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1 O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO E SUA IMPLEMENTAÇÃO EM

2.3 A importância da Gestão Pedagógica no contexto escolar

Percebemos empiricamente que as escolas apresentam necessidades que apontam para mudança em sua rotina no sentido de abrir espaços para discutir os mais diversos temas relacionados à educação. Entre esses temas, destacamos os relacionados à Gestão Pedagógica por estar ligada diretamente com a “organização, coordenação, liderança e avaliação de todos os processos e ações diretamente voltados para a promoção da aprendizagem dos alunos e sua formação” (LUCK, 2009, p. 96), demonstrando assim que essa dimensão está conectada com a principal função da escola, que é a aprendizagem e a formação dos alunos.

Diante disso, a escola precisa “estabelecer uma comunidade de ensino efetivo, onde persevere, coletivamente, não somente o ideal de ensinar de acordo com o saber produzido socialmente, mas o de aprender” (LUCK, 2009, p 16). Nessa acepção, há a necessidade de envolver todos os setores escolares no sentido de dar o suporte necessário para tornarem efetivas as ações pedagógicas. Para isso, é necessário o comprometimento e o envolvimento do gestor escolar em todos os setores, com o intuito de “estabelecer a gestão pedagógica como aspecto de convergência de todas as outras dimensões da gestão escolar” (LUCK, 2009, p. 93). Além dessa dimensão de atuação, a autora destaca outras competências, demonstrando que a função do gestor escolar é bem mais ampla do que é evidenciado na realidade por esse sujeito.

 Promover a visão abrangente do trabalho educacional e do papel da escola, norteando suas ações para a promoção da aprendizagem e formação dos alunos.

 Orientar a integração horizontal e vertical de todas as ações pedagógicas propostas no projeto pedagógico; e a contínua contextualização dos conteúdos do currículo escolar com a realidade.  Identificar e analisar a fundo limitações e dificuldades das práticas pedagógicas no dia-a-dia, formulando e introduzindo perspectivas de superação, mediante estratégias de liderança, supervisão e orientação pedagógica.

(...). (LUCK, 2009, p. 93).

Entre as competências destacadas acima, percebemos que as estratégias que devem ser traçadas pelo gestor envolvem a questão da liderança, a fim de promover o envolvimento, o comprometimento e a participação das pessoas, assim como a possibilidade do uso da criatividade, da iniciativa e de inovações. Porém, é necessário perceber que, ao destacarmos a liderança como um dos fatores necessários à concretização da gestão pedagógica, automaticamente estamos conduzindo as ações da escola para uma gestão democrática, envolvendo o exercício de poder, incluído nos processos de planejamento, na tomada de decisões e na avaliação dos resultados, em qualquer setor da escola.

De acordo com o exposto, Luck (2012), ao falar de liderança e destacar o poder como um de seus aspectos, nos alerta que não devemos confundir liderança com poder, pois, quando este é praticado sem liderança, “pode ser exercido mediante manipulação, coerção e medo”; e a questão de participação fica sujeita apenas em concordar com decisões pré-concebidas. Para elucidar a questão de que o poder é um dos aspectos da liderança, a autora evidencia que

(...). O poder mais efetivo é, sem dúvida, o distribuído, que caracteriza como poder efetivamente construtor e de grande efeito multiplicado. Destaca-se, enfim, que o poder que não constrói, destrói a si mesmo, por sua existência efêmera e sem condições de sustentabilidade (LUCK, 2012, p. 56).

Nessa visão de Luck (2012) sobre o que é o poder, a gestão escolar procurará estimular a participação de diferentes pessoas, através da motivação que as estimule a se identificarem com seu trabalho, despertando sua criatividade e iniciativa. Nesse contexto, também é preciso articular aspectos financeiros, pedagógicos e organizacionais para atingir os objetivos escolares, inclusive de promover uma educação de qualidade.

Observamos empiricamente que algumas escolas dão oportunidades às manifestações e expressões de diferentes grupos, permitindo a circulação de ideias, o desenvolvimento do que é lúdico, preparando professores para vivenciarem a

realidade de novos modelos de relacionamento com os alunos e de exercitarem novos papéis. Assim, criam uma atmosfera baseada no debate e na orientação a respeito da função de professores e gestores, favorecendo a livre expressão.

Isso implica dizer que o trabalho cooperativo ficará evidente no processo pedagógico; tanto professor e aluno participarão da construção e reconstrução do conhecimento em busca da autonomia a partir do entendimento que cada um terá do mesmo. Para isso, segundo Paulo Freire (1987) apud Forgiarini e Silva (2008), é necessário que a educação seja pautada na “Pedagogia do Diálogo”, a qual propõe mudança na relação pedagógica.

(...) a educação deve ser respaldada em uma „Pedagogia do Diálogo‟. Nessa pedagogia muda-se a relação de poder do professor sobre o aluno e estabeleça uma relação educador-educando, em que ambos se entendem e se fazem simultaneamente educadores e educandos. (...) que os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo e são seres inconclusos, inacabados, históricos (FORGIARINI e SILVA, 2008, p. 8).

O ambiente escolar precisa ser organizado de tal forma que os alunos possam se sentir mais valorizados e capazes de obter sucesso nos estudos. Além disso, ao estabelecerem laços afetivos com a escola e com os professores, que possam aprender pela vivência da curiosidade, pelo desejo de ver, fazer, indagar construir. Tudo isso sem negar sua condição social, nem aceitá-la como imutável.

Diante desse grande desafio, o professor necessita de uma escola que lhe dê suporte em seus afazeres pedagógicos, orientando-os ou mesmo lhes ajudando a superar seus “medos” e conflitos relacionados ao processo de ensino e aprendizagem. Nessa situação, podemos destacar a importância do coordenador pedagógico como peça fundamental ligada à gestão escolar e atuando diretamente com as ações pedagógicas dos docentes no sentido de auxiliá-los em suas práticas. Segundo Franco (2008),

Caberá à atividade de coordenação pedagógica, nos diferentes níveis de atuação, ser a interlocutora interpretativa das teorias implícitas na práxis, e ser também a mediadora de sua transformação, para fins cada vez mais emancipatórios (FRANCO, 2008, p. 126).

Nesse caso, é importante que o coordenador pedagógico, dentro do ambiente escolar, esteja consciente de que irá atuar em uma área conflituosa e complexa,

onde irá trabalhar com diferentes ideias, convicções, resistência a mudanças, conflitos. Em relação a essa questão, Franco (2008) destaca que,

Para trabalhar com a dinâmica dos processos de coordenação pedagógica na escola, um profissional precisa ter, antes de tudo, a convicção de que qualquer situação educativa é complexa, permeada por conflitos de valores e perspectivas, carregando um forte componente axiológico e ético, o que demanda um trabalho integrado, integrador, com clareza de objetivos e propósitos e com um espaço construído de autonomia profissional (FRANCO, 2008, p. 120).

Diante disso, observa-se que o coordenador tem a função de articular e integrar as ações docentes e organizar os espaços e o tempo com a finalidade de alcançar os objetivos propostos pela escola através de seu Projeto Político- Pedagógico, documento que deve ser construído com a participação de todos os sujeitos escolares.

Ainda de acordo com Franco (2008), os coordenadores pedagógicos têm a consciência de que devem trabalhar diretamente com “a coordenação dos professores e organização de processos de formação continuada”, e enfatizam que os mesmos gostariam de “saber ensinar aos professores métodos e técnicas de ensino bastante variadas”. Diante desses anseios e necessidades, por outro lado, os coordenadores se queixam pela falta de domínio dos conteúdos das diferentes áreas, além da “falta de liderança que possuem no ambiente escolar, pois não se consideram valorizados na escola para tal fim nem se sentem percebidos pelo grupo como alguém com capacidade para tal tarefa”. Com isso, observamos que as ações dos coordenadores não condizem com seu papel diante dos afazeres pedagógicos, fato que prejudica o desempenho da escola nesse setor.

Diante dessas informações, a escola necessita abrir espaço para refletir sobre o papel do coordenador pedagógico, pois, quando se fala em pedagógico, temos que ter em mente que envolve um conjunto de ações dos diversos setores da escola, e irá envolver direcionamento, redirecionamento e esclarecimento, algo que só pode ser feito através da participação coletiva de todos os envolvidos na construção da proposta pedagógica da escola de forma democrática.

De modo mais restrito, não podemos deixar de destacar a atuação dos coordenadores de projetos e programas no interior da escola, que, no nosso caso, se refere à atuação do coordenador pedagógico do Programa Mais Educação, denominado professor comunitário. Esse coordenador é responsável por coordenar

o processo de articulação junto à comunidade, seus agentes e seus saberes e coordenar a oferta e a execução das atividades da Educação Integral (BRASIL, 2014, p. 14). Porém, é necessário que sua atuação esteja em sintonia com a atuação do gestor escolar relacionado às questões citadas anteriormente. É necessário, portanto, também que esse coordenador se disponha a desenvolver sua atividade mediante iniciativas, criatividades e também com liderança.

Isso implica dizer que envolve o trabalho de coordenar e orientar os monitores que atuam diretamente nas atividades do programa, de modo especial com o monitor do Macrocampo Acompanhamento Pedagógico – Orientação de Estudos e Leitura –, atividade desenvolvida com reforço escolar dos alunos com dificuldades em aprendizagem.

Como vimos anteriormente, o trabalho pedagógico deve ser orientado pelo gestor escolar juntamente com sua equipe pedagógica, sendo que é necessário que os coordenadores de projetos e programas sejam incluídos de forma efetiva nessa equipe, por ser responsável diretamente pela orientação, planejamento e execução de ações que vêm como forma de amenizar problemas escolares, no caso do Acompanhamento pedagógico ligado com a aprendizagem e a formação dos alunos, que é justamente a função da escola, como apresentado anteriormente.

Outra função do coordenador pedagógico do PME destacada acima está relacionada à articulação com a comunidade escolar, em especial com os pais dos alunos com dificuldades de aprendizagem, com os quais deve cultivar um relacionamento mais próximo como forma de ajudar e entender melhor a realidade de cada aluno e assim auxiliar os professores no diagnóstico e no conhecimento dos mesmos.

De acordo com o exposto, percebemos que a Gestão Pedagógica é uma das dimensões importantes no contexto escolar, por ter a função de organizar, orientar, monitorar e executar ações para melhorar o processo de ensino-aprendizagem e efetivar o papel da escola com a formação de seus educandos.

2.4 A implantação do PME e o macrocampo acompanhamento pedagógico