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O esporte foi inserido na Educação Física escolar, segundo a revisão realizada no tópico anterior, a partir da década de 1960 e tem recebido inúmeros significados e sentidos. Entre os estudos de esporte no contexto escolar, este tópico irá destacar principalmente os estudos do professor Manoel José Gomes Tubino devido o seu extenso envolvimento com o esporte-educação. É válido mencionar que Tubino ocupou diversos cargos públicos como a presidência do Conselho Nacional de Desportos (CND), o INDESP e da Fédération Internacionale d’Education Physique (FIEP), contribuindo de forma significativa nas decisões políticas sobre o esporte no Brasil.

O último livro de Tubino lançado em 201022 intitula-se “Estudos brasileiros sobre o esporte: ênfase no esporte-educação”. Tubino (2010) compartilha o processo histórico do esporte, evolução das leis esportivas, seus conhecimentos e experiência na gestão esportiva, enfatizando o esporte-educação como principal suporte prático dos conceitos do esporte contemporâneo. Esta obra é resultante da solicitação do ME e se organiza em quatro estudos.

No primeiro estudo “Pesquisa e análise crítica sobre o conceito esporte” o autor descreve o processo histórico do esporte dividindo-o em três períodos: esporte antigo (Jogos Gregos e Jogos Olímpicos da Antiguidade), esporte moderno (originado pelo inglês Thomas Arnold, restauração dos Jogos Olímpicos – Pierre de Coubertin e o conceito de Fair Play23 ética esportiva) e esporte contemporâneo (criado a partir de manifestações mundiais a favor da prática esportiva como um direito de todos).

Tubino considerou a Carta Internacional de Educação Física e Esporte (UNESCO, 1978) como o principal marco para o esporte se transformar em um direito de todos, rompendo com a hegemonia mundial do esporte de rendimento. Para Tubino, Garrido e Tubino (2006, p. 37) o esporte é um:

Fenômeno sociocultural, cuja prática é considerada direito de todos, e que tem no jogo o seu vínculo cultural e na competição o seu elemento essencial, o qual deve contribuir para a formação e aproximação dos seres humanos ao reforçar o desenvolvimento de valores como a moral, a ética, a solidariedade, a fraternidade e a cooperação, o que pode torná-lo um dos meios mais eficazes para a comunidade humana.

22 Obra póstuma ao falecimento de Tubino, publicada em 2010. Estudo encomendado pelo ME e revisado por Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira.

23 Está relacionado aos valores éticos, sociais e morais. O seu significado significa jogo justo, jogo limpo, ter espírito esportivo.

No contexto brasileiro, Tubino conseguiu aprovações importantes em relação à ampliação e compreensão da conceituação do esporte como o artigo 217 da Constituição Federal, considerando como questão de Estado o fomento de “práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um”, a criação da Lei n. 8.672/9324 (Lei Zico) reconhecendo três tipos de manifestações esportivas: esporte-educação, esporte-participação (lazer) e esporte- rendimento (performance). As definições das manifestações esportivas no artigo 3º (Lei n. 8.672/93) são:

I - desporto educacional, praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer;

II - desporto de participação, de modo voluntário, compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e educação e na preservação do meio ambiente;

III - desporto de rendimento, praticado segundo normas gerais desta Lei e regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com as de outras nações.

Segundo Tubino (2010), o reconhecimento das manifestações esportivas no Brasil, promoveu a inclusão de muitas pessoas à participação da prática esportiva, independente da aptidão física ou técnica, através de programas sociais como o Esporte Solidário e, posteriormente no mesmo sentido, o Programa Segundo Tempo, ambos desenvolvidos pelo Estado.

No segundo estudo, “Elementos de superação do conceito das manifestações esportivas presentes na Lei vigente que abranjam o esporte na sua totalidade”, o autor entende que havia a necessidade de ampliar o termo esporte-educação, propondo a sua ramificação para esporte educacional e esporte escolar, assim definidos (TUBINO, 2010, p. 43-87):

Definição de esporte educacional:

O Esporte Educacional, também chamado de Esporte na Escola, pode ser oferecido também para crianças e adolescentes fora da escola (comunidades em estado de carência, por exemplo). O Esporte Educacional, segundo Tubino, Garrido e Tubino (2006), deve estar referenciado nos princípios da: inclusão, participação, cooperação, coeducação e corresponsabilidade (Grifo do autor).

Compreende as atividades praticadas nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de Educação, evitando-se a seletividade e a hipercompetitividade de

24 Revogada pela Lei n. 9.615/98 (Lei Pelé). Observa-se que as definições das manifestações esportivas não sofreram alterações.

seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do individuo, a sua formação para a cidadania e a prática do lazer ativo.

Definição de esporte escolar:

O Esporte Escolar é praticado por jovens com algum talento para a prática esportiva. O Esporte Escolar, embora compreenda competições entre escolas, não prescinde de formação para a cidadania, como uma manifestação do Esporte-Educação. O Esporte Escolar esta referenciado nos princípios do Desenvolvimento Esportivo e do Desenvolvimento do Espírito Esportivo. O Espírito Esportivo é mais do que “Fair- Play”, pois compreende também a determinação em enfrentar desafios e outras qualidades morais importantes (Grifo do autor).

Praticado pelos jovens de talento no ambiente escolar, com a finalidade de desenvolvimento esportivo de seus praticantes, sem perder de vista a formação dos mesmos para a cidadania. Tem como referência os princípios do Desenvolvimento Esportivo e do Desenvolvimento do Espirito Esportivo.

O esporte-educação é entendido como base para a formação da cidadania das demais ramificações, sendo o esporte educacional referenciado nos princípios socioeducativos e o esporte escolar nos princípios de desenvolvimento esportivo e no desenvolvimento do espírito esportivo (valores éticos e morais). Assim, o esporte-educação é concebido de forma sistêmica e está permanentemente conectado com o esporte-rendimento e o esporte-lazer. Apesar do reconhecimento do esporte-educação, Tubino (2010, p. 52) entende que:

A ênfase continua no Esporte Escolar, e as iniciativas curriculares do Esporte Educacional, que integram a Educação Física Escolar, continuam deficientes, principalmente pela literatura escassa a respeito, embora já existam algumas teses/dissertações de mestrado e doutorado que estudaram e ofereceram caminhos para a utilização educativa.

Como exemplo de aplicação de investimentos no esporte escolar, destaca-se a Lei Agnelo-Piva (Lei n. 10.264/04) que passou a garantir 2% das arrecadações brutas das loterias federais para serem destinadas ao esporte. Entretanto, apenas 10% deste montante são enviados ao esporte escolar, sendo gastos para realização dos Jogos Escolares, deixando o esporte educacional sem investimentos.

No terceiro estudo, “Relação do esporte com a educação evidenciando fatores que possam incidir sobre a conceituação, organização e realização de competições/Jogos Escolares para subsidiar a construção do novo sistema", propõe uma estrutura da política nacional do esporte, representado por um conjunto que compreende: 1) a entrada: composta de recursos humanos, recursos financeiros, infraestrutura, ciência, mídia, legislação, questão de Estado; 2) o processo: representado pelo exercício do Estado conforme a entrada nas três manifestações

(esporte-educação, esporte-lazer e esporte-rendimento); 3) saída: verificação dos resultados que fornecerão elementos indispensáveis para ajustar o processo.

Neste estudo é dado destaque ao esporte educacional através da sustentação teórica de intelectuais como Noel-Backer, Maheu, Cagigal e Haag que defendem o esporte como meio de formação e desenvolvimento humano. Tubino enfatiza a necessidade de criar outras possibilidades para a realização dos Jogos Escolares por meio de diversas propostas para além do esporte escolar (Fair Play e educação olímpica), como os jogos cooperativos (jogar com e não contra o adversário) e sociomotrizes defendido pelo francês Parlebas.

Contrariando os Jogos Escolares que eram desenvolvidos no modelo de esporte- espetáculo, servindo à pirâmide esportiva, no período em que Tubino presidia a SEED/MEC e o CND, os Jogos Escolares de 1989 – período que coincide com a redemocratização do Brasil – após a I Conferência sobre o esporte na escola, foram realizados tomando como base a Carta Brasileira de Esporte na Escola (elaborada por professores universitários e professores- técnicos) por meio do esporte educacional (sem a participação de alunos-atletas federados), considerando os princípios socioeducativos. Porém, os eventos seguintes, não ocorreram da mesma forma.

Nesta direção, o estudo de Chaves (2006) fundamentada em autores como Betti, Freire e Kunz, evidenciou o esporte educacional como conteúdo e meio para ensinar a Educação Física escolar, relacionando os princípios do esporte-educacional com os objetivos da Educação Física escolar. Em seu estudo sobre os Jogos Escolares, Barbiere (1999) convida os órgãos e instituições públicas e privadas para dialogarem no sentido de estabelecer uma filosofia esportiva apoiada em princípios, estratégias e procedimentos adequados ao esporte educacional, atribuindo os valores sociais e pedagógicos enquanto meio de educação. Além disso, Barbiere propõe de forma detalhada exemplos de como realizar os Jogos Escolares fundamentado no esporte educacional através de jogos cooperativos, jogos populares, jogos coletivos, dança e esporte para deficientes físicos.

Voltando à Tubino, no quarto estudo, “Pesquisa e análise crítica sobre a relação do nexo esporte-educação com os jogos escolares”, há uma retomada da reflexão dos Jogos Escolares conforme o contexto em que foram realizados, pontuando os avanços e as involuções sobre a importância do esporte-educação no contexto escolar e dos programas sociais (esporte- lazer), como questão de Estado. Outro apontamento é que o esporte escolar atualmente é representado pelos Jogos Escolares, sendo um paradoxo a dissociação entre o MEC e as Secretarias estaduais e municipais em relação aos assuntos educacionais.

Apesar de não ser um consenso sobre os estudos de Tubino em relação ao esporte na esfera escolar, principalmente por intelectuais da Educação Física que eram contrários ao esporte institucionalizado (esporte escolar) no ambiente escolar, as classificações das manifestações esportivas não deixam dúvidas quanto às questões éticas, sendo o esporte-lazer (o que inclui e garante o direito de todos participarem) o ponto de encontro de seus críticos.

Diante dos estudos de Tubino, pode-se afirmar a sua contribuição para a intervenção social e o diálogo entre Educação Física e o seu campo de atuação, enfatizando que o esporte contemporâneo deve ser pensado como direito de todos, de forma plural.

3.5.1 Estudos sobre os Jogos Escolares

Durante a revisão da literatura sobre a temática abordada nesta pesquisa, observou-se uma escassez de estudos relacionados à formação curricular e concepção esportiva dos professores que atuam como técnicos nos Jogos Escolares em suas diferentes esferas (municipal, estadual e nacional). Além disso, não foi encontrado na literatura estudos que estabelecem relações entre o perfil dos professores-técnicos comparando com as DCNs do curso de licenciatura em Educação Física, as leis que normatizam o esporte e os diferentes programas esportivos de âmbito federal que envolve o contexto escolar.

Durante a exploração dos estudos que abordam o esporte educacional e o esporte escolar que se aproximam da temática deste estudo, destacam-se as pesquisas realizadas por Carone Soares (2010) e Silva (2013).

Carone Soares (2010) em seu estudo objetivou analisar as Olimpíadas Colegiais25 (OC) da região leste de Campinas, tendo como foco a verificação do aproveitamento da competição esportiva como conteúdo da Educação Física através das concepções dos professores e demais organizadores do evento. A autora faz uma exploração documental das OC caracterizando as modalidades esportivas (regras e formas de disputa) e a quantidade de escolas e alunos participantes. Além disso, faz relações entre as Atividades Curriculares Desportivas (projetos de contraturno) com os PCNs. O estudo evidenciou a importância do professor no processo de ensino e aprendizagem, enfatizando a prática pedagógica pautada nos valores sociais, sem perder de vista o caráter competitivo das OC. O estudo é concluído pelos aspectos positivos que a competição proporciona durante as OC. Entretanto, apenas oito de 23

professores participaram efetivamente da pesquisa, sendo considerado neste caso, um fator de limitação para o estudo.

Silva (2013) analisa o processo de treinamento dos esportes coletivos (Basquete, Futsal, Handebol e Vôlei) em equipes escolares nas três esferas dos Jogos Escolares de Belo Horizonte (municipal, estadual e federal) de 2011. A pesquisa faz uma ampla revisão sistemática26 da produção literária em periódicos nacionais da área da Educação Física e Esportes entre 1990 e 2011. A pesquisa revelou carência de estudos em relação ao aprofundamento teórico e metodológico, além de constatar a predominância do esporte escolar de rendimento e defasagem sobre o conceito do esporte educacional, superioridade das equipes de escolas privadas em detrimento das públicas em relação às condições de treinamento, materiais esportivos, recursos humanos e capacitação profissional.

3.6 A influência do conteúdo esportivo na organização curricular do curso de Educação