• Nenhum resultado encontrado

1.1 Justificativa

1.1.2 Definição e caracterização do problema de estudo

O desenvolvimento de projetos esportivos no contraturno escolar do município de São Paulo respaldava-se pelo Programa ‘Ampliar’ instituído por intermédio da Portaria n. 5.360/11. Em 2014, o Programa Ampliar foi substituído pela Portaria n. 5.930/13 que regulamenta o Decreto nº 54.452/13 e institui o Programa de Reorganização Curricular e Administrativa, Ampliação e Fortalecimento da Rede Municipal de Ensino de São Paulo – “Mais Educação São Paulo”.

A SME atendendo a Portaria n. 5.930/13, em seu artigo 23, afirma que as atividades curriculares de caráter educacional “Deverão integrar as atividades curriculares desenvolvidas no contraturno escolar, os programas e projetos já existentes na Rede Municipal de Ensino envolvendo, em especial: (...) item V – Esporte Escolar”. Sendo assim, o desenvolvimento de projetos esportivos contempla as atividades extracurriculares, na perspectiva da escola de tempo integral.

Na esfera federal, a Lei n. 9.615/98 que institui as normas gerais sobre o esporte foi regulamentada pelo Decreto n. 7.984/13 que reconhece o esporte em seu art. 3º em relação à área escolar como esporte-educação, ramificando-se em esporte educacional e esporte escolar.

O esporte educacional pode ser ofertado no ambiente escolar ou fora dele e pauta-se nos princípios socioeducativos e aos aspectos de lazer e ludicidade, aproximando-se dos objetivos dos projetos esportivos do Programa Mais Educação. Já o esporte escolar praticado neste mesmo espaço, objetiva a participação exclusiva de estudantes com talento esportivo, visando competições escolares que buscam o rendimento esportivo, aproximando-se do Programa Atleta na Escola.

Nota-se que o Programa Ampliar da SME foi sobreposto pelo programa Mais Educação – São Paulo de âmbito federal, após a regulamentação da Portaria SME n. 2.761/14 que dispõe sobre “Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE”. Na mesma Portaria em seu art. 2º, é permitido às escolas, conforme o Projeto Político Pedagógico, respeitadas as resoluções específicas, escolher os seguintes programas:

a) Programa Atleta na Escola; b) Programa Escola Sustentável; c) Programa Mais Cultura na Escola; d) Programa Mais Educação;

Destes programas, os que interessam neste estudo são: a) Programa Atleta na Escola; d) Programa Mais Educação. Independente de qual seja o programa escolhido pela unidade escolar, ambos permitem desenvolver projetos esportivos, diferenciando-se teoricamente apenas quanto aos objetivos, sendo o primeiro caracterizado pelos aspectos de rendimento esportivo e o segundo direcionado às vivências esportivas e de lazer.

Anterior às normas gerais que regulam o esporte nacional, o município de São Paulo, através da Portaria Intersecretarial n. 05/11 que regulamenta as OE, Interceus e Paraolimpíadas Estudantis, já organizava o esporte escolar na mesma perspectiva do esporte escolar descrito no Decreto 7.894/13.

Nesta direção, os projetos esportivos extracurriculares e as OE do município de São Paulo oportunizam que o professor de Educação Física, treinem suas equipes e as inscrevam em diversas modalidades esportivas.

Nas OE, a continuidade das equipes nas fases seguintes, depende fundamentalmente de um bom rendimento esportivo. Na etapa que envolve a final municipal, tem-se observado um elevado desempenho esportivo das equipes finalistas, tanto no que tange a forma de intervenção do professor-técnico, quanto às habilidades técnicas e táticas dos alunos requisitadas durante os jogos.

Contrapondo os projetos esportivos e as OE, observam-se diferentes propósitos em relação à aula regular de Educação Física, desde os critérios de formação da turma, planejamento e objetivos de aula. Neste contexto, há uma complexidade em adequar o desenvolvimento esportivo dentro do espaço escolar sem ignorar a importância pedagógica e socioeducativa. Nesta conjunção, percebe-se que as propostas de intervenção são diferentes no que se refere às aulas regulares de Educação Física escolar versus as aulas dos projetos esportivos.

Na esfera estadual, a Secretaria de Educação de São Paulo desenvolvem as Atividades Curriculares Desportivas (ACDs), caracterizando outro exemplo ambíguo, ao mesmo tempo em que o professor pode desenvolver projetos de cunho educacional conforme os requisitos da educação básica, também direcionam estes projetos às finalidades de rendimento esportivo, conforme consta na Resolução SE n. 02/14, considerando:

- a importância da prática do esporte nas escolas, como espaço de vivência de relações interpessoais que contribuem para a ampliação das oportunidades de exercício de uma cidadania ampla e consciente;

- a necessidade de se promover a integração e a socialização dos alunos em atividades esportivas competitivas e/ou recreativas, com vistas à futura participação de suas escolas em campeonatos e competições de esfera estadual, nacional e internacional.

Em relação às aulas regulares de Educação Física, a promulgação dos PCNs (1997) amplia a visão dos aspectos de rendimento físico, reavaliando a utilização do esporte como um meio de atingir diferentes expectativas de aprendizagens, considerando os aspectos históricos, sociais e culturais, em prol de uma Educação Física integrada à formação humana. Já a LDB (1996) enfatiza as dimensões didático-pedagógicas, técnico-instrumentais e de produção do conhecimento científico e tecnológico voltadas à formação e atuação docente.

Nesta direção, a partir da mudança da matriz curricular do curso de licenciatura em Educação Física homologada pelo Conselho Nacional de Educação: Resoluções CNE/CP n. 01 e n. 02 de 2002, aprovadas pelo MEC, corroboraram com a LDB e os PCNs na busca da formação integral do educando, aparecendo pela primeira vez na formação, o termo “professores de educação básica” ao invés de licenciado. Estas Resoluções foram responsáveis por estabelecerem nas novas DCNs, a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, a fim de garantir a formação de um professor com perfil específico para atuar na educação básica, na disciplina de Educação Física.

Apesar das DCNs direcionarem a formação e o perfil do professor para atuar no contexto escolar, não se descarta a possibilidade da formação curricular com a concepção esportiva de professores direcionada para a detecção de talentos e rendimento esportivo. Entretanto, a dimensão do conhecimento oferecida nos cursos de formação, após as Resoluções acima citadas, pressupõe a ausência ou redução de conteúdos e/ou disciplinas que instrumentalizem a formação docente voltada à atuação de técnico no esporte escolar em projetos esportivos ou competições escolares direcionadas para o rendimento esportivo.

Diante da possibilidade de atuação dúbia, as mudanças curriculares sobre o perfil de formação docente atual apontam para redução de conhecimento específico do treinamento esportivo direcionado ao rendimento (sub) máximo e às questões administrativas de trabalho relacionadas às competições. Por outro lado, as Políticas Públicas que estruturam o esporte escolar, continuam com os mesmos objetivos de garimpar talentos e promover o esporte de rendimento nestes espaços.

Devido a esse dilema, de formação e atuação docente, legitimado pelo mesmo órgão (MEC), que atribui uma formação direcionada para atender as exigências atuais no que se

refere à formação plena dos educandos nas dimensões: cognitiva, social, afetiva, motora, ética e estética, tendo em vista uma formação humana e a construção de uma sociedade democrática e justa, ao mesmo tempo, institui programas esportivos direcionados ao rendimento exigindo do professor conhecimentos específicos para atuar como técnico esportivo, detectar talentos e preparar os alunos-atletas para participarem de Jogos Escolares, em modalidades individuais e coletivas, com alto desempenho esportivo.

Neste embate, a pretensão do estudo é estabelecer relações e compreender se há coerência entre o perfil dos professores-técnicos finalistas e as DCNs, e ao mesmo tempo, entre o perfil dos professores-técnicos e o Decreto n. 7.984/13 que regulamenta e normatiza o esporte escolar. Portanto, a questão fundamental da investigação está norteada pela seguinte indagação: Qual é o perfil de formação curricular e concepção esportiva dos professores-técnicos finalistas das Olimpíadas Estudantis (2014) do município de São Paulo?