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Análise da liberação dos recursos do PRONAF

3 O PAPEL DO PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR – PRONAF

3.2 O PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR – PRONAF

3.2.2 Análise da liberação dos recursos do PRONAF

Com o intuito de discutir a lógica de liberação dos recursos do PRONAF Crédito ao longo dos anos, apresentam-se informações quanto suas linhas de ação, seus enquadramentos, distribuição regional, bem como se dá a alocação de recursos.

Analisando as liberações totais do PRONAF, bem como o conjunto de suas linhas de ação, observa-se que o montante de crédito total do Programa esteve praticamente estagnado entre 1999 e 2002, com um pequeno movimento de queda do volume de recursos. Esta queda no

financiamento se deu principalmente para as linhas Infra-estrutura e Capacitação, no caso da linha Infra-Estrutura, este cenário só se modifica a partir do ano de 2004. Entretanto, após 2002, verifica-se elevação na liberação dos recursos, que passa de R$ 2.755,3 milhões para R$ 5.748,7 milhões, entre 2002 e 2004 (QUADRO 3.2).

1999

188.425.961,67

46.691.548,66

2.001.762.962,82

2.236.882.472,15

2000

161.722.533,31

38.795.642,02

2.394.410.466,32

2.594.930.641,65

2001

152.382.479,31

21.949.066,06

2.355.809.344,14

2.530.142.890,51

2002

110.644.848,26

13.679.312,33

2.630.954.839,38

2.755.281.001,97

2003

78.506.856,71

35.044.809,83

4.164.823.912,54

4.278.377.582,08

2004

101.685.917,66

40.697.841,79

5.606.318.267,29

5.748.704.030,74

Ano

Infra-Estrutura

Capacitação

Crédito

TOTAL

Quadro 3.2 - Liberação de recursos do PRONAF por linha de ação, Brasil, 1999 a 2004. Fonte: CORREIRA; SILVA, 2007

Para a distribuição dos valores liberados por linha de ação, percebe-se que ao longo dos anos analisados, os recursos se concentraram ainda mais na linha PRONAF Crédito. No ano de 1999, aproximadamente 89,5% dos recursos eram destinados a esta linha de ação, sendo que 2,09% iam para o PRONAF Capacitação e 8,42% para o PRONAF Infra-Estrutura e Serviços Municipais. Já em 2004, a linha PRONAF Crédito respondia por quase toda a totalidade dos recursos com 97,52%, enquanto que os PRONAFs Infra-Estrutura e Capacitação respondiam por apenas 1,77% e 0,71%, respectivamente. Faz-se necessário registrar que os recursos destas duas últimas linhas de ação estão centrados na região Nordeste, haja vista que esta abriga o maior número de agricultores familiares.

Diante de tal cenário, Correia e Silva (2007) apresentam a existência de uma grave dicotomia, ou seja, de um lado tem-se o PRONAF Infra-Estrutura, que não apresenta expansão mais consistente na liberação de recursos, mas que atinge às necessidades dos agricultores familiares mais carentes e, de outro, o PRONAF Crédito que expande os seus beneficiários potenciais, mas que não consegue mudar sua lógica de liberação.

No que se refere ao PRONAF Crédito, e mais especificamente, a alocação de recursos desta linha entre as regiões, verifica-se um forte desequilíbrio espacial com grande concentração de

recursos na região Sul, que em todos os anos apresentados respondeu por cerca de 50% dos financiamentos (QUADROS 3.3 e TABELA 3.5)

Norte 687.392 560.100 768.605 686.633 667.710 485.057 Nordeste 1.048.136 2.121.216 2.103.279 1.855.373 1.542.331 1.062.797 Centro-oeste 358.989 439.216 509.983 627.067 496.303 421.857 Sul 2.687.368 1.460.405 3.115.576 4.061.663 5.039.606 3.644.656 Sudeste 979.414 1.732.118 1.598.554 2.059.413 2.011.585 1.504.977 Total 5.761.298 6.313.055 8.095.997 9.290.149 9.757.535 7.119.343 2009 Região 2004 2005 2006 2007 2008

Quadro 3.3 – Montante do Crédito do PRONAF por região em mil R$, Brasil, 2004 a 2009. Fonte: BRASIL, 2010

Observando a tabela 3.7 percebe-se uma diminuição na participação dos recursos para a região Sudeste entre os anos de 2005 e 2006. Entretanto, esta região volta a concentrar, praticamente, a metade do volume destinado ao PRONAF Crédito no País a partir de 2008. A região Nordeste, por sua vez, tem seus recursos aumentados em 2005, contudo, este volta a decrescer em 2006 e anos subseqüentes.

Tabela 3.5 – Participação das regiões no montante do Crédito do PRONAF, Brasil, 2004 a 2009. Norte 12 9 9 7 7 7 Nordeste 18 34 26 20 16 15 Centro-oeste 6 7 6 7 5 6 Sul 47 23 38 44 52 51 Sudeste 17 27 20 22 21 21 Região 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Fonte: BRASIL, 2010

Para Schneider e outros (2004), dentre as explicações que podem justificar esta concentração na aplicação dos recursos do PRONAF no Sul , destacam-se os seguintes aspectos:

a) o peso econômico e as pressões políticas das agroindustriais da região Sul sobre os órgãos responsáveis pela alocação dos recursos financeiros, com um alto grau de concentração dos recursos do PRONAF em produtos típicos das cadeias agroindustriais mais competitivas no mercado internacional;

b) um nível maior de organização dos agricultores familiares e certa tradição de luta pelo crédito rural mais fortemente incorporada à pauta de reivindicação dos agricultores familiares da região Sul.

Some-se a isso ao fato do Sul concentrar o crédito nos grupos de rendas mais elevadas, direcionando maiores recursos ao grupo D e ao C (atual Agricultura Familiar). Em 2009, 64% dos contratos de PRONAF de agricultores familiares sulistas estavam enquadrados no grupo D; 10% no grupo C; 12% Exigibilidade bancária (sem enquadramento); 11,2% no Grupo Z Fumo; e somente 0,98% no grupo A; 0,25% no grupo A/C; 1,61% no Grupo E; e 0,0% no Grupo B.

Apesar de a região Nordeste concentrar cerca de 50% dos estabelecimentos familiares12, a sua

participação na liberação dos recursos é bem inferior ao aplicado no Sul. Conforme relatado anteriormente, em 2004, esta participação foi de 18%, voltando, em 2009, a um patamar inferior dos primeiros anos de existência do programa (16%).

A explicação para isto pode residir no perfil dos agricultores familiares beneficiados pelo Programa na região, que parecem ser menos integrados ao mercado e ainda destinar boa parte de sua produção para o auto-consumo. O quadro 3.4 apresenta o nº de contratos e volume de recursos segundo enquadramentos do PRONAF Crédito no Nordeste em 2009. Pode-se observar que a maior parte dos beneficiários estão enquadrados nos grupos B, ou seja, com baixo nível de integração econômica aos mercados.

Enquadramento Nº contratos Volume em R$ Exigibilidade Bancária (sem enquad) 6.951,00 155.481.548,88

Grupo A 3.691,00 59.197.284,51 Grupo A/C 2.873,00 11.491.622,97 Grupo B 192.139,00 282.935.534,90 Grupo C 23.923,00 53.353.768,53 Grupo D 19.017,00 48.119.023,35 Grupo E 304 5.350.626,12 Grupo Z Fumo 1 4.291,84 Mini-produtores 6.039,00 175.962.438,52 Variavel 45.213,00 270.900.391,67

Quadro 3.4 – Nº de contratos e volume de recursos segundo enquadramentos, Região Nordeste, 2009. Fonte: BRASIL, 2010

No que tange ao volume de recursos do Programa destinado ao estado da Bahia, dados mostram que tanto o número de contratos quanto o volume de recursos obtiveram acréscimos entre os anos de 2000 e 2006. Entretanto, tais valores foram reduzidos a partir de 2007, culminando com a contratação de apenas 77.693 operações em 2008. Uma das possíveis causas para esta redução pode ser a inadimplência dos municípios baianos, impedindo-os de contratarem novos financiamentos.

Ano Tipo Valor No. Contratos 57.243 Montante (R$) 125.196.738 No. Contratos 70.436 Montante (R$) 103.436.485 No. Contratos 85.564 Montante (R$) 118.309.406 No. Contratos 83.512 Montante (R$) 170.186.336 No. Contratos 135.432 Montante (R$) 308.101.760 No. Contratos 138.865 Montante (R$) 355.349.124 No. Contratos 149.065 Montante (R$) 455.963.327 No. Contratos 112.161 Montante (R$) 401.425.656 No. Contratos 77.693 Montante (R$) 255.402.660 2006 2007 2008 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Quadro 3.5 - Contratação do PRONAF por ano civil no Estado da Bahia entre 2004 e 2008. Fonte: BRASIL, 2010

A partir das informações apresentadas pode-se observar a elevada concentração dos recursos do PRONAF Crédito na região Sul em detrimento da região Nordeste, que detém maior número de agricultores familiares. Observou-se, ainda, a elevada participação do Grupo B nesta última. Diante deste cenário, faz-se necessário a criação de mecanismos no âmbito PRONAF que propicie uma distribuição mais equânime dos recursos.