• Nenhum resultado encontrado

3 GESTÃO AMBIENTAL

3.7 Proatividade ambiental

Outro conceito que vem sendo difundido no ambiente produtivo é a proatividade corporativa ambiental concebida por Barry e Rondinelli (1998) que consiste na aplicação voluntária pelas organizações de práticas e iniciativas destinadas a melhorar o desempenho ambiental e promover a redução do impacto gerado pelas operações produtivas destas organizações.

A busca pela melhoria da performance dos resultados operacionais é abordada por, Gonzáles-Benito e Gonzáles-Benito (2006) quando destacam que as pressões exercidas pelos stakeholders são fundamentais para impulsionar a proatividade ambiental nas organizações.

Reforçando nessa direção Jiménez e Lorente (2001) identificam ainda que o desempenho ambiental deva ser incluído como uma nova dimensão do desempenho na gestão de operações, sendo uma estratégia de diferenciação competitiva.

Assim, no ambiente dos negógios da atualidade, tendo em vista os novos requisitos mercadológicos, estão sendo desenvolvidos novos programas de gerenciamento ambiental proativo como forma de garantir que no futuro as organizações possam fornecer seus produtos de maneira mais econômica e sem agredir o meio ambiente.

Para isso, as empresas necessitam realizar alianças estratégicas que favoreçam o desenvolvimento de novos produtos, bem como o controle e monitoração dos processos produtivos, a fim de obter um nível ótimo entre a produtividade e a lucratividade empresarial além do gerenciamento dos recursos naturais e controle da poluição (BARRY; RONDINELLY, 1998).

A proatividade ambiental pode ser entendida como a aplicação voluntária das práticas e iniciativas destinadas a melhorar o desempenho ambiental, podendo ainda se manifestar através de diferentes estratégias, cada uma das quais caracterizada por uma série de práticas ambientais realizadas pelas organizações (GONZÁLEZ-BENITO; GONZÁLEZ- BENITO, 2006).

Nesse contexto, algumas organizações têm abraçado a causa da proteção ambiental como parte de suas estratégias competitivas, movidas por pressões dos stakeholders e principalmente pela regulação mais incisiva do Governo quanto às restrições impostas pela legislação ambiental. E mais ainda pela necessidade de se tornarem mais competitivas junto ao mercado internacional (CASTRO NETO; OLIVEIRA; SILVA FILHO, 2010).

Na visão de Sanches (2000, p. 79) “uma empresa que adota uma postura proativa diante dos imperativos ambientais precisa inovar não só seus produtos e processos, mas também sua organização.”

Segundo Porter e Linde (1995) as empresas modernas devem se tornar mais proativas na definição de novos tipos de relacionamento com as agências reguladoras como forma de se adequarem às novas exigências do mercado quanto a sua atuação ambiental. Elas necessitam de uma nova mentalidade para a competitividade ambiental, imprimindo soluções inovadoras aos seus processos produtivos, e com isso, alcançando melhores resultados financeiros.

Da mesma forma, é perceptível a busca de proteção da imagem das empresas junto aos consumidores e funcionários, que estão cada vez mais exigentes quanto à realização de operações mais éticas e ambientalmente sustentáveis. Acresce-se ainda, a necessidade de criar novas oportunidades de negócio no mercado internacional, conhecidas como as

principais forças que incidem sobre o gerenciamento ambiental proativo (BARRY; RONDINELLY, 1998).

Essas exigências já ocorrem há algumas décadas, e os governos de diversos países, vêm intensificando a regulação ambiental como forma de forçar as grandes corporações a desenvolver estratégias visando controlar a poluição e a redução do consumo dos recursos naturais. Em 1970 havia cerca de dois mil regulamentos federais (normas, leis, decretos) nos Estados Unidos, e atualmente este número ultrapassa os cem mil regulamentos federais. A implantação do Programa de Qualidade Total pelas organizações também contribui para o desenvolvimento da cultura americana de redução de desperdícios e controle da poluição.

O governo americano, por intermédio do U. S Enviromental Protection Agency tem reforçado as ações de regulação das empresas poluidoras., de modo que estas organizações já consideram o gerenciamento ambiental como um processo importante na redução dos custos operacionais devido à aplicação de multas e taxas, pelo governo, aumentando o controle das emissões e a redução dos desperdícios. Durante 25 anos da aplicação desta legislação, a arrecadação já ultrapassa 1 trilhão de dólares.

Clientes e acionistas têm cobrado das organizações a adoção de estratégias proativas para a redução de custos decorrentes da regulação governamental, o que gera uma “corrida” por ações ambientais mais efetivas nas operações empresariais. Daí ser de extrema importância o apoio da alta administração para que “as iniciativas e os esforços da organização rumo á proteção e às responsabilidades ambientais tenham sucesso” (SANCHES, 2000, p. 82). Talvez por isso, as empresas tenham desenvolvido diversas estratégias de controle visando o gerenciamento constante da qualidade de seus produtos.

E esse universo tem se ampliado com o advento da globalização e a elevação do nível de exigência dos mercados internacionais, favorecendo o crescimento da quantidade de empresas que se utilizam de certificações de qualidade (ISO 9000, BS7750, EMAS) como forma de adequação de seus processos produtivos às novas exigências do mercado. Some-se a este contexto a visão de que a implantação de uma certificação de qualidade, a ISO 14000, por exemplo, caracteriza-se como um fator que impulsiona a produtividade ambiental das organizações (CASTRO NETO; OLIVEIRA; SILVA FILHO, 2010).

Resgatando esse cenário, identifica-se que até 1996 cerca de 127 mil empresas em 99 países já adotavam o modelo de política de qualidade da ISO 9000. O Brasil ao final de 2002 encontrava-se na quarta posição mundial em desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental, ocasião em que foi identificado que o número de certificações triplicou, intensificando-se o interesse por esta diferenciação de qualidade nas organizações nacionais (GAVRONSKI; BALBINOTTI; FERRER, 2005).

Para demonstrar o quanto às pressões exercidas pelos stakeholders têm influenciado para a adoção do gerenciamento ambiental proativo pelas empresas, a Figura 6 abaixo destaca o modelo de Barry e Rondinelli (1998).

Figura 6 – Forças de Auto-Gestão Ambiental

Fonte: Adaptada de Barry e Rondinelly (1998, p. 40).

Barry e Rondinelly (1998) definiram quatro “forças” que impulsionam seu modelo de gerenciamento ambiental proativo, são elas: a regulação ambiental, a força dos stakeholders, os custos e os requisitos competitivos. E dentro da visão de custos, encontra-se a redução dos custos por meio da redução dos desperdícios e neste contexto identifica-se que a adoção de práticas de produção enxuta pode contribuir para uma melhoria do desempenho ambiental das organizações.

Observando-se o ambiente mundial identifica-se que as organizações multinacionais sofreram uma dramática transformação na sua relação com a proteção

ambiental devido à maior regulação governamental (1960-1970); à maior exigência do mercado para a redução de custos ambientais (1980) e à intensificação do controle de problemas ambientais exercido pelos stakeholders (1990).

A ilustração desse cenário pode ser visualizada na Figura 7: Estágios do Gerenciamento Ambiental Corporativo,apresentada na sequência:

Figura 7 – Estágios do Gerenciamento Ambiental Corporativo

Fonte: Adaptada de Barry e Rondinelly (1998, p. 42).

Associando-se a esses argumentos, estudiosos como Barry e Rondinelly (1998) destacam que as organizações mais competitivas no mundo desenvolvem atualmente um sistema de Gerenciamento Ambiental que combina alguns fatores importantes para um maior controle ambiental que são:

a) Minimização de Desperdícios e Prevenção da Poluição – o Gerenciamento

Ambiental Proativo requer o controle efetivo dos desperdícios e a prevenção da poluição em materiais e processos produtivos, como forma de atender as necessidades do mercado consumidor internacional;

b) Gerenciamento da Demanda – é o desenvolvimento de produtos e serviços

que primam pelo controle da poluição e pela redução do desperdício, na exata quantidade que será consumida;

c) Design Ambiental – baseado na política de gerenciamento ambiental pro

possibilidade de reaproveitamento ou diminuição dos resíduos de forma mais econômica. Os produtos são criados de forma modular facilitando a reutilização de partes ou diminuindo a quantidade de lixo no ambiente de descarte;

d) Produtos Confortáveis – são praticas de redução dos riscos ambientais

ocasionados pela produção ou distribuição dos produtos. Os produtos são confeccionados e os processos são mapeados de forma que sejam gerados menos resíduos no processo produtivo e aqueles que forem gerados já possuem uma destinação final ambientalmente correta;

e) Maior Acompanhamento dos Custos Ambientais – consiste no

acompanhamento e posterior redução dos custos diretos (produção, processo e projeto) e indiretos (custos individuais e custos referentes aos consumidores e sociedade) relacionados com o gerenciamento ambiental das organizações.

González-Benito e González-Benito (2006) contribuem com um modelo de proatividade ambiental, no qual identificam as características que podem viabilizar a realização da proatividade ambiental nas organizações, devido às pressões dos stakeholders no mercado em que atuam. Segundo esse modelo, as características da empresa (tamanho, nível de internacionalização, posicionamento na cadeia de valor e atitudes estratégica), as pressões dos stakeholders e outros fatores externos (risco ambiental e localização geográfica), são fatores determinantes para se desenvolver a proatividade ambiental (Figura 8).

Figura 8 – Fatores Determinantes da Pro Atividade Ambiental

Também, as práticas operacionais implicam em mudanças no sistema de produção e operações, que desempenha um papel fundamental nas questões ambientais. Estas práticas podem ser classificadas em dois grupos: o que reúne as práticas relacionadas com os produtos e processos, focadas na concepção e desenvolvimento de novos produtos ambientalmente eficientes e um segundo grupo, relacionado ao processo operacional que se concentra no desenvolvimento e implementação de produção mais preocupada com o meio-ambiente e a conservação dos recursos naturais. Algumas delas afetam os processos internos e englobam atividades de correção e controle, juntamente com atividades de prevenção. Outras práticas afetam os processos externos e suas atividades influenciam o suprimento e a distribuição e, em geral, as interações da empresa com outros elementos da cadeia de valor (GONZÁLEZ- BENITO; GONZÁLEZ-BENITO, 2006).

Diante dessas considerações é possível entender que a utilização da produção enxuta na organização pode intensificar o desempenho ambiental visto que, esta procura aumentar a produtividade por meio da redução dos desperdícios, sejam estes de materiais, tempo ou atividades do processo produtivo, atuando em toda a cadeia de suprimentos e ocasionando assim maior eficiência das operações e o melhor aproveitamento dos recursos (CASTRO NETO; OLIVEIRA; SILVA FILHO, 2010).

Os desperdícios na produção “podem ser evidenciados quando ocorre excesso de etapas de processamento, gargalos, estoque parado no fluxo ou quando se exige tempo além do necessário para atender a necessidade do cliente” (COELHO et al., 2008, p. 4). Isso pode ocasionar perdas financeiras reais em decorrência de uma maior utilização de tempo, matéria- prima e energia, que quando evidenciadas por um longo período de tempo, representam ineficiências econômicas do processo produtivo.

O desempenho do gerenciamento ambiental proativo requer a implementação de um programa sistemático de coleta de informações, análise e melhoria continua dos processos produtivos, controle e a monitoração dos indicadores ambientais, adoção de novas técnicas de produção sustentável e a melhor utilização de novas tecnologias, visando, principalmente a viabilidade econômico-ambiental dos processos e o atendimento das expectativas dos stakeholders.

Como forma de ilustrar esse contexto, o Quadro 1 apresenta um resumo das principais características desses modelos e as suas contribuições para a implantação da produção enxuta.

Quadro 1 – Relação dos modelos de gestão ambiental com a produção enxuta

Modelo Características Básicas Contribuições para a produção enxuta

Responsabilidade Social Corporativa (RSC)

Estratégia ambiental que dá início a preocupação das empresas com o meio ambiente. Visa a atuação da empresa de forma ética buscando a melhoria na qualidade de vida.

Mostra que a preocupação com a gestão ambiental pode trazer bons resultados financeiros para as empresas. E que as diferenças entre os objetivos sociais e econômicos da empresa são irrelevantes.

Consumo Verde Estratégia que incentiva a

diminuição na quantidade consumida de produtos evitando assim um maior acúmulo de resíduos e emissões atmosféricas.

Incentiva a redução dos desperdícios e o desenvolvimento de produtos com menor impacto ambiental ocasionado pela a produção ou ainda pelo seu descarte.

Logística Reversa Processo de planejamento e operação do fluxo de materiais contrário ao fluxo de produção, ocasionando novas entradas ao processo produtivo com o objetivo de recapturar o valor de produtos finais ou realizar o descarte adequado.

Reduz a utilização de matéria- prima e a necessidade excessiva de aquisições, otimizando o fluxo de produção e melhorando a distribuição.

Produção Mais Limpa (P+L) Estratégia ambiental preventiva aplicada de acordo com uma seqüência de prioridades cuja primeira é a redução de resíduos e emissões na fonte.

Possui ênfase na redução do consumo de materiais e energia em produtos e serviços e no prolongamento da vida útil dos produtos.

Cadeia de Suprimentos Sustentável (Green Supply Chain)

Gerenciamento da cadeia de suprimentos com o foco de reduzir o impacto ambiental causado pelas operações logísticas, atuando na seleção de fornecedores engajados com a gestão ambiental.

Busca selecionar e desenvolver fornecedores que desempenham boas práticas de gestão ambiental, promovendo a redução dos desperdícios, da poluição e do consumo de energia e água.

Proatividade Ambiental É a aplicação voluntária pelas empresas de iniciativas para melhorar o desempenho ambiental movidas por pressões dos

stakeholders, buscando ainda uma

maior vantagem competitiva junto aos consumidores.

Incentiva a adoção de práticas de redução de desperdícios, prevenção da poluição, gerenciamento da demanda, o desenvolvimento de “produtos verdes” e o controle dos custos ambientais.

Fonte: Adaptado de Barbieri (2007, p. 145).

Os principais modelos de gestão ambiental (Consumo Verde, Logística Reversa, P+L e Green Suply Chain) são apresentados como estratégias de apoio ao processo de produção enxuta, visto que estes possuem seus objetivos estratégicos alinham-se aos objetivos da filosofia lean.

A adoção destas práticas ambientais pode ser interpretada como elemento que contribui para melhorar o desempenho final da produção enxuta na empresa, atuando de maneira sustentável no aumento da produtividade e na redução dos desperdícios, bem como os modelos de RSC e Proatividade Ambiental, que reforçam a necessidade da conscientização ambiental por parte das organizações que atuam no mercado atual.

Além dos modelos acima apresentados é importante destacar a aplicação do sistema de gestão ambiental- ISO 14001 que normatiza critérios para o gerenciamento do ambiente em relação aos processos produtivos realizados pelas empresas.