• Nenhum resultado encontrado

O Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) e seus instrumentos de financiamento.

POLÍTICAS

2.2 O CRÉDITO RURAL NO BRASIL 1 Evolução do crédito rural no Brasil

2.2.2 O Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) e seus instrumentos de financiamento.

Desde sua institucionalização, em 1965, o SNCR cumpre os seguintes objetivos:

• Estimular o incremento ordenado dos investimentos rurais, inclusive para armazenamento, beneficiamento e industrialização dos produtos agropecuários, quando efetuados por cooperativas ou pelo produtor na sua propriedade rural.

• Favorecer o custeio oportuno e adequado da produção e a comercialização dos produtos agropecuários. Possibilitar o fortalecimento econômico dos produtores, notadamente considerados ou classificados como pequenos e médios.

• Incentivar a introdução de métodos racionais de produção, visando o aumento da produtividade e a melhoria do padrão de vida das populações rurais e à adequada defesa do solo.

Os principais dispositivos legais, nos quais está normalizado o SNCR, são (TRINDADE; GALANTE, 2006; SOUZA; CAUME, 2008; ALMEIDA et al, 2008; CAZZELA, 2009; ALMEIDA; 2008):

• Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, que criou o SNCR.

• Lei nº 4.829, de 5 de novembro de 1965,que institucionalizou o Crédito Rural.

• Decreto nº 58.380, de 10 de maio de 1966, que aprovou a regulamentação da Lei nº 4829. • Decreto-Lei nº 167, de 14 de fevereiro de 1967, que dispõe sobre títulos de crédito rural e dá outras providências.

• Medidas Provisórias e Portarias Interministeriais específicas.

• Resoluções, Circulares, Cartas-Circulares e Normas divulgadas pelo Banco Central do Brasil que compõem o Manual de Crédito Rural (MCR).

O SNCR é constituído de órgãos básicos, vinculados e articulados. São órgãos básicos o BACEN, BB, Banco da Amazônia (BASA) e Banco do Nordeste (BNB). Como órgãos vinculados tem-se o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),

bancos privados e estaduais, caixas econômicas, cooperativas de crédito rural e sociedades de crédito. Por último, existem os órgãos articulados que são os órgãos oficiais de valorização regional e entidades de prestação de assistência técnica (FIGURA 2.2) (TRINDADE; GALANTE, 2006).

Figura 2.2 - Sistema Nacional de Crédito Rural. Fonte: Adaptado de TRINDADE; GALANTE, 2006

Como o SNCR foi criado em 1965, isto é, num contexto econômico e institucional distinto, a legislação básica teve de ser complementada com outras leis, decretos e programas no decorrer dos anos, para sua adequação à realidade do setor agrícola nacional. Algumas medidas foram muito importantes para a evolução do crédito rural no Brasil, dentre elas, destacam-se (TRINDADE; GALANTE, 2006; SOUZA; CAUME, 2008; ALMEIDA et al, 2008; CAZZELA, 2009; ALMEIDA; 2008):

• 1967: a resolução do Conselho Monetário Nacional tornou obrigatório direcionamento de 10% dos depósitos à vista sistema bancário para a concessão de crédito ao setor agrícola. • 1986: extinção da Conta Movimento, o que limitou os recursos para o Crédito Rural à disponibilidade da União.

• 1986: criação da Poupança Rural. Os bancos oficiais ficaram autorizados a operar com essa fonte de recursos que se tornou, em 1988, na maior fonte supridora para o Crédito Rural. • 1991: aumento da participação do BNDES no crédito rural por meio do Finame Rural (Agência Especial de Financiamento Industrial - Finame), do Programa de Operações Conjuntas (POD) e do Programa de Operações Diretas do próprio Banco. Até então, tradicionalmente, o BNDES sempre esteve voltado para o financiamento de investimentos industriais.

• 1995: criação do PRONAF.

• 1996: criação do Programa de Securitização das Dívidas6 dos agricultores, que permitiu o

reescalonamento do vencimento das operações a taxas de juros compatíveis com a atividade agropecuária.

Para o seu funcionamento, o SNCR adota os seguintes critérios para a aplicação dos recursos: o crédito de investimento (aquisição de máquinas, abertura de áreas) como principal mecanismo de adoção de novas tecnologias; o crédito de custeio, que permite a compra de insumos; e o crédito para comercialização, que fornece a oportunidade de logística e desconcentrações da oferta e conseqüentemente queda de preços (COELHO, 2001). A Seguir serão discutidos estes três tipos de financiamento agrícola:

• Crédito de Custeio:

Este permite, segundo o SNCR, a condução das atividades de produção no setor agrícola. Suas modalidades são as seguintes despesas: do ciclo produtivo de lavouras periódicas, de entressafra de lavouras permanentes ou da extração de produtos vegetais espontâneos, incluindo o beneficiamento primário da produção obtida e seu armazenamento no imóvel rural ou em cooperativa; de exploração pecuária; de beneficiamento ou industrialização de produtos agropecuários A aquisição de insumos e a própria manutenção familiar e da unidade

6A Securitização das dívidas foi necessária, pois, nas tentativas de estabilização da economia que se sucederam

no Brasil, diversos desencontros entre a correção das dívidas e dos preços mínimos foram muito desfavoráveis aos agropecuaristas.

de produção ocupam o maior parte do volume de crédito disponível (TRINDADE; GALANTE, 2006; ZICA, 2001).

• Crédito de Investimento

O financiamento de investimento refere-se à aquisição, construção, instalação de bens fixos, semifixos e serviços, cujo desfrute se estenda por vários períodos de produção. Estes financiamentos têm ciclo de retorno mais longo em razão da necessidade de a amortização dos investimentos ser feita com rendas de mais de um ciclo produtivo. As instituições financeiras, normalmente, exigem assistência técnica, de empresa especializada, tanto na fase de elaboração quanto na implantação do projeto de investimento. O fluxo do processo é semelhante ao das operações de custeio, com algumas variações (ZICA, 2001).

De acordo com Trindade e Galante (2006), na linha de crédito de investimento, com a finalidade de adoção de novas tecnologias foram instituídos diversos programas, tais como: o Programa de Crédito Integrado (PCI), que era operado com recursos do Banco Mundial; posteriormente houve a inclusão do Programa de Assentamento Dirigido ao Alto Paraíba (PADAP). Contudo os dois maiores programas foram o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (POLOCENTRO) e o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira (PRODECER), ambos extintos.

O POLOCENTRO, instituído pelo Decreto nº 75.320 de 29.01.1975, baseava-se na concepção de pólos de desenvolvimento. Para tanto foram selecionadas, no Centro-Oeste e Oeste de Minas Gerais, áreas dotadas de infra-estrutura e com potencial para a expansão agropecuária. Enquanto que o PRODECER foi idealizado em 1974 através da criação do Comitê Nipo- Brasileiro para o Desenvolvimento Agrícola e se baseava em um programa de cooperação entre os governos do Brasil e do Japão com a participação do setor privado de ambos os países (TRINDADE; GALANTE, 2006).

• Crédito de Comercialização

O financiamento para comercialização destina recursos para viabilizar a colocação do produto rural no mercado. Assim, visa dar condições ao produtor de, sem atrasar seus compromissos

financeiros, aguardar o momento oportuno de venda de sua produção, carregando seus estoques até a entressafra, quando, espera-se, os preços sejam mais atraentes (ZICA, 2001). Conforme Trindade e Galante (2006), as atividades de comercialização foram amparadas pela PGPM e sua criação acontece em 1943, mas sua operacionalização só se efetua a partir de 1951. Esta política de preços mínimos era orientada no sentido de antecipar e garantir o preço de equilíbrio entre as estruturas de oferta e demanda para a época da colheita, sem que o produtor pagasse o ônus para ter acesso aos seus instrumentos, ou seja, tratava-se de um seguro de preço cujo prêmio pago pelo beneficiário era zero.

Ainda segundo o autor, o governo buscava transmitir ao produtor o preço que a demanda estava disposta a pagar a cada nível previsto da oferta normal, deixando que a comercialização fosse, na medida do possível, livremente executada pelo produtor. Sua reformulação inicia-se em 1965 conjuntamente com a criação do SNCR e complementada em 1966 através do Decreto Lei 79, que cria seus instrumentos operacionais, o EGF e AGF, lançando as bases para o empréstimo de comercialização.

Segundo Zica (2001), o EGF é a forma direta de atuação na modalidade de comercialização, e pode ser concedido sob duas modalidades: Sem Opção de Venda (SOV), em que o risco de os preços não se elevarem na entressafra é do produtor e Com Opção de Venda (COV), no qual o produtor pode requerer até a prorrogação do vencimento para aguardar a reação dos preços no mercado e, não ocorrendo essa hipótese. O EGF transforma-se em AGF, pagando-se ao produtor o preço mínimo estabelecido e carreando-se os recursos para o agente financeiro para liquidação da dívida correspondente. Os produtos são depositados em armazéns credenciados pala Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e passam a fazer parte dos estoques do Governo Federal.

Como explicitado anteriormente, o modelo tradicional de financiamento da agricultura brasileira, apoiado basicamente em recursos do Tesouro Nacional e com taxas de juros subsidiadas vem se esgotando desde meados dos anos 80. A precariedade dos mecanismos tradicionais de financiamento do Estado para a produção agrícola tornou-se evidente, tanto pela falta de garantia de preços compensatórios para agricultores em condições adversas de mercado, como pelas dificuldades crescentes de gerenciamento diante da magnitude das operações (BELIK; PAULILLO, 2001).

Assim, novas formas alternativas de financiamento agropecuário têm surgido, tanto públicas quanto privadas. Para Silva (2006), a nova configuração do financiamento agrícola, na atualidade, deve abranger uma institucionalidade mais ampla, que não passa somente pelas fontes de recursos inseridas dentro do SNCR, mas também pelas fontes semiformais e informais e os mecanismos de hedge, negociados nas Bolsas, que afetam os custos e riscos dos financiamentos. Entretanto, neste trabalho somente serão abordadas as fontes estritamente pertencentes ao SNCR.

No que tange à composição do financiamento do SNCR, este é formado por duas categorias: as Fontes Tradicionais, criadas a partir de 1965, e as Novas Fontes, que começaram a ser definidas no decorrer da década de 1980, com o intuito de aumentar a participação privada no financiamento da agricultura. (ARAÚJO; ALMEIDA, 1997).

As Fontes Tradicionais são compostas pelos Recursos Obrigatórios, pelos Recursos Livres e Recursos do Tesouro Nacional. Os Recursos Obrigatórios constituem-se em aplicações compulsórias de financiamento agrícola, nas condições fixadas pelo SNCR, de um percentual dos depósitos á vista nos bancos comerciais. Parte destes recursos é direcionada a empréstimos subsidiados sem qualquer ônus para o Tesouro ou para os bancos comerciais, uma vez que os depósitos em conta corrente têm custo muito baixo para os bancos. O percentual da exigibilidade é definido pelo Banco Central do Brasil segundo as necessidades de recursos e a política monetária vigente (SILVA, 2006).

Em relação aos Recursos Livres, suas aplicações são realizadas, geralmente, pelo Banco do Brasil. Conforme Araújo e Almeida (1997), esta instituição financeira tem diminuído sua participação na concessão do crédito agrícola em razão das tentativas de ajustar-se às imposições do Acordo da Basiléia, que estabelece limites de empréstimos como precaução ao risco de crédito. Durante a década de 1990, após o fim do processo inflacionário, foi observado um aumento relativo na participação dos bancos privados no financiamento agrícola, graças ao retorno das aplicações em depósitos á vista o que, conseqüentemente, aumentou o volume das exigibilidades.

No que diz respeito às Novas Fontes, estas começaram a ser constituídas quando as fontes tradicionais já estavam num processo de decréscimo da oferta de recursos. Dessa forma, a concepção inicial da criação das novas fontes versava sobre o aumento da atuação privada no crédito agrícola, enquanto a participação das fontes formais decrescia abruptamente. Do total das novas fontes criadas algumas não foram implementadas e outras ainda podem ser consideradas como sendo determinadas pelo mercado, pois envolvem mecanismos de captação compulsória. Dentre as novas fontes, destacam-se (SILVA, 2006; ARAÚJO; ALMEIDA, 1997; TRINDADE ; GALANTE; 2006; ALMEIDA; 2008):

i. Fundos constitucionais de financiamento:

Os Fundos Constitucionais foram criados com a Constituição de 1988, tendo como fonte o percentual de 3% a 47% da arrecadação de IPI e do IR para aplicação nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Tais fundos, regulamentados pela Lei 7.827 de 27/09/89, visavam priorizar os pequenos produtores/empresários rurais e industriais (SILVA, 2006).

Os fundos constitucionais das regiões Nordeste (FNE), Norte (FNO) ficaram a cargo do BNB e do BASA, respectivamente. Enquanto que na região Centro-Oeste, ficaram a cargo do Banco do Brasil em decorrência da falta de uma banco de desenvolvimento na região. Esses fundos trabalham com taxas de juros mais baixas, controladas pelo Governo e são constituídos como fontes compulsórias de recursos (SILVA, 2006).

ii. Finame Agrícola:

Foi instituído pela Circular 95 do BNDES e pela carta-Circular 10/95, ficando sob a responsabilidade do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Finame é constituído por recursos do Fundo Pis/Pasep e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e tem o objetivo de financiar as aquisições de máquinas e implementos agrícolas novos, de fabricação nacional. O Finame agrícola é gerenciado pelo BNDES, e seu direcionamento está voltado para o crédito de investimento (SILVA, 2006; ARAÚJO; ALMEIDA, 1997).

Essa fonte é monitorada por instituições financeiras credenciadas, sem limite de valor, com garantias negociadas com o cliente. O encargo financeiro é composto pelo custo financeiro

(taxa de juros de longo prazo) + spread básico + spread de risco (negociadas com as instituições financeiras e o cliente). O prazo de carência varia de 12 a 18 meses, sendo que o prazo máximo do empréstimo é de cinco anos (SILVA, 2006).

Esta também é uma fonte compulsória de recursos. Para Silva (2006), as dificuldades decorrentes da liberação de recursos por essa fonte refere-se ao fato de que os bancos repassadores estão exigindo garantias cada vez mais pesadas aos candidatos aos empréstimos e a rentabilidade das operações do BNDES é menor que a média conseguida pelos bancos no mercado.

iii. Poupança Rural

A caderneta de Poupança foi instituída em 05 de setembro de 1986 e operacionalizada a partir de 12 de fevereiro de 1987. Tem como fonte os depósitos do BB, Banco Nacional de Crédito Cooperativo, Banco da Amazônia e Banco do Nordeste do Brasil, em conformidade com as normas aplicáveis aos depósitos de poupança do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) (SILVA, 2006).

O Manual do Crédito Rural determina que 65% dos recursos captados em depósitos de poupança rural pelo BASA, BB, BNB e pelos bancos cooperativos, fiquem sujeitos ao seguinte direcionamento: em operações de crédito rural; na comercialização, beneficiamento ou industrialização de produtos de origem agropecuária ou de insumos utilizados naquela atividade; na aquisição, diretamente de seu emitente, de CPR. Desse montante, no mínimo, 60% devem ser aplicados em operações de crédito rural ou em CPR, observado que, no caso específico da poupança rural do Banco do Brasil, a média dos saldos diários dos valores aplicados em CPR não pode exceder hum bilhão de reais em cada período anual de ajustamento. Dada a necessidade de remunerar os poupadores, os encargos das operações amparadas com estes recursos são variáveis de acordo com o prazo da operação e o risco do cliente (TRINDADE; GALANTE, 2006).

iv. FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e seus programas para a agricultura

O FAT é um fundo contábil, de natureza financeira, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que foi instituído por meio da Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990, por ocasião da regulamentação do art. nº 239 da Constituição Federal. Conforme estabelecido no art. nº 11 desta lei, constituem recursos do FAT: o produto da arrecadação das contribuições devidas ao PIS e ao PASEP; o produto dos encargos monetários devidos pelos contribuintes, em decorrência da inobservância de suas obrigações; a correção monetária e os juros devidos pelo agente aplicador dos recursos do fundo, bem como pelos agentes pegadores, incidentes sobre o saldo dos repasses recebidos; o produto da arrecadação da contribuição adicional pelo índice de rotatividade; outros recursos que lhe sejam destinados (SILVA, 2006).

O FAT é uma fonte compulsória de recursos presente nos programas que apresentam oferta de recursos com taxas controladas. Estes programas foram criados, teoricamente, como alternativas à lógica de mercado nas operações de crédito tradicionais. É por meio dos chamados Depósitos Especiais (são disponibilidades financeiras do FAT aplicadas nas instituições financeiras oficiais federais nos termos do que determina a Lei nº 8.351, de 28 de dezembro de 1991) que são destinados os recursos ao financiamento de projetos com potencial de geração de trabalho, emprego e renda, como o PRONAF, o PROGER, o PROEMPREGO, o FAT-HABITAÇÂO, dentre outros (SILVA, 2006).

v. PROGER RURAL - Programa de Geração de Emprego e Renda Rural

O PROGER RURAL foi criado em 1995 e tem como finalidade a geração de emprego e renda na área rural, visando a elevação da produção, a melhoria da produtividade, o uso racional da terra, a preservação do meio-ambiente, uma maior absorção da mão-de-obra e, conseqüentemente, a melhoria de vida e a fixação do homem no campo. Atende a uma gama de produtores rurais mais estruturados que o público-alvo do PRONAF contando, para isso, com a seguinte tolerância legal: custeio agrícola e pecuário, em função de orçamento simplificado abrangendo as atividades desenvolvidas pelo produtor, admitida a inclusão de verbas para atendimento de pequenas despesas conceituadas como de investimento e manutenção do beneficiário e de sua família (TRINDADE; GALANTE, 2006).

vi. Recursos Externos

Segundo Silva (2006), existe mais de uma modalidade de captação de recursos externos voltados para o financiamento agrícola. A Resolução nº 1.872, de 25 de setembro de 1991, regula a captação desses recursos com a finalidade de financiar exportadores no custeio e na comercialização de produtos para exportação. A resolução nº 2.148, de setembro de 1991, regula a captação destes recursos com a obrigatoriedade de dirigi-los ao financiamento rural. Conhecida como “63 caipira”, esta fonte envolve a captação de recursos a taxas de juros internacionais e sob correção cambial. Uma das modalidades mais importantes é o Adiantamento sob Contratos de Câmbio (ACC).

A forma de operacionalização via ACC envolve uma peculiaridade: o adiantamento para contratos já pactuados. Estes recursos são tomados pelos produtores que representam antecipações parciais ou totais de valores a termo para o mercado internacional. Por constituírem adiantamentos a termo, ao ser realizada a captação, o pagamento será feito e produto, com preço estabelecido na data do contrato. Tal particularidade faz com que o ACC atinja exportadores /importadores que já tenham sua exportação/importação contratada. Mediante o contrato, o banco adianta recursos da venda/compra estabelecida, tendo como garantia o contrato de entrega entre os contratantes. Assim, a fonte de recursos que alavanca o ACC são os recursos de curto prazo, captados nos mercados financeiros internacionais, que serão pagos pelo banco tomador com correção cambial mais juros (SOUZA; CAFFAGNI, 1998; SILVA, 2006).

Para além dessas fontes formais de financiamento no âmbito do SNCR, Araújo e Almeida (1997) afirmam que, tendo em vista a diminuição da sua participação nas políticas públicas voltadas para a agricultura, a cada Plano Safra, tem sido comum o incentivo para que se faça uso de novos instrumentos financeiros no sentido de capitalizar o setor agrícola. Para os autores, a justificativa é de que a falta de recursos formais leva o governo a estimular a busca de recursos privados.

Prova disto é a estratégia utilizada do Plano Safra 2004/2005, com o estímulo ao lançamento dos Fundos Privados, isto é, títulos lastreados pela garantia de entrega dos produtos agropecuários que seriam negociados pelo mercado. Os principais títulos de crédito são: Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Letra de Comércio Agrícola (LCA),

Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA),Nota Comercial do Agronegócio (NC-a), Certificado de Depósito Agropecuário (CDA) e Warrant Agropecuário (WA) (SILVA, 2006).

Dessa forma, além das fontes citadas inicialmente que estão inseridas no SNCR, novos instrumentos de financiamento agrícola foral lançados. Os agentes privados têm procurado novas fontes e formas de financiar as atividades rurais, que permitam complementar ou mesmo substituir parte dos recursos tomados do crédito rural formal. Essas operações efetuadas que estão fora do sistema convencional são chamadas de operações financeiras semiformais e informais (SILVA, 2006; ARAÚJO; ALMEIDA, 1997).

De acordo com Corrêa e Silva citado por Silva (2006), dentre essas operações destacam-se: i. Empréstimos diretos efetuados entre produtores e compradores: São operações efetuadas diretamente pelo mercado, sendo que começaram a crescer nos anos 1990. Inicialmente, foram adotados esquemas de empréstimos diretos obtidos pelos produtores e ofertados por particulares ou firmas ligadas à atividade agropecuária.

ii. Troca Insumo-Produto: Operação conhecida como troca-troca. A troca pode se dar na relação insumo/produto, por meio da qual os produtores adquirem os insumos agrícolas, máquinas e equipamentos, para viabilizar o plantio efetuando o pagamento com produtos agrícolas. Pode-se, ainda, fazer a troca serviços/produtos e, em ambos os casos, o pagamento se faz após a colheita.

iii. Venda antecipada: O produtor recebe antecipadamente os recursos necessários para viabilizar o plantio das agroindústrias e cooperativas e o pagamento pode ser feito em dinheiro ou através de títulos de crédito, principalmente Notas Promissórias Rurais emitidas com base em contratos de compra e venda.

iv. CPR: É um ativo financeiro, na forma de título endossável, emitido pelo produtor rural ou por suas associações, na fase de plantio, através do qual ele vende antecipadamente o produto que espera colher mais adiante. Foi desenvolvida pelo BB e transformada na Lei n° 8.929,de 22/ 08/ 1994, sendo um título líquido e certo, transferível por endosso, admitindo vinculação

das garantias exigidas pelas partes envolvidas, podendo ser emitida em qualquer etapa do