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Este capítulo trata da relação entre as duas temáticas estudadas. (Lean e Green) analisando-se as interações, associações e benefícios advindos da complentaridade da utilização dessas duas práticas no ambiente produtivo das empresas.

Os sistemas organizacionais são compostos por subsistemas de processos internos que estão relacionados entre si. Desta forma as diferentes áreas da empresa realizam atividades específicas, mas todas estão atuando em conjunto em busca de atingir os objetivos estratégicos definidos pela alta administração. Esta relação sistêmica é imprescindível para a realização dos resultados e o controle da operação dos processos organizacionais, visto que toda a organização deve estar engajada em atender às expectativas dos stakeholders e alcançar o melhor desenvolvimento econômico.

Neste contexto Coelho et al. (2008, p. 2) defendem que:

A abordagem sistêmica é vista como vantajosa, por permitir o exame de uma série de sistemas inter-relacionados, por atravessar os limites de departamentos funcionais, e pode ser representada com fidedignidade pelo conceito de meio ambiente. A ênfase está no esforço como um todo através da quebra de barreiras entre as unidades orgânicas.

A abordagem sistêmica desenvolvida pela administração das empresas pode ainda utilizar-se de diferentes estratégias de produção para alcançar melhores resultados operacionais, quando associa as melhoras práticas de diferentes modelos estratégicos em áreas fundamentais da organização. Entende-se que a utilização conjunta das técnicas da produção enxuta e da gestão ambiental pode contribuir, de forma sistêmica para alcançar melhores resultados organizacionais e intensificar o atendimento das necessidades dos clientes.

Porter (1989, p. 15) defende que “cada estratégia genérica é um método fundamentalmente diferente para a criação e a sustentação de uma vantagem competitiva, combinando o tipo de vantagem competitiva que uma empresa busca com o escopo do seu alvo estratégico.” Cada empresa deve definir as atividades que serão realizadas para alcançar estes objetivos, lembrando que em alguns casos, estas estratégias não podem ser adotadas simultaneamente. Em casos específicos uma empresa pode ter condições de criar estratégias empresariais bastante independentes no mesmo ambiente corporativo, de modo que estas

ações não conflitem, possuam objetivos operacionais semelhantes e atuem de forma complementar.

Segundo Porter (1989, p. 15):

A redução de custos nem sempre envolve um sacrifício na diferenciação. Muitas empresas descobriram forma de reduzir os custos não só sem ferir sua diferenciação, mas na verdade os elevando, fazendo uso de práticas que são mais eficientes e efetivas ou empregando uma tecnologia diferente.

Desta forma se uma empresa consegue obter a liderança no custo e na diferenciação simultaneamente, esta obterá maiores benefícios, pois estes serão complementares e o resultado final será a adição dos benefícios das duas estratégias.

Porter (1989, p. 17) ainda defende que “uma empresa deve sempre buscar agressivamente todas as oportunidades de redução de custos que não sacrifiquem a diferenciação.”

Elias e Magalhães (2003) destacam ainda que as ferramentas desenvolvidas pela produção enxuta contribuem para a obtenção dos benefícios ambiental, tecnológico e econômico, pois minimizam a necessidade da utilização de recursos, energia e matéria-prima.

Saurin, Ribeiro e Marodin (2010), “reconhecem que a ênfase da PE na redução de desperdícios é bastante favorável para a redução do impacto ambiental dos sistemas produtivos, havendo amplas oportunidades para a integração dos esforços enxutos e de gestão ambiental.”

Neste cenário busca-se identificar a Produção Enxuta (Lean) como um exemplo de vantagem competitiva de custo, diminuindo os desperdícios no processo produtivo e a Gestão Ambiental (Green) como estratégia de diferenciação pela redução do impacto ambiental ocasionado pelas operações de produção nas organizações.

O Quadro 2 demonstra, por meio de ações práticas, a relação entre o Lean e o Green e a teoria da vantagem competitiva de Porter (1989):

Quadro 2 – Vantagem competitiva do Lean e Green

Produção Enxuta (Lean) Gestão Ambiental (Green) Vantagem de Custo Reduzir os desperdícios (tempo, material,

estrutura física e recursos financeiros). Reduzir o tempo de fabricação.

Realizar uma movimentação que minimiza avarias.

Utilizar lay-out por células de produção. Reduzir os estoques intermediários. Criar formas de baixo custo para executar atividades de valor.

Utilizar fontes renováveis de energia. Realizar a reciclagem ou a reutilização de materiais.

Reduzir o desperdício de energia.

Diferenciação Entrega rápida e no prazo.

Procedimentos de inspeção automatizados. Maior resposta às mudanças nas

especificações.

Possuir certificação ISO 14001. Adquirir matéria-prima ecologicamente correta.

Desenvolver “produtos verdes”. Atuar com logística reversa. Fonte: Adaptado de Porter (1989, p. 168).

A estratégia de performance ambiental tem como objetivo explicar como é possível minimizar os impactos ambientais causados pela atividade produtiva das empresas, bem como a percepção social agregada a estes impactos. Sob esse enfoque, o desempenho ambiental não pode ser considerado independente dos objetivos das operações, visto que estes conceitos em estudo devem atuar de forma complementar e dando suporte mutuamente.

Assim, a performance ambiental deve ser incluída como uma dimensão da estratégia de operações (custo, qualidade, tempo e serviço), visto que esses conceitos são complementares, e onde as empresas que buscam desenvolver estratégias ambientais sustentáveis, também estão contribuindo para melhorar o processo produtivo e a realização dos objetivos de operações (JIMÉNEZ; LORENTE, 2001).

Faria (2008, p. 42) defende que “o desempenho ambiental passa a ser encarado como um novo objetivo da área de operações, além do custo, qualidade, tempo e serviço”, e que para se alcançar um nível ótimo de desenvolvimento sustentável, faz-se necessário o gerenciamento dos recursos materiais e dos processos produtivos que envolvem as operações de manufatura, visando à preservação do meio ambiente e a melhor utilização de matérias- primas, tendo como foco a sustentabilidade da operação.

Pesquisando sobre o assunto, Nishida (2006) realizou um estudo com o objetivo de explorar a ligação entre a produção lean e melhoria de indicadores ambientais, onde identificou que a complementaridade da aplicação destes conceitos facilitava o gerenciamento

de produtos químicos e do lixo gerado pelas empresas estudadas, ocasionando assim, a redução da quantidade de material utilizado e o lixo gerado pelo processo produtivo.

Desta forma, a diminuição do refugo, pela adoção da filosofia lean, melhorou a qualidade dos produtos e ainda reduziu o desperdício em emissões de gases devido aos retrabalhos que antes ocorriam. Nishida (2006, p. 5) ainda destaca que, “os esforços para implementar os conceitos lean em diversos processos visando a melhoria sistêmica poderão beneficiar as empresas também na melhoria das condições do meio ambiente”.

Para Jiménez e Lorente (2001), as empresas que desenvolvem uma política de gestão ambiental, pertencem ao mesmo campo teórico da gestão de operações e que existem pelo menos duas circunstâncias fundamentais onde se identifica esta relação, como segue:

a) as contribuições das empresas para o desenvolvimento sustentável influenciam a interação com os requisitos de produtos e processos industriais, visto que, o desenvolvimento e a implantação de tecnologias ambientais influenciam os custos da área de operações;

b) existem similaridades na sinergia entre as atividades para a proteção ambiental e os programas, métodos e técnicas de operações. Estes programas controlam a poluição buscando reduzir o desperdício (“zero - desperdício”) ou o design de novos produtos (“ambientalmente corretos”), ou seja, que facilitam o seu descarte ao final do uso ou sua reutilização.

Dessa forma, é possível perceber que a produção enxuta deve reduzir o nível de entradas (inputs) de recursos no sistema e aumentar as saídas (outputs), ocasionando assim uma maior produtividade. E a eliminação dos desperdícios é o meio utilizado para alcançar este objetivo (LEWIS, 2000).

O tema gerenciamento ambiental possui uma forte interação com os objetivos de operações nas organizações quando “os esforços para reduzir a poluição e os esforços para maximizar os lucros compartilham dos mesmos princípios básicos, incluindo o uso eficiente de inputs, substituição de materiais e a minimização de atividades desnecessárias” (PORTER; LINDE, 1995, p. 122)

Kleindorfer, Singhal e Wassenhove (2005) apud Pereira et al. (2011, p. 611) defendem que:

Em gestão de operações, tanto pesquisadores quanto organizações têm enfrentado novos desafios para atenderem a uma nova realidade de ordem social e ambiental. A evolução em direção à Gestão de Operações Sustentável envolve três áreas: produtos verdes e desenvolvimento de processos; gestão de operações “Lean and Green”, Remanufatura; e Closed-loop supply chains.

Jabbour (2006) também defende a importância de se considerar a dimensão ambiental como novo objetivo de desempenho da manufatura, devido à sua grande aderência aos processos operacionais das organizações, aos objetivos clássicos de custo, flexibilidade, qualidade e velocidade das entregas. E por isso baseia-se nos estudos de Jiménez e Lorente (2001) e Angell e Klassen (1999) para fomentar sua proposta, quando descreve suas “congêneres competitivas” para caracterizar a importância desta proposta conforme segue:

a) o objetivo de desempenho de custo é potencializado pelas ações de gestão ambiental, que tendem a diminuir os desperdícios, estimular a descoberta de novas matérias-prima, induzindo a reutilização e reciclagem de materiais. Essas medidas ambientais tendem a reduzir o custo por unidade produzida em uma dada empresa;

b) a gestão ambiental proativa possui como conseqüência a mitigação dos impactos ambientais e da eclosão de acidentes ambientais, contribuindo para que os prazos agendados para as entregas de produtos aos consumidores sejam cumpridos;

c) a consideração da dimensão ecológica no desenvolvimento de produtos leva a empresa à prospecção de inovações ambientalmente adequadas, o que pode potencializar a flexibilidade da produção de uma dada empresa;

d) a gestão ambiental proativa incrementa os objetivos da gestão da qualidade, que deve atender aos almejos dos consumidores ambientalmente responsáveis.

Corroborando esses argumentos, Angell e Klassen (1999), que após realizarem uma ampla revisão bibliográfica na literatura internacional, afirmam que a questão ambiental atende aos requisitos necessários para ser tratada como uma prioridade competitiva da manufatura, mas reconhecem que esta perspectiva demanda um maior aprofundamento, bem como a utilização de novas abordagens práticas. Essa característica favorece para que os

aspectos ambientais sejam considerados na definição da estratégia de produção de acordo com o que é ilustrado na Figura 9:

Figura 9 – Integrando a questão ambiental nas decisões relacionadas à função produção

Fonte: Adaptada de Angell e Klassen (1999, p. 593).

Ao realizar uma revisão teórica objetivando demonstrar que a dimensão ambiental é uma nova prioridade competitiva da estratégia de produção, os autores Jabbour, Silva e Santos (2006, p. 12) destacam que esta dimensão “se consolida como uma nova prioridade competitiva da manufatura, motivando transformações estruturais e infraestruturais no contexto da estratégia de produção”. Também é ressaltado pelos autores que a definição da dimensão ambiental como uma prioridade competitiva, pode elevar o grau de proatividade ambiental desta organização, por meio da utilização de boas práticas da gestão ambiental no seu processo produtivo.

Lewis (2000) busca estabelecer qual o impacto das estratégias competitivas adotadas pelas empresas, combinando lean e a visão baseada em recursos. Realiza uma pesquisa empírica com três estudos de caso, e defende que a produção enxuta pode se caracterizar em uma vantagem competitiva quando as organizações buscam a redução de desperdícios para aumentar sua produtividade. O autor também sugere que as estratégias lean devem ser adotadas de forma contínua (em longo prazo) para que a vantagem competitiva se torne sustentável.

Assim, as empresas que possuem sua estratégia direcionada à inovação, terão inevitavelmente melhores resultados com a produção enxuta, alcançando assim aos seus objetivos estratégicos e alinhados às práticas de sustentabilidade ambiental com a redução dos desperdícios (LEWIS, 2000).

Da mesma forma, os autores King e Lenox (2001) realizaram uma pesquisa empírica da performance ambiental de empresas americanas, encontrando fortes evidências de que a adoção da produção enxuta e da certificação ISO 9001 e ISO 14001, influenciam na redução de desperdícios e na redução da poluição. Assim, o lean e o green seriam conceitos complementares.

Em um estudo mais recente, Pereira et al. (2011) se utilizam de uma pesquisa bibliométrica que busca identificar a relação do tema Sustentabilidade Socioambiental com a produção enxuta, nos artigos do International Journal of Operations & Production Management e traçar um paralelo da pesquisa realizada com artigos publicados em periódicos brasileiros relevantes de Gestão de Operações, cujos resultados evidenciaram a evolução dos conceitos de lean e green e a abordagem dos principais temas que envolvem a Sustentabilidade Socioambiental no período de 1994 a 2008. Dentre os quais se destacam: Estratégia de Manufatura, Sistema Japonês de Manufatura, Disseminação da Técnica JIT (no período de 1994 a 1998); Sistemas Lean, Logística e Suprimentos Estratégicos e Visão Baseada em Sustentabilidade (no período de 1999 a 2003); e Sistemas Flexíveis de Produção e Green Supply Chain Management (no período de 2004 a 2008), corroborando assim com a visão complementar e evolucionária entre a Sustentabilidade Socioambiental e a Gestão de Operações nestas pesquisas.

Torres Junior, Gati e Silva (2009) também realizaram um estudo abordando a utilização da ferramenta de mapeamento do fluxo de valor para avaliação de perdas ambientais, dentro da filosofia lean, buscando assim, alinhar valor social e econômico no interior das atividades produtivas de empresas dos setores sucroalcooleiro e de cosméticos. Esta abordagem foi realizada tendo como foco principal o gerenciamento e o controle dos desperdícios de água nestes processos produtivos, através da análise da redução do consumo deste recurso. A tese defendida por estes autores é que a utilização da estratégia de lean e green, contribui para a diminuição da pressão ambiental., existindo ainda, um potencial de

racionalização dos desperdícios em vazamentos, no menor volume de água para a limpeza e a redução na utilização nas transformações operacionais.

Miller, Pawloski e Standridge (2010) concordam com a contribuição da produção enxuta para alavancar os resultados ambientais, quanto à redução dos desperdícios e minimização dos impactos causados pelo processo produtivo, pois a implementação conjunta das ferramentas lean auxiliou no desenvolvimento dos indicadores ambientais de uma empresa do setor moveleiro, onde aplicaram um estudo de caso. Os referidos autores identificaram que o excesso de produção ocasionada por um consumo desnecessário de energia e que a implantação de um program de reciclagem contribuiu para a eliminação de grande parte dos resíduos sólidos que eram gerados pelo processo produtivo, bem como a redução do número de fornecedores por meio de um sistema de Green Supply Chain, contribui para a diminuição da distância percorrida na distribuição e com isso o consumo de combustível.

Estes estudiosos defendem que a adoção de práticas lean influencia a proatividade ambiental nas empresas, ou ainda, quanto mais difundidas a produção enxuta nestas organizações, menor será o desperdício e os custos ao final do processo produtivo. Desta forma percebe-se que a implantação de uma política de produção enxuta nas organizações, visando principalmente à redução dos desperdícios, influencia de alguma forma o desenvolvimento das práticas da gestão ambiental, promovendo um crescimento do desempenho dessa área nas organizações.

Bergmiller e McWright (2009) sugerem ainda, por sua vez, que as organizações industriais modernas estão adotando os objetivos do lean e green em seus modelos de gestão de uma forma mais incisiva e ainda transcendendo a P+L como uma evolução natural da cultura de redução de desperdícios de forma contínua, integrando seus programas para a minimização dos impactos ambientais causados pelas suas operações produtivas.

Como é defendido por Coelho et al. (2008, p. 3) “quando elucidada pelas boas práticas de produção enxuta, a gestão ambiental depende não somente dos resultados obtidos de ações particulares de proteção ao meio ambiente, mas também de ações e interações com outras categorias do sistema de produção.”

O desenvolvimento da produção enxuta e a sua inter-relação com a gestão ambiental devem ocorrer de forma sistêmica, mobilizando as diversas áreas operacionais da empresa com o objetivo de alcançar resultados concretos por meio de uma estratégia sustentável de gestão.

No capítulo seguinte detalha-se a metodologia utilizada na pesquisa, tendo como foco principal atingir os objetivos propostos para o estudo.