• Nenhum resultado encontrado

4 A EXECUÇÃO FISCAL

4.3 A inscrição em Dívida Ativa

A Fazenda Pública deve promover o acertamento do crédito, para posteriormente realizar a inscrição em Dívida Ativa e ajuizar a cobrança judicial do débito. O acertamento é, ao mesmo tempo, subjetivo e objetivo, por definir o sujeito passivo e o quantum debeatur (THEODORO JUNIOR, 2018). Destarte, a formalização do vínculo obrigacional se dá com a individualização do sujeito passivo (o ativo é o Fisco), e com a determinação do objeto da

prestação, composto pela base de cálculo e alíquota correspondente (CARVALHO, 2012). Já a inscrição em Dívida Ativa é etapa preliminar e necessária para o ajuizamento da execução fiscal, ocorrendo apenas quando a obrigação não é adimplida voluntariamente dentro do prazo. Os valores devidos à Fazenda Pública fazem parte da Dívida Ativa, cuja definição está explicitada na Lei 4.320/1964.

Art. 39 [...]

§2ºDívida Ativa Tributária é o crédito da Fazenda Pública dessa natureza, proveniente de obrigação legal relativa a tributos e respectivos adicionais e multas, e Dívida Ativa não Tributária são os demais créditos da Fazenda Pública, tais como os provenientes de empréstimos compulsórios, contribuições estabelecidas em lei, multa de qualquer origem ou natureza, exceto as tributárias, foros, laudêmios, alugueis ou taxas de ocupação, custas processuais, preços de serviços prestados por estabelecimentos públicos, indenizações, reposições, restituições, alcances dos responsáveis definitivamente julgados, bem assim os créditos decorrentes de obrigações em moeda estrangeira, de subrogação de hipoteca, fiança, aval ou outra garantia, de contratos em geral ou de outras obrigações legais. [grifo nosso]

A inscrição em Dívida Ativa ocorre após todas as fases administrativas até a constituição definitiva do crédito, tributário ou não, devendo ser dada ciência ao devedor acerca do dever de adimplir a obrigação vencida por meio de notificação. O ajuizamento da execução fiscal nem sempre é feito tão logo inscrito o débito em Dívida Ativa, sendo possível nesse interregno obter a suspensão da exigibilidade do crédito tributário com a ocorrência das hipóteses previstas no art. 151 do CTN, quais sejam, o depósito do montante integral, as reclamações e os recursos, a concessão de medida liminar em mandado de segurança ou em outros tipos de ações, bem como a concessão de tutela antecipada, e por parcelamento. Antes de passar a integrar a Dívida Ativa, contudo, o crédito deve ser constituído.

A constituição do crédito tributário se dá com o lançamento, definido como o procedimento administrativo que verifica a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária, determina a matéria tributável, calcula o montante do tributo devido, identifica o sujeito passivo e, sendo caso, propõe a aplicação da penalidade cabível, conforme dispõe o art. 142 do CTN. Para Martins da Silva (2016), o legislador definiu o lançamento como ato declaratório da obrigação e constitutiva do crédito tributário. Assim, o lançamento tributário possui eficácia dúplice (MACHADO SEGUNDO, 2017), consistindo em ato jurídico administrativo cujo conteúdo consiste em introduzir no ordenamento positivo uma norma individual e concreta relacionada à regra matriz de incidência, que é a norma geral e abstrata instituidora da exação (CARVALHO, 2012).

Por sua vez, o crédito tributário é definido como um

pode exigir do particular, o contribuinte ou responsável (sujeito passivo), o pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária (objeto da relação obrigacional) (MACHADO, 2010, p. 181 )

O crédito tributário pode ser lançado de ofício ou decorrer de lançamento por homologação ou declaração do contribuinte. Em relação ao lançamento de ofício, ressalte-se que é comum após a realização de fiscalização tributária sobre determinado contribuinte, quando se lança o crédito mediante a lavratura de auto de infração (AI). Lavrado o auto de infração, o sujeito é notificado para realizar o pagamento do valor devido e regularizar a situação, iniciando-se também o prazo para a impugnação, a ser realizada dentro do processo administrativo. Nesse momento, cabe o esclarecimento de que processo administrativo não se confunde com procedimento administrativo. Procedimento administrativo, por exemplo, é o ato de fiscalização que culminou na lavratura do AI. Já o processo administrativo diz respeito a um conjunto de atos coordenados para a obtenção de decisão sobre uma controvérsia no âmbito administrativo (MARTINS DA SILVA, 2016). A insurgência do sujeito passivo dá ensejo à instauração do processo para dirimir a dúvida sobre a procedência ou não da exação.

De outra sorte, no lançamento por homologação, o contribuinte declara e paga o tributo. Na verdade, como esclarece Schoueri (2018), o sujeito passivo recolhe o tributo antecipando o valor que seria apurado pela autoridade administrativa. Não é obrigatória a instauração de processo administrativo no caso de tributos sujeitos a essa modalidade de lançamento, como informa Hugo de Brito Machado Segundo (2018), vez que a Fazenda Pública se limita a homologar apuração feita pelo sujeito passivo. Ainda assim, o devedor deve ser notificado ou “cobrado amigavelmente” antes do débito ser inscrito em Dívida Ativa, porquanto a notificação, mesmo nos casos em que se dispensa a instauração de processo administrativo, poderá repercutir no adimplemento do débito antes do ajuizamento da cobrança judicial.

Caso o contribuinte entenda não ser devido o tributo que lhe é cobrado, poderá apresentar impugnação ou ajuizar ações judiciais antes mesmo da inscrição em Dívida Ativa. Ações anulatórias de auto de infração, ações declaratórias de inexistência de relação tributária ou até mesmo mandado de segurança, são meios judiciais que podem impedir a propositura da execução fiscal. O contribuinte deve sopesar as vantagens e desvantagens entre a impugnação administrativa e a discussão judicial do débito antes do ajuizamento da execução fiscal. A principal vantagem da impugnação na via administrativa reside na suspensão automática da exigibilidade do crédito tributário, o que não ocorre nas ações heterotópicas (ASSIS, 2016), que dependem de provimento liminar, muitas vezes condicionado ao oferecimento de garantia

do débito.

Analisando-se a LEF em cotejamento com o CTN, observa-se que a inscrição em Dívida Ativa pressupõe o esgotamento do prazo fixado em pagamento, pela lei ou por decisão final proferida em processo administrativo. Assim, o crédito é levado à inscrição após definitivamente constituído. A Certidão de Dívida Ativa deve conter os mesmos elementos do termo de inscrição, a saber: (a) nome do devedor e, se for o caso, dos corresponsáveis, com indicação de domicílio ou residência; (b) a quantia devida e a maneira de calcular os juros de mora acrescidos; (c) a origem e natureza do crédito, mencionada especificamente a disposição da lei em que seja fundado; (d) a data em que foi inscrita; (e)o número do processo administrativo de que se originar o crédito.

Especificamente em relação ao item (e), o CTN estabelece que é facultativa a indicação do processo administrativo, vez que existem valores que poderão ser inscritos tão logo o prazo para pagamento se esgote, como no caso dos tributos declarados e não pagos. Já a LEF também dispõe que nesses casos, deverá ser indicado o número do AI. A lei permite a substituição ou emenda da CDA até a decisão em 1ª instância, quando ausente ou incorreto alguma informação legalmente obrigatória. Com a substituição da CDA, deve ser reaberto o prazo para o oferecimento de embargos à execução fiscal, uma vez que, na verdade, foi apresentado novo título executivo (MACHADO SEGUNDO, 2017). Além disso, o entendimento jurisprudencial é no sentido de ser possível a substituição da CDA até a prolação da sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo da execução (Súmula 392 do STJ).

Ainda relacionando a inscrição em Dívida Ativa com a possibilidade de embargar a execução fiscal, calha ressaltar que é comum que o executado garanta a dívida no valor indicado na CDA, o qual condiz com a atualização do débito para o dia do ajuizamento da execução. No entanto, deve ser observada a diferença entre o valor atualizado para a data do depósito e o montante indicado na CDA apresentada na petição inicial da exequente. Quando o executado deposita montante referente ao valor ostentado na CDA, a Fazenda Pública logo exige o depósito do saldo remanescente.

Portanto, como forma de evitar a alegação de garantia insuficiente e a necessidade de realização de novo depósito, é prudente que o executado obtenha a informação do valor devido diretamente da autoridade fazendária, e, quando isso não for possível, faça o cálculo do montante observando a atualização monetária, os juros e encargos desde a data da inscrição até a data do dia do depósito ou da prestação de outra garantia a execução fiscal.