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Fatores associados à inadimplência ao PRONAF B

Inadimplência (%) Número de Municípios Municípios % de

4.1.2 Fatores associados à inadimplência ao PRONAF B

Diversos fatores estão associados à inadimplência ao PRONAF B, dentre os quais se destacam:

• Assistência técnica insuficiente e inadequada; • Frustrações de safras devido às estiagens;

• Dificuldade do acesso aos meios de produção, principalmente no que tange ao acesso a terra dada a alta concentração fundiária e elevada minifundização;

• Falta de integração aos mercados, de estrutura de comercialização e de agregação de valor;

• Baixo nível de capacitação técnica e empresabilidade dos agricultores familiares aliado ao reduzido grau de instrução;

• Desvio de finalidade do crédito para atividades não-produtivas; Assistência técnica insuficiente e inadequada

A falta de assessoramento técnico aos empreendimentos ou a assistência técnica inadequada muitas vezes levam os agricultores familiares a investirem o seu crédito de maneira inadequada, como por exemplo, comprando animais de má procedência e sem capacidade de reprodução, ou plantando culturas inadequadas à tipologia climática da região.

Em geral, a assistência técnica oficial vem se limitado a preencher formalidades necessárias à obtenção dos recursos trabalhando de maneira padronizada, sem levar em consideração as idiossincrasias existentes em cada comunidade. Segundo Guanzirolli (2007), não existe projeto produtivo específico a cada produtor, onde as chances e os riscos sejam avaliados. Os rendimentos previstos nos projetos são calculados a partir de coeficientes técnicos distantes da realidade do pequeno agricultor. Depois da safra, geralmente, verifica-se que a maioria das atividades em que foram aplicados os recursos do crédito na região não acompanhou o que havia sido previsto no projeto.

Para o autor, as divergências acontecem tanto entre a previsão de evolução de preços dos projetos em relação à realidade, que sempre são inferiores, como nos custos de produção, que acabam sendo sempre superiores aos previstos. Há também casos em que os rendimentos previstos no projeto não foram alcançados devido à quebra de safra por fatores climáticos ou por problemas fitossanitários que tampouco eram previstos nos projetos.

O tamanho do corpo técnico das instituições oficiais de assistência técnica é, geralmente, insuficiente para dar para dar orientação individualizada aos agricultores familiares. Olalde (2005) constatou esta deficiência ao verificar em pesquisa de campo que os escritórios locais da EBDA contam com dois ou três técnicos para dar orientação numa área de abrangência de vários municípios, com um público alvo de mais de 5.000 agricultores. Decorre deste fato a padronização dos projetos e o escasso acompanhamento técnico, restrito na maioria dos casos

a visitas de fiscalização para a liberação de novas parcelas do recurso, além de algumas atividades de capacitação.

Outro fator importante a destacar é que os recursos repassados pelos agentes financeiros são aplicados, geralmente, com pequena ou nenhuma participação de organizações da agricultura familiar, como STRs, Associações e Conselhos. Deste modo, a emissão da DAP garante o enquadramento do beneficiário, mas não o acompanhamento do investimento por parte das organizações.

Na Bahia, a assistência técnica oficial é prestada pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), cujas áreas de atuação são: pesquisa agropecuária, assistência técnica e extensão rural, classificação de produtos de origem vegetal, fomento em agropecuária, agroindustrialização, com sustentabilidade. Esta instituição possui 20 Gerências Regionais que atuam como órgãos descentralizados de coordenação regional, e são compostos por escritórios locais, postos avançados, estações experimentais, unidades de execução de pesquisa, laboratórios e centros de profissionalização de produtores.

Apesar de possuir uma grande estrutura e capilaridade em todo território baiano com 1.600 funcionários, 600 veículos, 132 escritórios, vinte gerências regionais, 19 estações experimentais e dez centros de profissionalização, a EBDA tanto não consegue universalizar a assistência técnica para os agricultores familiares, bem como prestá-la de forma adequada. Informação divulgada pela instituição indica o atendimento a 176 mil estabelecimentos familiares no ano de 2008, ou seja, aproximadamente 27% do número total da Bahia, que é de 665.831, segundo censo 2006 (EBDA..., 2009).

Desvio de finalidade do crédito para atividades não-produtivas

A inadimplência pode ser agravada pela utilização inadequada dos recursos por parte de agricultores/as sem qualificação e sem um plano de investimento em atividades não- produtivas e que não geram renda. Este recurso muitas vezes acaba sendo gasto na mesma lógica dos recursos aplicados em programas assistenciais de combate a fome e a pobreza, como o Programa Bolsa Família.

A partir dos resultados de pesquisa de campo, Silva (2007) aponta para o fato de que alguns beneficiários do PRONAF B o percebem muito mais como uma política assistencialista do que uma linha de crédito. Essa forma de entendimento do PRONAF B, ou seja, como complemento de políticas assistencialistas do governo federal, pode ser apontado como fator que contribui para os “deslizes” na aplicação do crédito.

O autor percebeu que a não aplicação do crédito na atividade prevista no projeto se constitui numa estratégia de sobrevivência, na medida em que os recursos são utilizados para minimizar a precariedade das condições em que vive parcela considerável dos agricultores familiares do grupo B, isto é, o financiamento é uma forma de resolver problemas mais imediatos do cotidiano. Assim, a própria pobreza da família - agravada por ausência de orientação técnica e falta de acesso aos mercados - a impede de investir e a obriga a consumir o que tomou emprestado para sua sobrevivência. Além disto, destaca-se o fato de que o retorno do investimento na roça ou na criação de animais nem sempre é garantida, sendo influenciada pelas condições climáticas e fitossanitárias.

No entanto, mesmo com a compreensão de que o uso do crédito para outra finalidade é uma estratégia de sobrevivência, ou uma necessidade, não se pode deixar de mencionar que este desvio também se constitui em dificuldade, na medida em que afasta a possibilidade dos beneficiários vislumbrarem o crédito como instrumento que possa permitir-lhes novas oportunidades de negócios agrícolas e não-agrícolas.

È pertinente ressaltar que parte dos desvios de finalidade do crédito decorre, ainda, de fraudes tanto na emissão de DAP para não beneficiários de direito quanto da contratação do empréstimo. Após obter o crédito do PRONAF, tais beneficiários o empregam em atividades não-produtivas, dentre as quais destaca-se a compra de motos e imóveis e emprego do recurso para tratamentos médico. Certamente, acabar com tais fraudes é um dos inúmeros desafios que precisam ser enfrentados para que o crédito seja utilizado integralmente na melhoria da qualidade de vida dos agricultores familiares.

Estiagens

A ocorrência de catástrofes naturais, como estiagens ou enchentes, também pode estar associada à inadimplência do PRONAF. No caso do Nordeste, esta justificativa procede, haja

vista que a maior parte desta região encontra-se inserida no Semiárido, onde ocorrem longos períodos de secas.

No que tange ao estado da Bahia, tem-se que o Semiárido17 baiano compreende aproximadamente 62% dos municípios, e abrange uma área de 360 mil km2, correspondendo a

68,7% do território estadual, sendo 51,7% de todo o Semiárido nordestino. A Bahia possui um dos mais altos índices de radiação solar do mundo, no qual grande parte do território recebe uma média diária de radiação de 18 MJ/m2, e algumas regiões como o extremo Nordeste e o Litoral, chegam a receber cerca de 22 MJ/M2 nos meses de verão, segundo o Atlas Solarimétrico do Brasil.

Mapa 4.5 – Temperatura Máxima Anual no Brasil Fonte: INMET, 2009

As características geoclimáticas existentes no Semi-árido personificadas na ocorrência crônica das secas e a dificuldade de adequação das políticas públicas àquelas condições se constituem nos principais fatores limitantes para o desenvolvimento econômico e social das populações.

17O Semiárido foi definido, segundo a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), baseados

na distribuição das chuvas, nos quais pertence ao Semiárido todo município cuja precipitação pluviométrica seja inferior a 800 mm anuais. Os municípios pertencentes à Região Semiárida, na Bahia, determinados através da Resolução nº 10.929, de julho de 1994, do Conselho Deliberativo da SUDENE agregam oficialmente 257 municípios. Contudo, com o desmembramento do município de Serrinha, totalmente incluído na poligonal da Região, e a criação do município de Barrocas, através da Lei nº 7.620 de 30/03/2000, considera-se, extra- oficialmente, que o estado da Bahia tem 258 municípios incluídos na região Semiárida .

Isto porque as secas produzem impactos distintos, no entanto inter-relacionados, sobre as populações que habitam a região nos âmbitos socioeconômico e ambiental.

Os impactos socioeconômicos dizem respeito às condições de saúde, educação, emprego, migrações e as perdas conseqüentes das secas sobre os setores produtivos da economia, especialmente, sobre a agricultura e a pecuária. Os ambientais relacionam-se com as modificações provocadas no meio ambiente, principalmente pela utilização indiscriminada dos solos, da água e da vegetação que podem vir a resultar em processos de desertificação. A agricultura e a pecuária, que se configuram como fonte de sustento e trabalho de grande parte dos agricultores familiares, são afetadas pela crise de produção que ocorre durante as secas e, em alguns casos, extrapolam seus efeitos danosos causando a expulsão das famílias do campo pela incapacidade de convivência com a situação. Impossibilitando, conseqüentemente, a geração do excedente econômico através da venda dos cultivos e/ou criações de animais, inviabilizando, desta maneira, o pagamento dos empréstimos.

Abramovay (2008) discorda que os fatores climáticos negativos, como é o caso das secas, possam ser considerados como causa da inadimplência, uma vez que não podem ser tratados como surpresa porque ocorrem de maneira regular na região. Para o autor, a atribuição de crédito tem que contar com o fato de que as condições climáticas da região são negativas e procurar atividades e tecnologias menos expostas a suas conseqüências. Sem isso, as chances de os atores virem os financiamentos recebidos como transferência de renda aumentam enormemente. Isso envolve não só cisternas, como métodos para garantir a alimentação animal em condições climáticas adversas.

Como contraponto, afirma-se que na situação atual do Semiárido brasileiro e baiano, não há estrutura suficiente para se enfrentar de forma planejada as intempéries, principalmente quando se considera que a pobreza é um dos principais desafios nestas áreas.

Dificuldade de acesso aos meios de produção

A dificuldade do acesso aos meios de produção também pode ser um fator associado à inadimplência ao PRONAF. Isto ocorre principalmente no que se refere ao acesso à terra dado que a estrutura fundiária do estado da Bahia é altamente concentrada acarretando na

elevada minifundização existente. O resultado do índice de Gini-terra18, calculado a partir dos dados do Censo Agropecuário de 2006, mostra uma concentração fundiária de forte a muito forte (0,84) para a Bahia.

Ademais, segundo os dados do Censo Agropecuário de 2006, os estabelecimentos agropecuários de base familiar totalizam, na Bahia, 665.831, alocados numa área de 9.955.563 hectares (34%). O setor patronal, por sua vez, mesmo ocupando 66% da área total, detém apenas 95.697 estabelecimentos, 13%. Esta elevada minifundização pode ser comprovada, ainda, através da análise do tamanho dos imóveis rurais, onde se verifica que a maior parte destes não ultrapassa 1 módulo fiscal 19, sendo minifúndios (QUADRO 4.1).