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CAPÍTULO VI O FENÓMENO JIHADISTA E O SEU IMPACTO NA RESPOSTA

VI.1.8. O financiamento da actividade terrorista

O dinheiro não constitui um aspecto central no suporte à estratégia jihadista; “O jihadismo é austero”105, com uma estrutura muito simples, a exemplo de modelos

de outras organizações. Na verdade, são antes considerados os de natureza política e religiosa. Ainda assim, reconheça-se que o seu financiamento se mostra indispensável para a sobrevivência do projecto. Em termos gerais, a origem dos recursos económicos que alimentam o movimento jihadista centra-se nos donativos e na delinquência comum. Este, por exemplo, foi o grande suporte económico das várias redes desarticuladas em Espanha, entre as quais se encontrava o grupo terrorista responsável pelos atentados do 11 de Março de 2004106. Após estes atentados, os

trilhos financeiros dos terroristas islamistas foram-se tornando gradualmente mais sigilosos. Outra forma de os tornar indetectáveis passa pelo uso de diferentes padrões de comportamento. Os tráficos de droga, de seres humanos, de armas e explosivos, a par da clonagem de cartões de crédito e outras formas de burla e de pequenos roubos são mais alguns dos meios de financiamento frequentemente utilizados por estas organizações terroristas. Sem dúvida, o tráfico de drogas é um dos modos mais lucrativos de financiamento do crime organizado a nível internacional. Para além destes, o branqueamento de capitais de origem ilícita é outro dos caminhos seguidos, com o apoio de especialistas na ocultação da real procedência desse dinheiro.

104 Idem

105 Aristeguí, op. cit., p. 267. 106

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Actividades aparentemente idóneas, como, por exemplo, as de Organizações Não Governamentais (ONG), poderão, igualmente, servir de cobertura a grupos de marcada tendência islamista. Gradualmente, instala-se a convicção de que é crescente o número de ONG’s do mundo islâmico que estarão sob o controlo de organizações extremistas.

Outra forma de financiamento é a conhecida rede hawala107, um sistema

obscuro de remessa de fundos. De acordo com a Interpol108, este método foi utilizado

na quase totalidade dos ataques dos últimos anos. Segundo o El País109, uma rede de

200 agentes hawala paquistaneses estava a movimentar em Espanha mais de 300 milhões de euros por ano, através de uma “rota secreta de locutórios, talhos e lojas de alimentação”. Este mesmo artigo reproduzia uma afirmação do presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, através da qual este assegurava, aquando da Cimeira Antiterrorista, ocorrida em Riade, no ano de 2005, que “a única via para travar o financiamento do terrorismo jihadista é pôr termo ao sistema hawala”. Provavelmente, o grande desafio estará na tentativa de melhor conhecer todos estes fluxos e passá-los gradualmente à esfera de transferências formais e legais.

Já as fontes de financiamento escudadas em actividades legítimas, e que proporcionam consideráveis colectas, estão orientadas para empreendimentos comerciais e para obras de caridade. Esta é, de resto, outra das mais importantes fontes de financiamento do terrorismo. Esta forma de financiamento, proveniente de patrocinadores com as mais diferentes motivações, tem subido fortemente nos últimos tempos.

Da sua parte, o Daesh recorre, ainda, a outras importantes fontes de receita, como sejam o mercado negro para a venda do petróleo em território turco extraído

107 É um sistema alternativo de remessa de dinheiro, baseado na extrema confiança entre as partes

envolvidas. Teve origem na Ásia, onde recebeu diferentes designações ao longo do tempo. É utilizado em particular no mundo islâmico, onde se encontram referências suas nos textos da jurisprudência islâmica.

108

http://www.interpol.int/public/financialcrime/moneylaundering/hawala/default.asp

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dos territórios sob o seu controlo, o dinheiro roubado de bancos sediados na Síria e no Iraque, os sequestros, as doações privadas procedentes do Qatar, Kuwait ou Arábia Saudita e a extorsão. Outros produtos são movimentados no circuito internacional servindo de moeda de troca no negócio de armas. No domínio dos recursos petrolíferos ao alcance da organização terrorista, algumas resoluções deveriam ser postas em marcha visando o fim imediato das transacções associadas ao petróleo.

Com o 11 de Setembro de 2001, os Estados foram alertados para os sérios problemas relacionados com o financiamento das organizações terroristas. O 11 de Março de 2004 veio confirmar que os trilhos financeiros dos terroristas islamistas são cada vez mais indetectáveis. Sabe-se que apesar de todos os meios e alertas postos à disposição das autoridades a eliminação por completo do financiamento do terrorismo se afigura como improvável. Os atentados de Nova Iorque desencadearam uma guerra contra um inimigo disposto a atacar sempre que possível e em todas as frentes. Todavia, o que o mundo não saberá ainda é que este inimigo é produto das políticas de dominação dos governos ocidentais e dos seus aliados, os poderes oligárquicos do Próximo Oriente e da Ásia, e que o seu sustento económico se encontra estreitamente associado às nossas economias e que nos encontramos perante a Nova Economia do Terror110.

Podemos, assim, estabelecer as três principais categorias das quais provêm os meios financeiros que alimentam o terrorismo islamista: os negócios legítimos, isto é, actividades que, em princípio, não poderão ser consideradas ilegais, as receitas ilegais que infringem ou burlam a lei, e as actividades verdadeiramente criminosas. Entre os negócios legítimos figuram os lucros das companhias ou de Estados em formação controlados por grupos armados, os donativos das ONG’s ou feitos a título individual, as transferências de activos e ajudas oficiais de países estrangeiros. As receitas ilegais resultam das ajudas extra-oficiais de governos estrangeiros e do contrabando. As actividades criminosas, que são muitas, incluem o sequestro, a extorsão, o roubo, a

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burla, as falsificações e o branqueamento de capitais111.

Uma das grandes prioridades dos Estados democráticos passa pela criação de meios e condições que combatam eficazmente o financiamento das actividades terroristas. É sabido o quão fundamental é para os grupos e organizações terroristas o seu financiamento. Por tal motivo, o absoluto rastreio de todos os fluxos financeiros destes grupos bem como o conhecimento da existência de vínculos à delinquência organizada é inquestionável.