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6.6 Reflexões do perfil de concepção esportiva dos professores-técnicos

6.6.5 Categoria de análise: Procedimentos Educacionais e de Rendimento

Na literatura, autores como Hahn (1988); Grosser et al. (1989); Greco et al. (1998); Weineck (1999) na busca da elaboração de um campo teórico que solucione diversas dúvidas sobre a iniciação e formação esportiva, apontam direções relacionadas ao treinamento das capacidades motoras e físicas, estratégias de jogo, táticas e aos aspectos psicológicos, sobretudo aos aspectos motivacionais e aos deveres e obrigações formais da educação. Nesta direção, não consideram apenas o fator biológico ou cronológico, mas sim os diversos aspectos que completam o conjunto de características necessárias para a iniciação e formação esportiva.

Aprofundando a análise, conforme as subcategorias que os professores foram classificados notou-se que os procedimentos são distintos. Há professores que se pautam apenas pelos procedimentos de rendimento esportivo, outros somente pelos procedimentos educacionais e um terceiro grupo que utiliza ambos os procedimentos. Desta forma, o grupo estudado se divide em três subgrupos: procedimentos de rendimento esportivo (11), procedimentos educacionais (8) e procedimentos educacionais e de rendimento esportivo (15)73.

Procedimentos Educacionais

A análise da codificação das mensagens sobre os procedimentos dos professores- técnicos no contexto escolar indicou que 20 professores utilizam procedimentos educacionais como: ensinar os valores esportivos universais aos alunos (8); ensinar os alunos a ter atitudes positivas (6); ensinar os alunos a ser disciplinados (6); trabalhar de forma integrada com outras disciplinas curriculares (5); ensinar os alunos a equilibrar os aspectos emocionais e elevar a autoestima (3); formar para a cidadania (2).

Em relação aos procedimentos educacionais que objetivam ensinar os valores esportivos universais “saber-ser”, ser responsável, ser honesto, ser leal, ser cooperativo, ser justo, entender o binômio vitória/derrota e respeitar o próximo e as diferenças, apenas dois professores afirmam que não objetivam formar os alunos para o rendimento esportivo, tampouco estabelecem metas de rendimento, pois entendem que o professor pode utilizar o esporte na escola como ferramenta educativa voltada à formação da cidadania.

Quanto às exigências, sete professores esperam que os alunos sejam disciplinados nos treinos, nas competições e nos espaços escolares em geral. Especificamente seis professores

73 Este grupo não foi abordado isoladamente porque transita entre os procedimentos educacionais e de rendimento esportivo.

definem que a permanência dos alunos nos projetos e nas equipes esportivas depende do cumprimento das obrigações escolares (frequência, notas e faltas) e/ou de cumprimento de tarefas interdisciplinares. Além disso, os professores em geral, aspiram que os alunos tenham comprometimento com a equipe e com o trabalho proposto, assumindo uma postura atitudinal compromissada com o coletivo e com as regras e/ou objetivos previamente estabelecidos entre o professor-técnico e o grupo de alunos-atletas. Dois professores afirmam que o não cumprimento das regras74 pode ocasionar a exclusão dos alunos dos projetos esportivos.

Um dos professores, não concorda que a escola estabeleça quais alunos podem ou não participar dos projetos ou das OE, afirmando que em alguns casos, muitos alunos indisciplinados e/ou que não têm um bom aproveitamento escolar podem ter uma postura positiva nos projetos e apresentar um bom rendimento esportivo. Acredita que negar a participação destes alunos é tirar o direito da prática esportiva e aniquilar com as possibilidades das mudanças atitudinais.

Outra ação citada se refere à importância do constante diálogo com os alunos participantes para resolver conflitos. A maior parte dos professores aponta que as interações sociais precisam ser positivas, destacando a relevância da tolerância e da amizade como as principais virtudes para os alunos se sentirem valorizados e pertencentes ao grupo, independente das diferenças físicas ou técnicas.

Os aspectos emocionais também são trabalhados pelos professores, principalmente nas adversidades, minimizando os resultados negativos para não abalar a autoestima dos alunos. Uma das formas de relativizar os resultados é fazer os alunos entenderem que o coletivo é mais importante que as ações individuais, avaliando os avanços realizados em relação ao desempenho da equipe. Esta reflexão contribui para entender a limitação coletiva sem apontar ou enfatizar as falhas individuais, reconhecendo também, os motivos que levaram os adversários a vencerem a partida.

Para Marques (2000), o esporte não existe sem competição e a competição não é oposta a solidariedade. O autor afirma que a nobreza esportiva está em revelar para os jovens esportistas o equilíbrio das relações entre vitória e derrota, explicando o valor pedagógico e social de cada uma, sem perder de vista o caráter humanizador do esporte. Para Bento (1998, p. 120), “quem não sabe competir não sabe cooperar” e enfatiza que é preciso uma sólida aprendizagem de competição que enraíze definitivamente a ética do jogo e do jogador.

Portanto, ensinar o “saber-ser” implica ao professor, como afirma Azevedo (2012) e Bento (1999), assumir um compromisso ético e moral. O professor precisa ensinar os valores esportivos universais aos alunos de forma reflexiva, contextualizada, consciente, crítica, reflexiva e autônoma (BETTI, 1997; BRACHT, 1986; COLETIVO DE AUTORES, 1992; KUNZ, 1994; TAFFAREL, 2012). Assim, o processo de ensino e aprendizagem esportiva e a resolução de conflitos devem ser mediados através de diálogos que incluam os alunos nas atividades esportivas e respeitem suas individualidades.

Em outras palavras: “é necessário que a escola assuma o seu papel principal: formar e educar para que os jovens possam vir a ser cidadãos responsáveis, ativos, criativos e conscientes” (AZEVEDO, p. 90, 2012).

Procedimentos de Rendimento Esportivo

Para 26 professores os procedimentos de rendimento esportivo estão direcionados para treinar a técnica esportiva, as ações táticas e a melhora da aptidão física dos alunos (15); observar a dedicação (esforço pessoal) esportiva dos alunos durante os treinos e as competições (10); conceituar por meio de palestras e vídeos a construção do gesto motor, a exploração de situações táticas e o desenvolvimento das capacidades físicas (4); ensinar os alunos a equilibrar os aspectos emocionais e a controlar a ansiedade durante a competição (2); periodizar o treinamento esportivo (1); iniciar a prática e a interação esportiva precocemente (1); aplicar o método artesanal através de conhecimentos empíricos (1).

Na visão de 13 professores, o bom desempenho esportivo dos alunos-atletas está relacionado com a frequência (volume) dos treinamentos. Os treinos servem para aperfeiçoar os fundamentos básicos (gesto motor) das modalidades esportivas contextualizados com as, situações de jogo, envolvendo outros aspectos do treinamento como a melhora da aptidão física e a abstração de posicionamentos táticos conforme as exigências individuais ou coletivas. Outro aspecto importante citado por dois professores é saber utilizar as regras do esporte procurando explorar jogadas que possam surpreender o adversário e explicar ao aluno a utilização da eficiência e da eficácia, estabelecendo equilíbrio entre a inteligência técnico-tática e esforço físico nos treinamentos e nas competições. Apenas um professor afirma trabalhar com a periodização do treinamento esportivo, mas não especificou quais as bases teóricas que fundamentam o seu trabalho, deixando dúvidas em relação aos conhecimentos científicos.

A formação esportiva para 10 professores depende da dedicação dos alunos-atletas e da superação de limites. Nesta interpretação é preciso ter cautela. Esta avaliação é subjetiva, por isso os professores devem ter cuidado ao exigir determinadas respostas nos treinamentos e nas competições, pois os alunos-atletas não são homogêneos e a superação de limites pode

implicar em pressões emocionais que afastam os alunos da modalidade esportiva devido à imaturidade para suportar pressões e também pela perda da ludicidade e do prazer de praticar esportes. Assim, o equilíbrio emocional da equipe para dois professores são fundamentais para elevar a motivação e a determinação, além de proporcionar autonomia e segurança aos alunos nos treinos e nas competições sem pressionar a busca iminente de resultados.

Os aspectos conceituais são citados por quatro professores. Os recursos utilizados são imagens, vídeos e palestras sobre o tema esportivo. Os recursos visuais ajudam os alunos- atletas a se localizarem nas posições que precisam ocupar durante o jogo (aspectos táticos), enquanto os recursos audiovisuais contribuem na modelação da construção dos gestos motores (aspectos técnicos) e no desenvolvimento da aptidão física (aspectos físicos).

Outra forma de incentivar os alunos para o rendimento esportivo, na opinião de um professor é iniciar os alunos esportivamente a partir dos nove anos de idade. Outro professor afirmou levar os alunos para apreciarem o treinamento de equipes profissionais adultas. A primeira informação não permite identificar se os métodos de treinamento utilizados são direcionados a especialização precoce ou se há uma estimulação que explore o repertório motor de forma diversificada respeitando os estágios de desenvolvimento em que os alunos se encontram. Enquanto na segunda informação, a apreciação de treinos das equipes profissionais adultas depende do encaminhamento que o professor dará nas discussões, o que não se admite é a transposição literal do modelo de treinamento adulto para o treinamento de crianças e jovens esportistas.

Um dos professores enfatiza o conhecimento empírico em suas ações pedagógicas, declarando a importância da experiência prática como atleta ou como técnico escolar e não escolar. Entretanto, o método artesanal carece de conhecimentos científicos e muitas vezes não faz sentido para um determinado contexto (DRIGO, 2011).

Com afirma Tardif (2000), o saber experiencial é de fundamental importância para a sistematização do conhecimento. Todavia, a utilização do método artesanal reproduzido sem reflexão, leva ao ciclo de tentativa e erro, além de gerar diversas inconveniências como desinteresse e desmotivação da prática esportiva, caso o professor não considere a reflexão e as bases científicas. Assim, o conhecimento empírico deve ser analisado e refletido antes de ser cientificamente sistematizado, imbricando na dinâmica da relação entre a teoria e a prática pedagógica.