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Analfabetismo informacional um novo problema social

4.3 CULTURA INFORMACIONAL

4.3.2 Analfabetismo informacional um novo problema social

Apesar de haver uma cultura movida pela informação, onde as pessoas estão em busca de conhecimento, ainda existe muita gente que não está inserida nesse contexto. Essas pessoas podem ser consideradas os analfabetos informacionais - indivíduos que por alguma razão (seja econômica, social ou mesmo cultural), não possuem habilidades tecnológicas para lidar com a informação disponível e são desprovidos de alfabetização cultural e intelectual que é o que ajuda a desenvolver tais habilidades.

A responsabilidade de garantir que isso ocorra é tanto da esfera pública quanto do poder privado. As empresas e organizações devem investir na capacitação de seus profissionais e o governo, por sua vez, tem a obrigação de oferecer condições de acesso a programas relativos à informação e tecnologia. Marteleto (1995 p.6) explica que Os bens culturais produzidos como matéria prima informacional não são compartilhados socialmente, e sim distribuídos, isto é, dependem das instâncias de produção, reprodução, transmissão e aquisição . Significa que quem detém a concessão desses serviços seja ele comercial ou não é, de certa forma, responsável pelo fomento da cultura baseada na informação.

A aquisição de informações em busca do conhecimento é quase que ferramenta básica para a sobrevivência dos indivíduos no século XXI. Uma pessoa alfabetizada informacionalmente é capaz de localizar a informação necessária, determinar a relevância e a

exatidão da informação e utilizar a informação na solução de problemas e na tomada de decisão. É claro que muita gente consegue desenvolver melhor somente algumas dessas habilidades e não todas. Geralmente os autores costumam condicionar a alfabetização informacional como um processo do próprio indivíduo e é por isso que apenas alguns acabam se destacando nesse processo. Quem envolve os outros em seu pensamento, em seu trabalho e têm liderança, constantemente atua como consultores, se transformando em fonte para a solução de problemas.

É importante destacar que os benefícios de uma cultura informacional são muitos. Além de oferecer ao indivíduo e a própria nação suporte para o desenvolvimento intelectual, econômico e financeiro, investir em informação significa moldar as pessoas para que elas possam estar conscientes das transformações ocorridas e não apenas assimilar, mas também, contribuir para que elas aconteçam. Fazer parte da evolução do mundo contemporâneo ajuda o país a crescer. Podemos enumerar três principais benefícios que resumem de forma geral a importância de investir na cultura informacional. Seja qual for a área, a contribuição é gigantesca, ainda que aconteça em longo prazo.

1) No aprendizado (inovação, criação, desenvolvimento técnico-científico); 2) No campo da ciência (produção e desenvolvimento);

3) No setor da produção (qualidade de vida e sobrevivência econômica), para o desenvolvimento social (chave da sobrevivência global futura).

Veja como o desenvolvimento se dá em cada setor, a partir da adoção de métodos eficazes que possam garantir a obtenção de bons resultados de acordo com Ponjuan (2002, p.9).

Figura 4: Cultura Informacional

Os desafios para atingir essas etapas de desenvolvimento da alfabetização informacional através da adoção de uma cultura voltada à informação são grandes. Para conseguirmos ter uma cultura informacional é preciso começar a criar hábitos ao longo das gerações, começando pela vida pré-escolar das crianças. Para desenvolver a comunicação e melhorar o aprendizado o indivíduo precisa antes de tudo, criar uma rotina de leitura onde os estudantes aprendam a ter acesso, a analisar, interpretar, sintetizar o conteúdo para depois ter

Ciência Ensino e Aprendizagem Produção Desenvolvimento social Equipes de professores e informadores Laboratórios Distribuição da Informação sem barreiras Círculos de informação Pessoas alfabetizadas informacionalmente Influência em outros setores

Canais mais amplos de informação de maior qualidade

Correspondência com sociais e de mercado; impacto da influência;

Maior nível de vida, melhor gestão e integração Agentes sócio-culturais Alfabetização Informacional CULTURA INFORMACIONAL

essas são habilidades informacionais que vão garantir as pessoas a instrumentalização necessária para permanecer nessa cultura baseada em informações.

Para Cornella (1997, p.14), a implantação de uma cultura informacional em qualquer país depende da estrutura educacional das instituições escolares. Para ele o sistema norte-ame- ricano orientado mais para o ensinar e aprender, a fim de desenvolver habilidades fundamen- tais do que tentar dar ao aluno toda a informação que necessitará durante toda a vida (o que se torna um absurdo nos dias de hoje) é bastante eficaz e deveria ser aplicado em outros países.

Além do modelo de ensino, as formas de acesso à informação também contribuem para que a cultura informacional ganhe força entre as sociedades. Bibliotecas que ofereçam acesso livre às obras, computadores a disposição nas escolas e universidades, jornais, revistas mais próximos dos estudantes ajudam a incentivar o hábito de se manter atualizado. Medidas simples que garantem a evolução social/informacional dos indivíduos.

Para o diretor do IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, Emir Suaiden somente uma nova cultura informacional é capaz de promover a inclusão social no Brasil, segundo ele, o maior problema para inclusão do país na sociedade da informação não é a falta de computadores, mas a falta de informação em linguagem acessível e de mediadores da informação, para que os avanços da ciência e da tecnologia cheguem ao cidadão comum de maneira adequada .

Suaiden acredita que é possível atingir esse objetivo investindo em desenvolvimento científico e tecnológico, promovendo a ampliação da sociedade da informação no Brasil e acelerando a disseminação da informação científica e tecnológica, tanto para os pesquisadores e profissionais da área quanto para a sociedade em geral, por meio de adequação de linguagem e incentivo à formação e aperfeiçoamento de mediadores da informação.

A cultura informacional é mais que o conhecimento e a sensibilização da sociedade para o uso da informação, ou ainda a habilidade dos indivíduos ou grupos utilizá-la da melhor forma possível. Representa mais que o resultado mecânico de uma simples acumulação de tecnologias. Torna-se

conseqüência de um processo de desenvolvimento que democratiza o conhecimento e favorece a equidade social.6

Algumas iniciativas já foram tomadas na tentativa de diminuir a distância entre pes- soas e o mundo informacional, a começar pela nova linguagem criada pelos usuários da web e que vem sendo reinventada a cada dia. Foram criados dicionários7 com termos que ajudam os indivíduos a saberem as definições sobre uma infinidade de palavras que foram surgindo com a evolução dos processos de difusão da informação. O dicionário serve como um guia que ajuda a decifrar a nova linguagem da informação. Mais de dez enciclopédias também foram criadas e podem ser acessadas através da internet contendo detalhes sobre esse novo modo de linguagem virtual. Para quem tem computador à disposição é mais um novo artefato que vai contribuir de alguma forma no dia a dia, mas para quem não tem acesso à internet, o dicionário vai ser mais um dos muitos serviços que devem permanecer desconhecidos.

Saber a definição dos novos termos que surgiram a partir das mudanças da sociedade da informação ajuda, mas não resolve o problema do analfabetismo informacional. Nos Estados Unidos, a American Library Association (ALA) no Texas em conjunto com a Association of College & Research Libraries (ACRL) com sede em Chicago desenvolveu normas sobre a alfabetização da informação para instituições de ensino superior que foram aprovadas em 2001. As regras estabelecidas foram criadas com o principal objetivo de promover programas de alfabetização da informação nas universidades. Hoje algumas instituições como a Faculdade de Psicologia da Universidade de Granada, Espanha, já começam a implantar cursos mais conhecidos como ALFIN (Alfabetização Informacional) onde os alunos aprendem uma série de técnicas que vão dar suporte na busca,

6 Reportagem divulgada no site do IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia tendo como título Novo diretor do Ibict vai dar prioridade à inclusão social . Disponível em: http://www.ibict.br/noticia.php?id=96. Acesso em: 8 set. 2005.

armazenamento, interpretação e difusão da informação. Segundo a ALA (2001, p 51) o curso pretende fazer com que o estudante se desenvolva em diversas áreas, são elas:

1) Necessidade da informação:

Explorar as fontes gerais de informação para aumentar a familiaridade com o tema; Definir ou modificar a necessidade de informação para atingir o enfoque desejado; Ter capacidade de identificar as definições e os conceitos chaves que descrevem a necessidade da informação.

2) Diversidade da informação:

Saber como se produz, organiza e difunde a informação, tanto formal quanto informalmente;

Perceber que o conhecimento pude organizar-se em torno das disciplinas, o que influencia na forma de acesso à informação;

Ser capaz de identificar o valor e as diferenças entre recursos potenciais disponíveis em uma grande variedade de formatos (multimídia, bases de dados, páginas da web, conjunto de dados, audiovisuais, livros etc.);

Capacidade de diferenciar fontes primárias e secundárias e saber que o seu uso e importância varia segundo as disciplinas.

3) Aquisição da informação:

Estabelecer a disponibilidade da informação requerida e tomar decisões sobre a ampliação do processo de busca sabendo utilizar os recursos disponíveis (empréstimos, obtenção de imagens, vídeos, sons, etc.);

4) Natureza e nível da informação:

Revisar a necessidade inicial da informação para reformular e refinar a pergunta; Descrever os critérios utilizados para tomar decisões sobre a eleição da informação;

5) Recuperação da informação:

Investigar a cobertura, o conteúdo e a organização dos sistemas de recuperação da informação;

Selecionar fontes de informações eficazes, apropriadas e relevantes e ferramentas adequadas (índices, bases de dados etc.).

6) Acesso à informação:

Identificar uma terminologia alternativa para conseguir obter informações em fonte gerais e especializadas;

Reconhecer o formato de uma fonte de informação;

Desenvolver um plano de estratégia de busca da informação;

A iniciativa de oferecer cursos de Alfabetização informacional tem o apoio da UNESCO e vai ao encontro das metas das Nações Unidas para o desenvolvimento do Novo Milênio, reforçando também os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos8. É de surpreender a série dos requisitos que se tornaram necessários para que uma pessoa possa saber lidar com a informação. Os métodos são tantos e as possibilidades de uso/benefício também que chegam a nos dar a impressão de que até mesmo aqueles que sabem o básico sobre o computador e as ferramentas de busca de informação podem, em algum momento, ser inclusos na lista dos analfabetos informacionais.

8

Importante ressaltar mais uma vez que a presença da tecnologia não pode transformar completamente as pessoas e nem os hábitos dela. A alteração da cultura de informação exige alteração dos comportamentos básicos, atitudes, valores, expectativas dos gestores e incentivos relacionados com a informação. A tecnologia apenas reforça os comportamentos existentes, não os altera, ao contrário daquilo que os gestores tradicionais acreditam. A pessoa também precisa estar consciente de que, saber lidar com a informação é um requisito de sobrevivência no mundo, no mercado de trabalho, nos relacionamentos e em praticamente em tudo na vida, já que a informação é o combustível que hoje move a sociedade.