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Interfaces entre Ciência da Informação e Comunicação

4.4 INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

4.4.1 Interfaces entre Ciência da Informação e Comunicação

A Ciência da Informação se dedica a estudar a produção, organização, difusão e a utilização de informação em todos os campos do saber. Foi a aceita no mundo científico com a realização da International Conference on Scientific Information, em Washington, em 1958. O acontecimento marcou a transformação da documentação em ciência da informação. O surgimento da nova disciplina foi no período pós-guerra, logo quando ocorreu o fenômeno da explosão da informação tendo como idéias iniciais compreender e explorar os aspectos ligados à recuperação da informação, o conceito de relevância, associado á necessidade de informação dos usuários, e duas décadas depois, a interação homem-máquina nos Sistemas de Recuperação da Informação. Algumas definições reunidas na obra de Robredo (2003, p. 55- 66) nos ajudam a entender melhor os campos que envolvem a ciência em questão:

Geórgia Institute of Technology (1961-1962):

A Ciência da Informação é a que investiga as propriedades do comportamento da informação, as forças que regem o fluxo da informação e os meios de processamento da informação para um máximo de acessibilidade e uso. O processo inclui a origem, disseminação, coleta, organização, armazenamento, recuperação, interpretação e uso da informação. O campo deriva ou relaciona-se com a matemática, a lógica, a lingüística, a psicologia, a tecnologia computacional, as operações de pesquisa, as artes gráficas, as comunicações, a biblioteconomia, a gestão e alguns outros campos.

Taylor (1963): O estudo das propriedades, estrutura e transmissão do conhecimento especializado, e o desenvolvimento de métodos para sua organização e disseminação úteis .

Borko (1968):

Disciplina que investiga as propriedades e o comportamento da informação, as forças que regem o fluxo informacional e os meios de processamento da informação para a otimização do acesso e uso. Está relacionado com um corpo de conhecimento que abrange a origem, coleta, organização, armazenamento, recuperação, interpretação, transmissão, transformação e utilização da informação. Isto inclui a investigação, as representações da informação tanto no sistema natural, como no artificial, o uso de códigos para uma eficiente transmissão de mensagens e o estudo dos serviços e técnicas de processamento da informação e seus sistemas de programação. Klempner (1969): [...] têm como missão (grifo nosso) investigar as propriedades e o comportamento da informação, as forças que regem a transferência da informação, e tecnologia necessária para processar a informação com vistas à otimização de seu uso e do acesso a ela .

Harmon (1971): A ciência da informação é um campo interdisciplinar que inclui tópicos tais como ciência do comportamento, classificação, transferência, linguagem e lingüística [...] e está estreitamente relacionada com a comunicação e o comportamento .

Le Coadic (1994):

Tem por objeto o estudo das propriedades gerais da informação (natureza, gênese, efeitos), ou seja, mais precisamente: a análise dos processos de construção, comunicação e uso da informação e a concepção dos produtos e sistemas que permitem a construção, comunicação, armazenamento e uso.

Diante de tantas definições o que podemos concluir é que a ciência da informação permanece em constante mudança, assim como a própria informação que é registrada, duplicada, reproduzida, transmitida, conservada, armazenada, organizada, reorganizada, recuperada, refutada e recriada a cada nova descoberta. Depois de haver passado do estudo do documento para o estudo da informação, agora a CI se preocupa em analisar fatores humanos e tecnológicos envolvidos no processo de comunicação e uso, armazenagem e recuperação da informação com a utilização das novas tecnologias. Convém destacar que a nova ciência possui interfaces com outras disciplinas. Summers e colaboradores (1999) apud Robredo (2003, p.160) representam na figura reproduzida abaixo a relação da ciência da informação com outras disciplinas.

Figura 5: A natureza multidisciplinar da ciência da informação

CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Questões gerenciais medidas de performance habilidades pessoais privacidade Atividades núcleo bibliotecas digitais interação de agentes inteligentes recuperação da informação gestão do Aplicações fluxo operacional gestão de documentos Internet/ intranet Psicologia Ciências sociais Ciências gerenciais e negócios Ciências da computação Engenharia

A literatura científica da ciência da informação reunida ao longo desses anos serve como matéria prima que possibilita o avanço de todas as outras ciências, já que a CI tem em sua essência a interdisciplinaridade como explica Saracevic (1998 p.36). A ciência da informação é interdisciplinar por natureza, está inexoravelmente associada com a tecnologia da informação e com outras áreas do conhecimento, é uma atividade participante da evolução da sociedade da informação . Por conta disso, pesquisadores e cientistas da área tem dificuldades em delimitar a atuação e abrangência da CI justamente pelo fato de ser uma ciência que envolve profissionais de tantos campos diferentes.

A comunicação, na Ciência da Informação, se apresenta como uma dos principais disciplinas que exercem forte influência. Farradane14 (apud HAWKINS) reforça que a CI tem a ver com a natureza do pensamento e sua expressão e comunicação [...] determinando e adaptando as comunicações às necessidades ou a maneira de pensar das pessoas . Para entender a interface entre essas duas ciências, Lima (2003, p.79) explica que as definições de informação enquanto fenômeno e de comunicação enquanto processo são a base da relação entre CI e a comunicação enquanto ciência. E continua: Dado o grau de relação entre o fenômeno e o processo, pesquisadores das duas ciências concordam que existem questões emergentes que necessitam de uma atenção conjunta por parte dessas disciplinas .

Além da comunicação, a Biblioteconomia, a ciência da computação e a ciência cognitiva também estão no ranking entre as disciplinas que possuem grande relação com a CI. Saracevic (1996, p.48) representa essa interface da seguinte maneira:

14

Figura 6: Disciplinas que possuem Interface com a CI

No âmbito da comunicação, segundo Dias (2002) a ciência da informação relaciona-se tanto à comunicação como um processo básico que ocorre em todos os demais segmentos informacionais, ou seja, os sistemas informais, baseados em informação não registrada quanto à comunicação científica que inclui atividades que vão desde o momento em que o cientista tem uma idéia de pesquisa até a incorporação dos resultados dessa pesquisa no correspondente corpus do conhecimento.

A comunicação foi um dos grandes campos que começou a ser explorado pela CI depois que a Ciência da Informação veio se incorporar ao setor das ciências sociais na década de 1970, já que no início a CI era muito ligada à computação (como atesta, por exemplo, a importância do trabalho de Vannevar Bush) e à recuperação automática da informação.

Fortemente influenciadas pelas ciências empíricas, as primeiras manifestações desse campo embrionário pretendiam estabelecer leis universais que representassem o fenômeno informacional, daí a recorrência a modelos matemáticos (teoria da informação), físicos (entropia) ou biológicos (teoria epidemiológica). [...] Na década de setenta, entra em cena um personagem que redireciona o enfoque da ciência da informação: o usuário. [...] Com a presença dos usuários, as ciências humanas e sociais passam a contribuir também, com seus métodos e práticas, para a composição dessa ciência emergente. (CARDOSO, 1996, p. 73-74).

Para González de Gomez (2000, p. 6) A ciência da informação recebe das ciências sociais seu traço identificador , que ainda segundo o autor foi um fator capaz de provocar um

Biblioteconomia

CI

Ciência Cognitiva

Comunicação

sintoma das mudanças em curso que afetariam a produção e direção do conhecimento no Ocidente . Araújo (2003, p.26) declara que durante a consolidação da ciência, os moldes das disciplinas científicas resultantes do processo de construção da ciência moderna foram predominantes. O pesquisador faz uma observação quanto à evolução da CI reforçando que é possível visualizar sinais de que a ciência da informação, ainda bem no seu início, tentava constituir-se nos moldes da ciência pós-moderna , e conclui que a CI fez parte do movimento de superação da crise do paradigma científico dominante desde o século XVII - movimento esse motivado pelas crises geradas com a evolução e a aplicação do conhecimento científico - tais como as guerras, os regimes totalitários, a poluição e os desastres ecológicos, a exclusão do acesso ao conhecimento, reforço das desigualdades socioeconômicas, a sofisticação dos instrumentos de dominação e outros.

As perspectivas do desenvolvimento da ciência segundo Miranda & Barreto (2000, p.291), não se restringem mais à informação científica, mas a todo e qualquer tipo de informação que por se apresentarem tão elásticos e indefinidos chegam a causar perplexidade e até angústia, numa significativa crise de identidade e essa crise parece ser a essência da ciência nova que estamos vivenciando . O presente tema desse trabalho destaca justamente essa problemática no âmbito da comunicação, a dificuldade de lidar com uma enxurrada de informações (que evoluem a todo o momento) quando elas são a matéria-prima para a produção de notícias.

Pesquisar os efeitos da sobrecarga de informação no cotidiano dos jornalistas é mexer num dos campos que apesar de conter aspectos ainda desconhecidos, revela mais do que em qualquer outra época a necessidade de se investigar um processo de empanturramento de informação que pode trazer conseqüências na rotina de um profissional cada vez mais necessário na sociedade atual e a pesquisa em ciência da informação pode dar essa contribuição à comunidade, afinal, Cardoso (1996, p. 73) defende: Lidar com o grande

volume e a diversificação de informações registradas em variadas formas, com vistas à sua mais ampla difusão, foi o imperativo condicionante da ciência da informação .