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Após a apresentação dos princípios e do Plano de Avaliação Institucional Participativa da rede municipal de ensino de Campinas e da FUMEC, os quais nortearam o processo de iniciação e de implementação da AIP, realizou-se o levantamento da legislação relacionada ao tema, a fim de selecionar os documentos que balizam a atuação dos gestores escolares. A partir da massa documental, elegeram-se as informações relacionadas, principalmente, aos aspectos que afetam o “fazer” dos gestores quando no gerenciamento da avaliação da qualidade na escola.

A pesquisa documental possibilitou uma aproximação com a problemática do estudo, visto que, somente a partir da coleta de dados, pode-se perceber o contexto em que se inseriam os sujeitos, as condições objetivas que os norteavam e as decisões políticas que direcionaram a implantação da AIP e o trabalho desses gestores.

Destaca-se, nesse processo, a vontade política da SME, já que aplicou as avaliações externas de desempenho dos alunos desenvolvidas pelo Inep / MEC, por meio da Prova Brasil (em 2007) e da Provinha Brasil (em 2008); elaborou sua própria avaliação de desempenho, a Prova Campinas, em 2008, e, complementar aos modelos de avaliação vigentes no cenário nacional, oficializou a política de AIP na RMEC também em 2008.

Quando se trata de uma mudança de cultura, qualquer instituição passa, em um primeiro momento, por um período de adaptação, de transição entre uma cultura e outra. Assim também ocorre no âmbito escolar, especialmente, quando se passa por um processo de modo formativo, em oposição a práticas autoritárias de avaliação recorrentes em nossa sociedade, um desafio que se apresenta aos gestores escolares da RMEC.

Assim, identificaram-se as decisões tomadas e as ações desenvolvidas pelos instituidores da política, a fim de sustentar a implementação desse projeto junto às escolas:

1. Oficialização pelo Secretário de Educação do Plano de Avaliação Institucional Participativa junto aos gestores (dezembro/2007);

2. Instituição de uma Assessoria de Avaliação Institucional (fevereiro/2008);

3. Contratação de formadora para o projeto de avaliação e consolidação da parceria com o LOED/UNICAMP;

4. Formação dos orientadores pedagógicos e coordenadores pedagógicos;

5. Processo de recomposição e ampliação do quadro de orientadores pedagógicos, através da abertura de concurso público (2008);

6. Organização de encontros destinados à formação dos diversos atores participantes das comissões de avaliação, em especial aos estudantes, famílias e funcionários; 7. Abertura de espaços para socialização das experiências vivenciadas no processo de avaliação;

8. Sensibilização das equipes dos Núcleos de Ação Educativa Descentralizada (NAEDs) junto com as equipes gestoras das unidades de Ensino Fundamental através da assessoria da Profa. Mara De Sordi;

9. Construção de roteiro orientador inicial para o trabalho dos orientadores pedagógicos;

10. Publicação de material de apoio às escolas, que se constituiu em um livro (SOUZA, 2012 p.25-26).

A fim de instrumentalizar as equipes gestoras e as equipes educativas, a SME contratou uma assessoria externa que capacitou os especialistas, com o intuito de garantir um processo eficiente de implementação dessa política.

Assim, foram destinadas 318 horas para essa formação, as quais se distribuíram, entre os membros das equipes gestoras e das equipes educativas, nos anos de 2008, 2009,2010, 2011 e 2013. Especificamente, aos orientadores e coordenadores pedagógicos, foram oferecidas 82 horas de ações de capacitação, concentradas nos anos de 2008 e 2009.

Apesar de intentar envolver todos os sujeitos envolvidos no âmbito escolar, os supervisores e diretores não foram contemplados pelo projeto de formação nesse primeiro momento, devido à dificuldade para envolver a totalidade dos especialistas. Entretanto concordamos com Sordi (2012, p.40), pois “em que pese esta condição limitadora, não há como desconsiderar que a adoção da AIP como forma de regulação da qualidade das escolas de ensino fundamental da rede municipal de Campinas foi muito significativa e oportuna”.

Nesse panorama, apostou-se na figura do OP para disseminar essa política avaliatória, por isto, a SME priorizou a formação para esse profissional, visando a capacitá-lo a tornar-se o articulador desse processo no âmbito escolar.

O Regimento Escolar Comum das Unidades Educacionais da Rede Municipal de Ensino de Campinas - PORTARIA SME Nº 114/2010, no seu artigo 44 nos explicita as atribuições do orientador pedagógico, ou seja, o papel deste articulador do trabalho pedagógico visando

assegurar as aprendizagens dos estudantes, bem como as práticas pedagógicas dos profissionais no âmbito da escola:

I - coordenar a elaboração, a sistematização, a implementação e a

avaliação do Projeto Pedagógico da unidade educacional;

II - coordenar a construção e subsidiar a implementação da proposta

curricular da unidade educacional, considerando as Diretrizes Curriculares Nacionais e as políticas educacionais da SME;

III - orientar e acompanhar o planejamento e a execução do trabalho

educativo das equipes docente e de monitores infanto juvenis e/ou agentes de Educação Infantil;

IV - participar efetivamente das reuniões de trabalho juntamente com

os coordenadores pedagógicos;

V - orientar e acompanhar o processo ensino aprendizagem; VI - coordenar ações para a aquisição de materiais pedagógicos; VII - promover ações e projetos de incentivo à leitura;

VIII - incentivar e planejar, com os demais integrantes da equipe

educacional, o desenvolvimento de atividades nos laboratórios e o uso de tecnologias no processo ensino aprendizagem;

IX - coordenar os processos de representação docente e discente para

cada turma;

X - construir, com os integrantes da equipe educacional, estratégias

pedagógicas de superação de todas as formas de discriminação, preconceito e exclusão social;

XI - orientar, coordenar e acompanhar a avaliação processual dos

alunos;

XII - orientar, coordenar e acompanhar os processos de classificação e

de reclassificação, de adaptação de estudos, de recuperação de estudos, de revisão dos resultados finais de avaliação e de terminalidade específica na Educação Especial;

XIII - orientar e acompanhar os registros e a prática pedagógica dos

XIV - orientar e acompanhar o professor de Educação Especial nas

atividades desenvolvidas no Atendimento Educacional Especializado, AEE.

Mediante esse contexto, Sordi (2012, p.41-42) sinaliza as razões práticas para escolha desse ator:

Cabe a este profissional papel de destaque tanto no âmbito das discussões sobre qualidade educacional com a equipe gestora como na condução dos Trabalhos Docentes Coletivos (TDCs)33 que ensejam orientação aos professores sobre a natureza do trabalho pedagógico que melhor responde ao alunado da escola. Igualmente os OPs respondem direta ou indiretamente pela formulação coletiva do PP da escola e pela indicação de prioridades de ação selecionadas. Não há como desvinculá-los da discussão sobre os índices externos que sinalizam a posição da escola no cenário loco regional. Por todas estas razões, sonegar-lhes a titularidade na condução das CPAs seria desconhecer a expertise que possuem na discussão sobre as questões pedagógicas.

Reitera-se que a Avaliação Institucional Participativa propõe uma nova forma de olhar para a escola, para seu trabalho pedagógico e para sua gestão, por isto, nesse sentido, entende- se que a formação para os gestores é crucial.

Considerando que a formação dos OP socorreu em paralelo à implementação da AIP, é indispensável refletir sobre o modelo político idealizado e o praticado, já que é no contexto da prática que ocorre o processo de produção da qualidade da escola.

Com o intuito de subsidiar os profissionais na implementação dessa política, a SME editou e publicou um material de apoio, visando a difundir o movimento de construção da AIP34, bem como explicitar os desafios da continuidade dessa proposta35, imprimindo um conceito de avaliação alternativo e inovador.

As bases legais que alicerçam essa política pública, na RMEC, também foram analisadas, tendo-se remetido também a algumas decisões políticas, como, por exemplo, a revisão dos tempos escolares. Observou-se, nesse panorama, um esforço da SME em instituir

33 Trabalho Docente Coletivo compreende as reuniões de integração pedagógica, de discussão dos planejamentos e projetos junto com o corpo docente e é conduzido pelo orientador pedagógico da unidade.

34No ano de 2009 foi publicado o livro “A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL COMO INSTÂNCIA MEDIADORA DA QUALIDADE DA ESCOLA PÚBLICA: A Rede Municipal de Educação de Campinas Como Espaço de Aprendizagem” (volume 1).

35No ano de 2013 foi publicado o livro “A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL COMO INSTÂNCIA MEDIADORA DA QUALIDADE DA ESCOLA PÚBLICA: o processo de implementação na rede municipal de Campinas em destaque” (volume 2).

espaços e tempos pedagógicos para a reflexão coletiva, evidenciado na publicação dos documentos oficiais, mesmo antes da deflagração oficial da política de AIP,

Essa trajetória começou a ser delineada pela Portaria Nº 1163/90. Nessa nota oficial a SME/Campinas veiculou uma nova diretriz: a elaboração de Projeto Pedagógico

em nossas escolas municipais, condição absolutamente necessária para uma AIP

[...]. Essa atitude inovadora foi sequenciada pelo Regimento Comum das Escolas

Municipais de Ensino Fundamental em 1992[...] o Estatuto do Magistério Público de Campinas, Lei Nº6. 894/91, instituiu dois diferentes tempos pedagógicos extraclasse: duas horas/aula na escola - culturalmente denominado de Trabalho Docente (TD) - e três em local de escolha do docente (dependendo da

jornada de cada profissional), para atividades correlatas ao exercício do magistério[...]Em 2004, foi aprovada a Lei nº12.01236, que normatizou a introdução

de mais tempos pedagógicos à jornada do professor: ao TDC e TDI, somaram-se o

Trabalho Docente em Projetos (TDPR) e o Trabalho Docente em Preparação de Aulas (TDPA), sendo que este último já estava previsto no Estatuto do Magistério de

1991 com a denominação de tempo extraclasse (SME, 2007, p.4-5, grifos nossos) A partir da normatização dos tempos pedagógicos na jornada do professor, os espaços de reflexão coletiva foram garantidos, favorecendo o processo de AIP. No que tange aos tempos

coletivos instituídos na RMEC, apresentam-se os colegiados formados pelo Conselho de Escola

(CE),37 composto por todos os segmentos, e pelo Conselho de Classe, Série e Termo (CCS/T),38 com a participação dos docentes e dos especialistas. Dessa forma, institui-se a possibilidade da participação dos segmentos da escola e da comunidade, garantindo espaço em calendário para as reuniões dos colegiados.

Em continuidade a esse movimento, a partir de 2008, foram publicadas Resoluções que regulamentaram as Horas-Projeto e normas que visavam a orientar os professores da RMEC sobre o cumprimento dos tempos pedagógicos, bem como foi instituída a Comissão Própria de Avaliação (CPA), colegiado responsável pela coordenação da AIP na unidade escolar. Assim, os documentos foram organizados cronologicamente, a fim de dialogar com as variáveis que interferem diretamente no trabalho dos gestores escolares a partir da deflagração da política de AIP, em 2008.

O quadro a seguir foi elaborado, a fim de apresentar os documentos norteadores da proposição e da implementação do processo de AIP na RMEC.

36Lei Municipal n° 12.012/2004, reestrutura o Plano de Carreiras da Prefeitura Municipal de Campinas. 37Conselho de Escola (CE) - Lei nº 6.662 de 10 de outubro de 1991.

QUADRO 7 - Documentos norteadores da AIP na RMEC

DA PROPOSIÇÃO: DOCUMENTOS OFICIAIS DA AIP QUE BALIZAM A