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5 METODOLOGIA DA PESQUISA

5.1 A natureza da pesquisa

Este estudo trata de duas temáticas: o lean e o green, investigando suas ligações e contribuições para a estratégia competitiva. Caracteriza-se como uma pesquisa de caráter exploratório, pois busca aprofundar os conhecimentos sobre o problema, de forma a obter informações preliminares e investigar um assunto ainda pouco abordado nas pesquisas: a relação entre a produção enxuta e a gestão ambiental, tendo como foco principal, a interação destes conceitos, aplicados ao processo produtivo na redução dos desperdícios.

A fim de atender aos objetivos formulados, o estudo baseia-se no método exploratório, cuja escolha se justifica por oferecer ao pesquisador a possibilidade de conhecer mais detalhes sobre o assunto investigado ou de compreender suas interações, como é a proposta desta investigação. Também possibilita gerar proposições para futuras pesquisas (SEVERINO, 2007).

Godoy (1995a, p. 21) destaca que devido à característica flexível da pesquisa qualitativa esta, “não se apresenta como uma proposta rigidamente estruturada, permitindo que a imaginação e a criatividade levem os investigadores a propor trabalhos que explorem novos enfoques.” Destaca também que a pesquisa documental deve ser tratada como um incremento de recursos, buscando a complementaridade dos métodos de pesquisa utilizados para uma melhor compreensão do tema abordado.

Godoy (1995a, p. 21) ressalta ainda que:

A pesquisa documental representa uma forma que pode se revestir de um caráter inovador, trazendo contribuições importantes no estudo de alguns temas. Além disso, os documentos normalmente são considerados importantes fontes de dados para outros tipos de estudos qualitativos, merecendo, portanto atenção especial.

Pela natureza do estudo empírico, optou-se por uma abordagem qualitativa recomendada por Cervo e Bervian (2002), quando se quer observar, registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos de uma realidade. Minayo et al. (2000) também indicam a abordagem qualitativa nos estudos que tratam com o universo de fenômenos e relações que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Da mesma forma, Stake (2011, p. 25) define o estudo qualitativo como sendo interpretativo, pois “fixa-se nos significados das relações humanas a partir de diferentes pontos de vista”, e situacional, pois este “é direcionado aos objetos e às atividades em contextos únicos”, defendendo ainda que cada estudo possui características específicas nas quais não podem ser generalizados.

Como estratégia de pesquisa optou-se pelo estudo de caso por ser o mais indicado quando se quer investigar um fenômeno em um contexto real, sendo que suas fronteiras não são claramente definidas por meio da estrutura organizacional estudada e das interações existentes entre diferentes organizações, mas se utilizam de múltiplas fontes de evidências

para comprovar a realização dos objetivos (CAMPOMAR 1991; GODOY, 1995a; STAKE, 2011).

A escolha da estratégia do estudo de caso também é recomendada por Yin (2010, p. 39) quando se “investiga um fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes”. Ainda é indicado quando se objetiva analisar em profundidade o processo produtivo das empresas em estudo e identificar fatores que evidenciem a relação entre a gestão ambiental e a aplicação de práticas de produção enxuta.

O propósito do estudo de caso consiste, portanto, em analisar de forma intensiva uma unidade de negócio específica, ou ainda unidades de negócio semelhantes inseridas em um determinado contexto ou, que desempenham uma estratégia ou ferramenta semelhante em um determinado cenário organizacional. Tem o objetivo ainda de identificar a interação entre estes cenários ou unidades de negócio por meio da análise de diversas fontes de informações sobre um determinado tema para que o pesquisador possa entender a realidade do cenário pesquisado (GODOY, 1995a; ROESCH, 2006).

Miguel (2007, p. 219), por sua vez, define o estudo de caso como “um estudo de natureza empírica que investiga um determinado fenômeno, geralmente contemporâneo, dentro de um contexto real de vida, quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto em que ele se insere não são claramente definidas”. O referido autor defende que esta análise detalhada de um ou mais objetos deve ser realizada seguindo critérios técnicos anteriormente estabelecidos, objetivando aprofundar o conhecimento acerca de um problema ou cenário não suficientemente definido, que possam esclarecer questões e apresentar soluções a outros casos semelhantes em organizações diferentes.

Boyd e Stasch (1985) apud Campomar (1991, p. 96) complementam ressaltando que:

O estudo de caso envolve a análise intensiva de um número relativamente pequeno de situações e, às vezes, o número de casos estudados reduz-se a um. É dada ênfase à completa descrição e ao entendimento do relacionamento dos fatores de cada situação, não importando os números envolvidos.

Neste contexto, o estudo de caso pode ser caracterizado como uma abordagem de pesquisa qualitativa que tem por objetivo identificar, por intermédio de diversas fontes de

informações, as principais aplicações práticas de um determinado fenômeno em um ambiente real, quer se trate de uma empresa ou um conjunto de empresas (múltiplos casos) pertencentes ao mesmo contexto para que os resultados obtidos com a pesquisa sejam complementares sob uma mesma ótica e relacionados com uma determinada temática.

Por meio de pesquisa bibliográfica, Alves-Mazzotti (2006) analisa a natureza principal dos estudos de caso e a aplicabilidade ou generalização deste conceito em outras pesquisas. A autora defende a divulgação da produção científica em livros, periódicos e eventos, como forma de garantir a validade e a confiabilidade deste conhecimento, a partir da avaliação crítica da comunidade acadêmica. Porém, critica o fato de muitas pesquisas classificadas como estudo de caso não apresentarem o rigor acadêmico exigido para a investigação científica na construção do conhecimento, não havendo assim, a possibilidade de extrapolar seus resultados a outras situações.

Este fato ocorre possivelmente em razão de alguns autores de estudo de caso não delimitarem corretamente o objeto de sua pesquisa e adotarem este método apenas por se tratar de uma “unidade de negócio”, não conseguindo caracterizar sua investigação dentro dos parâmetros exigidos por este método.

Alves-Mazzotti (2006) ressalta ainda que o estudo de caso não se constitui em um método mais aplicável operacionalmente do que as outras, por se tratar da análise de apenas uma ou poucas unidades de negócio.

Stake (2011, p. 39) destaca que apesar de se tratar de método subjetivo, seus pesquisadores adotam uma “preocupação respeitosa em relação à validação das observações”, utilizando-se da triangulação das informações como uma estratégia de análise com objetivos semelhantes aos da pesquisa quantitativa.

Entretanto, como as outras estratégias de pesquisa, o estudo de caso, apresenta vantagens, desvantagens e limitações, necessitando de cuidados na sua aplicação, especialmente na indicação adequada do tipo de problema a ser pesquisado.

Barros Neto, Fensterdeinfer e Formoso (2003, p. 69) reforçam esses argumentos quando destacam algumas limitações do estudo de caso como método de pesquisa, a exemplo

da impossibilidade de generalização dos resultados pelo pequeno número de casos e dos estudos restringirem-se apenas a uma localidade ou região. Ressaltam ainda, que as informações e análises obtidas são baseadas na visão de profissionais envolvidos nas áreas investigadas, além de evidenciarem, praticamente dados qualitativos em razão das características das empresas pesquisadas.

Por outro lado, apesar das fragilidades e limitações apontadas, o estudo de caso vem sendo muito utilizado tanto na pesquisa social no campo da Psicologia como nas áreas orientadas para as ciências aplicadas, como a Administração (ALVES-MAZOTTI, 2006).

Contribuindo com a indicação do estudo de caso nas investigações científicas Godoy (1995b) apresenta uma série de exemplos de estudos qualitativos para caracterizar a importância da utilização desse método de investigação na Administração e a sua aplicabilidade junto às empresas modernas.

Outros estudos realizados por pesquisadores como Rafaeli (1989) e Sauer e Anderson (1992) expõem aspectos relevantes da indicação do método. O primeiro relata um estudo qualitativo que analisa em profundidade as relações interpessoais de profissionais do setor de serviços (caixas de supermercado em Israel). Como resultado, evidência-se uma forte interação desses profissionais com os clientes de suas empresas por meio de um feedback direto, propiciando a definição de “padrões de controle” que passaram a orientar essa interação e elevando o nível do atendimento e a satisfação destes clientes. O segundo, um estudo de caso que aborda a inovação como fator importante para a melhoria da eficiência e efetividade das organizações estudadas (hospitais do Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra) utilizando-se principalmente de entrevistas, documentos e observações como principais fontes de coletas de dados. Aqui foi possível identificar a percepção dos diversos níveis hierárquicos destas organizações sobre o impacto positivo da inovação em seu processo administrativo.

Argumentando nesse sentido, Yin (2010) acrescenta ainda que o estudo de caso permite identificar características relevantes como: ciclos de vida de processos gerenciais, relações interacionais e maturidade organizacional e recomenda que, quando um pesquisador decidir pela adoção dessa estratégia deve optar pelo estudo de caso múltiplo que agrega vários casos únicos, atualmente muito utilizado até para elaborar generalizações científicas. Entretanto, ressalta o cuidado que deve ter em relação ao fato de o método não garantir base

robusta para generalizações científicas, haja vista que estudar um ou alguns casos não caracteriza amostra representativa de uma população.

Por outro lado, Miguel (2007) também destaca que o estudo de caso único permite um maior nível de aprofundamento e normalmente é utilizado em pesquisa longitudinal, embora, neste caso, evidencie-se uma limitação no grau de generalização, pois existe o risco de um julgamento inadequado pelo pesquisador. Já a utilização de um estudo de casos múltiplo, o pesquisador se vale de diversas fontes de dados e cenários diferentes que, podendo ainda caracterizar a complementaridade das situações encontradas nos diferentes casos desta pesquisa.

Miguel (2007, p. 222) também recomenda que:

A partir da seleção do(s) caso(s), devem-se determinar os métodos e técnicas tanto para a coleta quanto para a análise dos dados. Nesse sentido, devem ser empregadas múltiplas fontes de evidências. Usualmente consideram-se entrevistas (estruturadas, semi-estruturadas ou não estruturadas), análise documental, observações diretas e, embora de forma restrita, pode-se incluir surveys. Quando for o caso, visitas ao “chão de fábrica” também são importantes no sentido de verificar in loco e/ou in

modus operandi, o fenômeno estudado.

Da mesma forma, Roesch (2006) identifica como uma vantagem do estudo de caso a sua capacidade de explorar os processos sociais durante o seu desenvolvimento dentro das organizações e a inter-relação entre os diversos processos simultâneos realizados em um período temporal. Assim, o emprego do estudo de caso “permite uma análise processual, contextual e longitudinal das várias ações e significados que se manifestam e são construídos dentro das organizações.”

Com base nos argumentos dos autores, por tratar-se de uma temática pouco explorada e ainda, pela quantidade reduzida de empresas locais com todas as características (certificação ISO 14001 e práticas de produção enxuta) requeridas para a realização desta pesquisa, o estudo de caso múltiplo revela-se como a estratégia mais adequada para alcançar os objetivos propostos. Como unidade de análise buscou-se identificar as contribuições da relação entre a utilização do processo de produção enxuta e as práticas de gestão ambiental para a redução dos desperdícios.