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3 A DEFESA DO DEVEDOR NO PROCESSO DE EXECUÇÃO

3.3 Embargos à execução

3.3.2 Embargos do executado

Os embargos do executado são regidos pelas regras dos arts. 914 a 920 do CPC/2015. Consistem em ação de conhecimento cujo escopo é permitir a defesa do executado em face de execução por ele considerada injusta. Poderá o embargante discutir a validade do título, a inexistência de dívida ou algum vício processual. Dependendo do pedido, os embargos tem natureza declaratória ou constitutiva, não ostentando natureza de ação condenatória (DIDIER, JR. 2017). Destarte, o embargante não postula a condenação do embargado, cabendo somente pedido relativo aos custos do processo e aos honorários de advogado. Nessa perspectiva, o embargante exercita um verdadeiro direito de ação contra o credor, com vistas a obter a extinção do processo ou desconstituir a presunção de certeza, liquidez e exigibilidade do título executivo.

A doutrina classifica os embargos em embargos ao direito de execução e embargos aos atos de execução (THEODORO JR., 2018). Os primeiros se referem ao próprio mérito do processo de execução, ao passo que os embargos aos atos de execução representam oposição baseada em questões processuais. Em outras palavras, são oposições de mérito ou oposições de forma (ASSIS, 2016). Quando o embargante alega insubsistência da dívida em decorrência do adimplemento, por exemplo, lança mão de embargos que atacam a pretensão de direito material. De outra sorte, quando alega impenhorabilidade de bem, o embargante discute mera questão de direito processual.

Os embargos de forma podem, ainda, ser subdivididos em embargos de ordem e em embargos elisivos, supressivos ou modificativos dos efeitos da execução. A divisão se revela importante quando se analisa a competência do juízo para processar e julgar os embargos. Regra geral, os embargos devem ser oferecidos ao juízo em que tramita a execução, uma vez que, embora constituam ação autônoma, mantém relação de dependência com o processo principal. Contudo, quando os atos executivos são realizados por meio de carta precatória, o juízo competente para julgar os embargos pode variar, dependendo do tipo de oposição do executado, como aduz Theodoro Jr. (2018). Se a questão se referir a irregularidades de penhora, avaliação ou alienação realizados pelo juízo deprecado, a este compete processar os embargos. Por outro lado, se versarem sobre o direito do exequente, a competência será do juízo deprecante.

Retomando a análise dos dispositivos processuais do CPC/2015, primeiramente cabe novamente destacar que a oposição do executado por meio de embargos não depende da

existência de penhora, depósito ou caução, como esclarece o art. 914. No CPC/1973, originalmente não se admitiam os embargos do devedor antes de garantido o juízo pela penhora - na execução por quantia certa - ou pelo depósito - na execução para entrega de coisa (Art. 737). O prazo de dez dias para a apresentação, inclusive, era contado da intimação da penhora ou do termo de depósito. O CPC/1939 também trazia a mesma condição de admissibilidade. Felizmente, com a reforma processual promovida com a Lei 11.383/2006, passou a admitir o oferecimento dos embargos, independentemente de garantia e em prazo maior, de 15 dias. E com o CPC atual foram ampliadas as possibilidades de defesa do executado.

A ampliação dos prazos para oferecimento dos embargos, os quais eram inicialmente de cinco dias no CPC/1939, dez dias no CPC/1973 e atualmente 15 dias no CPC/2015 demonstram uma preocupação do legislador em garantir a defesa do executado contra execuções injustas. Em função da tutela jurisdicional prestada nos embargos demandar cognição plenária, é razoável a ampliação do prazo para que o executado possa apresentar defesa robusta, apta a desconstituir o título executivo e promover a extinção do feito executório. Não se trata de favorecer o executado em detrimento do exequente, mas sim de compatibilizar o processo de execução com os princípios da ampla defesa e do contraditório que norteiam a atividade jurisdicional e estão plasmados na Constituição Federal.

Ainda sobre o prazo, deve se ter em conta que não é único para litisconsortes passivos. No caso de execução fiscal, por exemplo, caso exista redirecionamento da execução para os sócios com poderes de gerência, o prazo é individual, começando a fluir da citação de cada um.

Destaque-se que o art. 916 do CPC/2015 manteve inovação incorporada ao CPC/1973, permitindo o pagamento do débito em até seis parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e de juros de um por cento ao mês. No entanto, deverá o executado renunciar ao direito de opor embargos, reconhecer o crédito do exequente e comprovar o depósito de trinta por cento do valor em execução, acrescido de custas e de honorários de advogado. Deferida a proposta de parcelamento, o exequente levantará a quantia depositada e serão suspensos os atos executivos. Por outro lado, o indeferimento da proposta implica em prosseguimento dos atos executivos com conversão do depósito das parcelas em penhora.

Quanto às matérias que podem ser alegadas pelo executado, o CPC/2015 traz rol mais amplo que o constante no art. 525 referente a impugnação ao cumprimento de sentença. Vejamos:

Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar: I - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; II - penhora incorreta ou avaliação errônea;

III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;

IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa;

V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;

VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento.

Como se depreende, há autorização legal para discussão de questões de mérito e processuais atinentes ao processo de execução. Portanto, o objeto dos embargos é bastante amplo, considerando-se o rol do art. 917 como exemplificativo (numerus apertus). Interessante mencionar ainda que em caso de incorreção da penhora ou da avaliação, pode-se meramente impugnar o erro por simples petição no prazo de 15 dias, contado da ciência do ato.

Em relação ao excesso de execução, o CPC/2015 dispõe que ocorre quando: o exequente pleiteia quantia superior à do título; a execução recai sobre coisa diversa daquela declarada no título ou se processa de modo diferente do que foi determinado no título; o exequente, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento da prestação do executado; e, por fim, o exequente não prova que a condição se realizou.

Caso os embargos tenham como fundamento a alegação de que o exequente pleiteia quantia superior à do título, deverá demonstrar o embargante o valor que entende correto, com demonstrativo discriminado e atualizado do cálculo, sob pena de rejeição liminar dos embargos à execução. Admite o CPC/2015, contudo, a possibilidade de rejeição parcial, caso a arguição de excesso de execução seja apenas uma das alegações dos embargos, realizando-se o processamento com desconsideração da alegação de excesso de execução.

A rejeição liminar dos embargos ocorre em três situações principais: quando o oferecimento se dá após o esgotamento do prazo processual; quando há indeferimento da petição inicial e improcedência liminar do pedido; e quando considerados manifestamente proletários (art. 918 CPC/2015). Assim o termo rejeição é usado de forma ampla, significando a impossibilidade de acolhimento da pretensão do embargante, referindo-se ao mesmo tempo à possibilidade de extinção com resolução de mérito ou sem resolução de mérito (NEVES, 2017). Calha destacar que a sentença que julga improcedentes os embargos pode ser combatida com o recurso de apelação, embora sem efeito suspensivo automático, conforme determina o CPC/2015 no art. 1.012, §1º, III. O embargante, ao apelar da sentença

desfavorável poderá requerer a atribuição de efeito suspensivo, se demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou houver risco de dano grave ou de difícil reparação, com apresentação de fundamentação relevante.

O oferecimento de embargos intempestivos acarreta rejeição liminar, sendo justificada a medida com base no instituto da preclusão. Contudo, segundo Neves (2017), mais acertado seria considerar que após o prazo, o executado carece de interesse processual, uma vez que não mais existiria a adequação da via eleita.

Quanto ao efeito suspensivo dos embargos, deixamos a discussão para o último capítulo deste trabalho, que trata dos embargos à execução fiscal.