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4.3 CULTURA INFORMACIONAL

4.3.3 A síndrome da normose informacional

Vimos até agora, conceitos, definições e fatos que deixam claro quão importante a informação se tornou para o avanço das empresas, dos profissionais, da nação como um todo, mas o processo de busca, armazenamento, interpretação e crítica da informação têm seus aspectos patogênicos. A primeira pessoa a fazer essa ressalva, na tentativa de alertar sobre os possíveis malefícios que a cultura informacional pode causar foi o Doutor em psicologia pela Universidade de Paris, Pierre Weil. Mesmo reconhecendo a grande contribuição que as tecnologias da informação, em especial, a informática vem dando para a humanidade, ele decidiu estudar aspectos que demonstram que a cultura informacional pode provocar sérios danos às pessoas.

Ao fenômeno social que descreve a onda de busca e uso indiscriminado da informação ele decidiu chamar de normose informacional . A palavra normose mais especificamente, é um termo que foi forjado por Jean Yves Leloup9 na França, e por Roberto Crema10, no

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Jean-Yves Leloup é um dos pensadores importantes da atualidade. Nascido em 1950, na França, ele é um cidadão do mundo. Filósofo, terapeuta transpessoal, teólogo, ele é padre da Igreja ortodoxa na França, tendo

Brasil. Os ensaios feitos pelos autores descrevem a doença da normalidade como o resultado de um conjunto de crenças, opiniões, atitudes e comportamentos considerados normais, logo em torno dos quais existe um consenso de normalidade, mas que apresentam conseqüências patológicas e/ou letais. De acordo com os artigos publicados até agora sobre o assunto alguns exemplos de normose são: usos alimentares como o açúcar, o uso de agrotóxicos e inseticidas, o consumo de drogas como o cigarro ou o álcool, e até mesmo paradigmas e fantasias que acabam sendo adotados pelas pessoas.

Para a pesquisadora do comportamento humano Sandra Vianna11, a Normose consiste na perda de energia vital e os principais sintomas são: ansiedade, angústia, medo, apatia, estagnação, egoísmo, pessimismo, o que leva o indivíduo à falta de metas e de sentido à vida, deixando a pessoa mergulhada num grande vazio existencial.

A pessoa começa movida por uma necessidade de ser aceita, deixando de ser ela mesma, para ser apenas uma pessoa normal . Ser normal é estar de acordo com a norma , é estar na mesmice, na média. A maioria das pessoas vive de uma forma empobrecida, acomodada, alienada, pouco consciente de seu valor, com pouca vitalidade, pouca alegria (quando tem) poucas realizações, apenas levando uma vida NORMAL. A normose impede o crescimento pessoal, pois a pessoa fica impedida de ser ela mesma, de expressar seus próprios sentimentos, faz apenas o que todo mundo faz, esquecendo da grande verdade, que cada um é impar, único, sem igual, com identidade própria, com vontade e desejos diferentes, o que possibilita o movimento eterno e evolutivo do universo, através das realizações provocadas por cada um, com seu diferencial criando novas formas de manifestações positivas.

Outras declarações nos ajudam a refletir ainda mais sobre esse fenômeno completamente novo que vem causando a perda da identidade do indivíduo. O autor do livro Saúde Plena , J. Hermógenes, explica que a pessoa normótica é mesmificada . Está sempre buscando ajustar-se ao coletivo na moda, na dança, na maneira de pensar, no consumo dos

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Roberto Crema é Psicólogo e antropólogo do Colégio Internacional dos Terapeutas, analista transacional didata, criador do enfoque da Síntese Transacional.

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A opinião da pesquisadora foi publicada na Tribuna Mato Grosso em 19 de Maio de 2005. Para mais informações sobre a declaração Cuidado com a nova epidemia do momento acessar o endereço: http://www.atribunamt.com.br/?c=colunas&f=ver_noticia_coluna&id=5030&PHPSESSID=3fb567d69edfb70dd

mesmos produtos. Entronizando os mesmos valores que a maioria das pessoas adota, sendo incapacitado de analisar e decidir ter suas próprias crenças.

O normótico é um robô acionado pela batuta do marketing. Inconsciente da importância do viver livre e autêntico, está perdido de si mesmo, deixando-se ser arrastado pela pressão da cultura de sua época. Ele é infeliz, mas não sabe. As coisas, os prazeres e as pessoas que conseguem comprar oferecem-lhe efêmera felicidade embusteira, com a qual, a princípio iludido, se entretém. Ele é frágil e inseguro, mas disto não se apercebe, pois os bens e o status que conquista, embora transitórios e fúteis, alimentam-no com a ilusão de serem perenes, de nunca virem a faltar. Ele é um doente, mas ignora. Para ele, doença é algo que, temporariamente, o retira de sua normalidade , mas que a medicina, subserviente, virá em seu socorro para vencê-la.

No caso da cultura informacional, há consenso quanto à normalidade do uso da informática, porém, utilizar o computador para buscar informações pode trazer conseqüências sérias e em algumas vezes até letais, dessa forma, a cultura informacional pode ser facilmente incluída no rol dos hábitos classificados como normose. Sobre os aspectos patogênicos, a normose pode ser dividida em dois tipos de doenças diferentes: a informatose e a cibernose.

A informatose é um termo que foi criado por Weil para designar distúrbios ou mesmo doenças causadas por excesso de fluxo de mensagens informacionais em relação a um só receptor, isto é, a uma só pessoa. Quanto ao termo cibernose , ele foi criado por um psicosociólogo francês, Van Bockstaele, para designar nós de estrangulamento nas comunicações durante uma situação experimental que ele chamava de socioanálise - um método de dinâmica de grupo. O termo foi retomado nos estudos recentes para designar situações de perturbação de comunicações, com efeitos patogênicos sobre o sistema nervoso, ou funções mentais, causados na sua maioria pelo uso de aparelhos cibernéticos.

Weil (2000, p.62-64) fez uma lista das conseqüências patológicas do acúmulo de informações ou mesmo o uso da informática em excesso. De acordo com os estudos feitos pelo doutor em psicologia a Informatose pode causar:

1) Isolamento e desmembramento familiar: Uma espécie de hipnose coletiva em

2) Dissonância cognitiva entre aspiração e capacidade real de absorção da informação: é o caso dos internautas, muitos se deparam com milhares de

indicações, referências e informações diversas a respeito de cada assunto que estão pesquisando e ficam com a constante ilusão de que podem tudo conhecer;

3) A ligação sutil computador-ser humano: o fato de manipular um computador

horas a fio e dia após dia nos dá a sensação de que a máquina se transformou num prolongamento do ser humano e da sua ação intelectual afetando de certo modo ainda desconhecido, o sistema nervoso.

4) A neurose do virtual: doença que afeta os internautas que perderam contato com a

realidade do cotidiano ou que apresentam dificuldades neste sentido por terem sua visão de mundo transformada por completo, onde tudo também se torna virtual para o paciente;

5) A divulgação da violência: a divulgação de informações sobre atos violentos pelos

noticiários, cinema, programas e a produção de vídeo games e outros brinquedos contribuem para o aumento da violência.

Já a cibernose é capaz de atrofiar as funções humanas devido ao uso do computador, ou de calculadoras e provocar distúrbios nas comunicações e relações humanas:

1) Desequilíbrio dos hemisférios cerebrais: nossa educação se tornou apenas uma

instrução intelectual, consistindo em armazenar quantidade enorme de informações, ou treinando o raciocínio lógico matemático. Todas estas funções estão ligadas ao hemisfério esquerdo do cérebro. A criatividade, ligada ao hemisfério direito, é pouco estimulada pela informática. Na educação, as crianças e adolescentes vêem atrofiadas as funções ligadas ao hemisfério direito e se tornam dependentes do computador;

2) Atrofia da função numérica da mente humana: O uso da máquina de calcular ou

do computador para fazer operações aritméticas simples é cada vez mais freqüente na escola ou em casa, para fazer os deveres de matemática. O uso da tecnologia, dessa forma, impede que as pessoas saibam fazer um cálculo mental sem ajuda de uma máquina;

3) Frustrações nas comunicações e relações humanas: Acontece geralmente com

quem usa um celular e o carrega consigo permanentemente. Há uma perda de liberdade, pois nunca sabe se o assunto é urgente ou vital. Ao falar ao telefone freqüentes interrupções cortam a comunicação intelectual e afetiva.

Pode parecer irônico, mas para evitar ser contaminado pelos distúrbios que a normose informacional pode causar é preciso ter acesso à informação, só que é uma informação preventiva que sirva como um alerta às pessoas. No âmbito educacional a recomendação dos estudiosos é incluir discussões que vão despertar a atenção das pessoas para uma visão crítica daquilo que se assiste, lê, acessa e busca na web, levando em consideração as noções sobre os benefícios e perigos da informática e da tecnologia em geral. Quando a pessoa já se encontra envolvida completamente pela normose é preciso fazer terapia onde ela aprenderá suas próprias limitações e saberá identificar suas reais necessidades. Com relação ao desequilíbrio dos hemisférios cerebrais, o uso de diferentes artes pode ajudar a despertar a criatividade para que a pessoa descubra em si maneiras diferentes de ver e fazer as mesmas coisas.

Como podemos observar a normose informacional vem fazendo milhares de vítimas pelo mundo, seja pela sobrecarga de informação, seja pelo uso indiscriminado da internet, temas que serão abordados com mais profundidade nos próximos capítulos. O principal problema diante de toda essa situação é de que, por ser uma tecnologia completamente nova e revolucionária, virou onda, mania, moda, se transformou em normose. Sabemos da sua importância, reconhecemos a sua contribuição perante o desenvolvimento da sociedade,

entretanto, existe um lado negativo em todo esse processo no qual não podemos simplesmente ignorar de que a informação excessiva contém um caráter destrutivo que pode comprometer a vida das pessoas.