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5 DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL

5.1 Procedimento previsto na Lei 6.830/1980

Os arts. 16 a 20 da LEF versam sobre os embargos do executado, estabelecendo regras gerais do procedimento. Assim como ocorre com os embargos no processo de execução comum, devem ser endereçados ao mesmo juízo em que tramita a execução, embora o processamento transcorra em autos apartados. Sugere-se que sejam oferecidos com cópia do processo de execução original, tendo em vista eventual interposição de recurso aos tribunais superiores em face de sentença desfavorável nos embargos (MACHADO SEGUNDO, 2018).

O art. 16 estabelece que os embargos serão oferecidos no prazo de 30 (trinta dias), contados I- do depósito, II - da juntada da prova da fiança bancária ou do seguro garantia e III - da intimação da penhora. Conquanto a LEF determine o início do prazo com o depósito, já é assente na jurisprudência do STJ que o termo inicial para oferecimento de embargos é a

data da intimação do depósito (CUNHA, 2017). Realizado o depósito, deve ser documentado por termo nos autos, com posterior intimação do executado para oferecer os embargos. Mesmo que não se trate de penhora propriamente dita, é indispensável que conste o termo de depósito, como alerta Theodoro Jr. (2016). Em relação ao inciso II, observe-se que o seguro garantia não constava na redação original da LEF e foi incluído pela Lei nº 13.043/2014, atualmente sendo bastante utilizado em virtude da menor onerosidade em relação a outras modalidades de garantia. E sobre o inciso III, dispõe a LEF que o prazo começa a correr a partir da intimação da penhora realizada.

É importante observar que a contagem do prazo deve ser feita sob a sistemática do CPC/2015, isto é, somente em dias úteis, iniciando-se no dia seguinte ao da intimação (THEODORO JR. 2018). No entanto, o prazo não deve ser inaugurado quando existir pendência judicial acerca da efetivação da penhora, por discordância da Fazenda Pública quanto ao bem passível da constrição judicial. Somente com o deslinde da controvérsia e a aceitação da garantia, com ulterior intimação do executado é que se deve dar início ao prazo para oferecimento dos embargos.

O art. 16, §1º traz a controvertida regra de que não são admissíveis embargos do executado antes de garantida a execução. Abordaremos mais adiante o tema no tópico 5.2.

O art. 16, §2º estabelece que o executado deverá alegar toda matéria útil à defesa, requerer provas e juntar aos autos os documentos e rol de testemunhas até três, ou a critério do juiz, até o dobro desse limite. Como aduz Paulsen:

Nos embargos, pode ser deduzida toda matéria de defesa, viabilizando-se discussões sobre o lançamento, sobre o processo administrativo, sobre a inscrição em dívida ativa e a respectiva certidão, sobre o procedimento da execução e sobre o próprio mérito do tributo exequendo. (PAULSEN, 2018, p. 503)

Constata-se que a LEF permite ao executado a ampla discussão judicial do débito, aproximando-se da contestação por demandar do juízo atividade cognitiva profunda. Assim leciona Martins da Silva (2016), “com a oposição à execução por meio de embargos, estabelece-se o contraditório de conhecimento dentro da ação de execução fiscal (n.p). Diferentemente do procedimento comum, contudo, não se admite reconvenção em embargos, como dispõe o art. 16, §3º. A reconvenção, para relembrar, consiste em instrumento processual por meio do qual o réu ataca o autor no mesmo processo em que está sendo demandando, com processamento conjunto com a ação principal, resolvendo-se as duas lides na mesma sentença (DIDIER JR., 2015). A vedação prevista no art. 16, §3º da LEF, assim,

não permite que a embargada – exequente promova a reconvenção em face do embargante – executado.

Art. 16 [...]

§ 3º - Não será admitida reconvenção, nem compensação, e as exceções, salvo as de suspeição, incompetência e impedimentos, serão argüidas como matéria preliminar e serão processadas e julgadas com os embargos.

Outro ponto relevante diz respeito a revogação parcial do final do parágrafo terceiro do art. 16, quanto a impossibilidade de arguição de suspeição, incompetência e impedimentos nos embargos. Cunha (2017) esclarece que não existe mais exceção instrumental de incompetência, como existia na sistemática processual anterior e em razão disso, deve-se admitir a discussão de incompetência relativa dentro dos próprios embargos, ao passo que o impedimento e a suspeição devem ser alegados em petição específica, conforme determina o art. 146 do CPC/2015.

Além disso, não pode ser alegado nos embargos excesso de penhora quanto a valores bloqueados em contas bancárias e posteriormente convertidos em penhora, uma vez que antes de efetivada a penhora dos ativos financeiros bloqueados via BACENJUD11, já será intimado o executado para manifestar-se acerca de eventual valor impenhorável ou indisponibilidade superior ao montante do débito (CUNHA, 2017). Por outro lado, se não houver o bloqueio prévio à penhora de dinheiro, poderá o executado alegar o excesso de penhora nos embargos. Apesar de o bloqueio prévio estar previsto no CPC/2015, e não na LEF, considera-se a medida perfeitamente cabível na execução fiscal. Além disso, existe a possibilidade de aplicação do art. 185 – A do CTN, que trata da indisponibilidade de bens em nome do executado quando esse não pagar, não nomear bens a penhora e não forem encontrados bens penhoráveis, desde já tenha sido promovida a citação12. A previsão contida no CTN é mais ampla e drástica que a permissão trazida no CTN, por não se restringir somente às contas bancárias.

Quanto à impossibilidade de se alegar compensação, não mais prevalece essa

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Consagrou-se a expressão “penhora on-line” para se referir ao BACENJUD, que é o sistema eletrônico de comunicação entre o Poder Judiciário e as instituições financeiras. No entanto, a expressão é inapropriada, porquanto o que ocorre é um pedido para que sejam bloqueados valores eventualmente existentes em contas bancárias dos sujeitos passivos, que posteriormente poderão ser convertidos em penhora, tratando-se o bloqueio apenas de uma das funcionalidades do sistema BACENJUD. (PARAHYBA, 2011)

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Súmula 560-STJ: A decretação da indisponibilidade de bens e direitos, na forma do art. 185-A do CTN, pressupõe o exaurimento das diligências na busca por bens penhoráveis, o qual fica caracterizado quando infrutíferos o pedido de constrição sobre ativos financeiros e a expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio do executado, ao Denatran ou Detran. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 09/12/2015. DJe 15/12/2015.

disposição, uma vez que a Lei 8.383/1991 passou a permitir a compensação de tributos. Segundo o STJ, a compensação quando efetuada pelo contribuinte antes do ajuizamento do feito executivo pode ser alegada nos embargos à execução quando forem atendidos os requisitos de existência de crédito tributário compensável, da configuração do indébito tributário e, principalmente, da existência de lei específica, que pode ser inclusive de Estado ou Município, autorizadora dessa modalidade extintiva de crédito tributário13.

À luz da jurisprudência e da doutrina, o que se veda é somente a discussão nos embargos de compensação futura, que não foi reconhecida judicialmente ou administrativamente. Sobre o assunto, também dispõe a Súmula 394 do STJ que é admissível, em embargos à execução fiscal, compensar os valores de imposto de renda retidos indevidamente na fonte com os valores restituídos apurados na declaração anual.

Após o recebimento dos embargos, o juiz mandará intimar a Fazenda, que poderá impugná-los no prazo de 30 dias. Como se percebe, o prazo equivale ao dobro do estipulado para a impugnação dos embargos da execução comum. O juiz também designará a audiência de instrução e julgamento. Se os embargos versarem apenas sobre matéria de direito ou, quando tratarem de matéria de fato, a prova for exclusivamente documental, o juiz não realizará a audiência, devendo idealmente proferir a sentença no prazo de trinta dias.

Se a execução for garantida, mas não forem oferecidos os embargos, a Fazenda Pública deverá manifestar-se sobre a garantia da execução. Em geral, a exequente rejeita bens que se situam no final do rol trazido no art. 11 da LEF, tais como bens móveis ou semoventes. Em relação à fiança bancária e ao seguro garantia, a rejeição geralmente decorre do não atendimento de determinados requisitos.

O art. 19 da LEF dispõe que não sendo embargada a execução, ou sendo rejeitados os embargos, no caso de garantia prestada por terceiro, este deverá ser intimado para remir o bem, se a garantia for real, ou pagar o valor da dívida, juros e multa de mora e demais encargos constantes na CDA pelos quais se obrigou, caso a garantia seja fidejussória. Se o terceiro permanecer inerte, sobre ele prosseguirá a execução.

Já o art. 20 estabelece que em caso de citação por carta precatória, deverá o executado oferecer os embargos no juízo deprecado, que os remeterá ao juízo deprecante, para instrução e julgamento. Entretanto, se o executado alegar matéria de competência do juízo deprecado, como vícios de atos executivos realizados, o julgamento dessa matéria específica não será feito pelo juízo deprecante, como já visto anteriormente.

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Em linhas gerais, essas são as regras atinentes ao processamento e julgamento dos

embargos do executado oferecidos na execução fiscal. Retomamos a seguir regra específica da LEF que trata da necessidade de garantia para o oferecimento dos embargos.