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4.3 CULTURA INFORMACIONAL

4.3.1 A informação como um bem cultural

Os novos conhecimentos ampliam ou defasam os velhos. Em qualquer uma dessas situações eles nos levam a reorganizar nosso estoque de informações para atualizar a nossa imagem da sociedade, o nosso modelo mental, a nossa representação subjetiva da realidade. Se assim não fizermos corremos o risco de enxergar uma realidade distorcida ou imprecisa. Lévy (1999) ao falar sobre a velocidade da renovação do saber e do saber fazer, revela pela primeira vez na história da humanidade que a maior parte dos conhecimentos adquiridos por uma pessoa no início de sua vida profissional será obsoleta ao final de sua carreira. Uma pes- soa formada perde a cada ano, 10 % de sua formação escolar, deveria aumentar seu conhe- cimento profissional à base de 20% ao ano. Isso explica um dos principais motivos pelos quais as pessoas estão em busca de informação aprofundada, especializada e de qualidade.

O processo de se manter informado está tomando conta das sociedades por uma simples questão de sobrevivência. Estamos sempre vigilantes em busca de novas informações, através de cursos, pesquisas, consultoria, leituras, afinal, quem não sabe está fora do mercado, não tem chances e nem oportunidades. Todos os dias nós acordamos diante do grande desafio de estar atualizado sobre o que acontece a nossa volta e no resto do mundo. Nessa enxurrada de informações, o computador tem sido a peça chave para difundir o conhecimento. Para Cardoso5, as pessoas sentem necessidade de se integrar no jogo de transferências eletrônicas de informação e isso tem acontecido em grande parte da vida social, não apenas nos negócios. É toda uma cultura informacional que vem se desenvolvendo, na medida em que realizamos pequenos atos cotidianos de acesso e alimentação das cadeias de informação, ao mesmo tempo em que grandes organizações disponibilizam seus sistemas para as mais diversas comunidades. Assim, tanto pessoas idosas e aposentadas, como as mais jovens, participam desse processo ao acessarem posições de suas contas bancárias através de serviços de auto-atendimento (por telefone, terminais públicos ou Internet), ou participando ativamente de longas sessões de Chat, criando novas tribos virtuais e novos padrões culturais. Nenhuma faixa etária parece alheia à influência da informatização da sociedade e do trabalho.

Somos obrigados a assimilar essas mudanças de tal forma que buscar informações é uma necessidade que já se tornou parte da nossa cultura, está inserida em nosso contexto social e porque não dizer que se transformou numa cultura própria e diferente, a chamada cultura informacional? É um fenômeno que mexe com a sociedade e envolve as pessoas das diversas camadas sociais.

A informação afeta de uma maneira ou de outra todos os componentes dos sistemas sociais. Cultura é informação e a transferência de informação ou a manipulação da mesma define as relações sociais que formam a estrutura da sociedade e vice versa, a estrutura social determina a cultura ao proporcionar um marco naquilo que se produz e se comunica. (PONJUAN, 2002, p. 2).

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Cláudio Cardoso é professor adjunto da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia e doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela mesma Faculdade. Para ver mais sobre Cadeias Cooperativas nos negócios eletrônicos acesse:

http://www.clicom.adm.br/Artigos/Cadeias%20Cooperativas%20nos%20Neg%F3cios%20Eletr%F4nicos.pdf

Para entender melhor de que forma a cultura e a informação se relacionam, vamos às definições. No sentindo antropológico, o conceito de cultura é entendido como modo de relacionamento humano com seu real , ou seja, é a maneira como as pessoas interagem com o mundo, é a forma como elas enxergam a realidade e reagem diante dos fatos, para isso, um conjunto de artefatos acaba sendo construído pelos sujeitos em sociedade (palavras, conceitos, técnicas, regras, linguagens) que vão dar sentido, produzir e até mesmo reproduzir a vida material e simbólica dos indivíduos. Esses artefatos são produtos da informação, a qual alimenta as maneiras próprias de ser, representar e estar em sociedade. Cultura e informação são dessa forma, conceitos e fenômenos interligados por sua própria natureza, assim sendo, podemos dizer que toda prática cultural acaba se transformando em prática informacional.

O termo cultura informacional começou a ser usado recentemente na literatura e já faz parte do vocabulário de estudantes, professores e pesquisadores da área. Pode ser definido como a habilidade de buscar, entender, distribuir e aplicar informação nas atividades diárias, no trabalho e nas ações sociais com a finalidade de cumprir objetivos marcados e de desenvolver o conhecimento e o potencial do mesmo . Desta forma cultura da informação pode ser entendida como conhecimento e habilidades das pessoas, e por extensão, dos processos das organizações que estas trabalham, que lhes permitem obter maior rendimento das tecnologias, graças à exploração inteligente da informação. A cultura da informação é um fator multiplicador da invenção das tecnologias da informação .

De acordo com Ponjuan (2002, p.02) a cultura informacional pode ser dividida em seis categorias diferentes onde cada uma delas possui uma série de componentes que ajudam a exemplificar como surge a cultura, de que forma ela se propaga e quais são as pessoas responsáveis por contribuir com o desenvolvimento da cultura informacional:

Dimensão humana: pessoas, grupos, associações, instituições, países, regiões,

Dimensão da informação: necessidades da informação, geradores e utilizadores da

informação, disseminadores da informação no seu formato original, depósitos de informações e conservadores patrimoniais, transformadores, consultores e distribuidores de informação com valor agregado, canais, médios e infra-estruturas.

Dimensão da infra-estrutura: escolas primárias, secundárias e terciárias,

universidades, fábricas, entidades de produção e serviços, unidades de informação, tele centros, empresas, unidades de investigação e desenvolvimento, entidades da administração pública, governos locais e nacionais, organizações de caráter mundial (Agência das Nações Unidas);

Cooperação: contatos pessoais e profissionais, intercâmbio de instalações,

processos de aprendizagem formal, processos de inovação, criação, investigação e desenvolvimento, projetos de trabalho em conjunto em diferentes instâncias, relação universidade/indústria/comunidade, aprendizagem de uso, apoio técnico e social, prestação de serviços de diferente caráter e conteúdo, organização de eventos, reuniões e espaços de intercâmbio profissional, laboratório e outros espaços sociais, acordos de diferente caráter, etc.;

Liderança: mestres, professores, investigadores, profissionais da informação e da

comunicação, inovadores, gerentes proativos, líderes comunitários, juristas, empresários, agentes culturais, governantes e autoridades nacionais e internacionais entre outros;

Condições sociais: grade de analfabetismo, educação e cultura, identidade cultural,

possibilidades comunicativas por razões étnicas e lingüísticas, qualidade de vida, acesso às redes, sistemas de comunicação, computação e de informação, política de desenvolvimento e hierarquia, liberdade de informação e expressão, acesso à legislação informacional e a propriedade intelectual, nível de desigualdade social,

divisão digital, nível de desenvolvimento econômico e social, desenvolvimento científico e tecnológico entre outros.

Vemos que a cultura informacional nasce no seio da sociedade, entre as pessoas, grupos, entidades, organizações, surge através da comunicação, da necessidade de trocar informações, brota com a interação social, o contato entre as pessoas, o intercâmbio entre profissionais, cresce com a ajuda das escolas, universidades, empresas, ganha força com as inovações, as descobertas, as investigações e só pode ser prejudicada se não conseguir vencer as barreiras das condições sociais.

É interesse notar como as dimensões da cultura informacional ao serem relacionadas umas com as outras nos fornecem uma visão geral sobre o processo de formação cultural do uso da informação na sociedade. Ponjuan (2002, p.4) ao refletir sobre os espaços de interação desse processo, conseguiu formular uma figura que representa a relação entre cada um dos seis componentes da cultura informacional. Observe na figura:

Figura 3: Dimensões da cultura informacional

Dimensão da Informação Conhecimento Dimensão de infra- estrutura Reserva de desenvolvimento Dimensão Humana Condições sociais Cooperação Espaço de reação Cultura informacional Liderança

Estas dimensões e componentes atuam em diferentes setores. Na aprendizagem, na ciência e no desenvolvimento social. Vemos desta forma que a cultura informacional é capaz de provocar mudanças significativas na sociedade, porém é preciso cooperação, investimentos e acima de tudo programas que promovam a inclusão social para que a cultura informacional atinja todas as camadas da sociedade.