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A constituição da Educação Física como área de formação iniciou-se a partir da década de 1930 (CESANA, 2012, p. 77). No final do século XIX e início do século XX, a Educação Física no Brasil foi influenciada pelas áreas médicas e militares. Segundo Cunha Junior (2009) e Coletivo de Autores (1992), o movimento ginástico europeu foi introduzido nos currículos escolares como meio educacional e de promoção da saúde, articulados por médicos e militares.

No século XIX, Tubino (2010) destaca a difusão do movimento esportivo inglês pelo pedagogo Thomas Arnold, e a idealização dos Jogos Olímpicos pelo francês Pierre de Coubertin através da ética esportiva (Fair Play), como influenciadores da inserção dos conteúdos esportivos nas aulas de Educação Física brasileira, principalmente após a década de 1960. Neste período, conforme ressalta Betti (1991), o Método Desportivo Generalizado divulgado pelo professor francês Auguste Listello na primeira metade do século XX, tornou o esporte como o principal conteúdo de ensino nas aulas de Educação Física.

Os exercícios ginásticos que se firmavam em princípios biológicos foram os conteúdos predominantes na Educação Física até a década de 1960. Em 1961 com a promulgação da

26 Estratos dos periódicos: B1, B2, B3, B4 da CAPES, sendo selecionados 57 artigos. Não houve pesquisa no estrato A1 e A2 devido o viés fisiológico e por outros critérios de exclusão. A autora ressalta a limitação do estudo em relação à filtragem das palavras chaves: Jogos Escolares, esporte da escola, esporte na escola e olímpiadas escolares. Participaram da pesquisa 195 técnicos.

LDB27, houve uma ampla reforma no sistema de ensino brasileiro. Entre as mudanças, ficou estabelecido a obrigatoriedade da Educação Física do ensino primário ao médio. Neste período, segundo Soares (2001), o Método de Educação Física Desportiva Generalizada contrapôs o Método Ginástico. Assim, na expectativa de adequar os objetivos às práticas pedagógicas, a Educação Física começou a utilizar o conteúdo esportivo de forma predominante nos currículos escolares.

Em 1971, a Lei n. 5.962 revogou e atualizou alguns dispositivos da LDB de 1961. Em seguida, o Decreto n. 69.450/71 regulamentou o artigo 22 da LDB decretando em seu art. 1º: “A Educação Física, atividade que por seus meios, processos e técnicas, desperta, desenvolve e aprimora-forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do educando, constitui um dos fatores básicos para a conquista das finalidades da educação nacional”. Enquanto o art. 3º descreveu os objetivos da Educação Física em todas as etapas de ensino:

I - No ensino primário, por atividades físicas de caráter recreativo, de preferência as que favoreçam a consolidação de hábitos higiênicos, o desenvolvimento corporal e mental harmônico, a melhoria da aptidão física, o despertar do espírito comunitário da criatividade, do moral e cívico, além de outras que concorram para completar a formação integral da personalidade.

II - No ensino médio, por atividades que contribuam para o aprimoramento e aproveitamento integrado de todas as potencialidades físicas, morais e psíquicas do indivíduo, possibilitando-lhe pelo emprego útil do tempo de lazer, uma perfeita sociabilidade a conservação da saúde, o fortalecimento da vontade, o estímulo às tendências de liderança e implantação de hábitos sadios.

III - No nível superior, em prosseguimento à iniciada nos graus precedentes, por práticas, com predominância, de natureza desportiva, preferentemente as que conduzam à manutenção e aprimoramento da aptidão física, à conservação da saúde, à integração do estudante no campus universitário à consolidação do sentimento comunitário e de nacionalidade.

§ 1º A aptidão física constitui a referência fundamental para orientar o planejamento, controle e avaliação da Educação Física, desportiva e recreativa, no nível dos estabelecimentos de ensino.

§ 2º A partir da quinta série de escolarização, deverá ser incluída na programação de atividades a iniciação desportiva.

§ 3º Nos cursos noturnos do ensino primário e médio, a orientação das atividades físicas será análoga a do ensino superior.

A partir da década de 1970, o desenvolvimento da Educação Física estava fundamentada no desempenho físico. Como descrito no Decreto citado acima, a partir da 5ª série, a iniciação esportiva tornava-se o principal conteúdo de ensino através da metodologia tecnicista. Desta forma, surge o modelo de pirâmide esportiva, exigindo do professor durante as aulas de Educação Física, a função social de descobrir talentos e formar equipes escolares visando o rendimento esportivo.

27 Lei n. 4.024 de 1961.

Nesta década, a Educação Física tornava-se mais uma vez, um instrumento importante para a manutenção da ordem e progresso. As atividades esportivas tinham a função de melhorar a força de trabalho e a composição de uma juventude forte e saudável. Nota-se, um estreitamento entre o esporte e o nacionalismo, tendo como exemplo a campanha da seleção brasileira de 1970 (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

Em face disto, o perfil de formação do professor de Educação Física estava pautado no esportivismo. Deste momento em diante, o esporte passou a ser o principal conteúdo a ser disseminado nos cursos e nas aulas de Educação Física escolar. Desta forma, as aulas tornaram- se mini sessões de treinamento esportivo orientada pelos professores-técnicos que passaram a enfatizar o princípio de aprendizagem analítica, realçando os fundamentos técnicos, tendo como produto final a legitimação do (alto) desempenho esportivo nos Jogos Escolares.

Ainda na década de 1970, segundo Rangel-Betti e Betti (1996) o currículo tradicional- esportivo dos cursos de Educação Física foi consolidado. Neste mesmo período, o esporte de alto rendimento era utilizado como instrumento político para manipular possíveis desarranjos sociais (aumentar a saúde e diminuir a violência), além de massificar e legitimar a prática esportiva de desempenho no ambiente escolar.

Segundo o Coletivo de Autores (1992), a organização curricular esportivista dos cursos de Educação Física perdurou com forte adesão até o final da ditatura militar (1984). Da década de 1980 em diante, os efeitos do modelo de pirâmide esportiva começaram a ser contestados: a prática dos esportes de elite não aumentou o número de praticantes e tampouco, o Brasil se tornou uma nação olímpica. Estes motivos e as reflexões sobre a exclusão dos alunos com baixo desempenho foram determinantes para a Educação Física escolar refletir sobre os objetivos do desenvolvimento do conteúdo esportivo voltado para o esporte de alto rendimento.

Através dos problemas apresentados, concomitante com a necessidade da Educação Física ser reconhecida como área de conhecimento, as mudanças curriculares mais significativas do curso de Educação Física aconteceram a partir da Resolução CFE n. 03/87. Segundo Souza Neto et al. (2004), as alterações curriculares foram influenciadas devido o surgimento de outras demandas como: a necessidade de repensar o currículo mínimo; a exigência de outro profissional competente para atuar fora do contexto escolar, conforme as necessidades sociais e a importância de se refletir a Educação Física enquanto campo de conhecimento específico.

A partir de 1987 com a reorganização curricular do curso de Educação Física, a formação específica de Técnico Desportivo deixa de fazer parte da graduação. A formação do

Técnico Desportivo possibilitado pelo Decreto-Lei n. 1.212/37 passou a ser substituída pela formação de bacharel. Desta maneira, a formação em licenciatura plena, habilitava a atuação no contexto escolar e fora dele, enquanto a formação de bacharel, apenas fora da escola. O perfil de formação do bacharel buscou qualificá-lo para intervir nas diversas atividades físicas e esportivas, tendo por finalidade aumentar as possibilidades de um estilo de vida ativo e saudável.

Na década de 1990, a elaboração de outros documentos importantes como a nova LDB e os PCNs contribuiu para entender e refletir o processo de ensino e aprendizagem do conteúdo esportivo na Educação Física escolar, balizando a ação pedagógica do professor na educação básica, através de princípios socioeducativos de inclusão, da diversidade e das categorias dos conteúdos (conceitual, procedimental e atitudinal).

E por fim, na década de 2000, após o entendimento da nova LDB e da necessidade da formação de profissionais que dominassem conhecimentos especializados, atendessem o emergente mercado de trabalho e as necessidades sociais, elaborou-se as DCNs dos cursos de Educação Física, que definem os perfis de formação profissional (licenciatura ou bacharelado), delimitam o campo de trabalho e fixam os conteúdos do núcleo comum e os conteúdos do núcleo específico, assim como a duração e carga horária mínima.

Para entender as mudanças curriculares que influenciaram a elaboração das DCNs e a definição do perfil de formação profissional dos cursos de Educação Física, faz-se necessário revisar os documentos que propiciaram a evolução do currículo do curso de Educação Física e estabelecer relações entre a formação do professor de Educação Física e a do Técnico Desportivo, conforme o contexto e a legislação temporal vigente.

4 ANÁLISE DOCUMENTAL

4.1 A organização curricular, a constituição das DCNs do curso de Educação Física e o