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De acordo com a afirmação de Krugman (1991, p. 3) de que “[...] a melhor maneira de entender o funcionamento da economia internacional é começar examinando o que acontece no interior de cada país”, uma análise das economias nacional e regional, com foco no estado do Rio Grande do Sul, comparativamente à economia da Argentina, possibilita uma melhor compreensão da importância do bloco firmado entre as duas economias e do comportamento seguido pelas mesmas no interior desse bloco. Ademais, possibilita verificar o papel do setor industrial para o crescimento e desenvolvimento da economia nacional e estadual através das suas relações comerciais com o exterior – em especial a Argentina.

A partir dos dados, é possível afirmar que o Brasil apresenta maiores dimensões continentais e populacionais, além de um PIB elevado em relação a Argentina. Todavia, o Brasil está em desvantagem em relação aos indicadores socioeconômicos, pois possui precários níveis desses indicadores. Ambos os países tentam superar limites econômicos, principalmente em relação às desigualdades sociais. Essas informações podem ser visualizadas através da Tabela 3 abaixo, a qual faz um comparativo entre a economia brasileira e argentina.

Tabela 3 – Informações gerais sobre a economia do Brasil e da Argentina

ARGENTINA Notas BRASIL

Área Geográfica

Territorial 2.736.690 Em km² 8.459.417

População* 40,8 Em milhões, 2011 196,7

Urbanização 92% Em 2010 87%

Estimativa de vida 77 anos Estimativa 2012 73 anos

Taxa de desemprego 7,2% Estimativa 2011 6%

Índice Desenvolvimento

Humano (IDH)* 0,797 Ano 2011 0,719

Classificação IDH* 45º Ano 2011 84º

Média anual de

crescimento IDH* 0,57% 2000 – 2011 0,69%

Coeficiente de Gini por

rendimento* (1) 45,8 2000 – 2011 53,9

PIB** US$ 446 bilhões Ano 2011 US$ 2,476 trilhões

Taxa real de crescimento

do PIB 8,9% Estimativa 2011 2,7%

PIB per capita US$ 17.700 Estimativa 2011 US$ 11.800

Taxa de inflação a preços

do consumidor 22% Estimativa 2010 5%

Valor Adicionado Bruto (VAB)

Agricultura 10,7% Estimativa 2011 5,5%

Indústria 31,1% Estimativa 2011 27,5%

Serviço 58,2% Estimativa 2011 67%

Taxa de crescimento da

produção industrial 6,5% Estimativa 2011 0,3%

Fonte: (*) PNUD, 2013; (**) BANCO MUNDIAL, 2013a; CIA, 2013.

(1) “Coeficiente de Gini de rendimento: Medida do desvio da distribuição do rendimento (ou do consumo) entre indivíduos ou famílias internamente a um país a partir de uma distribuição perfeitamente igual. Um valor de 0 representa a igualdade absoluta, um valor de 100 a desigualdade absoluta” (PNUD, 2013, p. 144).

Conforme dados do Banco Mundial (2013b), a economia brasileira era a 6º maior economia do mundo em termos de PIB em 2011. Ademais, sua população e área territorial são considerados uns dos maiores do mundo. No entanto, existem grandes distorções nos indicadores sociais. Apesar do Brasil ser considerado uma das maiores economias do mundo, o mesmo apresenta um dos piores Índice de Gini, conforme já apresentado anteriormente, ou seja, apresenta uma das piores desigualdades sociais mundial. Ademais, o IDH do país também é baixo, sendo de 0,719 em 2011. Essas distorções apresentadas pela economia brasileira fica mais evidente ao compará-la com a economia argentina. Apesar do PIB da Argentina ser inferior ao do Brasil, deixando-a com a 25º classificação no ranking mundial

em termos de PIB de 2011 (BANCO MUNDIAL, 2013b), o vizinho apresenta uma renda melhor distribuída, com um IDH e expectativa de vida maiores.

No que diz respeito a importância do comércio exterior para esses países, destaca-se que o mercado interno brasileiro possui uma importância relativa maior do que seu mercado externo, ao passo que a Argentina é mais dependente do mercado externo. Analisando-se a Tabela 4 fica nítida essa questão, sendo que o comércio exterior de mercadorias do Brasil, não incluso serviços, representou cerca de 20% do PIB em 2011, e o da Argentina, aproximadamente, 35%.

Tabela 4 – Participação do comércio exterior de mercadorias no PIB

(%) Descrição 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Brasil 21,83 22,43 24,57 22,24 21,46 21,03 23,01 17,68 18,36 19,90 Argentina 33,95 33,49 37,24 37,69 37,70 38,53 39,03 30,75 33,80 35,47 China 42,70 51,86 59,77 63,00 64,89 62,29 56,69 44,23 50,13 49,77 UE 55,86 54,95 57,05 59,49 63,49 63,98 66,34 56,67 64,48 69,16 Índia 20,23 21,30 24,45 29,07 31,63 30,64 42,14 31,01 33,84 40,45 Paraguai 51,51 62,48 67,97 72,30 70,42 70,99 79,92 70,70 79,49 74,81 África do Sul 53,10 45,32 45,47 46,12 52,45 55,29 66,61 47,96 48,17 53,53 EUA 17,88 18,29 19,84 20,96 22,11 22,69 24,31 19,15 22,52 24,99 Uruguai 28,11 36,49 44,17 42,05 44,92 43,34 49,43 40,37 38,94 40,05 Fonte: BANCO MUNDIAL, 2013a.

Para elucidar de maneira mais clara o comércio exterior do Brasil e da Argentina, através da Tabela 5 infere-se que no caso Argentino, o Brasil foi o principal parceiro comercial em 2011, tanto no que tange as importações como as exportações. O Brasil respondeu com cerca de 33% das importações argentinas e 22% das suas exportações. No caso das importações, esse valor representa mais do que o dobro do segundo parceiro comercial desse país – os EUA. Já as exportações representaram quase três vezes mais do que o comércio com o segundo parceiro – a China. Entre os principais produtos importados pela Argentina destaca-se máquinas e veículos, ou seja, pertencentes ao grupo de metal-mecânicos, foco do presente trabalho.

Em se tratando do Brasil, a importância que a Argentina tem não é tão relevante quando a importância do país para o vizinho. Mesmo assim, a Argentina é a terceira maior

parceira comercial em se tratando tanto das importações como das exportações. Através da mesma Tabela, verifica-se que 7,5% dos produtos importados pelo Brasil são provenientes da Argentina e 8,9% da pauta exportadora do Brasil vai para aquele país. Dentre os principais produtos das exportações brasileiras encontra-se equipamentos de transporte e automóveis; já em relação aos importados destaca-se as máquinas, equipamnetos de trasnportes e partes automotivas, mostrando-se mais uma vez a importância do segmento metal-mecânico no comércio entre Brasil e Argentina.

Tabela 5 – Informações sobre o comércio exterior do Brasil e da Argentina

ARGENTINA Notas BRASIL

IMPORTAÇÕES US$70,76 bilhões Estimativa 2011 US$226,2 bilhões

Principais produtos de importação

Máquinas; Veículos; Petróleo e gás natural; Produtos químicos; Plásticos. Máquinas; Equipamentos elétricos e de transporte; Produtos químicos; Petróleo; Partes automotivas; Eletrônicos. Principais países de origem

Brasil 33,2% USA 14,4% China 12,4% Alemanha 4,7% Ano 2011 15,1% USA 14,5% China 7,5% Argentina 6,7% Alemanha 4,5% Coréia do Sul

EXPORTAÇÕES US$84,32 bilhões Estimativa 2011 US$256 bilhões

Principais produtos de exportação

Soja e derivados; Gás e petróleo; Veículos; Trigo; Milho. Equipamento de transporte; Minério de ferro; Soja; Calçados; Café; Automóveis. Principais países destino exportação Brasil 21,6%

China 7,3% Chile 5,5% USA 5,5% Ano 2011 17,3% China 10,1% EUA 8,9% Argentina 5,3% Holanda

POSIÇÃO MUNDIAL 46º importador

45º exportador Estimativa 2011

23º importador 24º exportador Fonte: (*) PNUD, 2013; CIA, 2013.

Considerando que o MERCOSUL é formado pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, como já destacado, e que o Brasil e a Argentina são os países com maior expressão dentro desse bloco, além dos fatos demonstrados acima, corrobora-se com a ideia de Celso Lafer (apud MAGNOLI, 2002) de que o MERCOSUL é indispensável, pois “[...] é uma plataforma de inserção competitiva numa economia mundial que, simultaneamente, se globaliza e se regionaliza em blocos”.

Em se tratando do comércio internacional através do MERCOSUL, infere-se através da Tabela 6 que o Brasil é responsável por 72% das exportações do bloco e 71% das importações. Já a Argentina possui 23% das exportações e 22% das importações. Esses dados mostram que, em termos de comércio internacional, as negociações através do bloco são bastante favoráveis para a Argentina, o Paraguai e o Uruguai devido a relevância do Brasil e que sem ele o bloco poderia perder sua importância.

Tabela 6 – Exportações e importações totais do MERCOSUL e países do bloco

(US$ milhões) Descrição 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 EXPORTAÇÕES MERCOSUL 88.824 106.098 135.811 163.990 190.131 223.763 278.366 217.239 281.307 353.455 Argentina 25.650 29.566 34.576 40.351 46.546 55.779 70.018 55.672 68.133 83.951 Brasil 60.362 73.084 96.678 118.529 137.808 160.649 197.943 152.995 201.915 256.040 Paraguai 951 1.242 1.627 1.688 1.788 2.817 4.463 3.167 4.534 5.517 Uruguai 1.861 2.206 2.931 3.422 3.989 4.518 5.942 5.405 6.725 7.947 IMPORTAÇÕES MERCOSUL 62.342 69.111 95.090 113.910 139.540 182.838 257.942 186.310 266.701 333.850 Argentina 8.990 13.834 22.445 28.689 34.152 44.706 57.462 38.786 56.502 73.938 Brasil 49.716 50.859 66.433 77.628 95.838 126.645 182.377 133.678 191.537 236.870 Paraguai 1.672 2.228 3.097 3.715 4.744 5.859 9.033 6.940 10.040 12.316 Uruguai 1.964 2.190 3.114 3.879 4.806 5.628 9.069 6.907 8.622 10.726 Fonte: OMC, 2013b.

Analisando-se mais detalhadamente esse bloco, através do coeficiente de integração do MERCOSUL percebe-se que o comércio intrabloco aumentou no decorrer dos anos. Porém, nos períodos de crise, com o fechamento dos mercados, o coeficiente de integração reduz. O coeficiente de integração é dado através das exportações mais importações intrabloco sobre as exportações mais importações totais.

Tabela 7 – Exportações e importações totais do Brasil e coeficiente de integração do Brasil em relação ao MERCOSUL (US$ 1.000 F0B) Ano Exportação Total Brasil Importação Total Brasil Exportação para MERCOSUL Importação do MERCOSUL Exportação para ARGENTINA Importação da ARGENTINA Coeficiente de Integração 2000 55.118.920 55.850.663 7.739.599 7.796.209 6.237.684 6.843.232 14.00% 2001 58.286.593 55.601.758 6.374.455 7.009.674 5.009.810 6.206.537 11.75% 2002 60.438.653 47.242.654 3.318.675 5.611.720 2.346.508 4.743.785 8.29% 2003 73.203.222 48.325.567 5.684.310 5.685.229 4.569.768 4.672.611 9.36% 2004 96.677.499 62.835.616 8.934.902 6.390.493 7.390.967 5.569.812 9.61% 2005 118.529.185 73.600.376 11.746.012 7.053.699 9.930.153 6.241.110 9.78% 2006 137.807.470 91.350.841 13.985.829 8.967.387 11.739.592 8.053.263 10.02% 2007 160.649.073 120.617.446 17.353.577 11.624.752 14.416.946 10.404.246 10.30% 2008 197.942.443 172.984.768 21.737.308 14.934.112 17.605.621 13.258.442 9.89% 2009 152.994.743 127.722.343 15.828.947 13.107.442 12.784.967 11.281.657 10.31% 2010 201.915.285 181.768.427 22.601.501 16.620.152 18.522.521 14.434.594 10.22% 2011 256.039.575 226.245.898 27.852.506 19.375.174 22.709.344 16.906.351 9.79% 2012 242.579.776 223.149.130 22.801.529 19.250.591 17.997.706 16.444.100 9.03%

Fonte dados brutos: MDIC, 2013a.

No ano de 2008, ano da crise mundial, o coeficiente de integração reduziu, sendo de 9,89%, ao passo que em 2007 atingiu 10,30%, conforme Tabela 7. Após, esse coeficiente retomou o patamar acima de 10% devido a breve recuperação econômica mundial, voltando a cair com a acentuação da crise argentina, encerrando 2012 com 9,03%, o coeficiente mais baixo desde o ano de 2002.

Conforme visto até o momento, pode-se inferir que o Brasil e a Argentina possuem um papel dominante no comércio intrabloco, ficando os demais membros com um papel periférico. Por meio da Tabela 8, tem-se que as exportações brasileiras para o MERCOSUL corresponderam, aproximadamente, 11% das exportações brasileiras totais no ano de 2011, e 9,5% em 2012, ao passo que as importações foram de, aproximadamente, 9% em ambos períodos, garantindo o saldo positivo na Balança Comercial do Brasil em relação ao bloco. Desse total exportado para o bloco, aproximadamente 9% e 7,5% foram exportados apenas para a Argentina em 2011 e 2012; já as importações foram de, aproximadamente, 7,5% em ambos os anos.

Tabela 8 – Valor das exportações, importações e saldo da balança comercial do Brasil para o MERCOSUL e Argentina

(US$ milhões - FOB)

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 BRASIL X 60.439 73.203 96.677 118.529 137.807 160.649 197.942 152.995 201.915 256.040 242.580 M 47.243 48.326 62.836 73.600 91.351 120.617 172.985 127.722 181.768 226.246 223.149 Saldo 13.196 24.878 33.842 44.929 46.457 40.032 24.958 25.272 20.147 29.794 19.430 MERCOSUL X 3.319 5.684 8.935 11.746 13.986 17.354 21.737 15.829 22.602 27.853 22.802 M 5.612 5.685 6.390 7.054 8.967 11.625 14.934 13.107 16.620 19.376 19.251 Saldo -2.293 -919 2.544 4.692 5.018 5.729 6.803 2.722 5.981 8.477 3.551 ARGENTINA X 2.347 4.570 7.391 9.930 11.740 14.417 17.606 12.785 18.523 22.709 17.998 M 4.744 4.673 5.570 6.241 8.053 10.404 13.258 11.282 14.435 16.906 16.444 Saldo -2.397 -102 1.821 3.689 3.686 4.013 4.347 1.503 4.088 5.803 1.554 Partic X MERC/BR 5.5% 7.8% 9.2% 9.9% 10.1% 10.8% 11.0% 10.3% 11.2% 10.9% 9.4% Partic X ARG/BR 3.9% 6.2% 7.6% 8.4% 8.5% 9.0% 8.9% 8.4% 9.2% 8.9% 7.4% Partic M MERC/BR 11.9% 11.8% 10.2% 9.6% 9.8% 9.6% 8.6% 10.3% 9.1% 8.6% 8.6% Partic M ARG/BR 10.0% 9.7% 8.9% 8.5% 8.8% 8.6% 7.7% 8.8% 7.9% 7.5% 7.4%

Fonte dados brutos: MDIC, 2013a.

Notas: X refere-se às exportações; M às importações; Saldo ao saldo da balança comercial; Partic MERC à participação do MERCOSUL; Partic ARG à participação da Argentina; e BR ao Brasil.

Em relação as exportações do Brasil para a Argentina, que representava 8,87% em 2011, passando para 7,42% em 2012, apresentou uma queda de 20,7%. Isso ocorreu devido as novas regras de importações impostas pela Argentina como forma de fortalecer a sua indústria local, fato que será melhor discutido posteriormente quando da análise das políticas nacionais implementadas por esses países.

No que diz respeito a participação das exportações do bloco em relação as exportações mundiais, destaca-se que o bloco responde com 2,57%, aproximadamente, das exportações em relação aos ‘top 100’ países exportadores (CIA, 2013). Quanto a participação do PIB do MERCOSUL no PIB mundial, o mesmo corresponde a, aproximadamente, 3,38% em relação ao PIB dos ‘top 100’ (CIA, 2013). De acordo com a CIA (2013), os países pertencentes ao ‘top 100’ correspondem a um grupo de cem países com maior exportação, em valores free on

[período de] crescimento e para fora do MERCOSUL nas crises [...]” (DATHEIN, 2005, p. 13).

Com base na Tabela 9, todos os países do MERCOSUL apresentaram crescimento nas exportações de 2003 a 2011, com exceção do ano de 2009, fruto da crise mundial. Nota-se, no entanto, que embora as exportações dos países pertencentes ao bloco tenham apresentado crescimento em 2011, o mesmo ficou abaixo do crescimento das exportações de outros países importantes, como a China, EUA, UE e, principalmente, a Índia – forte concorrente das exportações brasileiras.

Tabela 9 – Crescimento anual das exportações de mercadorias e serviços por países selecionados (%) Descrição 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Brasil 7.42 10.40 15.29 9.33 5.04 6.20 0.55 -9.13 11.52 4.49 Argentina 3.09 6.00 8.11 13.50 7.33 9.09 1.16 -6.41 14.60 4.26 China 28.06 27.63 27.33 23.65 23.89 19.83 8.41 -10.32 27.71 8.77 EU 2.19 1.90 7.72 6.05 9.82 5.52 1.61 -11.67 10.56 6.14 Índia 21.09 9.58 27.18 26.07 20.36 5.93 14.60 -4.77 22.67 15.30 Paraguai 9.30 14.81 11.81 16.52 3.39 12.86 1.60 -11.17 27.83 0.50 África do Sul 0.99 0.11 2.83 8.57 7.46 5.91 2.36 -19.54 4.55 5.94 EUA -2.01 1.61 9.54 6.76 8.96 9.30 6.11 -9.13 11.14 6.68 Uruguai -10.35 4.21 30.44 16.34 5.62 4.78 8.53 5.66 6.04 5.84

Fonte: BANCO MUNDIAL, 2013a.

Em relação às políticas industriais adotadas pelo Brasil, deve-se, primeiramente, analisar a situação do setor industrial da economia para sua melhor compreensão. Esse setor representa em torno de 30% do Valor Adicionado Bruto (VAB) do país, conforme dados da Tabela 10, sendo a indústria de transformação a atividade com maior representatividade nesse setor, e o segmento metal-mecânico um subgrupo dessa indústria.

Tabela 10 – Participação do VAB por setor de atividade a preços básicos do Brasil (%) DISCRIMINAÇÃO 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Agropecuária 6.6 7.4 6.9 5.7 5.5 5.6 5.9 5.6 5.3 5.5 Indústria 27.1 27.9 30.1 29.3 28.8 27.8 27.9 26.8 28.1 27.5 Indústria de Transformação 16.9 18.0 19.2 18.1 17.4 17.0 16.6 16.7 16.2 14.6 Serviço 66.3 64.8 63.0 65.0 65.8 66.6 66.2 67.5 66.6 67.0 Fonte: MDIC, 2012.

Além disso, é válido analisar o crescimento do VAB da economia nacional. Apesar da participação da indústria no PIB do Brasil manter-se praticamente constante ao longo dos anos, percebe-se pela Tabela 11 que o crescimento do setor industrial está em desaceleração.

Tabela 11 – Taxas médias anuais de crescimento do VAB do Brasil

(%) DISCRIMINAÇÃO 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* Agropecuária 0.3 4.8 4.8 6.1 -4.6 6.3% 3.9 Indústria 2.1 2.2 5.3 4.1 -6.4 10.4 1.6 Indústria de Transformação 1.2 1.0 5.6 3.0 -8.2 10.1 0.1 Serviço 3.7 4.2 6.1 4.9 2.2 5.5 2.7 Fonte: MDIC, 2012. * Preliminar

A atividade industrial na economia brasileira perdeu participação, pois não acompanhou o crescimento do PIB. Dentre os fatores que contribuíram para o declínio dessa atividade nos últimos tempos foram a restrição ao crédito; a valorização cambial; o acirramento da concorrência internacional – principalmente após a crise de 2008, que ocasionou a estagnação da demanda dos países desenvolvidos por produtos industriais e o aumento da oferta de produtos asiáticos produzidos a baixo custo –; e o aumento das importações (ABDI, 2011).

No ano de 2011, ano em que a Argentina adotou mais medidas restritivas à entrada de produtos importados no seu mercado e de incentivo à reindustrialização do país, é possível perceber que a indústria argentina apresenta um crescimento maior do que o verificado em relação ao PIB, ao contrário do que ocorreu no Brasil. Sendo a Argentina um importante parceiro comercial do país, principalmente no que tange a importação de produtos industrializados, em certa parte podemos atribuir a desaceleração do crescimento industrial

brasileiro à elevação do crescimento industrial argentino. Ao passo que no Brasil, em 2011, o crescimento do PIB foi da ordem de 2,73% e o da atividade industrial de 1,52%, o do país vizinho foi de 8,87% e 9,23%, respectivamente (Tabela 12).

A redução da demanda internacional também pode ser visualizada através da evolução do PIB de algumas economias mundiais (Tabela 12). Grandes mercados consumidores, como UE e EUA, não conseguiram recuperar suas taxas de crescimento anteriores a crise internacional de 2008, repercutindo na baixa demanda dessas economias por produtos importados.

Tabela 12 – Crescimento anual do PIB e da indústria por países selecionados

(%) País Descrição 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Brasil PIB 2,66 1,15 5,71 3,16 3,96 6,10 5,17 -0,33 7,53 2,73 Indústria 2,13 1,31 7,85 2,08 2,17 5,31 4,08 -5,67 10,41 1,52 Argentina PIB -10,89 8,84 9,03 9,18 8,47 8,65 6,76 0,85 9,16 8,87 Indústria -13,81 16,49 13,37 9,20 10,05 7,48 4,03 -1,19 7,80 9,23 China PIB 9,10 10,00 10,10 11,30 12,70 14,20 9,60 9,20 10,40 9,30 Indústria 9,80 12,70 11,10 12,10 13,40 15,10 9,90 9,90 12,25 10,30 UE PIB 1,29 1,45 2,54 2,07 3,31 3,23 0,28 -4,33 2,20 1,52 Indústria 0,12 0,51 2,85 1,48 3,16 3,04 -1,63 - 11,14 4,94 - Índia PIB 3,91 7,94 7,85 9,28 9,26 9,80 3,89 8,24 9,55 6,86 Indústria 7,21 7,32 9,81 9,72 12,17 9,67 4,44 8,40 7,16 3,38 Paraguai PIB -4,15 2,09 3,55 7,34 3,55 9,16 4,17 -3,52 14,24 6,85 Indústria -2,65 3,52 3,10 3,06 1,84 1,00 3,89 0,35 7,58 -0,47

África do Sul PIB 3,67 2,95 4,55 5,28 5,60 5,55 3,62 -1,54 2,89 3,12 Indústria 2,57 0,77 4,49 5,30 4,86 4,59 1,48 -7,21 5,04 1,63

EUA PIB 1,83 2,55 3,48 3,08 2,66 1,91 -0,36 -3,53 3,02 1,70 Indústria 1,19 1,63 5,62 0,44 1,53 1,97 -5,50 -7,88 6,09 -

Uruguai PIB -7,73 0,81 5,00 7,46 4,10 6,54 7,18 2,42 8,89 5,70 Indústria -8,95 1,37 3,68 13,13 1,26 12,66 -0,91 -1,37 9,96 -0,96 Fonte: BANCO MUNDIAL, 2013a.

Quanto a economia do Rio Grande do Sul (RS), seu PIB correspondeu a 6,8% do PIB brasileiro em 2011 (Tabela 13), garantindo sua quarta posição entre os Estados com maiores participações na renda nacional. Da mesma forma que a economia brasileira, o RS apresentou queda no PIB (no ano de 2009, o PIB gaúcho caiu 0,4%) e na atividade industrial.

Tabela 13 – Valor e taxa de crescimento do PIB a preços correntes do Brasil e do Rio Grande do Sul e a participação do PIB regional no PIB nacional

(R$ milhões) 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 BRASIL PIB (1) 1.477.822 1.699.948 1.941.498 2.147.239 2.369.484 2.661.344 3.032.203 3.239.404 3.770.085 4.143.013 Var (2) 2.7% 1.1% 5.7% 3.2% 4.0% 6.1% 5.2% -0.3% 7.5% 2.7% RS PIB (1) 105.487 124.551 137.831 144.218 156.827 176.615 199.499 215.864 252.483 280.579* Var (2) - 1,6% 3,3% -2,8% 4,7% 6,5% 2,7% -0,4% 6,7% 5,1% Partic RS/BR 7.1% 7.3% 7.1% 6.7% 6.6% 6.6% 6.6% 6.7% 6,7% 6.8%

Fonte dados brutos Brasil: MDIC, 2012. Fonte dados brutos RS: FEE, 2013d.

(1) Produto Interno Bruto a preços de mercado (2) Variação real anual

(*) Estimativa preliminar

Dentre os fatores que contribuíram para essa tendência foram a suscetibilidade da economia do Estado aos choques agrícolas; a forte dependência das atividades econômicas à renda do setor primário, onde uma queda da mesma afeta a demanda agregada da economia gaúcha em geral; a estreita ligação entre o setor primário e o setor industrial; e a dependência do setor industrial em relação ao mercado externo (FEE, 2011a).

[...] O crescimento econômico do RS também tem sido limitado pelo pequeno grau de liberdade de atuação do Estado, em virtude dos sucessivos déficits nominais nas contas públicas. [...] o ajuste nas contas públicas, quando realizado, tem sido feito essencialmente pelo controle das despesas, o que tem impedido que o Estado atue como indutor do crescimento (FEE, 2011a, P.03).

De acordo com a FEE (2011b, p.03),

Mesmo com a redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) imposta pelo Governo Federal para diversos itens, tais como os produtos da “linha branca” e veículos automotores, a indústria de transformação (- 10,0%) foi a atividade que apresentou queda mais vigorosa no Estado. Esse desempenho, em algum grau amenizado pela política fiscal anticíclica brasileira, está diretamente relacionado à redução da demanda internacional, ao aumento nas incertezas e à queda na confiança do empresariado. Dados da Pesquisa de Indústria Mensal (PIM-IBGE) mostram que as atividades que mais sofreram impacto da crise foram máquinas e equipamentos, metalurgia básica, veículos automotores e calçados e artigos de couro.

Analisando-se a economia do RS de forma setorial, visualiza-se que o setor industrial correspondeu a 29,2% do valor adicionado bruto do Estado em 2010, conforme dados FEE (Tabela 14), sendo que aproximadamente 75% da atividade industrial refere-se a indústria de transformação. Essa indústria também segue a dinâmica nacional, além de estar entre as primeiras do Brasil. Os principais setores desse segmento são “[...] os de produtos alimentícios, químico, de veículos automotores, reboques e carrocerias, de máquinas e equipamentos (basicamente tratores e implementos agrícolas), de couros e calçados, de fumo e de produtos de metal” (FEE, 2011a, p. 08).

Tabela 14 – Participação e taxa de crescimento do VAB por setor de atividade do RS

(%) DISCRIMINAÇÃO 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Agropecuária 10.0 12.8 10.6 7.10 9.30 9.80 10.5 9.90 8.7 - Taxa crescimento - 16,4 -10,6 -17,4 50,1 12,7 -5,4 2,9 7,9 18,7 Indústria 28.0 28.1 31.5 30.3 28.1 26.6 26.5 29.2 29.2 - Taxa Crescimento - 0,9 7,1 -4,1 -2,0 4,7 3,0 -7,4 9,3 2,8 Indústria de Transformação 21.6 22.2 24.5 23.0 20.8 19.6 19.9 22.0 21.3 - Taxa Crescimento - 1,0 7,0 -5,2 -2,6 5,8 2,7 -10,0 8,3 2,4 Serviço 62.0 59.0 57.9 62.6 62.6 63.5 62.9 60.9 62.1 - Taxa Crescimento - -0,2 4,2 0,2 3,0 6,0 3,3 2,0 5,0 4,5 Fonte: FEE, 2013f.

Como o setor industrial envolve atividades ricas em pesquisas e desenvolvimento e em tecnologia, investimentos são estritamente necessários para garantir a sua competitividade diante dos processos de globalização. A reativação dos investimentos e o aproveitamento da demanda interna são requisitos para a recuperação da indústria brasileira. Também, a queda na taxa de juros, que vem sendo promovida pelo Banco Central, pode contribuir para o reaquecimento da atividade. Ademais, com as previsões para a estagnação da economia mundial para os próximos anos, medidas de incentivo aos investimentos, à inovação, ao comércio exterior e à defesa do mercado interno podem contribuir para a retomada do crescimento das atividades industriais (ABDI, 2011).

A desaceleração do crescimento econômico do Brasil também se deve ao aumento das importações de bens e serviços, que reduziu o nível de atividade e de emprego do setor industrial. Esse setor, atualmente, passa por um encolhimento de sua produção e encontra

dificuldade em sustentar o seu crescimento. A produção industrial desacelera tanto com o decrescimento econômico nacional como internacional (ABDI, 2011).

Baseado no fato de que de 2011 para 2012 as exportações e importações apresentaram queda, corrobora mais para a ideia de que o PIB nacional é dependente do seu mercado interno. Ademais, o saldo da balança comercial do Brasil em 2012 apresentou o menor valor desde 2003, o mesmo ocorreu com a economia estadual. Em 2012, o saldo comercial do Brasil foi de US$ 19.430 milhões e o do RS foi de US$ 2.015 milhões, free on board, conforme dados disponibilizados pelo MDIC (Tabela 15).

Tabela 15 – Valor das exportações, importações e saldo da balança comercial do Brasil e do Rio Grande do Sul

(US$ milhões - FOB)

Discriminação 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 BRASIL X 60.439 73.203 96.677 118.529 137.807 160.649 197.942 152.995 201.915 256.040 242.580 M 47.243 48.326 62.836 73.600 91.351 120.617 172.985 127.722 181.768 226.246 223.149 Saldo 13.196 24.878 33.842 44.929 46.457 40.032 24.958 25.272 20.147 29.794 19.430 RS X 6.384 8.027 9.902 10.476 11.802 15.018 18.385 15.236 15.382 19.427 17.386 M 3.531 4.191 5.290 6.692 7.949 10.168 14.525 9.470 13.275 15.662 15.370 Saldo 2.852 3.837 4.612 3.784 3.853 4.849 3.860 5.766 2.107 3.765 2.015 Partic X RS / BR 10.6% 11.0% 10.3% 8.9% 8.6% 9.3% 9.3% 10.0% 7.6% 7.6% 7.2%

Fonte dados brutos BR: MDICb.

Fonte dados brutos RS: FEE, 2013c; MDIC, 2013c.

Notas: X refere-se às exportações; M às importações; Saldo ao saldo da balança comercial; Partic à participação; e BR ao Brasil.

Através do Gráfico 2 abaixo visualiza-se o crescimento das exportações gaúchas até o ano de 2008, onde atingiu o pico no valor de US$ 18,4 bilhões. Porém, nos dois anos seguintes, devido à crise pela qual passou a economia internacional, as exportações apresentaram queda.

Gráfico 2 – Valor das exportações do RS e participação em relação ao Brasil

(US$ Bilhões)

Fonte dados brutos: MDIC, 2013b.

As exportações do Brasil apresentaram queda de 5,3% em 2012 em relação ao ano de 2011. Em relação ao RS, a queda foi de 10,5% para o mesmo período. Isso fez com que, em 2011, o RS apresentasse uma participação no volume exportado a nível nacional de 7,59%, ficando na 4ª colocação entre os Estados da federação com maior volume exportado. São Paulo foi o Estado que deteve a primeira colocação, representando 23,4% das exportações nacionais em 2011. Porém, em 2012, o RS caiu para a 5ª colocação do ranking nacional, sendo responsável por 7,17% do volume exportado nacionalmente, perdendo uma posição para o estado do Paraná, conforme dados brutos do MDIC (Tabela 16).

Tabela 16 – Participação das exportações das unidades da federação no total do Brasil

(%) Unidade Federação 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 São Paulo 31.62 32.24 32.18 33.49 32.20 29.15 27.70 25.90 23.40 24.47 Minas Gerais 10.16 10.35 11.40 11.36 11.43 12.35 12.76 15.46 16.17 13.78 Rio de Janeiro 6.62 7.27 6.92 8.33 8.91 9.45 8.84 9.92 11.50 11.86 Paraná 9.78 9.73 8.47 7.27 7.69 7.70 7.34 7.02 6.79 7.30

Rio Grande do Sul 10.97 10.24 8.84 8.56 9.35 9.29 9.96 7.62 7.59 7.17

Pará 3.66 3.94 4.06 4.87 4.93 5.40 5.45 6.36 7.16 6.10 Mato Grosso 2.99 3.21 3.50 3.14 3.19 3.95 5.51 4.19 4.34 5.72 Espírito Santo 4.83 4.19 4.72 4.88 4.28 5.10 4.26 5.92 5.92 5.01 Bahia 4.45 4.21 5.05 4.92 4.61 4.39 4.58 4.40 4.30 4.64 Santa Catarina 5.06 5.03 4.72 4.34 4.60 4.21 4.20 3.76 3.54 3.68 Demais (1) 9.86 9.59 10.15 8.84 8.81 9.01 9.41 9.46 9.42 10.28 Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

Fonte dados brutos: MDIC, 2013b.

(1) Demais refere-se a outras UF e a consumo de bordo, mercadorias não declaradas, mercadorias nacionalizadas e mercadorias reexportadas.

No ano de 2011, segundo informação da ABDI (2011), o aumento das exportações brasileiras foi sustentado pela demanda dos países asiáticos, especificamente a China. Ao analisar as exportações da economia gaúcha por países de destino, o Estado acompanha a tendência nacional, sendo suas exportações para o país asiático correspondente a, aproximadamente, 17,4% do total exportado para o mesmo ano, enquanto que o total exportado para o país vizinho – Argentina – foi de, aproximadamente, 10%. Além da China e da Argentina, os Estados Unidos (7%) também são um dos principais mercados compradores do Rio Grande do Sul. Em relação aos países do MERCOSUL (Argentina, Paraguai e Uruguai), os três juntos representaram 15,9% e 14,5% das exportações do RS em 2011 e 2012, respectivamente, conforme dados da Tabela 17.

Tabela 17 – Participação das exportações do RS por países de destino

(%) Unidade Federação 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Alemanha 4.28 3.27 3.42 3.23 2.95 3.33 3.59 2.97 2.77 2.91 Argentina 7.57 8.87 10.18 9.33 9.86 8.80 13.96 10.93 10.18 8.86 Bolívia 0.62 0.73 0.79 0.67 0.64 0.74 0.80 0.95 0.86 1.15 Chile 2.58 2.97 3.95 3.45 2.70 2.24 1.45 2.36 2.04 2.68 China 8.96 7.18 5.04 6.45 9.80 10.48 15.64 15.56 17.41 16.45 Colômbia 0.98 1.02 1.06 1.01 0.94 0.71 0.86 1.06 1.18 1.17 Estados Unidos 22.25 19.54 18.24 14.96 11.80 13.35 8.18 7.96 7.10 7.81 Paraguai 1.56 1.78 1.95 2.87 2.80 3.48 2.71 4.02 3.24 3.04 Peru 0.49 0.58 0.69 0.78 0.76 0.91 0.72 1.15 1.21 1.46 Reino Unido 3.11 3.15 3.23 2.74 2.38 2.06 1.99 1.94 1.33 1.35 Uruguai 1.20 1.51 1.81 1.81 2.35 2.05 2.70 2.24 2.51 2.57 Venezuela 0.65 1.92 1.48 1.74 2.07 2.12 1.68 1.57 2.31 2.22 Fonte dados brutos: MDIC, 2013b.

As exportações totais do RS apresentaram queda de 10,5% em 2012 com relação ao