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A questão de partida desta dissertação de mestrado está relacionada à investigação das implicações da institucionalização da interdisciplinaridade sobre as práticas dos docentes de uma instituição de ensino superior que oferece o curso de graduação em administração. O processo de investigação proposto passa necessariamente pela necessidade de compreensão de termos relacionados ao tema como ação educativa, práticas educativas, institucionalização, que se relacionam ao processo de transformações e mudanças que vem ocorrendo no processo de ensinar no interior das universidades, inclusive no que diz respeito adoção de práticas interdisciplinares, que embora possam surgir de ações isoladas de docentes, mas que em algum momento precisam ser institucionalizadas para que possam ser consolidadas.

De acordo com o argumento de Fazenda (2002, p.18) o projeto interdisciplinar pode surgir de uma pessoa que já possua em si uma atitude interdisciplinar e a partir daí, pode espraiar-se para o grupo, buscando a superação de múltiplas barreiras, sejam elas de ordem material, pessoal, institucional e gnosiológica, que no entanto podem ser superadas pelo desejo de criação, de inovação, pois o que caracteriza a atitude interdisciplinar é a ousadia da busca da pesquisa que pode transformar a insegurança num exercício de pensar, de construir, em ação docente.

Essa insegurança individual que é presente nos que ousam a interdisciplinaridade, pode estar vinculada ao exercício solitário do projeto individual, mas que pode transmutar-se quando começa a ocorrer a troca, impelida pela reciprocidade, no diálogo, seja com os pares,

com os anônimos ou consigo mesmo, na atitude de humildade, diante da constatação da limitação do próprio saber, o que leva a abertura para aceitar o pensamento do outro, que pode ser o docente, ou mesmo o aluno. A atitude interdisciplinar exige a passagem da subjetividade para a intersubjetividade.

A profissão docente é uma prática educativa, na medida em que é uma forma de intervir na realidade social mediante a educação, sendo, portanto, uma prática social (PIMENTA; ANASTASIOU, 2010).

Muito se tem abordado nos escritos referentes à educação, sobre ação docente e

prática docente, sem fazerem distinção entre ambos os termos. De acordo com Sacristán

(1999), apud Pimenta, Anastasiou, (2010, p.178), a ação refere-se aos sujeitos, sua maneira de agir, pensar, seus valores, seus compromissos, opções, desejos, vontades, esquemas teóricos de compreender o mundo. Já a prática, é institucionalizada, correspondendo “às formas de educar que ocorrem em diferentes contextos institucionalizados, configurando a cultura e a tradição das instituições”.

Essa tradição seria o conteúdo e o método da educação (Pimenta, Anastasiou, 2010). A partir do entendimento de prática enquanto tradição que confere identidade às instituições, os desafios da pedagogia moderna voltar-se-iam para a harmonização da reprodução e na depuração para a melhoria das tradições educacionais da instituição. Desse modo a ação educativa se realizaria nas práticas institucionais nas quais os sujeitos se encontram, sendo por estas determinadas, mas ao mesmo tempo nelas se determinando.

As práticas educativas têm sido associadas de uma forma geral, a dimensão técnica de ensinar, que caracteriza a didática instrumental e envolvem técnicas, materiais didáticos, controle de aulas, competências e habilidades do professor, inovações curriculares, segundo o prisma do controle eficaz do processo. Na medida em que é institucionalizada, tradicional mantém correlação com os traços característicos, com a identidade das instituições e dos princípios que as orientam. Desse modo ao se ensejar transformações nas práticas educacionais é necessário conhecer e valorizar a tradição e a cultura acumulada, pois esta é conteúdo e método da educação.

A superação da tradição passaria por formas abertas de valorizá-las de forma não tradicional, como por exemplo, garimpando e depurando as que apontam para novas possibilidades diante de novos desafios, já que existe uma tendência para conservação e reprodução das práticas dominantes. Para tanto, seria necessário compreender o sentido que elas têm, desmascarando seu caráter histórico herdado ao habitus e as instituições para devolver aos agentes a consciência de suas ações, pelo menos de maneira simbólica, já que

nesse processo é necessário observar a força do habitus e da própria noção de institucionalização.

De acordo com Bourdieu ( 2010, p. 92) a noção de habitus está relacionado a

[...] sistemas de disposição duradouras e transferíveis, estruturas predispostas a funcionaram como estruturantes, ou seja, como princípios geradores e organizadores de praticas e de representações que podem estar objetivamente adaptadas ao seu fim, sem supor a busca consciente de fins e domínio expresso das operações necessárias para alcança-los objetivamente “reguladas” e “regulares” sem ser o produto da obediência a regras e, ao mesmo tempo, coletivamente orquestrado sem ser produto da ação organizadora de um diretor de orquestra.

O conceito de institucionalização, paralelo ao de habitus referir-se-iam às realidades sociais cristalizadas pelo habitus. De acordo com Pimenta e Anastasiou, (2010, p.181) a institucionalização seria o conjunto de regras constitutivas que definem e determinam posições e relações em determinada área, de maneira convencional, cumprindo funções básicas de caráter educativo, tais como, assegurar a continuidade da sociedade, introduzindo os sujeitos na memória coletiva; permitir descarregar e liberar esforços ao não ter que se reinventar sempre, permitir o exercício da ação e a regulação da conduta; facilita a percepção do outro, interpretando sua conduta e prevendo suas reações. Também cumpre a função de proporcionar informação sobre a ação ou que se pode esperar de uma dada situação.

Quando a institucionalização se transforma em rotina rígida pode ser obstáculo à adaptação a novas circunstâncias. No entanto, a sua ausência, nos processos voltados para a implantação de transformações e mudanças, nos quais não se observam a força do habitus ou mesmo da institucionalização, o que se vê é um voluntarismo pedagógico. Segundo Pimenta e Anastasiou, (2010) verifica-se um discurso teórico ilustrado e vanguardista, um reducionismo político militante e salvacionista em oposição às situações que se pretende transformar, não contribuindo para a gestão de novas práticas, apenas denunciando culpados, dentre os quais, os próprios professores. Diante desse posicionamento, surge um questionamento de ordem prática: como favorecer o processo de implantação de mudanças das práticas educativas através de sua institucionalização, evitando-se os efeitos indesejáveis dela decorrentes?

A busca na literatura examinada levou a identificação de alguns posicionamentos. Ao fornecer sugestões sobre as formas de ultrapassar as práticas didáticas de ensino, Sacristán (1999), apud Pimenta e Anastasiou, (2010, p.179) ensina que um possível caminho seria o de entender a prática, como uma série de ações individuais, ligadas às destrezas das pessoas concretas, mesmo sabendo-se que estas destrezas são limitadas às técnicas específicas

isoladas do contexto da cultura. A compreensão dessas ações educativas contextualizadas e de seus determinantes históricos é que possibilitaria a transformação das instituições.