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CAPÍTULO V A PROBLEMÁTICA DA SEGURANÇA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

V.3. A inteligência no contexto das Relações Internacionais

Com o fim da Guerra-fria, os Serviços de Informações e a espionagem direccionaram as suas preocupações para as actividades das organizações terroristas, para o tráfico de drogas e para o crime organizado. Torna-se, assim, evidente a partir da concepção de Morgenthau54, e no domínio dos interesses e sobrevivência do

Estado, que a existência de serviços de inteligência está amplamente justificada como arma básica na luta contra as ameaças que o Estado terá que enfrentar.

O direito internacional e a espionagem são factores inerentes ao Estado e originários do nascimento dos Estados e das suas relações internacionais. A noção

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geral de espionagem evoluiu através de um longo e profundo processo histórico. Inicialmente, a política oficial do Estado negava o conceito de espionagem e tentava esconder a sua existência. O desenvolvimento das relações internacionais, no entanto, intensificou inevitavelmente as actividades de espionagem. Os governos reconheceram, entretanto, a existência de serviços de inteligência e de operações sistemáticas de espionagem55. Nesse sentido, os Estados contam com serviços de inteligência com o objectivo de obter e manter informações consideradas estratégicas devidamente salvaguardadas. A estes serviços cabe a responsabilidade de identificar ameaças e oportunidades no conturbado cenário internacional. No actual contexto de globalização, os atentados ocorridos em território norte-americano, em 2001, apontaram a luta antiterrorista como uma preocupação permanente do governo dos Estados Unidos e da sua sociedade. Inevitavelmente, esta situação afectaria o mundo inteiro.

O advento da globalização na década de 1990 trouxe consigo mudanças significativas nas concepções dos temas associados à segurança, com destaque para os fenómenos económicos e tecnológicos que estiveram na base de novas ameaças como foram os casos da instabilidade financeira, pandemias, mudanças climáticas e crime organizado. Face a um cenário de novas incertezas, a cooperação entre os serviços de inteligência surge como natural e necessária, apesar de não ser nova. É possível afirmar com toda a determinação que a cooperação internacional entre serviços de inteligência resulta numa efectiva manutenção da segurança internacional. As ameaças colocadas à segurança internacional requerem, assim, um absoluto empenhamento de todos os Estados56.

O sistema internacional sofreu profundas mudanças ao longo da década de 1990. Esta nova configuração obriga, já o afirmámos, os especialistas a reformularem os conceitos relativos às Relações Internacionais assim como as noções de segurança. Deste mesmo modo, também o papel da inteligência assume acrescida importância no

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Idem

56 SPARAGO, Marta - The Global Intelligence Network: Issues in International Intelligence Cooperation. Perspectives on Global Issues Vol. 1, Issue 1, 1-8. 2006. Disponível em: http://pgi.nyc/archive/vol-1-

54 domínio da segurança.

A inteligência e as Relações internacionais são dois temas que têm estado relacionados ao longo de muito tempo. Da sua parte, a inteligência, que se mostra muita limitada devido à sua natureza secreta, pode, no entanto, trazer importante contribuição para o estudo das Relações Internacionais. Esta relação estreita entre ambos os assuntos torna difícil a abordagem de temas internacionais sem considerar a inteligência como parte integrante do Estado, que determina o rumo das decisões tomadas pelos governantes a nível internacional. Acresce, ainda, o facto de a globalização ter dado lugar a um amplo complexo debate relativamente às mudanças e à consistência das ameaças à segurança internacional assim como à rapidez nas respostas a essas mesmas ameaças. É, deste modo, que a inteligência assume larga importância dentro da política internacional, tendo sempre em consideração que as novas ameaças exigem uma imediata adaptação das estratégias e dos meios de defesa.

Em alguns dos trabalhos sobre a teoria das Relações Internacionais é referido que a inteligência pode ser estudada a partir de vários dos seus paradigmas sendo vista como estatocêntrica considerando que faz parte de um mecanismo essencial para o funcionamento do Estado57. Este paradigma considera o Estado e os seus líderes

como actores fundamentais vendo a segurança nacional como uma prioridade. Por esta razão, os Estados recorrem à inteligência com o propósito de defender os seus segredos e interesses.

Para fazer face às múltiplas ameaças colocadas pelo terrorismo internacional, os serviços de inteligência não dispõem, admitamos, das soluções óptimas para as evitar, apesar de adoptarem sempre a melhor resposta ao seu alcance. É, todavia, certo que os serviços alargaram o seu campo de acção e compreensão a um novo contexto de ameaça global. Um pouco por todo o lado, os estudos sobre as Relações Internacionais mostram sem hesitação o importante desempenho que a inteligência tem tido. Nesse sentido, tornou-se imperativa a reorientação dos seus recursos com base em realidades actuais como sejam os Estados decadentes e o perigo que

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constituem, o terrorismo jihadista internacional, a proliferação das armas de destruição maciça e o crime organizado58.

Os eventos terroristas ocorridos ao longo dos primeiros anos deste novo milénio mostram bem que as estruturas e processos da inteligência não se encontram, ainda, a salvo de múltiplos insucessos. Todavia, é a essa mesma inteligência que se deve o enorme êxito alcançado na prevenção e antecipação de muitos actos terroristas, o que revela bem a enorme importância do seu labor.

58 NOEL, Jean-Philippe – Le Renseignement dans un système international en transition, 1991-2001: Une étude des réformes du Renseignement contemporain. Université de Montréal. Dissertação de Mestrado

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CAPÍTULO VI: O FENÓMENO JIHADISTA E O SEU IMPACTO NA RESPOSTA