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3 GESTÃO AMBIENTAL

3.5 A Produção Mais Limpa (P+L)

A P+L (Cleaner Production) consiste em uma estratégia ambiental de caráter preventivo que é desenvolvida nas organizações de maneira a minimizar os impactos sobre o meio ambiente utilizando ferramentas e técnicas de gestão aplicadas nos processos, produtos e serviços realizados pelas organizações.

Este conceito está sendo desenvolvido desde a década de 80 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI) com o objetivo de criar diretrizes internacionais para o desenvolvimento sustentável (BARBIERI, 2007; NASCIMENTO; LEMOS; MELLO, 2008).

Segundo Barbieri (2007, p. 145) a P+L consiste de uma:

Abordagem de proteção ambiental ampla que considera todas as fases do processo de manufatura ou ciclo de vida do produto, com o objetivo de prevenir e minimizar os riscos para os seres humanos e o ambiente a curto e longo prazos. Essa abordagem requer ações para minimizar o consumo de matéria prima e a geração de resíduos e emissões.

Baseada numa visão sistêmica dos processos administrativos, a P+L estabelece uma hierarquia de prioridades (prevenção, redução, reuso e reciclagem, tratamento com recuperação de materiais e energia, tratamento e disposição final) que devem ser seguidas como forma de alcançar um nível ótimo de desenvolvimento sustentável (BARBIERI, 2007).

Na visão de Ballestero-Alvarez (2010, p. 16):

O cerne da produção limpa é atender as necessidades de produtos de forma sustentável, ou seja, aplicando de maneira eficiente os materiais, empregando energia renovável, de forma não nociva, preservando, ao mesmo tempo, o entorno e a biodiversidade. Isso nos leva a perseguir o equilíbrio entre competitividade e as preocupações ambientais. Cada vez mais é imperioso encontrar métodos de “produção limpa”.

Medeiros et al. (2007, p. 111) defendem que a P+L consiste na “aplicação contínua de uma estratégia ambiental integrada e preventiva para processos e produtos”. Ressaltam os autores ser imprescindível para o seu sucesso, a participação de todas as pessoas envolvidas no processo produtivo, o mapeamento das atividades produtivas e dos impactos ambientais gerados por estas atividades e o desenvolvimento de soluções criativas para o controle destes processos.

Essa estratégia exige a utilização de ações que reduzam os desperdícios e minimizem o consumo de energia e matéria-prima, por meio de uma abordagem preventiva, aplicada aos processos de manufatura e no ciclo de vida dos produtos, com o intuito de elevar assim o nível de vantagem competitiva junto aos stakeholders (POLIDÓRIO, 2009).

Na visão do Centro Nacional de Tecnologias Limpas do SENAI do Rio Grande do Sul (CNTL/SENAI-RS, 1999), entidade que atua na difusão de práticas de P+L no Brasil:

A produção mais limpa significa a aplicação contínua de uma estratégia econômica, ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, por meio da não-geração, minimização ou reciclagem de resíduos gerados.

Na Figura 4 são apresentados os níveis hierárquicos desenvolvidos pela P+L, na qual se identifica que no nível 1 estão as atividades de maior prioridade e que envolvem as modificações em processos e produtos, tendo como objetivo principal a redução de resíduos e emissões na fonte geradora. No nível 2 de prioridade, os resíduos e emissões inevitavelmente gerados pelo processo produtivo são reutilizados internamente. E o nível 3 apresenta as práticas utilizadas quando os resíduos ou emissões gerados pelo processo não podem ser aproveitados internamente e desta forma, devem ser encaminhados a um processo de reciclagem externa terceirizada.

Figura 4 – Produção Mais Limpa: níveis de intervenção

Fonte: Adaptada de CNTL/SENAI-RS (1999).

Para Medeiros et al. (2007, p. 110) “A Produção mais Limpa está respaldada no fato de que o meio mais eficaz em termos de custos ambientais para a redução da poluição é analisar o processo na origem da produção e eliminar o problema na sua fonte”.

Tem o objetivo de evitar a geração dos resíduos no processo produtivo e não apenas, como utilizado nas décadas de 70 e 80, os métodos de “Fim do Tubo” (end of pipe) que apenas buscam a redução dos resíduos de forma reativa, ou seja, após estes já terem sido gerados, conforme é apresentado na Figura 5. Atualmente estes métodos de “Fim do Tubo” são utilizados em última instância, quando todas as outras opções para a redução da geração de desperdícios foram esgotadas (ELIAS; MAGALHÃES, 2003).

Figura 5 – Diferenças entre a abordagem convencional e a P+L

Fonte: Medeiros et al. (2007, p. 112).

Na visão de Polidório (2009, p. 51):

As boas práticas de P+L caracterizam-se como o uso cuidadoso de matérias-primas e dos processos, incluindo mudanças organizacionais. [...] As economias proporcionadas pelas boas práticas operacionais podem viabilizar novos investimentos na empresa, inclusive em novas tecnologias.

Dessa forma se identifica a necessidade de uma política de redução de desperdícios aplicada a toda a organização como forma de impulsionar a estratégia de P+L, principalmente quanto à redução dos desperdícios diretamente na fonte de produção, utilizando-se de métodos e técnicas administrativas por toda a cadeia produtiva.

Segundo Elias e Magalhães (2003, p. 1):

A aplicação da filosofia tanto da Produção Enxuta como da Produção mais Limpa contribui efetivamente para a melhoria da competitividade das indústrias, pois ambas têm como benefícios, por exemplo, o aumento da produtividade, melhoria da qualidade, otimização na utilização da matéria-prima, dos insumos e outros recursos, fatores esses de importância relevante frente à necessidade da busca contínua da excelência empresarial no mundo atual.

A estratégia ambiental adotada pela P+L se alinha aos objetivos da produção enxuta de minimizar as emissões advindas pela produção enxuta como forma de aumentar a produtividade das empresas, reduzir os desperdícios e melhorar o desempenho ambiental, principalmente na prevenção da poluição e no desenvolvimento de ações de preservação do ambiente e redução do consumo.

Epelbaum (2004, p. 57) destaca que “existem benefícios tangíveis da implementação da Produção Mais Limpa, em termos de redução de custos e eficiência operacional, no mínimo, além da margem de contribuição para a imagem da empresa (intangível).”

Neste sentido a pesquisa desenvolvida por Medeiros et al. (2007) entre os anos de 2001 e 2002, identifica os bons resultados obtidos com a implantação de um Programa de Produção Mais Limpa em uma empresa fabricante de embalagens de papel localizada em Pernanbuco. Este estudo de caso buscou analisar os diversos estágios de implementação do programa de P+L, com um foco na minimização da quantidade de resíduos gerados, na adequação da empresa aos requisitos legais da área ambiental, na sensibilização dos funcionários quanto à prevenção da poluição e a melhoria da imagem da empresa juntos aos stakeholders.

Oliveira e Alves (2007) também conpartilham dos resultados positivos alcançados na redução de desperdícios e no aumento da produtividade no processo produtivo com a implantação da P+L. Os mesmos desenvolveram um estudo acerca de um processo de P+L na área de usinagem de uma indústria metal-mecânica e identificaram uma redução considerável dos desperdícios gerados por esse processo operacional, principalmente na utilização do housekeeping, na modificação do projeto do produto e na utilização de uma menor quantidade de lubrificantes para a usinagem, minimizando também o impacto ambiental causado por este processo industrial.

Por outro lado, apesar de todas as vantagens e benefícios relatados com o uso da P+L, um estudo de Prata (2008) realizado em cinco empresas do Estado do Ceará constatou as principais dificuldades enfrentadas com a implantação e manutenção dessa ferramenta. Dentre os resultados encontrados na investigação evidenciaram-se: a falta de informações mais

detalhadas sobre a Produção Mais Limpa e a Logistica Reversa e o alto custo aliado à falta de percepção dos consumidores sobre os reais benefícios advindos com essa ferramenta.

O autor ressalta que, mesmo considerando as dificuldades apontadas nesses achados, os benefícios auferidos com o uso da Produção Mais Limpa nos processos produtivos permitem dizer que esta consiste em um dos modelos de gestão ambiental abordados nesta dissertação, que possui maior aderência aos conceitos de redução de desperdícios defendidos pela produção enxuta.