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A inadimplência do PRONAF B: o caso do município de Barra

Nivel de Instrução Brasil (BR) Nordeste (NE) Bahia (BA) %Nível BA

4.2 O CASO DO MUNICÍPIO DE BARRA 1 Caracterização do município de Barra

4.2.2 A inadimplência do PRONAF B: o caso do município de Barra

Como relatado neste capítulo, a inadimplência ao PRONAF B em alguns municípios baianos parece ser generalizada, haja vista que mais de 80% dos contratos realizados nestes não foram pagos. Entender quais são os fatores que estão associados a este elevado inadimplemento no estado da Bahia é essencial para que a principal política pública brasileira para a agricultura familiar, o PRONAF, realmente alcance seus objetivos. Esta deve se adequar à realidade dos

25 A metodologia de cálculo do IDH-M (Índice Municipal de Desenvolvimento Humano) envolve a

transformação das três dimensões por ele contempladas (longevidade, educação e renda) em índices que variam entre 0 (pior) e 1(melhor), e a combinação destes índices em um indicador síntese. Quanto mais próximo de 1 o valor deste indicador, maior será o nível de desenvolvimento humano do município ou região.

agricultores familiares, contribuindo para a melhoria de suas condições de vida, sem gerar distorções, como no caso do inadimplemento generalizado.

Investigar quais foram aqueles fatores para o município de Barra constitui-se objeto do presente trabalho. A opção por Barra levou em conta que este era um dos municípios com maior taxa de inadimplência tanto ao PRONAF Crédito como um todo (81%26) quanto ao

PRONAF B (83%27). Além disto, dentre os municípios com elevado inadimplemento, Barra possui o maior número de contratos do PRONAF B. Some-se a peculiaridade deste município possuir diversos biomas que resultam em diferentes perfis da produção da agricultura familiar adaptadas às condições vigentes.

Desta maneira, no trabalho de campo objetivou-se entender quais são os fatores associados ao inadimplemento das operações do PRONAF B em Barra. Buscou-se, ainda, identificar estes distintos tipos de processo produtivo da agricultura familiar, haja vista que são determinantes na reprodução social de cada comunidade.

O estudo empírico sobre o inadimplemento em Barra constou de duas fases:

1 – Exploratória, que consistiu na coleta de informações sobre o perfil da inadimplência ao PRONAF B em Barra junto ao Banco do Nordeste do Brasil.

2 – Pesquisa de campo.

Para tanto foram entrevistados:

• 32 beneficiados (as) do PRONAF B com o intuito de identificar seu perfil, sua situação e as causas do não pagamento do crédito.

• Lideranças locais, quais sejam: presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Barra, representante da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (FETAG) no município, presidentes de associações de produtores, presidente da Colônia de Pescadores de Barra. Tais entrevistas foram de grande importância para

entender as idiossincrasias da agricultura familiar de Barra, bem como suas principais dificuldades.

• Representantes do poder público como promotores e gestores das políticas: Vereadores ligados ao segmento familiar, Secretário de Políticas Agrícolas e Agrárias de Barra, Chefe de Escritório da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrário (EBDA), Diretor de Apoio Rural e Cooperativismo da Prefeitura de Barra.

• Representante da instituição financeira, ou seja, do BNB, com o intuito de identificar os tipos de projetos inadimplentes financiados e sua localização.

A partir das entrevistas realizadas na pesquisa de campo e analise dos dados fornecidos pelo BNB, única instituição financeira que gerencia os recursos do PRONAF B em Barra, é possível traçar o perfil da inadimplência setorialmente e espacialmente. As comunidades que concentram a inadimplência são: todas as comunidades pertencentes aos Brejos, distrito Sede de Barra, Wanderley, Pau D’arco, Porto de Palha, Bebedouro e Sambaiba. As atividades financiadas pelas operações inadimplentes são: bovinos, caprinos, ovinos, pesca, apicultura e aves.

Através de discussão com os principais líderes locais e de posse das informações supracitadas, foram selecionadas as seguintes comunidades duas comunidades ribeirinhas, Pau D’Arco e Wanderley e, cinco comunidades de Brejos,do Saco, do Bangüê, do Arrodeio, da Cachoeira e dos Olhos D’água. Algumas destas comunidades estão apresentadas na Figura 4.1.

Inicialmente, observou-se que dada sua extensão territorial e localização, o município de Barra é composto por pelo menos três biomas que definem padrões de sobrevivência e reprodução socioeconômica distintos para sua população. Esta diversidade define, ainda, diferentes perfis de produção da agricultura familiar. A partir da pesquisa de campo são identificadas três tipologias distintas:

• Brejeiro. • Ribeirinho.

• Catingueiro.

O agricultor familiar dos Brejos tem como sua atividade principal o cultivo da cana-de-açúcar para a fabricação de rapadura e cachaça, como na comunidade Brejos dos Olhos D’Agua, onde se vê na Figura 4.2 a prática desta atividade. A fruticultura (geralmente caju, manga e buriti) também se constituem em importante atividade, sendo exercida, principalmente, nos Brejos do Saco e Arrodeio, cujos produtos são comercializada na forma de doces. Destacam- se, ainda, os plantios de mamona, que são direcionados para a produção de biodiesel.

Figura 4.1 - Comunidades visitadas em pesquisa de campo: a.Comunidade Ribeirinha Pau D’arco, b. Comunidade Ribeirinha Wanderley, c.Comunidade Brejos dos Olhos D’água.

Fonte: Pesquisa de campo, 2009

Tais atividades ocorrem concomitantemente ao cultivo de culturas temporárias para a subsistência (feijão, milho, mandioca entre outras), e criação de animais (bovinos suínos e aves). Alguns dos agricultores realizam trabalhos não-agrícolas, geralmente, como pedreiros. A região onde se localizam os Brejos é caracterizada pela existência de belas paisagens e

clima não tão árido, isto é, com maior presença de água do que outras regiões do município, contribuindo para a consecução da agropecuária.

Chama a atenção o difícil acesso à referida região do município, com estradas de barro esburacadas, e a grande distância da sede, o que dificulta a comercialização dos subprodutos da cana-de-açúcar e frutas e a venda da mamona.

Figura 4.2 – Produção da rapadura na Comunidade Brejos dos Olhos D’água. Fonte: Pesquisa de Campo, 2009

A base produtiva do agricultor familiar ribeirinho é a pesca, que ocorre nos rios Grande e São Francisco. Esta se dá, geralmente, concomitantemente ao cultivo de culturas temporárias para a subsistência, principalmente, milho, mandioca e feijão, horticultura e criação de animais como bovinos, suínos, aves, abelhas e caprinos.

Os ribeirinhos localizam-se, geralmente, às margens do Rio São Francisco, onde na vazante aproveitam as terras úmidas e fertilizadas pelo Rio para a agricultura, já que as altas temperaturas locais prejudicam o plantio fora destas áreas. Observou-se, desta forma, a dependência desses agricultores dos rios ali existentes, uma vez que organizam sua vida e atividade produtiva em função destes. Através da Figura 4.3, pode-se observar os ribeirinhos às margens do Rio São Francisco.

Deve-se destacar o nível de organização social dos pescadores ribeirinhos, sendo que quase todos estão unidos em sindicato, entendendo o papel deste na organização para a melhoria das condições de trabalho e produtividade.

Figura 4.3 – Agricultor familiar ribeirinho: Comunidade Wanderley e Comunidade do Pau D’Arco.

Fonte: Pesquisa de campo, 2009

O agricultor familiar da Caatinga, por habitar numa região mais árida na qual a produção de alimentos é muitas vezes inviabilizada pelas longas estiagens, sobrevive com mais dificuldade e, geralmente, em situação de insegurança alimentar. As atividades realizadas constituem-se na criação de animais, com destaque para bovinocultura, e cultivo de sequeiro como mandioca, milho e feijão voltadas, basicamente, para subsistência. Deve-se ressaltar que boa parte das áreas caatinga vem sendo utilizada para reforma agrária com a implantação de assentamentos e acampamentos.

Observou-se que tanto o acesso à educação quanto à saúde é limitado nas sete comunidades pesquisadas. Em todas estas, as crianças têm acesso à educação, todavia, as escolas só oferecem ensino até o nível fundamental. Caso queiram cursar o ensino médio, os estudantes têm de sair de suas localidades, o que parece pouco viável dado que as rendas das famílias não são suficientes para sustentar filhos estudando na sede do município. Ressalta-se que o transporte para as escolas é de responsabilidade da prefeitura do município, inclusive o

realizado das diversas comunidades para escolas situadas nos locais mais distantes, como a sede de Barra.

O acesso à saúde ocorre por meio da presença dos agentes de saúde no meio rural, sem a presença de postos de saúde. Aliás, os postos de saúde estão instalados apenas nas sedes dos distritos. No caso das comunidades selecionadas, o posto de saúde mais próximo encontra-se na sede do município de Barra.

Quanto à infraestrutura, tem-se que todos os estabelecimentos familiares têm acesso à energia elétrica, que foi instalada recentemente a partir do Programa Luz para Todos. Todavia, o acesso à água tratada e ao saneamento básico é precário, já que um reduzido número de comunidades de Barra tem acesso a estas condições. Tais informações apresentam o contexto de extrema pobreza e privação de condições dignas de sobrevivência a que estão sujeitas as comunidades pesquisadas.

Nessa perspectiva, é interessante analisar a composição da renda, constatando-se a grande relevância das transferências governamentais para os agricultores familiares entrevistados, a exemplo da Aposentadoria Rural, o programa Bolsa Família e Seguro Defeso. Muitos afirmam que a renda advinda das atividades agrícolas, pesca e pecuária é muito pequena se comparada aquela proveniente das transferências, além do fato desta última ter uma peridiocidade mensal e não ser influenciada por variáveis exógenas como ocorre na agricultura, haja vista as flutuações de preço e clima. Em depoimento, um líder local coloca que:

A renda do povo aqui é mais das aposentadoria, do cartão do Bolsa Família...tudo que é mulher daqui tem o cartão para dá de comer pro seus filhos, quem não tem ta correndo atrás. Se depender do dinheiro da roça só, o povo morre de fome, tem ano que é seco e aí não dá nada na terra e os bicho morre de fome e sede... Os pescador tem o Seguro Defeso, aí todo ano de novembro a fevereiro, quando a pesca ta proibida eles recebem (...).(RENDA ...., 2009).

Ainda em relação à situação geral dos agricultores, as principais dificuldades enfrentadas, listadas tanto pelas lideranças locais, representantes do poder público e pelos próprios são:

2. Assistência Técnica insuficiente.

3. Falta de regularização fundiária – a maior parte dos agricultores familiares de Barra não tem as escrituras de suas propriedades.

4. As longas estiagens, principalmente nas áreas de caatinga.

5. Longas distâncias entre as comunidades e o difícil acesso às mesmas, o que dificulta a comercialização dos produtos.

A primeira e principal dificuldade relatada – falta de acesso ao crédito - vem sendo agravada, notadamente, pela elevada inadimplência ao PRONAF no município, haja vista que Barra é um dos municípios cujas operações de crédito estão suspensas desde o início da Portaria nº 105/2007 do MDA.

Conforme salientado, as atividades financiadas pelas operações inadimplentes foram: bovinos, caprinos, ovinos, pesca, apicultura e aves. Com isto, é de capital importância entender porque tais atividades foram escolhidas como objeto de projetos e porque, através delas, não foi possível reembolsar o crédito.

A bovinocultura tem sido uma atividade tradicional dos agricultores familiares do referido município e esta é a razão para a relativa concentração dos financiamentos via PRONAF B neste setor, que era de cerca de 60% segundo a EBDA, órgão responsável pela elaboração dos projetos.

A criação dos animais é feita de forma completamente extensiva com uma peculiaridade, os animais são criados completamente soltos e com reduzido acompanhamento por parte dos donos. Corroborando com isto, tem-se que durante as viagens até as distantes comunidades, observou-se um grande número de bovinos tanto nos terrenos baldios quanto nos matos e diversas estradas, conforma pode se observar na Figura 4.4.

Figura 4.4 – Bovinos soltos na estrada e terreno baldio. Fonte: Pesquisa de campo, 2009

A criação dos animais realizada desta forma tão extensiva, isto é, com um tipo de manejo “rústico”, pode contribuir para o insucesso dos projetos de PRONAF B alocados neste segmento e, consequentemente, para o não-pagamento. Tal afirmativa pode ser melhor entendida através de relato de grupo de agricultores entrevistados:

Nós e a maioria do povo daqui que pega o dinheiro é pra comprar ou uma vaca prenha ou dois novilhos...aí a gente marca e solta pelos mato. Quanto a vaca tá pra parir, e a gente sabe quando é por que faz as contas, ou quando precisa do novilho, que já é um garrotinho, pra pagar o empréstimo, agente se embrenha pelos mato atrás. Aí pergunta a um e a outro se viu um bicho de tal e tal jeito.(...) Às vezes a gente acha e ás vezes não porque algum filho de Deus pode ter pegado ou um animal matado ou (...). quando acha o cabra vende o bezerrinho pra pagar o empréstimo e fica com a vaca e se acontecer alguma emergência ele já tem a vaquinha pra cobrir...e quando acha os garrotinhos, vende um para pagar e tem o outro de lucro....( DESTINO ... , 2009).

Assim, percebe-se que o fato de deixar os animais “soltos” confere à atividade e ao projeto de crédito um grande risco, já que não se tem garantia de que os agricultores conseguirão encontrá-los posteriormente e pagar os financiamentos. Ressalta-se o entendimento do agricultor da posse do animal após o pagamento como um ativo não monetário ou uma espécie de “poupança”, o que contradiz a idéia de que o agricultor familiar não poupa.

Em relação à pesca, anteriormente foi citado que esta ocorre ao longo dos Rios Grande e São Francisco e é a principal atividade dos agricultores familiares ribeirinhos. Com o crédito que

lhes oferecido por meio do PRONAF B, estes financiaram redes, barcos artesanais e motores para a melhoria de sua produtividade.

Todavia, o assoreamento dos rios, as poucas cheias e a pesca indiscriminada acarretam na diminuição do estoque de peixes e, consequentemente, na redução da renda dos pescadores, o que, provavelmente, os impediu de pagar o financiamento, de acordo com os mesmos. Neste ínterim, ressalta-se que a inadimplência dos projetos voltados para a pesca é bem menor do que para as outras atividades listadas. Um dos fatores que pode ter contribuído para isto é a renda garantida pelo Seguro Defeso durante quatro meses no ano, com este recurso o pescador ribeirinho pode, inclusive, honrar suas dívidas.

A contratação das operações do PRONAF B para a caprino-ovinocultura se deu em boa parte das comunidades de Barra. Esta atividade não é tão tradicional no município, como o caso da bovinocultura, gerando questionamentos quanto ao motivo da sua escolha enquanto objeto de financiamento, principalmente pelo fato de os entrevistados afirmarem não conhecer o seu manejo.

Segundo os agricultores familiares, à época da concessão do PRONAF B para este fim, a empresa oficial de assistência técnica, juntamente com a ADAB, providenciou a compra dos animais, que foram originados de municípios fora do entorno de Barra. Conforme relatos, muitos destes animais já chegaram aos agricultores doentes ou mortos e mesmo assim pagaram pelos mesmos.

Questionados quanto às possíveis causas das mortes e/ou doença dos caprinos e ovinos, entrevistados enumeraram os seguintes: i.Os animais não se adaptaram ao clima local por serem provenientes de regiões com condições edafoclimáticas diferentes; ii. O transporte foi realizado de maneira inadequada e por longas distâncias provocando fadiga e morte ; iii. Os animais já foram vendidos doentes e por isso muitos deles já chegaram mortos.

A exposição desta última causa deu-se em tom de denúncia, já que afirmaram ter havido algum tipo de acerto financeiro entre o técnico e o proprietário dos animais. Na opinião daqueles, o técnico recebeu dinheiro ou “propina” para revender os animais já debilitados. Com a morte dos caprino-ovinos, os projetos fracassaram e o reembolso dos empréstimos não foi realizado.

A apicultura também não era uma atividade tradicional na região e, conforme relatos, sua escolha como objeto de projeto PRONAF B foi, em grande medida, influenciada pelo interesse da empresa oficial de assistência técnica em desenvolver este segmento no município. Foi ignorada a falta de conhecimento e, até certo ponto, o medo dos agricultores familiares de lidar com as abelhas, vendo-as não como fonte de renda, mas como um “inimigo”.

As dificuldades ocasionadas pelo não domínio do manejo, o medo, as estiagens que impediam a florada e a falta de estrutura de comercialização frustraram a expectativa de geração de renda com a apicultura à época e boa parte dos empréstimos não foram pagos.

Já o financiamento para a criação de galinhas se deu, basicamente, na região dos Brejos, sendo demandada mais fortemente pelas mulheres. Do mesmo modo que a caprino- ovinocultura e apicultura, os entrevistados relatam a influencia do técnico na escolha do projeto:

A gente queria pegar o de quinhentos pra comprar os garrotinhos, pagava com um e ficava com outro, mas Fulano de Tal disse que só podia pegar se fosse pra criar galinha... Era aquela galinha que tinha que ter luz em cima a noite toda e só comia ração, o Fulano de Tal disse mais ou menos como era que tinha que proceder...Eu recebi numa base de uns cento e vinte pintos....com o dinheiro dos quinhentos eles montaram o lugar pra elas, compraram os pintos e a ração...a gente ficou um tempo com os pintos, mas quando a ração que veio com eles acabaram a gente começou a fazer a ração aqui mesmo porque aquela que veio era muito cara e a gente não tinha condição de comprar.... eles começaram a ficam doentes e uma parte morreu, o que não morreu eu vendi logo... (DESTINO ..., 2009).

Deste modo, a inadequação do animal quanto ao manejo para a realidade dos agricultores impediram que muitos pronafianos auferissem ganhos de renda a partir do financiamento acarretando na inadimplência.

A partir de tais informações observa-se a grande influência exercida pela empresa oficial de assistência técnica na escolha e consecução dos projetos e também, indiretamente, para o insucesso dos mesmos e não reembolso do crédito. Mais do que isso, a indução das escolhas das atividades a serem financiadas pelo PRONAF B fora do alcance dos agricultores familiares resultou no fracasso das mesmas.

Entretanto, faz-se necessário analisar mais detalhadamente se àqueles fatores enumerados nas hipóteses do presente trabalho que estão associadas à inadimplência ao PRONAF B em Barra. Antes de analisar tais aspectos, é necessário relatar o baixo grau de informação dos agricultores entrevistados quanto ao crédito. Ao perguntar se os mesmos tiveram acesso ao PRONAF, todos responderam que não sabiam do que se tratava. Para tanto, a pergunta foi reformulada para: Você pegou algum dinheiro emprestado para a roça ou criar bicho com a EBDA ou STR? De quanto foi? Ademais, além de não saber o que era o PRONAF, demonstraram não conhecer suas normas.

O conjunto de respostas indicava se tratava de uma pronafiano B ou não. Tal fato ocorreu em contraponto com o que foi relatado pela assistência técnica, haja vista que estes afirmaram que os agricultores familiares tinham ciência do que é o crédito, seus prazos, datas de pagamento, rebates e taxas de juros.

A prestação de assistência técnica, tanto à época da realização dos projetos supracitados quanto atualmente, é insuficiente diante do grande número de comunidades, da heterogeneidade dos biomas que acarreta em perfis distintos da produção da agricultura familiar, do tamanho do município e das longas distâncias entre as comunidades.

Até o ano de 2008, somente três técnicos respondiam pela assistência agropecuária das 140 comunidades e cerca de 2.553 estabelecimentos familiares existentes, sendo dois da EBDA e um trabalhando pela Prefeitura Municipal. Destaca-se que nenhum destes é veterinário ou zootecnista, que seria o profissional mais indicado para assessorar no manejo dos distintos animais, haja vista que é a maioria dos projetos PRONAF B são voltados para a criação dos mesmos. Para o deslocamento entre as localidades, os técnicos contavam apenas com um único carro, sendo o mesmo inadequado às condições das estradas.

No que tange, especificamente, a assistência técnica realizada junto aos agricultores familiares entrevistados, constatou-se que esta só ocorreu durante o período da elaboração dos projetos. Segundo relatos, as deficiências na elaboração dos projetos contribuíram também para a inadimplência ao crédito pelas seguintes razões: no início não houve uma seleção criteriosa dos agricultores que foram beneficiados com os projetos; a escolha da atividade a ser

financiada nem sempre se dava pela aptidão, vocação, ou interesse dos agricultores. Observa- se que às vezes esta era induzida seja em prol de interesses financeiros ou não, ademais muitos dos projetos não levavam em conta a capacidade de pagamento.

Em relação à presença da assistência técnica na comunidade do Brejo dos Olhos D’Água, o entrevistado afirmou que:

Que eu me lembre esse povo (da assistência técnica) nunca veio aqui não. Moça, eu não me lembro deles aqui não (...) Aliás, me lembro deles aqui faz muito tempo, quando queria que as mulher pegasse o dinheiro pra criar as galinhas que morreram. Fora desse dia num me lembro não. Agente aqui fica