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A influência das tarifas de conexão à Internet na exclusão digital

7.5 A disponibilização de serviços públicos na Internet e a construção da cidadania

7.5.5 A influência das tarifas de conexão à Internet na exclusão digital

O estudo de German (2000) também mostra os altos custos de conexão praticados no Brasil em 1988. Segundo esse autor, para o acesso de 10 horas, o brasileiro pagava, em média, US$ 16.14; por 20 horas de acesso mensal, US$ 24.72; e, pelo acesso em tempo ilimitado, US$ 27.55.

Após a quebra do monopólio estatal das telecomunicações, houve grande aumento da densidade de telefones fixos e celulares no Brasil. Os preços das linhas telefônicas tiveram um declínio significativo. Com os grandes investimentos que o setor recebeu, as empresas passaram a oferecer linhas mais baratas e prestação dos serviços quase que imediata.

A chamada “cesta tarifária” é composta pelos seguintes itens:

(i) habilitação, que é paga uma única vez na contratação do serviço (equivalente ao valor da linha antes da privatização);

(ii) pulsos, que são medidos e tarifados conforme o gasto do usuário;

(iii) assinatura básica, que é cobrada por mês, independentemente do consumo realizado pelo usuário. A assinatura básica é subdividida em categorias, como, por exemplo, residencial, não residencial e tronco.

Não há dúvidas de que, após a privatização, a densidade telefônica brasileira (tanto na telefonia fixa quanto na móvel) teve grande evolução, e de que houve um declínio muito acentuado no investimento inicial que era feito pelo usuário na contratação do serviço de telefonia fixa.

No entanto, parece que a estratégia das empresas de telecomunicações para compensar essa perda de receita tem sido aumentar a assinatura básica. Para se ter uma idéia, de maio de 1994 a junho de 2003, a assinatura subiu de R$ 0,62 para R$ 26,58, ou seja, 4.128%, enquanto a inflação acumulada, de acordo com o Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis (Ipead- UFMG), foi menor que 120%.

No momento da privatização (maio de 1997), o reajuste mais substancial ocorreu exatamente na assinatura residencial, que passou de R$ 3,73 para R$ 13,82, perfazendo uma alta de 270,5% naquela época. Após a privatização, ocorreram reajustes todos os anos, utilizando-se o mesmo ardil: IGPDI + 9% na tarifa residencial. Com esse reajuste, segundo o Movimento das Donas-de-Casa e Consumidores de Minas Gerais (MDCMG), o valor da assinatura básica será elevado para R$ 33,22. Assim, de maio de 1997 até junho de 2003, o valor da assinatura residencial foi reajustado em 819%.

Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), desde 1995 as empresas de telecomunicações têm reajustado a assinatura básica em mais de 3.600%. Isso tem contribuído para aumentar ainda mais o número de inadimplentes no setor de telecomunicações brasileiro.

Segundo o MDCMG, o grande aumento nas tarifas de telecomunicações tem sido possível devido a dois fatores. Primeiro: o índice definido pelo contrato de concessão – Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGPDI).

Esse índice de variação de preços tem sido, nos últimos anos, o mais elevado. Segundo o contrato de concessão permite que a concessionária aplique o índice de forma variada, ou seja, poderá aplicar menor índice em um serviço e maior em outro, desde que a soma dos acréscimos corresponda, no máximo, ao percentual de variação do IGPDI. E parece ser exatamente assim que as empresas têm agido, com o aval da Anatel. Reajustando com valores maiores a assinatura básica (que todos os usuários terão de pagar, independentemente da quantidade de pulsos gastos), as empresas garantem uma receita previsível. Desde o segundo semestre de 2003, essa sistemática de reajuste tem sido alvo de diversas ações na justiça, em todo o País.

Como observamos na seção 7.5.3, dos 100 piores índices, apenas oito pertencem a municípios que não estão localizados nas regiões Norte ou Nordeste (seis de Minas Gerais, um de Goiás e um de São Paulo). No outro extremo, entre os 100 melhores estão os líderes (1° São Caetano do Sul/SP; 2° Niterói–RJ; 3° Florianópolis–SC; 4° Santos–SP; 5° Vitória–ES). Encontramos nessa lista apenas dois municípios da região Nordeste (Aracaju e Recife), e nenhum município da região Norte, o que parece demonstrar a correlação entre os índices de exclusão social com o índice de exclusão digital.

Segundo Ferreira (2000, p. 18), “entende-se por informação para a cidadania a disponibilização da informação para todos, sem distinção de raça, cor, nível econômico e faixa etária, objetivando a formação do cidadão para o livre exercício da cidadania”. É por intermédio da informação que o homem toma conhecimento de seus direitos e deveres e luta para exercê-los e transformar-se em cidadão. Para Targino (1991, p. 155, apud FERREIRA, 2000), “não há exercício de cidadania sem informação. Isto porque, até para cumprir seus deveres, e reivindicar seus direitos, sejam eles civis, políticos ou sociais, o cidadão precisa conhecer e reconhecê-los, e isto é informação”. Resulta desse fato a importância de o Estado proporcionar a estrutura básica para que a informação possa ser universalizada. Como já foi mencionado, o governo federal, por intermédio do PSI, em suas diversas linhas de ação, especialmente com a implantação do e-gov, tem por objetivo criar uma versão eletrônica de seus serviços e informações (desde que tais serviços sejam viáveis) e, posteriormente, universalizá- los para ocidadão brasileiro, utilizando, para isso, a Internet e o Gesac, do qual falaremos mais adiante.

Parece ter ficado claro que, quando nos referimos à estrutura, estamos incluindo todas as condições necessárias para que o cidadão brasileiro possa usufruir desse direito. Assim, énecessário, primeiramente, educação, saúde e segurança e, em seguida, ter condições econômicas e disponibilidade para acessar o serviço.

A revisão de literatura permitiu-nos identificar aspectos importantes relacionados à universalização de serviços e informações do governo federal na Internet. Dentre esses aspectos, podemos destacar a necessidade de a administração pública executar uma integração de seus sistemas corporativos nos moldes que defendem Silveira (2002) e Vilella (2003). Ficou claro que, para disponibilizar informações e serviços aos cidadãos de forma estruturada, em um portal com as características preconizadas por Terra & Gordon (2000) e, ainda, considerando os conceitos mais modernos de e-gov como one-stop government e life-events, defendidos por Gant & Gant (2001) e Vilella (2003), é essencial que a decisão de disponibilizar serviços e informações do governo seja precedida de ampla informatização da administração pública, fase chamada por Santos (2002) de Protogoverno

Eletrônico29, sob pena de não se chegar a um e-gov, e sim a um sítio do governo com uma coleção enorme de links.

Além disso, ficou evidente, principalmente pelos estudos de Cunha (2000) e Vilella (2003), a necessidade de o portal ser projetado levando em conta o perfil dos usuários, sendo, portanto, importante a preocupação quanto ao conteúdo, a funcionalidade e a usabilidade.

Outro aspecto evidenciado na revisão de literatura foi a demanda urgente da universalização do acesso à informação. Conforme destacado por Suaiden (2000), o acesso à informação no Brasil está intrinsecamente ligado ao poder aquisitivo do cidadão. Assim, ações que visem à inclusão digital das classes menos favorecidas serão fundamentais para a universalização das informações e dos serviços do governo federal.

Como foi demonstrado por Afonso (2000), a definição do modelo de acesso à Interneta ser adotado é muito importante para que se tenha, ou não, sucesso em projetos de inclusão digital. Segundo Afonso, o modelo de acesso à Internet mais coerente com a realidade brasileira é a implantação de telecentros comunitários. Esse modelo, além da viabilidade econômica, favorece enormemente a população de baixa renda, que não dispõe de recursos para suportar a manutenção de uma assinatura de serviços de telecomunicações e de provedores de Internet. Outra vantagem é a vocação evidenciada por diversas ONGs em ações de inclusão digital, utilizando os telecentros, que poderão ser instalados em parceria com órgãos públicos e com empresas privadas.

Vale ressaltar que, para efeitos deste trabalho, utilizaremos o termo e-gov como uma expressão simplificada de governo eletrônico30 ou e-governo, por ser também uma expressão já consagrada na língua inglesa, e que os termos acima serão aqui considerados como sinônimos. Quanto

29

Para Santos (2002, p. 7), protogoverno significa a informatização completa da administração pública. Entendemos que, para o sucesso de um e-gov, é necessário um padrão mínimo de informatização. Ensaio disponível em:< http://www.clad.org.ve/ fulltext/0043109.pdf>. Acesso em: 11 maio 2004.

30 Para aqueles que queiram empreender a tarefa de definir e-gov, no Anexo 1 da dissertação de mestrado de Vilella (2003) estão

ao conceito de e-gov, segundo Jardim (2000), é “emergente e carente ainda de verticalização teórica”. Em linhas gerais, pode ser entendido como:

uma estratégia pela qual o aparelho de Estado faz o uso de novas tecnologias para oferecer à sociedade melhores condições de acesso à informação e serviços governamentais, ampliando a qualidade desses serviços e garantindo maiores oportunidade (sic) de participação social no processo democrático (JARDIM, 2000, p. 3).

CAPÍTULO I – AÇÕES DOS COMITÊS TÉCNICOS DO E-GOV PARA DISPONIBILIZAR