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Grande propriedadeTotalMinifúndiosPequena propriedadeMédia propriedade

Quadro 4.1 – Imóveis Rurais na Bahia por tamanho20 em 2000. Fonte: INCRA, 2001

A questão é: Como produzir o suficiente para a subsistência e gerar excedente numa área menor que um módulo fiscal? Na definição de módulo fiscal está intrínseca a noção de que é o parâmetro mínimo para a sobrevivência e reprodução socioeconômica de uma família dada às condições edafoclimáticas locais.

Além disso, tem-se que a multiplicidade das culturas agrícolas e pecuárias requer áreas para produção de tamanho adequado e com características que permitam o desenvolvimento de práticas agropecuárias. Nestes casos, a dimensão do estabelecimento torna-se elemento

18 Calculado para medir a concentração fundiária

19 O módulo fiscal está regulado pelo art. 50 da Lei do Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64). No seu inciso 2º,

determina que O módulo fiscal de cada Município, expresso em hectares, será determinado levando-se em conta os seguintes fatores: o tipo de exploração predominante no Município ; a renda obtida no tipo de exploração predominante; outras explorações existentes no Município que, embora não predominantes, sejam expressivas em função da renda ou da área utilizada; e o conceito de "propriedade familiar".

20 Considera-e como minifúndios os estabelecimentos com menos de um módulo fiscal, pequena propriedade os

estabelecimentos que possuem de um a quatro módulos fiscais, média propriedade os estabelecimentos que possuem de quatro a 15 módulos fiscais e, de grande propriedade os estabelecimentos com mais de 15 módulos fiscais.

essencial para a reprodução social dos agricultores familiares e, conseqüentemente, o reembolso dos empréstimos. Some-se que para gerar renda monetária em áreas tão diminutas, muitas vezes o agricultor desvia a finalidade do crédito investindo em ocupações não- agrícolas, como artesanato, moto-taxi entre outras.

Metodologias de empréstimos inadequadas

Como já foi abordado, o PRONAF B se caracteriza pela alta concentração em atividades agropecuárias; baixo nível de orientação e acompanhamento ao crédito; reembolso do crédito em apenas uma parcela; modelo único de Plano de Negócios para produtores. Independente de suas características; valor proposto de no máximo R$2.000,00; prazo proposto de quitação de no máximo dois anos.

Com o intuito de aumentar a produtividade do crédito destinado aos pronafianos do grupo B, bem como estender a metodologia utilizada em outro programa de microcrédito, o BNB elaborou um projeto em parceira com o MDA, o AGROAMIGO, com os seguintes objetivos gerais (SOUZA, 2008):

• Desenvolver metodologia própria de Programa de Microcrédito Rural (crédito seqüencial, gradativo e acompanhado);

• Garantir maior agilidade ao processo de concessão do crédito;

• Expandir o atendimento aos agricultores familiares, inclusive serviços microfinanceiros; • Ampliar proximidade com clientes da área de microcrédito rural;

• Proporcionar maior capacidade operacional com redução de custos para o Banco e para o cliente.

Vale ressaltar que todas as contratações do AGROAMIGO pertencem ao PRONAF Grupo B. Assim todo AGROAMIGO é PRONAF B, porém a recíproca não é verdadeira.

A grande novidade do AGROAMIGO é que os financiamentos passam a ser geridos por um assessor de crédito, responsável por uma carteira de projetos e que estabelece uma relação personalizada com cada tomador de empréstimo do Programa.

Assim, a base desta nova tecnologia de empréstimo está nas relações de proximidade e no conhecimento pessoal que existe entre o assessor de crédito e o agricultor. Ter acesso ao crédito depende da elaboração de um projeto na companhia de alguém que pertence a sua comunidade. O assessor de crédito, normalmente, é um técnico agrícola que procura transmitir ao tomador do empréstimo a idéia de que os recursos não lhe são atribuídos simplesmente por um direito, mas como parte de um projeto de geração de renda (ABRAMOVAY, 2008).

As decisões de empréstimo, nesse sentido, decorrem das relações descentralizadas entre assessor de crédito e agricultores. “Passa a existir entre o agricultor e o Programa um ponto de contacto encarnado, corporificado numa figura que pertence ao universo social local. É importante levarem conta um intenso – e contínuo - trabalho de formação dos agentes de crédito não apenas em técnicas contábeis e administrativas, mas, sobretudo no que se refere a sua missão” (ABRAMOVAY, 2008, p.15).

Para Caneles (2005), o não pagamento do crédito envolve quebra não de um compromisso genérico e anônimo, mas da reciprocidade que é básica na construção dos vínculos de uma sociedade de interconhecimento. A informação que o assessor de crédito detém sobre a vida da comunidade traz em si a forte tensão entre a expectativa de que possa atender às urgências derivadas de vários tipos de necessidade cotidiana e as exigências profissionais do rigor de seu trabalho.

Conforme Greif citado por Abramovay (2008), disto resulta a importância das finanças de proximidade – que podem oferecer motivações (socialmente válidas para o uso adequado e o pagamento dos recursos) devidas – acoplar-se claramente a mudanças no ambiente institucional capazes de sinalizar aos indivíduos as punições que vão derivar da tentativa de perpetuar suas dívidas.

Isso pode ser comprovado confrontando o inadimplemento do PRONAF B com o AGROAMIGO: enquanto que as operações em atraso do PRONAF B no Nordeste corresponderam a 40,31% do total em 31/08/2007, os contratos do AGROAMIGO obtiveram taxa de inadimplência de apenas 3,2% no mesmo período (SOUZA, 2008).

Falta de integração aos mercados, de estrutura de comercialização e de agregação de valor

Tanto a falta de integração aos mercados, quanto a carência de uma boa estrutura de comercialização e a dificuldade de agregação de valor podem constituir-se como fatores associados à inadimplência na medida em que influenciam negativamente no processo de geração de renda dos agricultores familiares, impedindo, portanto o reembolso dos empréstimos. A garantia da produção não é o único fator que influi na geração de renda, haja vista que estes produtos têm de ser comercializados para que o retorno possa ser garantido. Desta forma, mais do que produzir, é necessário ter uma estrutura adequada de comercialização que pratique preços justos. Nesta perspectiva, destaca-se o papel dos programas federais Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF)21,

Programa de Alimentação Escolar22 e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)23, destinados à melhoria da comercialização dos agricultores familiares.

A agregação de valor também assume um papel importante, haja vista que se constitui na principal ferramenta para aumentar consideravelmente as receitas com uma maior diversificação de mercados a partir de um mesmo cultivo que é beneficiado, além disto evita as crises cíclicas de renda da agricultura.

21 O Programa de Garantia Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF), criado em dezembro de 2006, é uma

das ações de apoio à agricultura familiar que compõe o PRONAF, e tem como objetivo garantir a sustentação de preços dos produtos da agricultura familiar; garantir a manutenção das atividades produtivas da agricultura familiar; e estimular a diversificação da produção agropecuária da agricultura familiar; Articular as diversas políticas de crédito e de comercialização agrícola.

22 A Lei nº 11.947/2009, que rege o Programa Alimentação Escolar, determina a utilização de, no mínimo, 30%

dos recursos repassados pelo FNDE para alimentação escolar, na compra de produtos da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando os assentamentos de reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas.

23 O Programa de Aquisição de Alimentos é uma das ações do Fome Zero, cujo objetivo é garantir o acesso aos

alimentos em quantidade, qualidade e regularidade necessárias às populações em situação de insegurança alimentar e nutricional e promover a inclusão social no campo por meio do fortalecimento da agricultura familiar. Este programa adquire alimentos por preços de referência a que não podem ser superiores nem inferiores aos praticados nos mercados regionais, até os limites estabelecidos pelo Decreto nº 6.447 ao ano por agricultor familiar que Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, exceto na modalidade Incentivo à Produção e Consumo do Leite, cujo limite é semestral. s alimentos adquiridos pelo Programa são destinados às pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional, atendidas por programas sociais locais e demais cidadãos em situação de risco alimentar, como indígenas, quilombolas,acampados da reforma agrária e atingidos por barragens.

Baixo nível de capacitação técnica e empresabilidade dos agricultores familiares aliado ao reduzido grau de instrução

O reduzido grau de instrução e o baixo nível de capacitação técnica, muitas vezes, inviabilizam a utilização do crédito de maneira exitosa, isto é, o agricultor familiar recebe o recurso, mas não sabe como empregá-lo da forma que seria mais produtiva, ou que lhe traria melhor retorno financeiro. Desta maneira, em alguns casos, ao usar o crédito de modo errado, este acaba por não auferir a renda necessária para reembolsar o empréstimo.

Dados do Censo Agropecuário 2006 relacionados ao nível de instrução dos produtores baianos que dirigem o estabelecimento, de acordo com o gênero em comparação ao Brasil, revelaram que os homens que administram o estabelecimento agrícola e não sabem ler e escrever são 21% e aqueles que não tem nenhuma instrução 25,3%. Enquanto que as mulheres que dirigem o estabelecimento agrícola na Bahia e não sabem ler e escrever ou não possuem nenhuma instrução representam, 28,7% e 30,9%, respectivamente (TABELAS 4.10 e 4.11)24.

Tabela 4.10 - Homem que dirige o estabelecimento e nível de instrução - Brasil, Nordeste e Bahia, 2006.