• Nenhum resultado encontrado

7.5 A disponibilização de serviços públicos na Internet e a construção da cidadania

7.5.4 Formas de combate à exclusão digital

Como podemos constatar, exclusão social, exclusão digital e cidadania estão intimamente ligadas com a formação do cidadão, ou seja, a região que concentra grandes proporções de

excluídos sociais certamente terá também grande número de excluídos digitais. E, em conseqüência, essa mesma região provavelmente apresentará baixo índice de desenvolvimento da cidadania. Isso ocorre porque o exercício da cidadania pressupõe a consciência de que se tem direitos e deveres. Mas, como adquirir essa consciência, se não há condições favoráveis para isso?

É nesse contexto que as TICs podem desempenhar papel estratégico. Segundo Asumpção (2003):

Os telecentros vêm sendo reconhecidos como um dos mais importantes fatores para inclusão digital, tanto pela capacidade de articular o desenvolvimento econômico das comunidades, como pela agilização do acesso aos serviços públicos, pelas possibilidades de capacitação profissional e pela utilização das TICs, para gerar e processar conhecimento no exercício efetivo e amplo da cidadania (ASSUMPÇÃO, 2003).

É consenso entre especialistas e líderes comunitários que as TICs, por si só, embora não tenham o poder de promover a imediata inclusão social, podem contribuir muito para a formação profissional do cidadão. Sabe-se que o cidadão com domínio dessas novas tecnologias tem mais possibilidade de aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado de trabalho. As experiências com os telecentros no Brasil têm demonstrado que, de todos os modelos, o que mais logrou êxito é aquele voltado para a ampla formação do cidadão. A proposta desse modelo vai além de disponibilizar as TICs aos excluídos digitais. O objetivo é fazer do telecentro um espaço aberto, ligado à formação do cidadão, que não o considere apenas como usuário das novas tecnologias, mas sim um gerador de conteúdo. Outro aspecto igualmente relevante nesse modelo é a possibilidade de oferecer o espaço do telecentro para discussão dos problemas da comunidade e de conscientização da importância do exercício da cidadania. O exercício da cidadania torna-se fundamental nos novos tipos de relacionamento entre governo e sociedade, possibilitados pelas TICs. Alguns conceitos já estabelecidos em países democráticos e com níveis de inclusão digital considerados, se não desejáveis, pelo menos satisfatórios, só terão sentido se houver uma cidadania ativa. Como exemplo desses conceitos, podem ser citados os de accountability27 e de e-democracia.

27

Para José Maria Jardim, “accountability é o conjunto de mecanismos e procedimentos que levam os decisores governamentais a prestarem contas dos resultados de suas ações, garantindo-se maior transparência e a exposição pública das políticas públicas".

No Brasil, algumas das melhores experiências de criação de telecentros estão relacionadas com as ONGs, embora não seja empregada apenas uma forma de implementar os projetos. Segundo Afonso (2000), existem diversas modelos de iniciativas de acesso à Internet e capacitação locais, que vão desde o telecentro totalmente subsidiado a franquias bem planejadas, estimulando pequenos empreendedores locais a criar centros de teletrabalho e formação. Segundo o Livro Verde:

O termo “telecentro” tem sido utilizado genericamente para denominar as instalações que prestam serviços de comunicações eletrônicas para camadas menos favorecidas, especialmente nas periferias dos grandes centros urbanos ou mesmo em áreas mais distantes. Outros termos usados como sinônimos ou como designações em outros idiomas têm sido: telecottage, centro comunitário de tecnologia, teletienda, oficina comunitária de comunicação, centro de aprendizagem em rede, telecentro comunitário de uso múltiplo, clube digital, cabine pública, infocentro, espace numérisé, Telestuben, centros de acesso comunitário etc. (Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000, p. 34).

Neste trabalho, adotaremos o termo “telecentro” para designar, de modo genérico, qualquer local com as características e os objetivos descritos na concepção descrita no Livro Verde.

As iniciativas como as do CDI e do Projeto Sampa.org são muito importantes para o cenário brasileiro e apontam para soluções como a utilização racional dos telecentros em contrapartida à tradicional forma de acesso utilizando microcomputador, linha telefônica e provedor de acesso. Afonso (2000) alerta para a falta de política nacional voltada para o combate efetivo da infoexclusão e para o risco de acontecer com a infra-estrutura de acesso à Internet o que ocorreu com a infra-estrutura de transportes no País – que privilegia quem possui carro próprio, e não quem utiliza transporte coletivo. Segundo o autor, em 2000,dos mais de 5 mil municípios brasileiros, menos de 300 possuíam infra- estrutura necessária para instalação de serviços locais de acesso à Internet. O autor mostra sua preocupação também com a política tarifária das telecomunicações e defende subsídios para os usuários das classes menos favorecidas.

Afonso (2000) acredita que o telecentro pode ser uma solução viável para o Brasil. Para ele, esse modelo não só permitirá o acesso à Internet, mas também dará espaço à capacitação e ao uso de outros recursos de computação, como edição de textos, impressão, leitura ótica etc.

Uma estimativa de cálculo pelos custos de mercado feita por Afonso, em 2000, revelou que cada telecentro com 32 computadores e 2 impressoras, mais equipamento e infra-estrutura de rede, poderia ser implantado por, aproximadamente, R$ 80 mil28. O estudo sugeria que fosse implantado um telecentro desse tipo para cada 25 mil habitantes no País.

Nesse caso, teríamos 6.400 telecentros, um total, no primeiro ano de implantação, da ordem de US$ 690 milhões (conforme a Figura 5).

Figura 5 – Orçamento de implantação de telecentros

Fonte: Afonso (2000).

Outro aspecto levantado por Afonso (2000) é a necessidade de se intensificarem as pesquisas visando ao domínio das tecnologias de acesso à Internet via rádio e satélite, com custo mais baixo, tendo em vista que a conexão via linha telefônica é cara, chegando a ultrapassar os valores cobrados pelos provedores.

28

A prefeitura de São Paulo apresenta outros números com relação aos custos de instalação de um telecentro, embora sem especificar a capacidade dos equipamentos. Segundo o texto disponível em: <http://www.telecentros.sp.gov.br/ interna.php?id=911>. Acesso em: 11 maio 2004. Com a reforma do local (cedido por órgão do governo, ONG, ou iniciativa privada), o custo é cerca de R$ 130 mil e, para a construção de um telecentro, incluindo o espaço físico, é de R$ 275 mil. Caso os programas usados nos equipamentos das unidades não fossem software livre, como o sistema operacional GNU/Linux, esse custo aumentaria em, pelo menos, 50%, pois a escolha de software livre permite a aquisição de computadores com hardware de menor capacidade, menos potentes, portanto, mais baratos, tendo um aproveitamento igual a hardware superior, utilizando um sistema operacional proprietário.