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No presente trabalho optou-se pelo estudo da Mesorregião Noroeste do RS, pois esse espaço apresenta a mesma identidade regional. De acordo com a FEE (2013a), pode ser definida como “[...] uma área individualizada, [...] que apresenta formas de organização do espaço definidas pelas seguintes dimensões: o processo social, como determinante; o quadro natural, como condicionante, e a rede de comunicação e de lugares como elemento da articulação espacial”. Essa região é composta por 13 microrregiões que englobam 216 municípios do RS, as quais são:

a) Microrregião de Carazinho (18 municípios): Almirante Tamandaré do Sul, Barra Funda, Boa Vista das Missões, Carazinho, Cerro Grande, Chapada, Coqueiros do Sul, Jaboticaba, Lajeado do Bugre, Nova Boa Vista, Novo Barreiro, Palmeira das Missões, Pinhal, Sagrada Família, Santo Antônio do Planalto, São José das Missões, São Pedro das Missões, Sarandi;

b) Microrregião de Cerro Largo (11 municípios): Caibaté, Campina das Missões, Cerro Largo, Guarani das Missões, Mato Queimado, Porto Xavier, Roque Gonzales, Salvador das Missões, São Paulo das Missões, São Pedro do Butiá, Sete de Setembro;

c) Microrregião de Cruz Alta (14 municípios): Alto Alegre, Boa Vista do Cadeado, Boa Vista do Incra, Campos Borges, Cruz Alta, Espumoso, Fortaleza dos Valos, Ibirubá, Jacuizinho, Jóia, Quinze de Novembro, Saldanha Marinho, Salto do Jacuí, Santa Bárbara do Sul;

d) Microrregião de Erechim (30 municípios): Aratiba, Áurea, Barão de Cotegipe, Barra do Rio Azul, Benjamin Constant do Sul, Campinas do Sul, Carlos Gomes, Centenário, Cruzaltense, Entre Rios do Sul, Erebango,Erechim, Erval Grande, Estação, Faxinalzinho, Floriano Peixoto, Gaurama, Getúlio Vargas, Ipiranga do Sul, Itatiba do Sul, Jacutinga, Marcelino Ramos, Mariano Moro, Paulo Bento, Ponte Preta, Quatro Irmãos, São Valentim, Severiano de Almeida, Três Arroios, Viadutos;

e) Microrregião de Frederico Westphalen (27 municípios): Alpestre, Ametista do Sul, Caiçara, Constantina, Cristal do Sul, Dois Irmãos das Missões, Engenho Velho, Erval Seco, Frederico Westphalen, Gramado dos Loureiros, Iraí, Liberato Salzano, Nonoai, Novo Tiradentes, Novo Xingu, Palmitinho, Pinheirinho do Vale, Planalto, Rio dos Índios, Rodeio Bonito, Rondinha, Seberi, Taquaruçu do Sul, Três Palmeiras, Trindade do Sul, Vicente Dutra, Vista Alegre;

f) Microrregião de Ijuí (15 municípios): Ajuricaba, Alegria, Augusto Pestana, Bozano, Chiapetta, Condor, Coronel Barros, Coronel Bicaco, Ijuí, Inhacorá, Nova Ramada, Panambi, Pejuçara, Santo Augusto, São Valério do Sul;

g) Microrregião de Não-Me-Toque (7 municípios): Colorado, Lagoa dos Três Cantos, Não-Me-Toque, Selbach, Tapera, Tio Hugo, Victor Graeff;

h) Microrregião de Passo Fundo (26 municípios): Água Santa, Camargo, Casca, Caseiros, Charrua, Ciríaco, Coxilha, David Canabarro, Ernestina, Gentil, Ibiraiaras, Marau, Mato Castelhano, Muliterno, Nicolau Vergueiro, Passo Fundo, Pontão, Ronda Alta, Santa Cecília do Sul, Santo Antônio do Palma, São Domingos do Sul, Sertão, Tapejara, Vanini, Vila Lângaro, Vila Maria;

i) Microrregião de Sananduva (11 municípios): Barracão, Cacique Doble, Ibiaçá, Machadinho, Maximiliano de Almeida, Paim Filho, Sananduva, Santo Expedito do Sul, São João da Urtiga, São José do Ouro, Tupanci do Sul;

j) Microrregião de Santa Rosa (13 municípios): Alecrim, Cândido Godói, Independência, Novo Machado, Porto Lucena, Porto Mauá, Porto Vera Cruz,

Santa Rosa, Santo Cristo, São José do Inhacorá, Três de Maio, Tucunduva, Tuparendi;

k) Microrregião de Santo Ângelo (16 municípios): Bossoroca, Catuípe, Dezesseis de Novembro, Entre-ijuís, Eugênio de Castro, Giruá, Pirapó, Rolador, Santo Ângelo, Santo Antônio das Missões, São Luiz Gonzaga, São Miguel das Missões, São Nicolau, Senador Salgado Filho, Ubiretama, Vitória das Missões;

l) Microrregião de Soledade (8 municípios): Barros Cassal, Fontoura Xavier, Ibirapuitã, Lagoão, Mormaço, São José do Herval, Soledade, Tunas;

m) Microrregião de Três Passos (20 municípios): Barra do Guarita, Boa Vista do Buricá, Bom Progresso, Braga, Campo Novo, Crissiumal, Derrubadas, Doutor Maurício Cardoso, Esperança do Sul, Horizontina, Humaitá, Miraguaí, Nova Candelária, Redentora, São Martinho, Sede Nova, Tenente Portela, Tiradentes do Sul, Três Passos, Vista Gaúcha.

Apesar disso, para uma melhor análise das relações comerciais entre o Brasil e a Argentina com base no estudo da região Noroeste do RS, foi necessário deter a coleta de dados, bem como as entrevistas empresariais, na microrregião de Santa Rosa, composta por 13 municípios, sendo eles: Alecrim, Cândido Godói, Independência, Novo Machado, Porto Lucena, Porto Mauá, Porto Vera Cruz, Santa Rosa, Santo Cristo, São José do Inhacorá, Três de Maio, Tucunduva e Tuparendi.

Essa região é formada por pequenos municípios e a participação de suas exportações no total exportado do estado é muito baixa. Apesar disso, a mesma apresentou um crescimento significativo de 2002 a 2012, conforme Tabela 25. Em 2002, a microrregião de Santa Rosa representava apenas 0,33% das exportações gaúchas, ao passo que no ano de 2012 esse valor chegou a 1,53%, o mais alto no período analisado.

Tabela 25 – Valor das exportações, importações e saldo da balança comercial do Rio Grande do Sul e da Microrregião Santa Rosa

(US$ milhões - FOB)

Discriminação 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 RS X 6.384 8.027 9.902 10.476 11.802 15.018 18.385 15.236 15.382 19.427 17.386 M 3.531 4.191 5.290 6.692 7.949 10.168 14.525 9.470 13.275 15.662 15.370 Saldo 2.852 3.837 4.612 3.784 3.853 4.849 3.860 5.766 2.107 3.765 2.015 Partic X BR 10.6% 11.0% 10.3% 8.9% 8.6% 9.3% 9.3% 10.0% 7.6% 7.6% 7.2%

MICRORREGIÃO SANTA ROSA

X 21 78 127 100 129 160 232 92 169 295 267

M 15 29 22 13 9 24 41 39 49 50 89

Saldo 6 49 105 86 120 136 191 53 119 245 177

Part X

RS 0,33% 0,97% 1,28% 0,95% 1,09% 1,07% 1,26% 0,61% 1,10% 1,52% 1,53%

Fonte dados brutos: FEE, 2013c; MDIC, 2013c.

Notas: X refere-se às exportações; M às importações; Saldo ao saldo da balança comercial; Partic à participação; e BR ao Brasil.

Dentro da Microrregião Santa Rosa, o principal município exportador e importador é Santa Rosa, com 97% e 95%, respectivamente, em 2012. Esses dados podem ser justificados pelo fato do município possuir uma indústria já consolidada, à medida que os demais possuem uma indústria nascente. Ademais, esses outros municípios são muito dependentes da economia agrícola, a qual vivenciou uma crise – quebra de safra – no último ano, repercutindo sobre o baixo volume exportado em 2012.

Tabela 26 – Exportações e importações totais dos municípios da microrregião Santa Rosa do Noroeste do RS US$ F0B Municípios Ano 2011 Ano 2012 Exportação Part (1) Importação Part (1) Exportação Part (1) Importação Part (1) Alecrim 0 0 0 0 0 0 0 0 Cândido Godói 1.186.604 0.40 0 0 225.491 0.08 0 0 Independência 0 0 112.830 0.02 0 0 702.179 0.65 Novo Machado 0 0 0 0 0 0 0 0 Porto Lucena 0 0 0 0 0 0 0 0 Porto Mauá 0 0 0 0 0 0 2.564 0

Porto Vera Cruz 0 0 0 0 0 0 0 0

Santa Rosa 254.245.241 86.28 38.773.094 78.26 281.006.909 97.27 102.614.094 94.43

Santo Cristo 156.138 0.05 928.814 1.87 45.272 0.02 425.482 0.39

São José do Inhacorá 0 0 0 0 0 0 0 0

Três de Maio 24.457.563 8.30 8.397.404 16.95 2.249.674 0.78 3.744.144 3.45 Tucunduva 6.538.000 2.22 0 0 5.369.000 1.86 0 0 Tuparendi 8.095.425 2.75 1.330.501 2.69 10.645.322 3.68 1.178.695 1.08 TOTAL MICRORREGIÃO 294.678.971 100 49.542.643 100 288.896.357 100 108.667.158 100 Fonte: FEE, 2013c. (1) Participação em %.

Em 2010, a microrregião de Santa Rosa representou 2,7% do VAB da agropecuária no RS, 1% do VAB da indústria e 1,25% do VAB de serviços em relação ao VAB do estado, participando com 1,25% do PIB estadual, tendo 1,47% da população. Isso mostra que não é uma região rica. Em se falando de mesorregião, o cenário se altera um pouco. A mesorregião Noroeste do RS representou mais de um terço do VAB da agropecuária do estado, mais de 10% na indústria e mais de 16% nos serviços, possuindo uma participação de quase 16% no PIB estadual, com ao redor de 18% da população do estado. Outro fator que mostra a dependência dessas regiões em relação ao setor agrícola é verificado através da taxa de urbanização, bem inferior a do estado (85%), sendo ao redor de 70% na microrregião e 71% na mesorregião.

Tabela 27 – VAB, PIB, população e taxa de urbanização dos municípios da microrregião Santa Rosa do Noroeste do RS em 2010

(em R$ mil) Municípios VAB Agropecuária VAB Indústria VAB Serviços PIB População (1) Taxa de Urbanização Alecrim 30.664 4.607 43.275 80.533 7.045 30,7% Cândido Godói 41.752 12.379 53.704 113.198 6.535 28,2% Independência 43.702 9.386 58.742 118.202 6.618 62,8% Novo Machado 25.023 3.669 29.764 61.180 3.925 39,6% Porto Lucena 22.943 4.172 34.527 63.541 5.413 43,1% Porto Mauá 15.323 2.180 17.641 36.316 2.542 37,5%

Porto Vera Cruz 16.240 1.225 12.235 16.254 1.852 23,8%

Santa Rosa 73.053 511.932 835.394 1.574.884 68.587 88%

Santo Cristo 90.403 44.975 144.271 304.121 14.378 54,1%

São José do Inhacorá 17.791 3.509 16.625 39.289 2.200 37,8%

Três de Maio 69.216 58.205 289.438 454.551 23.726 79,9% Tucunduva 28.545 7.707 82.966 129.217 5.898 68,4% Tuparendi 43.483 15.896 81.300 149.508 8.557 61,9% TOTAL MICRORREGIÃO SANTA ROSA 518.138 679.843 1.699.883 3.154.643 157.276 70,4% TOTAL MESORREGIÃO NOROESTE 7.043.111 7.454.998 22.446.923 40.277.267 1.946.510 71,4% TOTAL RS 19.026.837 63.989.289 136.031.909 252.482.597 10.693.929 85,1% Participação Microrregião / RS 2,7% 1,06% 1,25% 1,25% 1,47% - Participação Mesorregião / RS 37% 11,65% 16,50% 15,95% 18,20% - Fonte: FEE, 2013c. (1) em unidades.

Apesar da tentativa de contatar empresas do setor metal-mecânico da microrregião de Santa Rosa do Estado do Rio Grande do Sul, através de telefone, e-mails e solicitação de preenchimento do questionário (ANEXO 2) para averiguar como as mesmas estão se comportando nas suas relações com o país vizinho, diante das políticas nacionais, tanto do Brasil quanto da Argentina, restritivas à livre circulação de mercadorias, as mesmas foram infrutíferas. Foram obtidas respostas de um número insignificante de empresas, impossibilitando, assim, uma análise mais detalhada e fidedigna dessas atuais relações internacionais.

Porém, apesar disso, empresas do segmento metal-mecânico do Noroeste do Estado gaúcho, através de relatos informais, expressam suas dificuldades para a comercialização com o país vizinho. Além dos excessos de burocracia enfrentados, há uma elevada carga tributária e políticas nacionais que inviabilizam, de certa forma, o negócio, descaracterizando o bloco formado entre ambos os países. O comércio é dificultado ao invés de ser facilitado e estimulado, não promovendo o desenvolvimento esperado das nações envolvidas, como preconizam as diretrizes do MERCOSUL.

Ademais, empresas adotam medidas como a instalação de sedes ou transferência das atividades da indústria para o país vizinho, como forma de evitar as políticas comerciais protecionistas e, muitas vezes, auferir vantagens com a política de reindustrialização. Dessa forma, a repercussão sobre o crescimento e o desenvolvimento regional é negativa, afetando a vida das pessoas dessa região, por depararem-se com menos volume de emprego ofertado, além da falta de outros benefícios trazidos com a instalação de uma empresa na cidade, como um maior volume de comércio e melhorias na infraestrutura.

Apesar disso, verifica-se, por meio dos dados, a extrema relevância do MERCOSUL para o Rio Grande do Sul e, em especial, para a região Noroeste. Devido à facilidade de transação que a região encontra com o país vizinho, pela sua proximidade, e a existência de grandes empresas do segmento metal-mecânico na região, como as multinacionais John Deere, AGCO e Kepler Weber, e as de capital nacional, como a Comil, se não houvesse barreiras de acesso ao mercado vizinho, o mesmo poderia trazer maiores vantagens à região.

Além dessas constatações, baseadas em relatos de empresas, buscou-se na literatura argumentos sobre a questão, também aplicável à região e ao setor em estudo. É consenso na literatura que o bloco econômico MERCOSUL encontra-se fadado ao fracasso da forma como vem sendo gerenciado. Além das metas e prazos para atingi-lo serem amplos em virtude das diferenças apresentadas entre os países envolvidos na formação do bloco, falta de vontade política é outro fator que dificulta que outras arestas sejam aparadas como as divergências das políticas macroeconômicas e setoriais, bem como da legislação de cada país. Os conflitos entre a Argentina e o Brasil no início de 2011, como também observado em outros períodos, foi devido, em grande parte, as divergências entre as políticas nacionais e as diretrizes estabelecidas no Tratado de Assunção.

As barreiras protecionistas impostas pela Argentina, por exemplo, englobam atualmente mais de 25% dos produtos brasileiros exportados para o parceiro. Em contrapartida, o Brasil adota medidas de retaliação, podendo-se destacar a adoção de licenças não automáticas aos automóveis. Macadar (2011) relata o caso da empresa automobilística Honda a partir do qual fica nítida a dificuldade de consolidação do MERCOSUL. Percebe-se que os países estão implementando políticas unilaterais as quais não vão de encontro com as tratativas internacionais do bloco.

Nas palavras de Macadar (2011, p. 34), em relação à Honda, tem-se que

Uma semana após ter demitido 400 operários e reduzido pela metade a produção de automóveis da fábrica de Sumaré (SP), a Honda inaugurou, em maio de 2011, uma nova fábrica na Argentina para a produção de 30.000 unidades por ano do modelo City, com investimentos de US$ 250 milhões para abastecer toda a América Latina. Esse modelo era anteriormente fabricado no Brasil.

O deslocamento de empresas do Brasil para o país vizinho deriva, em grande parte, das atuais medidas protecionistas e dos incentivos concedidos ao processo de reindustrialização adotada pela Argentina. Tais políticas geram incertezas e altos custos não existentes anteriormente, sendo a transferência uma forma de contornar as barreiras comerciais impostas, os custos e a imprevisibilidade.

As medidas de retaliação impostas pelo Brasil também podem ter impacto negativo no comércio bilateral. O fato pode ser melhor elucidado através do caso da empresa Randon.

O grupo Randon, com sede em Caxias do Sul (RS), decidiu ampliar, até o fim de 2012, o conteúdo local da produção de reboques e semirreboques rodoviários fabricados na sua unidade argentina, na Província de Santa Fé, dos atuais 35% a 45% para mais de 80%. Alguns dos fatores que influenciaram essa tomada de decisão estão relacionados com a exigência de licenças não automáticas para os componentes exportados a partir do Brasil, os benefícios fiscais oferecidos pela Argentina e a expectativa de redução de custos na produção de peças e componentes naquele país (BUENO apud MACADAR, 2011, p. 35).

No que tange à atual política exterior do Brasil frente à postura apresentada pela vizinha Argentina, além do MAC, o país tem adotado uma posição conhecida como “paciência estratégica”. Também, o país tem se aproximado de outras regiões em desenvolvimento, priorizando as relações com as economias emergentes, tais como China,

Índia e África do Sul, o que reduz o comércio intrabloco. Para tanto, outros acordos e participações em blocos têm sido realizado para aumentar a inserção política do país no exterior. Isso se verifica na formação dos BRICS, na participação do G-3 e G-20, entre outros (MIYAMOTO, 2011).

Apesar das iniciativas do país para melhorar sua inserção internacional e, particularmente, as relações dentro do MERCOSUL, é consenso entre muitos a falta de um projeto nacional de desenvolvimento que contemple os interesses nacionais e que seja consistente e de médio e longo prazo. Dessa forma, verifica-se a dificuldade em implementar uma estratégia de comércio exterior também duradoura (MIYAMOTO, 2011). Além da carência de um projeto nacional, a falta de comunição interministerial também gera divergências nas políticas desenvolvimentistas, pois as mesmas não podem apenas incorporar questões políticas ou militares ou econômicas, mas sim devem contemplar todas as esferas e diversos grupos de interesses.

De acordo com Araújo Jr. (2002), o sucesso inicial do MERCOSUL foi devido ao esgotamento do modelo de substituição de importações. Porém, após 1998, com a carência de um projeto nacional de desenvolvimento de longo prazo, o bloco começou a apresentar descrédito internacionalmente em virtude de decisões muitas vezes inapropriadas tomadas pelos seus líderes. Primeiramente, o autor destaca o caráter ambicioso das metas presentes no tratado formador, tais como o espaço curto de tempo para a harmonização de políticas nacionais e a formação de uma União Aduaneira e posterior integração mais abrangente – Mercado Comum. Também, merece especial atenção “[...] a tentativa de formar uma união aduaneira sem corrigir as disparidades existentes entre os sistemas de tributos domésticos dos países membros” (ARAÚJO JR., 2002, p.03).

Pode-se concluir que as dificuldades de consolidação do bloco MERCOSUL derivam, portanto, de políticas nacionais inconsistentes e divergências nas agendas tanto de política nacional como de política exterior, além das diferenças econômicas e estruturais encontradas entre o Brasil e a Argentina já conhecidas e mencionadas. Há carência de políticas nacionais estratégicas. Normalmente, as mesmas existem para sanar crises e problemas conjunturais e/ou emergenciais, não se tratando de políticas de longo prazo.

Apesar disso, destaca-se a grande importância para o país do comércio com a Argentina, principalmente no que diz respeito a indústria de transformação.

[...] a Argentina, além de ocupar, em 2010, o terceiro lugar no ranking dos parceiros comerciais do Brasil — tanto nas importações como nas exportações —, é um mercado extremamente importante para os produtos manufaturados brasileiros, que representam 91% das exportações para aquele país (MACADAR, 2011, p. 34).

Portanto, o MERCOSUL é um bloco econômico que deve ser incentivado e o Brasil deve adotar medidas para a sua promoção e consolidação, não apenas devido sua importância comercial, mas também política, melhorando o poder de barganha no cenário internacional onde os grandes dominam. Para que a integração fique mais profunda como o almejado inicialmente no Tratado de Assunção, a vontade política de ambos os países é fundamental, de forma a harmonizar e coordenar as políticas macroeconômicas e a legislação interna.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A globalização e a regionalização das economias são processos em voga nos dias atuais e bastante questionados em relação aos benefícios gerados, pois os mesmos não se mostram homogêneos e dependem da realidade socioeconômica de cada país. É por meio da formação de blocos econômicos, característica dos processos de regionalização, que as economias visam reduzir os males gerados pela globalização. Foi através dos processos de abertura econômica que os mesmos se intensificaram. Tal abertura é considerada propulsora do crescimento econômico de nações, pois tem-se que as mesmas cresceriam muito menos se fossem fechadas, dependentes apenas da economia interna, sem comercializar internacionalmente.

Com a abertura e os processos de integração econômica, os países visam melhorar e ampliar seus recursos escassos para melhor atender seus cidadãos. Esses processos foram facilitados com a democratização, desregulamentação e privatização das economias, possibilitando a redução de barreiras tarifárias e não tarifárias e adoção de políticas macroeconômicas complementares. Percebe-se que os processos dependem da vontade dos Estados envolvidos para geraram efeitos benéficos a todos. Ademais, dentro de um bloco econômico, com o surgimento de novos atores internacionais com personalidade jurídica, a soberania absoluta dos Estados envolvidos é afetada. A transferência de parte da soberania para os organismos internacionais ocorre pela necessidade de políticas coordenadas intrabloco. As políticas adotadas pelas nações integrantes de um bloco regional deveriam ser tomadas não de forma isolada, mas sim considerando a necessidade do bloco como um todo para que haja a sua consolidação e o desenvolvimento conjunto das nações.

Isso tudo dependerá em grande parte do nível de integração atingido, concedendo maior ou menor interdependência econômica e política entre os países. A forma mais simples de integração são os acordos comerciais preferenciais. Já a mais completa e complexa é a união econômica total. O MERCOSUL é um exemplo típico de União Aduaneira, onde há adoção de uma TEC incidente sobre os países fora do bloco, apesar da existência de cláusulas de exceção, e a tentativa de coordenação de políticas macroeconômicas. Por isso, para que esse tipo de integração se consolide, são necessárias políticas econômicas nacionais previsíveis e não prejudiciais aos demais países do bloco. Ademais, as políticas comerciais

devem ser coordenadas e menos discricionárias. Com isso em vista e com base nas práticas adotadas atualmente pelo Brasil e pela Argentina, afirma-se que o MERCOSUL está longe de concluir um de seus objetivos fins, que é atingir o nível de Mercado Comum – integração mais abrangente –, além de não estar se firmando até mesmo como uma simples União Aduaneira e de não ter consolidado também a chamada Zona de Livre-Comércio entre seus membros.

Apesar de os processos de integração serem alternativas para o desenvolvimento regional, os mesmos sozinhos não proporcionam tal desenvolvimento. O comércio internacional é considerado fundamental, mas não suficiente para atingir esse fim. Para sanar os grandes problemas econômicos e sociais por que passam as economias menos desenvolvidas, transformações políticas, econômicas e sociais devem ocorrer concomitantemente com os processos de integração econômica, devendo as políticas implementadas pelos países serem coerentes com as estratégias de integração para que os ganhos sejam desfrutados por todos. Também políticas públicas devem ser implementadas para que os benefícios gerados sejam distribuídos equitativamente em todos os grupos de interesse. Da mesma forma, uma política de desenvolvimento estratégico e de longo prazo deve ser elaborada, possibilitando que as políticas de comércio exterior sejam efetivas.

O que fica claro na literatura utilizada sobre o tema, e através dos dados compilados a cerca dos benefícios que o MERCOSUL gera, se encontra em torno das questões de ordem política. Atualmente, devido à retração nas negociações comerciais intrabloco – o coeficiente de integração se reduziu devido às crises e à adoção de políticas nacionais desfavoráveis ao comércio internacional, encerrando o ano de 2012 em 9,03% –, é nítida a importância do mesmo a nível político no que diz respeito à inserção internacional do país. Perante os organismos internacionais e as negociações com outros países, através do bloco regional, o poder de barganha do Brasil é maior do que se o mesmo o fizesse de maneira unilateral.

Igualmente se percebe a importância do Brasil para a Argentina como parceiro comercial. O Brasil foi o principal parceiro comercial da Argentina, representando 22% das exportações daquele país e 33% das importações, sendo máquinas e veículos os principais produtos importados pela Argentina. Já a Argentina é a terceira maior parceira comercial do