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A importância de analisar todos os fatores envolvidos

No documento Revista (páginas 87-92)

SOCIAIS E CULTURAIS.

2.3. A importância de analisar todos os fatores envolvidos

De acordo com Luengo (2010) é comum no cotidiano escolar que as crianças que apresentam comportamentos que fogem a norma construída socialmente, sejam vistas como indivíduos com TDAH ou mesmo outros transtornos.

Segundo Renca (2008), os comportamentos indisciplinados dos alunos são em grande parte influenciados pelo meio social em que vivem, podendo ser internos à escola, ao se considerar o ambiente escolar, o modelo pedagógico e a gestão escolar; ou externos à escola, pensando-se no ambiente familiar e todo o meio social no qual o aluno está inserido.

Leonardo e Suzuki (2016) ressaltam em seu artigo, que os comportamentos inadequados dos alunos não devem ser compreendidos como um aspecto isolado, que se estende no máximo até a sua família; é necessário olhar por um panorama amplo, que se expande ao contexto escolar, social, histórico e político, afinal “o aluno não é um ser a-histórico a-social, ele pertence a uma sociedade e a uma cultura” e recebe constante influencia destas.

Segundo Signor (2013) a patologização desenfreada da educação, transforma as questões sociais, educacionais e políticas em questões médicas, ao não considerar todos os aspectos envolvidos no cotidiano da criança. O autor ainda salienta que o educador deve estar atento para não confundir instabilidades comuns da criança, provocadas por cansaço ou estresse, com condições patológicas; e com isso acabar por influenciar os pais, que motivados pelo educador buscam por ajuda médica/psicológica afim de tratar os comportamentos ditos “anormais”, como afirma Luengo (2010).

Alves, Neme e Cardia (2014) salientam que o TDAH envolve variáveis complexas, que demandam a necessidade de uma avaliação minuciosa e completa. Em consonância com as autoras, Barkley (2008) afirma que o diagnóstico do TDAH

85 requer o trabalho interdisciplinar de diversos profissionais, experiência na área e atualizações constantes referente aos critérios diagnósticos e últimas pesquisas publicadas.

De acordo com Stroh (2010), considerando a complexidade do transtorno, como já mencionado por outros autores, faz-se necessário uma investigação rigorosa, que reduza qualquer possibilidade de um diagnóstico errôneo, e para isso é necessário o envolvimento de profissionais de diferentes áreas, como fonoaudiologia, pedagogia, fisioterapia, neurologia, psiquiatria, psicologia, e outros, caso haja necessidade. Silva (2015) defende que a avaliação neuropsicológica também é um instrumento relevante no decorrer do diagnóstico de TDAH, pois assim, o diagnóstico pode ser apoiado por exames de imagem, como: tomografia, ultrassonografia e ressonâncias, tornando-o mais palpável e imune a erros.

Segundo Stroh (2010), a equipe multidisciplinar também será de fundamental importância para expandir as possibilidades de intervenções e logo, para a melhora do transtorno. Papalia e Olds (2013) ressaltam que atualmente há diversas possibilidades de intervenção para o TDAH, podendo ser equilibrado por medicamentos específicos, acompanhado por sessões de terapia comportamental, treino em habilidades sociais e

intervenções escolares; as autoras ainda afirmam que o tratamento ideal “seria uma combinação de medicação, terapia psicológica e mudanças no ambiente familiar e escolar”.

Brzozowski e Caponi (2013) alertam sobre as consequências de patologizar comportamentos ditos inadequados que até pouco tempo atrás eram considerados normais e ainda afirma que “[...] enquadrar uma criança em um diagnóstico psiquiátrico apresenta sérias consequências indesejáveis, e acaba sendo mais útil para a sociedade e para o entorno da criança do que para a própria criança” (BRZOZOWSKI; CAPONI, 2013, p. 209).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após análise da bibliografia estudada, é possível concluir relatando algo simples, porém, que não é considerado por todos os profissionais, sejam eles da área da educação ou da área da saúde, que é a importância de olhar o indivíduo

86 (aluno ou paciente) não como um ser isolado, mas dentro do amplo contexto (familiar, social, cultural e político) no qual ele vive, considerando os estímulos recebidos e as dificuldades encontradas; a fim de não transferir para o aluno/paciente um problema que na verdade é social, cultural, político ou educacional, rotulando ou patologizando o aluno de maneira precoce ou mesmo injusta.

Saliento ainda, que a fim de minimizar as chances de um diagnóstico errôneo, ou seja, de que o indivíduo seja patologizado injustamente, por um “problema” que na realidade não é dele, é fundamental que o diagnóstico seja realizado por uma equipe multidisciplinar, preparada para atende-lo, e que além das dificuldades apresentadas pelo indivíduo sejam considerados também o meio no qual ele vive e a análise de testes e exames validados cientificamente.

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ADOLESCÊNCIA COMO PASSAGEM PARA A FASE

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