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UNIVERSITÁRIA NA REGIÃO COMAHUE

Mapa 01 (2): Localização das cidades das Províncias de Neuquén e de Rio Negro Referências:

2.3. A incidência da provincialização nas demandas profissionais de Trabalho Social

O processo de provincialização significou uma virada nas relações sociais do ponto de vista social, político, econômico, particularmente no que diz respeito „modernização‟ do aparelho produtivo, criando os mecanismos e instrumentos político - jurídicos para instalar o comando do Estado provincial, com diferenças na Província de Rio Negro e na de Neuquén. Dessa contradição entre o atraso sociopolítico territorial e a modernização burguesa resultaram novas correntes migratórias para ambas as províncias no final da década de 1950.

O desenvolvimento do aparelho judicial e militar vai ser definido pela constituição provincial, através de um processo diferenciado dado pela configuração das relações de poder das famílias imigrantes de Europa (italianos, alemães, franceses) para a Província de Rio Negro e das famílias sírio-libaneses134 localizadas na Província de Neuquén, além das migrações vizinhas e interprovinciais.

A explosão demográfica coincidia com a fragilização de alguns segmentos da economia, como a pecuária, no “inicio da transição demográfica, acelerada urbanização e agravamento de importantes desequilíbrios espaciais" (PERREN, 2009, p. 2). A divisão social do trabalho implicou em reorganizar a emergência do espaço urbano e no enfraquecimento dos espaços rurais, produto da necessidade de regionalizar a provincialização. A região “Alto

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As famílias européias tinham conhecimentos e experiência de horticultura, já as famílias sírio-libanesas tinham experiência em atividades comerciais e fornecedores de ramos gerais, particularmente para os militares, assim como mantinho intercâmbios comerciais com os indígenas e comerciantes chilenos, especialmente no sector da pecuária.

Valle” (das cidades de Geral Roca, Cipoletti, de Rio Negro e da cidade capital de Neuquén) era considerada como “pólo de desenvolvimento” na década de 1960, evidenciando a desigualdade entre as classes sociais: uma emergente classe social burguesa e um proletariado provincial preparando sua organização e intervenção política, pelas penúrias do trabalho e da vida.

A provincialização e regionalização de Rio Negro e Neuquén implicavam a criação e a organização da estrutura do Estado e a presença estatal no desenvolvimento produtivo para superar o atraso social, a dependência administrativa do Estado nacional, as relações tradicionais. Toda esta complexidade social favoreceu a emergência de conflitos sociopolíticos, com a expressão das ditaduras, rebeliões, convulsões sociais e, particularmente, da rebelião juvenil no cenário político latino americano e mundial.

Esta integração do território nacional, agora províncias, à produção capitalista e organização burguesa do Estado impõe a necessidade de institucionalizar uma nova reorganização da educação superior, das profissões, articulada ao desenvolvimento das forças produtivas da região.

O contexto da ditadura de Onganía forçava rivalidades entre os partidos políticos (Partido Justicialista e Radicalismo em Rio Negro e Movimento Popular Neuquino em Neuquén) e criava limitações nas fontes de financiamento do Estado, tendo em conta que o peronismo estava proibido e os órgãos legislativos fechados.

O governo militar da província de Rio Negro, nesta década, tinha a preocupação pela chegada direta de exportação da produção frutícola (maça e pêra), pela abertura de mercados e pela venda da produção de vinho de Rio Negro, pela exploração das reservas de pesca do litoral marítimo e construção de barcos de pesca de mar, pela estrutura da obra pública para novas cidades, - escolas, hospitais, serviços de assistência social, lares de idosos, instituições de cultura e arte, serviços públicos de água potável, energia, esgotos, etc.- e eletrificação das pequenas cidades do “Alto Valle”135

. Além destas necessidades, era imprescindível a construção de novas estradas de conexão interprovincial. Os assentamentos da população imigrante, em diversos bairros, implicavam em planejamento, orçamento estatal e organização dos serviços públicos e sociais.

Na Província de Neuquén, por um lado, se desenvolvia o processo contraditório de grande obra pública, como Chocón - Cerros Colorados para a produção hidroelétrica, frutífera, de aumento da indústria da construção, fomento da exploração de recursos não renováveis, como petróleo e gás, em detrimento da redução de exploração de minerais; por outro lado as exportações produtivas da região para Buenos Aires e Europa chocavam-se com as mudanças tecnológicas, culturais e sociais do mercado ocupacional de trabalho e o abandono das pequenas cidades do norte de Neuquén136. As condições de segurança no trabalho, condições sanitárias e de salários configuravam um quadro de enormes penúrias e fonte de conflitos pela organização sindical que os operários se davam (MASES et. al., 1998). Nesse momento, as conquistas dos trabalhadores, ainda que apoiadas nas legislações do Direito do Trabalho, não eram garantidas nem pelo Estado nem pelas empresas privadas. Assim, as questões sanitárias e de saúde eram particularmente graves e se expressavam no aumento da desnutrição, tuberculose e epidemias diversas.

Este conjunto de transformações socioeconômicas, culturais e políticas na região Comahue e o quadro de abandono da população, implicaram em uma agenda de demandas sociais em todas as profissões e nas áreas da política social, especialmente nas questões relacionadas à moradia, educação, saúde, família e assistência social.

A Constituição Provincial de Neuquén, datada de 1957, no seu Capítulo II, Artigos Nº 52 a 63, “Garantias Sociais” do Estado de Neuquén começa tratando do trabalho, da legislação social para o nível decente da vida da família do trabalhador, da segurança no trabalho, nos salários, no direito a greve, aposentadoria, etc. Além destes mais dois capítulos específicos para Educação e Assistência Social. Nesta parte, a Constituição expressa que é obrigação do Estado garantir direitos à saúde e higiene públicas, fontes de emprego, medicina preventiva, assistencial, efetivos serviços de assistência social, regime de amparo social para assegurar a saúde do individuo, a família e a comunidade.

Para atender a estes objetivos cria-se o Conselho Provincial de Saúde, assegurando-se, por meio de uma legislação orgânica (nos seus artigos No. 287 e 294), a defesa e a proteção da maternidade e da infância, mediante a assistência à mãe antes, durante e depois do parto e

136 Áreas rurais do norte de Neuquén, particularmente Huncal, Chorriaca, El Manzano, Pichahue e Colipilli do

da criança em sua vida e saúde nos períodos de primeira infância, pré-escolar, escolar e adolescência, além da criação de estabelecimentos adequados para tais fins. Também contempla que “para a mulher, em sua condição de mãe e de fonte de subsistência tem que abandonar o lar, se prevê para o cuidado dos filhos as creches, os comedores infantis nas fábricas e nos escritórios”137

.

No caso da Província de Rio Negro, sua Constituição Provincial de Dezembro de 1957 também estabelece no Capítulo II, nos artigos Nº 25 a 31138, a Prevenção, Assistência Social e Trabalho, o regime da seguridade social integral para toda a população contemplando as conseqüências sociais do desemprego, nascimento, doença, desamparo, invalidez, velhice e morte, fomento das instituições de solidariedade social, estabelecimentos de poupança e cooperativas, com especial proteção à família, promoção de moradia mínima e higiênica para uma existência digna.

Essa estruturação de legislações no âmbito sociopolítico dos Estados Provinciais de Rio Negro e Neuquén aceleraram a necessidade de ter profissionais de diferentes disciplinas, universitários idôneos para cumprir a combinação do processo de produção, assegurar as relações econômicas e responder ao grave quadro social da população. Para o Estado foi imprescindível resolver a formação de quadros técnicos – profissionais e professores no sentido de oferecer aportes de conhecimentos científicos e tecnológicos que a diversificação da divisão do trabalho e da economia exigiam.

Em Rio Negro e Neuquén, após a Constituição Provincial, cria-se o Ministério de Assuntos Sociais, que, no seu primeiro momento, valorizou a centralidade da questão trabalho (inspeções, ações pelos acidentes de trabalho e tudo relativo a jornadas e contratos de trabalho).

Posteriormente, foram sendo criados novos organismos específicos, transferindo-se a assistência social para o Ministério de Assuntos Sociais. Estas mudanças foram combinadas com um quadro de dispersão das forças sindicais e uma retirada estatal ao controle nas

137 LEGISLATURA PROVINCIAL DE NEUQUÉN, Diário de Sessões da Convenção Constituinte de 1957,

Tomo Único, Departamento de Informação Parlamentar. Dezembro de 2005, pp. 323-346/ pp.362-363.

138 CONSTITUIÇÃO PROVINCIAL DE RIO NEGRO, 10 de Dezembro de 1957 (Boletim Oficial, 1º de

Dezembro de 1959). Disponível em:

<http://www.legisrn.gov.ar/constitucion/CONSTITUCION_PROVINCIAL_1957.htm>. Acesso em: 04 Nov. 2013.

relações trabalhistas (MASÉS, 1998). A chegada de numerosos técnicos, profissionais e professores de diversas disciplinas para trabalharem na Região, nos diversos Ministérios e organismos do Estado, se inseriram nas condições sociais e materiais existentes. A partir daí, passaram a ser realizados estudos, pesquisas, instrumentos, linhas de ação política para se responder a essas condições de abandono e penúria da população. Mas, essa migração de profissionais, que a região carecia, precisou de condições e garantias do Estado para atender às necessidades de moradia, salários, benefícios sociais, a exemplo de gratuidade de passagens para traslado dos novos profissionais a seus lugares de origens no período de férias anuais. Ou seja, operou-se um processo de transformação nas relações trabalhistas dos empregados públicos estatais.

Na órbita educativa criaram-se diversos professorados vinculados, em Rio Negro, às Humanidades, Ciências Físicas - Matemáticas e Ciências Biológicas, o Instituto Superior de Serviço Social, (com sede na cidade de Geral Roca), e em Neuquén, com a Universidade Provincial do Neuquén. Portanto, o Estado delegou à profissão de Serviço Social/Trabalho Social o atendimento às reivindicações e demandas sociais desta sociedade, o que levou a profissão a conhecer e pesquisar as necessidades sociais de moradia, serviços públicos, saúde, educação, condições das famílias, recreação e lazer, cultura, etc.; muitas delas, em coordenação com equipes técnicas e funcionários políticos de outras instituições.

Os aportes profissionais valorizados em termos quantitativos, ao se darem conta de levantamentos, censos, enquetes massivas, etc. indicavam as necessidades sociais da população e das instituições sociais e os propósitos do Instituto Superior de Serviço Social em criar postos de trabalho para os Assistentes Sociais. A vinculação do Ministério de Assuntos Sociais e os Assistentes Sociais buscavam consolidar a formação profissional na própria região, pois era muito difícil e custoso continuar trazendo profissionais de Buenos Aires.

Especificamente no Instituto Superior de Serviço Social de Geral Roca foram inúmeras as demandas para a profissão, assim identificadas nos registros históricos:

“a) Municipalidade de Geral Roca agradece a colaboração institucional de Trabalho Social nas tarefas de levantamentos de organização de auxílios perante o alagamento do mês de Março de 1966;

b) Associação de Orientação e Lazer da Criança demanda plano de organização da Escola Agrícola para jovens e do Clube de Engraxate – que foi, posteriormente, elevado ao Ministério de Assuntos Sociais;

c) CONADE139 demanda censo de instituições de Bem-Estar da cidade de Geral Roca;

d) dos estudantes de Serviço Social de Neuquén demanda assessoramento da Secretaria Técnica para implementação na carreira de Neuquén;

e) Municipalidade de Geral Roca demanda plano de organização do Serviço Social Municipal, inclusive mais tarde faz a convocação do concurso de cargos de Assistente Social para essa nova área, além do plano de organização de creches, recebendo aprovação e convocando concursos de cargos de Assistente Social;

f) do Diretor do Centro Materno-Infantil de J. J. Gómez, para difusão desta instituição na comunidade;

g) do Centro de Professores de Geral Roca, demanda estudo das fundamentações para criação do Serviço Social Escolar, apresentada ao Congresso Provincial de Professores de Rio Negro;

h) do Diretor do Centro de Saúde de Geral Roca para fundamentos da ampliação do edifício desse Centro de Saúde, que fora aprovado pela Municipalidade;

i) do Comissário pela realização de cinco Informes Sociais;

j) do Tribunal Civil demanda treze enquetes por pensões e setenta por moradia; k) Governo de Rio Negro demanda censo de instituições de Bem-Estar na zona da Província de Rio Negro;

l) O Instituto LALCEC140 “demanda plano de organização da instituição e para tal objetivo fornece o salão de reuniões aos participantes do Instituto Superior de Serviço Social” (INSTITUTO SUPERIOR DE SERVIÇO SOCIAL DE RIO NEGRO, 1966)

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CONADE: Conselho Nacional de Desenvolvimento.

A formação profissional de SS/TS foi organizada sob o ponto de vista da criação de uma estrutura institucional e organizativa, da contratação e designação de professores, do estabelecimento de concursos, da construção de infra-estrutura para funcionamento, recrutamento de pessoal administrativo, da propaganda e difusão da existência da profissão e, por fim, da necessidade de definição de orçamento para dinamizar todo esse processo. Sem dúvida a organização política estatal da „provincialização‟ apoiou o crescimento e qualidade profissional e, esta nova configuração das relações sociais e do Estado Provincial, se constituiu em uma base de sustentação política para o desenvolvimento da formação profissional na região.

2.4. Marcos históricos e legislativos do desenvolvimento da Universidade