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CAPÍTULO I – AÇÕES DOS COMITÊS TÉCNICOS DO E-GOV PARA DISPONIBILIZAR

1.1 O Modelo de Acesso à Internet no Brasil

O acesso à Internet residencial normalmente é realizado por intermédio de um Provedor de Acesso a Serviços Internet (Pasi). Isso acontece porque no Brasil as operadoras de telefonia fixa não podem explorar diretamente esse tipo de serviço (serviço de valor adicionado). O Pasi tem, então, a função de conectar o computador do usuário à Internet, permitindo a navegação na World Wide Web (WWW) e o acesso a outros serviços, como envio e recebimento de e-mail. As formas de acesso à Internet mais utilizadas no Brasil são o acesso discado e o acesso à banda larga. No acesso discado, o usuário utiliza a própria rede do Sistema Telefônico Fixo Comutado (STFC), originando uma chamada telefônica intermediada por um modem, com destino a um Pasi. Ao receber a chamada (por meio de um modem), o Pasi inicia a comunicação com o computador do usuário e estabelece a conexão com a Rede mundial. Em 2004, mais de 93% das conexões no Brasil ainda são desse tipo. No acesso à banda larga,

uma conexão permanente é estabelecida entre o usuário e o Pasi, com uma taxa de comunicação de dados bem superior ao acesso discado. A tarifação é independente da quantidade e do tempo de conexão. O serviço de banda larga pode ser estabelecido da seguinte forma: (i) via ADSL, implementado pelas operadoras de STFC; (ii) utilizando Cable Modem, implementado pelas operadoras de TV a cabo; (iii) acesso wireless via rádio; (iv) acesso via satélite. A Figura 1.1 mostra o esquema do acesso discado à Internet.

Figura 1.1 – Estrutura de acesso discado à Internet

Fonte: Teleco (2004).

Um dos grandes óbices para difusão da Internet no Brasil, certamente, é a má distribuição geográfica dos Pasis. Como a maioria dos usuários depende da estrutura do STFC e não há distinção na tarifa para voz e para dados, os usuários que residem em cidades que não possuem Pasi são obrigados a pagar tarifa de longa distância. A Figura 1.2 mostra a distribuição desses provedores em julho de 2001, onde podemos observar que 77% deles estavam localizados nas regiões Sul e Sudeste. A informação mais preocupante, no entanto, é que, além da má distribuição geográfica (concentrados praticamente nas regiões Sul e Sudeste), os provedores estavam sediados em apenas 15% dos municípios brasileiros.

Figura 1.2 – Pasis no Brasil: distribuição regional (julho de 2001)

Fonte: Abranet (2002).

Com a “guerra” dos provedores (pagos versus gratuitos) explicada no capítulo II desta dissertação, verificou-se, no período de um ano (de julho de 2001 a julho de 2002), uma diminuição do número de provedores (conforme mostra a Figura 1.3), o que pode significar uma diminuição da capilaridade dos Pasis, agravando ainda mais a distorção.

Figura 1.3 – Variação do número de Pasis

Fonte: Elaboração própria; dados da Abranet (2002).

Nas regiões menos desenvolvidas (Centro-Oeste, Norte e Nordeste), houve redução do número de provedores em 16,48%, 1,69% e 5,07% respectivamente, enquanto na região Sul houve aumento de 10,73% e, na região Sudeste, aconteceu uma redução de 3,61%. A Tabela 1.1 mostra o número de provedores de cada região brasileira de julho de 2001 a julho de 2002.

Tabela 1.1 – Provedores de acesso ao serviço de Internet no Brasil de jul./2001 a jul./2002

Região Pasi em julho de 2001 Pasi em julho de 2002 Variação (2001-2002) %

Sudeste 720 694 -3,61 Sul 233 258 10,73 Centro-Oeste 91 76 -16,48 Norte 59 60 1,69 Nordeste 138 131 -5,07 Brasil 1.241 1.219 -1,77

Fonte: Elaboração própria; dados da Abranet (2002).

Para ilustrar a forma inadequada da tarifação das conexões à Internet em municípios que não possuem Pasi, apresentaremos um exemplo mostrado pelo ex-presidente da Anatel Luiz Guilherme Schymura de Oliveira, em uma palestra proferida em novembro de 200331. Oliveira comparou a hipótese de um usuário acessar a Internet utilizando um provedor localizado no mesmo município, em um domingo, durante dez horas consecutivas.

Nessa situação, o gasto seria de um único pulso local, o que eqüivaleria a, aproximadamente, R$ 0,12. O usuário que se conectar à Internet nas mesmas condições, em uma localidade que não tenha um provedor e cuja ligação telefônica esteja enquadrada no degrau tarifário 1 (D1)32, irá pagar uma tarifa de uma ligação longa distância (LDN), cujo preço médio é de R$ 0,10 o minuto. Assim, sua conta será de R$ 0,10 x 60 (minutos) x 10 (horas), totalizando R$ 60,00.

Para Afonso (2004), no caso de usuários residentes em regiões onde estão disponíveis os serviços de banda larga, os valores das tarifas também são altos. Segundo esse autor, a não- desagregação da infra-estrutura da chamada “última milha” permite às operadoras de telefonia fixa operar sem concorrência em suas regiões. Isso acarreta a prática de altos preços dos serviços ADSL, chegando-se, de acordo com o autor, ao dobro do valor cobrado na França, por exemplo.

Tendo em vista as características socioeconômicas, culturais e tecnológicas do Brasil, outras formas de acesso além das convencionais não devem ser desconsideradas.

31 No dia 14 de novembro de 2003, no 47° Painel Telebrasil, realizado de 13 a 17 de novembro de 2003, em Brasília-DF.

32 Degrau 1 (D1): é o valor cobrado por minuto de uso após o estabelecimento da chamada em ligações efetuadas entre localidades

Ikeda (2004) apresenta a tecnologia de redes Wireless Fidelity (WI-FI) como uma proposta viável para acesso à Internet em determinadas situações em que a rede com fio é de difícil implantação. O autor cita os locais de floresta densa, como aldeias na Amazônia, espaços urbanos que tiveram ocupação desordenada e que não possuem infra-estrutura, como locais ideais para implantação de rede WI-FI. Apesar de as redes sem fio de última geração terem como uma de suas características o alto custo, Ikeda (2004) defende que as tecnologias mais antigas33, que mantêm a compatibilidade com as novas, podem ser economicamente atrativas. O autor acredita, também, que as redes sem fio poderão transformar-se em um instrumento em favor dos empreendedores, derrubando barreiras de entrada em diversos tipos de negócio. O autor prevê mais benefícios futuros que essa tecnologia pode trazer:

Em questão de poucos anos será possível que, em vez de nossa sociedade contar com uma ou duas dezenas de provedores de serviços de telecomunicação, existam milhares de provedores, um ou mais provedores de comunicação para cada vizinhança. O provedor pode ser comercial, ou pode ser uma entidade comunitária, sem buscar lucro (IKEDA, 2004, p. 290).

Aproveitando a conexão de alta velocidade da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ONGs, como Viva Rio e CDI, levam o acesso à Internet via WI-FI para comunidades da Rocinha e do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Em locais como esses, dificilmente seria possível a conexão convencional por causa pela ausência de infra-estrutura.