• Nenhum resultado encontrado

O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) existe como intervenção direta há mais de dez anos, porém, foi no ano de 2011 que passou a contemplar as línguas estrangeiras modernas (LEM)- espanhol e inglês (LIMA, 2011). Com tal programa, livros didáticos de espanhol e inglês começaram a ser distribuídos, gratuitamente, para todas as escolas regulares do chamado Ensino Fundamental.

Apesar de não ser o único recurso didático, os livros, segundo Vilaça (2009), são vistos, quando não indiretamente tratados, como o verdadeiro material didático em quase todas as áreas do conhecimento, representando uma referência para o professor e o aluno.

Jorge e Tenuta (2011) explicam que essas coleções didáticas selecionadas pelo Ministério da Educação não constituem um material qualquer. Isto porque para chegar às mãos do aluno, esse material passa por um processo de avaliação que é conduzido, de forma sigilosa e criteriosa, por uma equipe de profissionais selecionada, que se baseia em critérios de um edital, tanto gerais, relacionados ao componente curricular Língua Estrangeira Moderna.

O edital do PNLD 2011 foi concebido com a preocupação de assegurar ao aluno de escola pública o direito de aprender o inglês ou espanhol, com certa qualidade, ao longo dos quatro anos do Ensino Fundamental. Essa qualidade se traduziria no desenvolvimento das habilidades de ler, ouvir, falar e escrever na língua estrangeira. Às habilidades orais, que têm, em geral, sido negligenciadas, é conferido, pelo edital, o mesmo status atribuído às demais.

Nesta perspectiva, haveria um avanço, pois, exige-se que o livro proponha um trabalho mais amplo que aquele tradicionalmente voltado apenas para a leitura e, com isso, possa contribuir para a desconstrução da arraigada crença de que não se aprende língua adicional na escola pública brasileira:

É sempre importante lembrar que lugar de aprender línguas estrangeiras é na escola de educação básica. Tão importante para a formação e a inclusão social do indivíduo, a aprendizagem das habilidades de ler, falar, ouvir e escrever em outras línguas não deve ou não precisa ser um privilégio exclusivo das camadas favorecidas. Por isso, os critérios adotados no edital PNLD 2011 para a seleção das coleções

buscaram garantir que, na escola pública, o aluno consiga aprender a língua estrangeira para compreender e produzir, oralmente e por escrito, diversos tipos de textos. Além do mais, os critérios incluíam a importância do caráter educativo da aprendizagem de línguas, que pode oportunizar o conhecimento sobre o outro e sobre si mesmo, sobre culturas locais e globais (Guia de livros didáticos: PNLD 2011)

Contudo, Jorge e Tenuta (2011) alertam que a adoção de bons livros didáticos por si só não garante o sucesso no ensino e aprendizagem nem significa a solução de todos os problemas relacionados à aprendizagem de línguas adicionais no contexto da escola pública.

No entanto, por outro lado, a inclusão do componente curricular Língua Estrangeira Moderna no PNLD significa o incentivo para a consolidação de outras políticas vinculadas à existência desse livro, tais como a de produção bibliográfica, de projetos de formação para professores e de fortalecimento das bibliotecas escolares.

Como visto, o edital do PNLD 2011 exige que as coleções didáticas concorrentes no processo de avaliação ampliem o repertório de estratégias de aprendizagem do aluno, provendo condições para que ele supere o que é proposto pelo currículo da escola e pelas possíveis limitações da formação de seu professor.

O aluno, cuja motivação inicial para a aprendizagem do inglês relaciona- se a sua experiência com a literatura, música ou cultura em geral é, assim, levado a perceber que deve ir além do que é trabalhado no contexto da escola. (JORGE, 2009)

Nesse sentido, vemos a busca por uma abordagem mais interdisciplinar no ensino de língua inglesa nas escolas brasileiras. Seguindo esse viés, para Jorge (2009) a aula de língua adicional deve:

proporcionar aos aprendizes oportunidades de compreender e explorar diferentes visões de mundo e formas de expressão, cultivando as possibilidades de uma perspectiva multicultural crítica de ensino de línguas,que não neguem as diferenças e que desafiem os discursos que perpetuam hierarquias linguísticas e raciais. (p.167) Fazenda (1999) afirma que o movimento de interdisciplinaridade surgiu na Europa, principalmente na França e na Itália, em meados de década de 1960, época em que os movimentos estudantis reivindicavam um novo estatuto

de universidade e escola, como tentativa de elucidação e de classificação temática das propostas educacionais que começavam a aparecer na época.

No Brasil, a interdisciplinaridade chegou ao final dos anos 60 e, conforme Fazenda (1999), com sérias distorções, como um modismo, uma palavra de ordem a ser explorada, usada e consumida por aqueles que se lançam ao novo.

Bonatto et al30 explicam que a interdisciplinaridade é um elo entre o entendimento das disciplinas nas suas mais variadas áreas. Sendo importante, pois, abranger temáticas e conteúdos, permitindo dessa forma recursos inovadores e dinâmicos, onde as aprendizagens são ampliadas.

Assim, para que ocorra a interdisciplinaridade não se trata de eliminar as disciplinas, trata-se de torná-las comunicativas entre si, concebê-las como processos históricos e culturais.

Como ressalta BOCHNIAK (1998):

De modo geral, a interdisciplinaridade, esforça os professores em integrar os conteúdos da história com os da geografia, os de química com os de biologia, ou mais do que isso, em integrar com certo entusiasmo no início do empreendimento, os programas de todas as disciplinas e atividades que compõem o currículo de determinado nível de ensino, constatando, porém, que, nessa perspectiva não conseguem avançar muito mais. (BOCHNIAK, 1998, p. 21)

Em um projeto de pesquisa interdisciplinar, é necessário determinar o valor de cada disciplina, discutem-se, em nível teórico, suas estruturas e a intencionalidade de seu papel no currículo escolar. Esses fundamentos possibilitam entender que a interdisciplinaridade é muito mais que uma simples integração de conteúdos.

Sobre tal, os PCNs (1998) apontam:

A interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade. Mas integra as disciplinas a partir da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm sobre a realidade e trabalha todas as linguagens necessárias para a constituição de conhecimentos, comunicação e negociação de significados e registro sistemático dos resultados. (BRASIL,1998, p. 89).

30

Disponível em: http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper /viewFile/2414/501. Acesso em 10 de Setembro de 2015.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNs) orientam para o desenvolvimento de um currículo que contemple a interdisciplinaridade como algo que vá além da justaposição de disciplinas e, ao mesmo tempo, evite a diluição das mesmas de modo a se perder em generalidades.

O trabalho interdisciplinar precisa “partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários” (BRASIL, 1998, p. 88-89).

Dessa forma, a finalidade da interdisciplinaridade é de ampliar uma ligação entre o momento identificador de cada disciplina de conhecimento e o necessário corte diferenciador. Não se trata de uma simples deslocação de conceitos e metodologias, mas de uma recriação conceitual e teórica (PAVIANI, 2008, p.41).

Podemos ressaltar que o ensino formal, todo estruturado e institucionalizado em torno de disciplinas e conteúdos delimitados, que não têm nada a ver com o mundo real das pessoas, torna a aprendizagem do aluno artificial e desinteressante.

Sobre isso, Morin (2000) enfatiza que as disciplinas como estão estruturadas só servirão para isolar os objetos do seu meio e isolar partes de um todo. A educação deve romper com essas fragmentações para mostrar as correlações entre os saberes, a complexidade da vida e dos problemas que hoje existem. Caso contrário, será sempre ineficiente e insuficiente para os cidadãos do futuro.

Nesse sentido, seguindo todos esses aspectos e princípios do ensino interdisciplinar, poderíamos dizer que trabalhar com a abordagem CLIL poderia ser a chave de uma educação efetiva, que se configurasse, de fato, como uma “atividade interdisciplinar”, conforme propôs Fishman, (1976, apud MEJIA, 2002, p.32). Por conta disso, no próximo capítulo, trataremos de tal abordagem mais detalhadamente.