da produção enxuta no processo produtivo das organizações industriais. Daí presumir-se que as organizações modernas possam se utilizar de ferramentas da produção enxuta para intensificar o desenvolvimento da gestão ambiental em seus processos produtivos (LEWIS, 2000).