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As negociações internacionais entre Brasil e Argentina no contexto do Mercosul e a influência das políticas nacionais sobre o desenvolvimento regional

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento

Gestão de Organizações para Desenvolvimento

AS NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS ENTRE BRASIL E ARGENTINA NO CONTEXTO DO MERCOSUL E A INFLUÊNCIA DAS POLÍTICAS NACIONAIS

SOBRE O DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Jaqueline Primo Nogueira de Sá

Orientador: Drº. Argemiro Luís Brum

Ijuí 2013

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento

Gestão de Organizações para o Desenvolvimento

AS NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS ENTRE BRASIL E ARGENTINA NO CONTEXTO DO MERCOSUL E A INFLUÊNCIA DAS POLÍTICAS NACIONAIS

SOBRE O DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gestão de Organizações e Desenvolvimento da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Jaqueline Primo Nogueira de Sá

Orientador: Profº. Drº. Argemiro Luís Brum

Ijuí 2013

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S111n Sá, Jaqueline Primo Nogueira de. As negociações internacionais entre Brasil e Argentina no contexto do MERCOSUL e a influência das políticas nacionais sobre o desenvolvimento regional / Jaqueline Primo Nogueira de Sá. – Ijuí, 2013. –

110 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: Argemiro Luís Brum”.

1. Relações internacionais. 2. MERCOSUL. 3. Relações internacionais - Desenvolvimento. 4. Relações internacionais - Brasil. 5. Relações internacionais – Argentina. I. Brum, Argemiro Luís. II. Título.

CDU: 327 330

Catalogação na Publicação

Tania Maria Kalaitzis Lima CRB10/1561

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

A ASSNNEEGGOOCCIIAAÇÇÕÕEESSIINNTTEERRNNAACCIIOONNAAIISSEENNTTRREEBBRRAASSIILLEEAARRGGEENNTTIINNAANNOO C COONNTTEEXXTTOODDOOMMEERRCCOOSSUULLEEAAIINNFFLLUUÊÊNNCCIIAADDAASSPPOOLLÍÍTTIICCAASS N NAACCIIOONNAAIISSSSOOBBRREEOODDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOORREEGGIIOONNAALL elaborada por

JAQUELINE PRIMO NOGUEIRA DE SÁ

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Argemior Luís Brum (UNIJUÍ): _________________________________________

Prof. Dr. Florisbal de Souza Del´Olmo (URI/SA): _________________________________

Prof. Dr. Gilmar Antonio Bedin (UNIJUÍ): ________________________________________

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Existem duas respostas frequentes para qualquer grande evento histórico, ambas inapropriadas, senão totalmente equivocadas: dizer que tudo mudou ou dizer que nada mudou.

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RESUMO

O presente trabalho tratou das interferências das políticas nacionais, particularmente as políticas industriais e comerciais, do Brasil e da Argentina sobre as negociações internacionais de ambos os países no âmbito do bloco econômico MERCOSUL. Para que os acordos internacionais atinjam os objetivos traçados nos seus tratados formadores e promovam o desenvolvimento econômico de uma região, as políticas nacionais devem ser coordenadas com as diretrizes internacionais do bloco, e não divergentes. Em vista disso, pretendeu-se analisar de que forma as políticas industriais do Brasil e da Argentina são conflitantes com as diretrizes do MERCOSUL para o setor industrial, bem como as consequências que isso gera para o segmento da indústria metal-mecânica do Noroeste do Rio Grande do Sul e, consequentemente, para o desenvolvimento socioeconômico dessa região.

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ABSTRACT

The following paper aimed to study the interferences from Brazil’s and Argentina’s national policies – commercial and industrial policies – beyond their international relationships under the economic block MERCOSUL. The national policies from both countries should be coordinated with the international agreements they are signed in, but not against them, to achieve the outcomes designed in their MERCOSUL contract, and even to promote the economic development from a certain region. On account of that, this paper analyzed how the industrial policies from Brazil and Argentina were against the MERCOSUL agreement impacting the industrial sector, in particular the metal mechanic industrial sector from the Northwest side of the State of Rio Grande do Sul, Brazil. After that, it was possible to infer about the impact of it to the economic development from this particular region.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

TABELAS

Tabela 01 - Dados gerais das mesorregiões do Rio Grande do Sul ... 20

Tabela 02 - Índice de Gini de países selecionados ... 50

Tabela 03 - Informações gerais sobre a economia do Brasil e da Argentina ... 57

Tabela 04 - Participação do comércio exterior de mercadorias no PIB ... 58

Tabela 05 - Informações sobre o comércio exterior do Brasil e da Argentina... 59

Tabela 06 - Exportações e importações totais do MERCOSUL e países do bloco ... 60

Tabela 07 - Exportações e importações totais do Brasil e coeficiente de integração do Brasil em relação ao MERCOSUL ... 61

Tabela 08 - Valor das exportações, importações e saldo da balança comercial do Brasil para o MERCOSUL e Argentina ... 62

Tabela 09 - Crescimento anual das exportações de mercadorias e serviços por países selecionados ... 63

Tabela 10 - Participação do VAB por setor de atividade a preços básicos do Brasil ... 64

Tabela 11 - Taxas médias anuais de crescimento do VAB do Brasil ... 64

Tabela 12 - Crescimento anual do PIB por países selecionados ... 65

Tabela 13 - Valor e taxa de crescimento do PIB a preços correntes do Brasil e do RS e a participação do PIB regional no PIB nacional ... 66

Tabela 14 - Participação e taxa de crescimento do VAB por setor de atividade do RS .. 67

Tabela 15 - Valor das exportações, importações e saldo da balança comercial do Brasil e do Rio Grande do Sul ... 68

Tabela 16 - Participação das exportações das unidades da federação no total do Brasil ... 69

Tabela 17 - Participação das exportações do RS por países de destino ... 70

Tabela 18 - Participação das exportações, segundo as seções e os capítulos da NCM, do Brasil, em percentagem ... 72

Tabela 19 - Participação das exportações, segundo as seções e os capítulos da NCM, do RS, em percentagem ... 74

Tabela 20 - Participação exportação segundo setor de atividade do Brasil e do RS ... 75

Tabela 21 - Participação exportação segundo indústria de transformação do Brasil e do RS ... 76

Tabela 22 - Participação exportação segundo indústria de transformação do RS nas exportações do Brasil ... 76

Tabela 23 - Número de empresas e do pessoal ocupado total e na indústria de transformação no Brasil e no RS ... 77

Tabela 24 - Informações sobre as relações internacionais do Brasil e da Argentina, em 2011 ... 83

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Tabela 25 - Valor das exportações, importações e saldo da balança comercial do Rio Grande do Sul e da Microrregião Santa Rosa ... 87 Tabela 26 - Exportações e importações totais dos municípios da microrregião Santa

Rosa do Noroeste do RS ... 88 Tabela 27 - VAB, PIB, população e taxa de urbanização dos municípios da microrregião

Santa Rosa do Noroeste do RS em 2010 ... 89

GRÁFICOS

Gráfico 01 - Grau de abertura da economia brasileira ... 34 Gráfico 02 - Valor das exportações do RS e participação em relação ao Brasil ... 69

MAPA

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial ALADI - Associação Latino Americana de Integração ALALC - Associação Latino Americana de Livre Comércio BIRD - Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento BR - Brasil

BRICS - Agrupamento Brasil-Rússia-Índia-China-África do Sul CARICON - Caribean Community

CCM - Comissão de Comércio

CEPAL - Comissão Econômica para Países da América Latina CMC - Conselho do Mercado Comum

CMPED - Centro MERCOSUL de Promoção do Estado de Direito CNAE - Classificação Nacional de Atividade Econômica

EUA - Estados Unidos da América

FCES - Foro Consultivo Econômico e Social FEE - Fundação de Economia e Estatística FHC - Fernando Henrique Cardoso

FMI - Fundo Monetário Internacional GMC - Grupo Mercado Comum

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

LULA - Luís Inácio Lula da Silva

MAC - Mecanismo de Adaptação Competitiva MCCA - Mercado Comum Centro Americano

MDIC - Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio MERCOSUL - Mercado Comum do Sul

NAFTA - Tratado Norte-Americano de Livre Comércio NCM - Nomenclatura Comum do MERCOSUL

OMC - Organização Mundial do Comércio ONU - Organização das Nações Unidas

PAC - Programa de Aceleração do Crescimento PIB - Produto Interno Bruto

PITCE - Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior PM - Comissão Parlamentar Conjunta

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PNUD - Programa Nacional das Nações Unidas para o Desenvolvimento RS - Rio Grande do Sul

SELA - Sistema Econômico Latino Americano SM - Secretaria Administrativa

TAL - Tribunal Administrativo Trabalhista TEC - Tarifa Externa Comum

TPR - Tribunal Permanete de Revisão UE - União Europeia

UNCTAD - Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento VAB - Valor Adicionado Bruto

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SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE ABREVIATURAS SUMÁRIO INTRODUÇÃO ... 11 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO ... 13

1.1 Apresentação do Tema e do Problema ... 13

1.2 Objetivos ... 14

1.3 Justificativa ... 14

1.4 Metodologia ... 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 23

2.1 Negociações Internacionais e a Formação de Blocos Econômicos ... 23

2.1.1 Os processos de globalização e regionalização das economias ... 24

2.1.2 A abertura econômica e a formação de blocos regionais ... 30

2.2 O MERCOSUL ... 38

2.3 Comércio e Desenvolvimento ... 44

2.3.1 Noções introdutórias ... 44

2.3.2 O comércio como propulsor do desenvolvimento econômico ... 51

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 56

3.1 A Economia Nacional e Regional com Foco no Setor Industrial e suas Relações com a Argentina no MERCOSUL ... 56

3.2 As Políticas Nacionais Adotadas pelo Brasil e pela Argentina ... 77

3.3 A Interferência das Políticas Nacionais sobre as Negociações Internacionais no Contexto do MERCOSUL e o Reflexo sobre o Desenvolvimento ... 84

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 94

REFERÊNCIAS ... 98 ANEXOS

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INTRODUÇÃO

Em virtude de a globalização ser tão presente na vida das pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas, entidades privadas ou públicas, nações ou regiões, repercutindo de forma a gerar ganhos e danos, este trabalho teve a pretensão de realizar um estudo mais aprofundado sobre as negociações internacionais entre o Brasil e a Argentina, no contexto do bloco econômico MERCOSUL. Com ele busca-se identificar as interferências das políticas nacionais sobre tais negociações e os reflexos no desenvolvimento regional.

Para tanto, torna-se pertinente um exame detalhado das negociações internacionais, favorecidas com os processos de globalização e regionalização em curso e a consequente formação de blocos regionais, para entender como se deu a construção do MERCOSUL. A partir daí pergunta-se de que forma essas relações internacionais no âmbito do bloco favorecem o desenvolvimento socioeconômico de uma nação e região e de que forma o comércio pode ser considerado propulsor desse desenvolvimento.

O estudo leva em conta a influência, tanto das políticas de comércio exterior quanto das políticas industriais e comerciais, dos dois principais parceiros no MERCOSUL sobre a construção de uma política comum, com ênfase nos reflexos desta realidade a partir da análise do setor industrial do Noroeste do Rio Grande do Sul (RS). Portanto, examinar as políticas nacionais do Brasil e da Argentina e verificar o impacto das mesmas sobre as diretrizes do tratado firmado para a constituição do bloco regional é relevante para, posteriormente, verificar como essas colaboram ou não para a concretização do bloco e, consequentemente, para o desenvolvimento das nações envolvidas.

Isso justifica-se diante de um contexto de globalização e crises mundiais, que levam ao questionamento dos blocos econômicos vigentes. Também a proliferação de tratados e acordos internacionais, muitas vezes conflitantes com a legislação interna de cada país, os leva a descumprirem as diretrizes de tais tratados e acordos, ficando aquém de cumprirem suas metas e o desenvolvimento almejado. A escolha de Brasil e Argentina justifica-se pela importância que ambos exercem dentro do MERCOSUL. Já a escolha do setor industrial do Noroeste do RS é devido à importância desse segmento, não apenas nas exportações

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nacionais, mas também gaúchas, além dessa região ser fronteiriça com a Argentina, fato que, teoricamente, deveria ser um facilitador e estimulador das transações com o país vizinho.

O método utilizado foi o fenomenológico, com uma abordagem de investigação do tipo quanti-quali. O caráter da pesquisa é explanatório, descritivo e explicativo, sendo de natureza aplicada básica. A coleta de dados baseou-se em dados primários – aplicação de questionário – e em dados secundários – pesquisa bibliográfica e documental. Para critério de análise considerou-se apenas aquelas atividades do grande grupo da indústria de transformação – metalurgia básica; siderurgia; fabricação de equipamentos de informática e produtos eletrônicos; fabricação de máquinas e equipamentos para agricultura, pecuária e construção civil; fabricação de veículos diversos; entre outras – e relacionadas de acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) do IBGE (2012).

Além desta introdução, o presente trabalho iniciou contextualizando o estudo em questão, versando sobre a apresentação do tema e do problema, os objetivos geral e específicos, a justificativa para a escolha do mesmo e a metodologia empregada, valendo-se da concepção de que todo o trabalho para ser considerado científico deve estar baseado e fundamentado numa metodologia científica. Após, no referencial teórico, o qual serviu de base de sustentação para a análise e assertivas acerca dos resultados encontrados, buscou-se na literatura tanto os conceitos como a contextualização dos temas envolvidos no estudo, sendo eles: os processos de globalização e regionalização das economias em direção à formação de blocos econômicos; a formação e constituição do MERCOSUL; e o comércio como propulsor do desenvolvimento econômico. Posteriormente, na apresentação e análise dos resultados, os dados coletados foram compilados em gráficos e tabelas para uma melhor análise e posterior avaliação com base no referencial teórico exposto. Foram apresentadas as características das economias nacional e regional, com foco no comércio exterior e setor industrial; bem como as políticas nacionais praticadas pelo Brasil e Argentina, além das relações intrabloco desses principais países, destacando a interferência das mesmas sobre o desenvolvimento regional. Por fim, foram apresentadas as considerações finais e recomendações para próximos estudos, seguido do referencial teórico utilizado e dos anexos considerados importantes.

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

1.1 Apresentação do Tema e do Problema

Com o aumento da globalização verifica-se uma tendência à regionalização, podendo a mesma ser representada pela formação de blocos econômicos. A união de países em blocos e a formulação de políticas gerais intrabloco a serem seguidas pelos países membros visa, dentre outros fatores, o desenvolvimento dos países envolvidos. É por meio dos blocos econômicos que os países membros buscam negociações internacionais mais equitativas, que garantam a sua permanência e o seu desenvolvimento num mundo mais competitivo.

As políticas nacionais, tanto industriais como comerciais, exercem influência significativa sobre as negociações no âmbito internacional. Algumas vezes, essas políticas são conflitantes com as diretrizes, acordos e normas internacionais. Então, para que o crescimento e o desenvolvimento econômico de um país sejam alcançados é necessário que as políticas internacionais contemplem os interesses nacionais e vice-versa. Ou seja, políticas incompatíveis com tais interesses, mesmo num cenário de negociações multilaterais, podem gerar conflitos comerciais entre as partes e inviabilizar a consolidação do bloco econômico.

Com base no contexto acima, o tema proposto é o estudo das negociações internacionais entre o Brasil e a Argentina, no contexto do bloco econômico MERCOSUL, buscando identificar as interferências das políticas nacionais sobre tais negociações e os reflexos no desenvolvimento regional. Para tanto, a análise dar-se-á a partir do estudo do setor industrial metal-mecânico do Noroeste do Rio Grande do Sul (RS) no período de 2002 a 2012.

Diante desse tema, pergunta-se: como as políticas nacionais do Brasil e da Argentina interferem nas negociações intrabloco do MERCOSUL e quais os seus reflexos sobre o desenvolvimento regional?

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1.2 Objetivos

GERAL

Analisar de que forma as políticas nacionais do Brasil e da Argentina interferem nas negociações internacionais do MERCOSUL e refletem no desenvolvimento de uma região a partir do estudo do setor industrial metal-mecânico do Noroeste do Rio Grande do Sul.

ESPECÍFICOS

a) examinar as negociações internacionais e a formação do MERCOSUL; b) examinar as políticas comerciais praticadas pelo Brasil e pela Argentina; c) examinar as políticas industriais do Brasil e da Argentina;

d) verificar como essas políticas interferem na construção e consolidação do MERCOSUL e seus reflexos no desenvolvimento regional;

e) verificar se as políticas nacionais colaboram ou não para a concretização do bloco e o desenvolvimento socioeconômico de regiões brasileiras.

1.3 Justificativa

O tema proposto é relevante diante de um contexto de globalização e, ao mesmo tempo, intensa formação e questionamentos dos blocos econômicos. A regionalização das economias, através da formação de blocos econômicos, é uma alternativa percebida pelos Estados para a garantia da soberania nacional (assunto esse também bastante debatido e polêmico, embora não seja o objeto de estudo do presente trabalho).

As relações entre Brasil e Argentina, no âmbito do MERCOSUL, visam, dentre outros fatores, ao aumento do poder de negociação com outros blocos regionais e ao fortalecimento de suas economias internas. Porém, sabe-se que os países signatários do bloco, em especial o Brasil e a Argentina, muitas vezes desrespeitam as diretrizes estabelecidas intrabloco. No caso desses dois países, a comercialização entre ambos é travada no contexto de diversas barreiras – tarifárias e não tarifárias –, estando longe de se praticar o livre comércio.

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Diante disso, justifica-se um estudo mais aprofundado sobre as interferências das políticas industriais e comerciais de cada um desses dois países no contexto das diretrizes gerais desenvolvidas no âmbito do MERCOSUL, e como isso interfere no desenvolvimento de regiões específicas, no caso a região Noroeste do Rio Grande do Sul. O estudo leva em conta a influência das políticas nacionais dos dois principais parceiros no MERCOSUL sobre a construção de uma política comum, com ênfase nos reflexos desta realidade a partir da análise do setor industrial metal-mecânico do RS.

Ademais, o presente estudo está vinculado a duas vertentes de pesquisas abordadas no Mestrado em Desenvolvimento da UNIJUÍ. Trata-se da área de “Direitos Humanos e Desenvolvimento”, com foco na linha de pesquisa “Direitos Humanos, Relações Internacionais e Desenvolvimento”, dentro dos temas “Estado, cooperação internacional e interdependência” e “Comércio internacional, desenvolvimento e equidade”. A segunda vertente é a área de “Gestão de Organizações e Desenvolvimento”, tendo como foco as pesquisas vinculadas à linha de “Desenvolvimento Local e Gestão do Agronegócio”, dentro do tema “Globalização e as dinâmicas locais de desenvolvimento”.

1.4 Metodologia

A produção de conhecimento gera a necessidade da adoção de uma metodologia científica para a sua transformação em ciência e, por conseguinte, sua validação e aceitação no meio acadêmico. Existem diversos métodos que derivam, basicamente, de três grandes correntes metodológicas de pensamento, as quais são: positivismo, materialismo dialético e fenomenologia (TRIVIÑOS, 1987). Esses métodos possuem como representantes máximos Augusto Comte, Karl Marx e Hurssel, respectivamente.

O empirismo científico – posteriormente conhecido como positivismo – caracteriza-se pelo predomínio da razão sobre a subjetividade. É considerado um método dedutivo, considerando que “[...] só a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro” (GIL, 2010, p. 9). Por isso, utiliza-se da experimentação para a comprovação do objeto em estudo, sendo que a dúvida levaria a experimentação que, por conseguinte, permititia a comprovação ou não do objeto, e, posteriormente, a elaboração de uma lei científica e universal.

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O positivismo científico corresponde a uma ontologia realista, onde se admite uma única realidade e a existência de leis imutáveis, estando o pesquisador distante do objeto de estudo. Preconiza a objetividade nas pesquisas, utilizando-se de procedimentos rigorosos (BICUDO, 2000). De acordo com Sousa (2006), o positivismo caracteriza-se pela ditadura do método, a qual representaria a garantia para a validação dos resultados atingidos.

O realismo crítico – materialismo dialético –, admite uma ligação entre a ontologia, a epistemologia e a metodologia. Através da ontologia – teoria do ser – a explicação da realidade está no ser, no indivíduo, no homem. Pela epistemologia – teoria do conhecimento – o estudo baseia-se no conhecimento e nos dados disponíveis da realidade, é o estudo científico da ciência e do conhecimento. Já através da metodologia, há a tentativa de realmente explicar tal realidade e não apenas descrevê-la (RESENDE, 2009).

Esse método pressupõe que a realidade existe independentemente da percepção e da observação que os indivíduos fazem dela. Enxerga a sociedade como uma estrutura pré-estabelecida por atores que nos antecederam, ou seja, as estruturas existem antes mesmo de serem objeto de estudo científico. Apesar disso, os indivíduos que aqui estão no momento presente são capazes de reproduzir e transformar tal estrutura social dada anteriormente, defendendo a existência de múltiplas realidades, dependendo da interpretação que cada um faz dela. Tal realidade pode ser diferente de como a concebemos, pois ela é flexível, mutável e complexa (RESENDE, 2009).

Já a fenomenologia, corresponde ao estudo dos fenômenos, dos acontecimentos, das experiências. A palavra fenomenologia tem origem grega, onde “phänomeno” significa aquilo que se apresenta, e “logia” significa estudo. Esses estudos derivam da percepção de mundo do investigador. De acordo com FERREIRA (2009, p. 887), corresponde a um “[...] estudo descritivo de um fenômeno [...], um método que busca a volta ‘às coisas mesmas’, numa tentativa de reencontrar a verdade nos dados originários da experiência, entendida esta como a intuição das essências”.

Por isso, a fenomenologia não trata do estudo de uma realidade única, mas sim, de múltiplas realidades, dependendo da consciência de quem a vê num determinado momento. As realidades são “[...] tantas quantas forem suas interpretações e comunicações” (GIL, 2010,

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p. 15). Dessa forma, uma realidade nunca é conhecida plenamente, sendo construída de acordo com a percepção de mundo de cada observador.

Ademais, a realidade é tida como um processo dinâmico, em construção e transformação infinitas, sendo criada pelo observador. Aqui, eleva-se “[...] a importância do sujeito no processo da construção do conhecimento” (TRIVIÑOS, 1987, p. 48). Como tal método científico baseia-se na consciência individual, o objeto de estudo é influenciado pela intencionalidade do pesquisador – intenção em estudá-lo, em observar um acontecimento, criando, assim, uma realidade.

Verifica-se que a intencionalidade, ideia central do método fenomenológico, reconhece que “[...] não existe objeto sem sujeito” (TRIVIÑOS, 1987, p. 43), sendo a vivência e a consciência do pesquisador o cerne dessa metodologia. Dessa forma, a construção do conhecimento através do método fenomenológico dar-se-á através da interação do sujeito com o objeto de estudo. De acordo com Bicudo (2000, p. 18), “[...] o conhecimento não é inato, e sim edificado ao longo da vida, [...] é construído pelo sujeito em uma relação sujeito-objeto”.

Portanto, para que esse estudo impregnado de subjetividade seja considerado científico, há necessidade da “redução fenomenológica”, a qual consiste em “colocar entre parênteses” a realidade exterior, as crenças, os valores e os costumes do pesquisador. Dessa forma, procura-se evitar a interferência das experiências individuais do pesquisador e dos fatores externos sobre o objeto de estudo, preservando o foco apenas no fenômeno a ser estudado, buscando, assim, a sua essência, a qual deve prevalecer sobre a forma para que o estudo seja livre de ambiguidades (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998).

Em relação à pesquisa propriamente dita, a mesma pode ser definida como explanatória, descritiva ou explicativa. Por meio da explanação, o objetivo é esclarecer algum conhecimento pouco explorado e o que é dado, apresentar uma visão geral sobre o objeto a ser estudado. A mesma não se baseia num planejamento rigoroso de coleta de dados. Já a pesquisa descritiva visa descrever certo fenômeno e a pesquisa explicativa “[...] têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos [...]” (GIL, 2010, p. 28).

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Assim, verifica-se diversos meios utilizados pelo pesquisador para a realização de sua pesquisa, sendo os mesmos usados de forma individual ou conjunta. Tais meios técnicos podem ser questionários, entrevistas, método observacional, levantamento bibliográfico e documental, entre outros. Dessa forma, procura-se garantir certa validade e precisão aos dados informados e, assim, a cientificidade do estudo elaborado.

A preferência de um em detrimento do outro será determinada pela natureza do objeto a ser estudado, pelos recursos disponíveis para a execução da pesquisa, pelo nível de abrangência necessária, pela preferência do pesquisador, entre outros (GIL, 2010). Normalmente, o campo das ciências exatas, como a física e a matemática, fazem uso do positivismo. Já os estudos das ciências sociais dão preferência ao método fenomenológico.

O que é importante frisar no presente contexto é que o objetivo de uma pesquisa social, independente do método utilizado, “[...] é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos. [...] a pesquisa social [...] permite a obtenção de novos conhecimentos no campo da realidade social” (GIL, 2010, p. 26).

Portanto, o que todo pesquisador busca é uma melhor explicação da realidade, pois admite-se, de acordo com a teoria da complexidade, que não existe uma verdade absoluta, a verdade é sempre relativa. Como também diz Sousa (2006, p. 151)

As verdades de hoje são substituídas pelas novidades de amanhã. Não só o cenário da realidade muda, como muda também nossa própria forma de ver o mundo. [...] Não fosse assim, não precisaríamos mais fazer ciência, considerando que já teríamos a mão todo o conhecimento necessário. Contudo, precisamos sempre pesquisar, não só porque a realidade é ampla e complexa e não detemos todo o conhecimento sobre o mundo, mas também o que já conhecemos sobre os fenômenos da realidade é insuficiente e discutível.

Na pesquisa proposta, o método utilizado será o fenomenológico, consistindo em uma análise descritiva e indutiva. Segundo sua natureza, é uma pesquisa aplicada básica, pois procurar-se-á entender o impacto das políticas nacionais para o sucesso e/ou fracasso das negociações internacionais em nível do MERCOSUL. Com isso, pretende-se identificar pontos conflitantes entre políticas nacionais e acordos internacionais, os quais deveriam ser congruentes para que vinguem e tragam benefícios para ambos os países. Para isso, utilizar-se-á de referencial teórico sobre os temas a serem discutidos e analisados, tratando-se de uma

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pesquisa descritiva e explicativa, tendo como objetivo descrever e explicar tais fenômenos, identificando os fatores que contribuem para que o mesmo ocorra.

A abordagem de investigação será do tipo quanti-quali. Para as análises referentes às negociações internacionais, ao MERCOSUL e às políticas industriais e comerciais adotar-se-á uma análise regrada pela abordagem qualitativa. Já os dados coletados referentes às atividades das indústrias do setor metal-mecânico do Noroeste do Rio Grande do Sul, bem como outros dados a nível nacional e internacional considerados relevantes para o estudo em questão, serão analisados através da abordagem quantitativa.

Da mesma forma, a coleta de dados dar-se-á por meio do manuseio de sites oficiais e diversos textos sobre o tema em questão, como também por meio da observação e implementação de questionário, constituindo-se, portanto, em dados primários e secundários. Assim, os procedimentos técnicos a serem adotados serão tanto a pesquisa bibliográfica e documental como a pesquisa de campo – análise de indústrias do segmento metal-mecânico localizadas no Noroeste do Rio Grande do Sul que comercializam com a Argentina –, com o intuito de buscar respostas ao problema proposto. A partir daí, os dados serão compilados em gráficos e tabelas para que sejam analisados e interpretados. A delimitação, agregação e organização dos dados e informações coletados permitirão organizar um corpo de análise.

Sendo assim, os objetos de estudo são as negociações internacionais, no âmbito do MERCOSUL, entre Brasil e Argentina, tendo como foco o setor industrial metalomecânico do Noroeste do Rio Grande do Sul. Os sujeitos da pesquisa são essencialmente os países membros do bloco com maior importância e poder – Brasil e Argentina – e os representantes de indústrias do setor metal-mecânico do Noroeste do Rio Grande do Sul.

O critério adotado para a seleção desses dois países é o forte papel que ambos exercem dentro desse bloco econômico por serem os países que apresentam maior expressão tanto econômica, como política e territorial. O Brasil apresentou um Produto Interno Bruto (PIB) de US$2,476 trilhões, ao passo que o da Argentina foi de US$446 bilhões (estimativas 2011, BANCO MUNDIAL, 2013a). Em relação à população, em 2011, foi de 196,7 milhões de habitantes no Brasil e 40,8 milhões no país vizinho (PNUD, 2013). Ademais, “para que uma integração regional tenha êxito, torna-se crucial que todos os seus sócios enveredem por um

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caminho de aprendizagem sobre os Estados-membros” (HIRST; BEZCHINSKY; CASTELLANA, 1994, p.5).

Quanto à consideração da região Noroeste do Estado do RS para o estudo, essa faz fronteira com a Argentina (Mapa 1), detém a maior área territorial do Estado gaúcho (23%) e, atrás apenas da região metropolitana de Porto Alegre, apresenta o maior índice populacional do Estado (18%), conforme dados disponibilizados pela FEE (2013b) e Tabela 1 abaixo.

Tabela 1 – Dados gerais das mesorregiões do Rio Grande do Sul

Mesorregiões IDESE 2009 (1) Área Territorial (km²) Part População Total 2011 Part Taxa Urbanização 2010 (%) Exportações Totais 2010 (US$ FOB) Part Noroeste 0,751 64.930.582 23% 1.948.852 18% 71,4 1.177.819.372 8% Sudoeste 0,762 62.681.156 22% 723.388 7% 86,6 582.859.225 4% Sudeste 0,759 42.539.654 15% 914.158 9% 82,4 1.771.517.046 12% Metropolitana de POA 0,792 29.734.982 11% 4.767.808 44% 93,9 7.245.812.453 47% Centro Ocidental 0,764 25.954.689 9% 538.131 5% 80,9 104.398.596 1% Nordeste 0,806 25.854.284 9% 1.061.793 10% 85,5 1.621.035.286 11% Centro Oriental 0,731 17.192.037 6% 781.760 1% 69,8 2.168.425.058 14% RS 0,776 281.748.538 100% 10.735.890 100% 85,1 15.382.445.82 100%

Fonte dados brutos: FEE, 2013b.

(1) Índice de Desenvolvimento Socioeconômico.

No Estado do Rio Grande do Sul são sete as mesorregiões conforme a Fundação de Economia e Estatística (FEE, 2013e), sendo elas: Centro Ocidental Rio-Grandense, Centro Oriental Rio-Grandense, Metropolitana de Porto Alegre, Nordeste Rio-Grandense, Noroeste Rio-Grandense, Sudeste Rio-Grandense e Sudoeste Rio-Grandense. As mesmas podem ser visualizadas através do mapa a seguir.

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Mapa 1 – Mesorregiões geográficas do Rio Grande do Sul Fonte: FEE, 2013e.

A escolha do setor industrial metal-mecânico do Noroeste do Rio Grande do Sul para compor o objeto de análise do presente estudo é justificada pela importância desse segmento tanto a nível regional como nacional, sendo composto por um grande número de estabelecimentos de porte significativo. Esse setor representou 17,8% e 22,8% dos produtos exportados pelo RS e pelo Brasil, respectivamente, conforme dados para o período de janeiro a outubro de 2011 disponibilizados pelo MDIC (2012). Também, por ter se constatado que certos estabelecimentos da região enfrentam dificuldades em suas negociações internacionais com o país vizinho devido, por exemplo, ao excesso de burocratização e à incidência de tributos elevados, que acabam servindo de barreiras não tarifárias.

Em relação ao segmento metal-mecânico, os setores mais importantes são automóveis, eletrodomésticos linha-branca, eletrodomésticos linha-marrom, laminados de aço, máquinas e equipamentos industriais e comerciais. Apesar disso, para fins de pesquisa, considerou-se as atividades diretamente vinculadas ao setor de acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) (ANEXO 1) disponibilizada pelo IBGE (2012), correspondendo às seguintes dentro do grande grupo de indústria de transformação:

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a) metalurgia básica (produção de ferro-gusa e ferroligas, siderurgia, produção de tubos de aço, metalurgia dos metais não-ferrosos como alumínio e cobre, fundição); b) fabricação de outros produtos metalúrgicos (estruturas metálicas, esquadrias,

tanques, reservatórios, cutelaria, ferramentas, equipamentos bélicos, embalagens); c) fabricação de equipamentos de informática e produtos eletrônicos (periféricos,

equipamentos de comunicação, aparelhos eletrodomésticos);

d) fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (geradores, pilhas, baterias, fios, cabos, condutores, lâmpadas, eletrodomésticos);

e) fabricação de máquinas e equipamentos de uso geral, para agricultura e pecuária (tratores), para extração mineral e construção civil, para uso industrial específico; f) fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias e outros equipamentos

de transporte (automóveis, caminhões, ônibus, embarcações, ferrovias, aeronaves, outros veículos, peças e acessórios).

Visto isso, torna-se pertinente, a seguir, referenciar os aspectos teóricos sobre os objetivos propostos. Assim, e com base na metodologia elucidada, o objetivo geral do presente estudo, bem como o problema apresentado, poderão ter um embasamento científico ancolkl;kl;kl;rado em autores renomados e os fenômenos que os norteiam poderão ser melhor compreendidos.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Para a elaboração do presente tralhado e um melhor entendimento de como as negociações internacionais entre o Brasil e a Argentina são imprescindíveis para o desenvolvimento socioeconômico de ambas as regiões e principalmente da atividade local – industrial metal-mecânica do Noroeste do Rio Grande do Sul –, uma revisão sobre o que a literatura diz a respeito dos assuntos pertinentes ao tema, bem como aqueles tangentes ao mesmo – globalização e regionalização, negociações internacionais, formação de blocos econômicos, MERCOSUL, comércio exterior e desenvolvimento – é fundamental para a compreensão do processo de desenvolvimento econômico regional. O referencial teórico iniciar-se-á tratando das negociações internacionais e a consequente formação de blocos econômicos, no qual versar-se-á sobre temas centrais dos processos – globalização, regionalização e abertura econômica. Posteriormente, é importante discorrer a respeito da formação do MERCOSUL. Por fim, mas não menos importante, a literatura mostrará as relações entre o comércio exterior e o desenvolvimento, apresentando noções introdutórias sobre o assunto e a forma com que esse comércio propulsiona o desenvolvimento socioeconômico de uma nação.

2.1 Negociações Internacionais e a Formação de Blocos Econômicos

Nos dias de hoje, onde as economias estão cada vez mais interligadas, seja através de forma física ou virtual, o fato é que são poucos os países que sobreviveriam sozinhos, de forma isolada, para não ser pessimista demais afirmando que nenhuma economia teria condições de ser autossuficiente em tudo. Até mesmo Cuba, uma nação que se manteve por muito tempo isolada do resto do mundo, está cada vez mais abrindo suas portas às facilidades e atratividades provenientes do mundo contemporâneo. Portanto, a seguir, analisar-se-á os movimentos globalizantes e, consequentemente, regionalizantes das economias, dos quais derivam a formação de blocos econômicos como forma de proteção ao global, intensificação do local, desenvolvimento e crescimento econômico. A abertura econômica, fortalecida com a democratização das economias, aparece como fator mobilizador e intensificador desses movimentos, também merecendo investigação.

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2.1.1 Os processos de globalização e regionalização das economias

Atualmente, evidenciam-se uma série de transformações, tanto na economia mundial como na economia interna dos países, decorrentes dos processos de globalização e de regionalização. O início dos movimentos de globalização é muito discutido no meio acadêmico. Diversos teóricos acreditam que o processo se iniciou nos séculos XV e XVI com o descobrimento das Américas através das grandes navegações. Outros consideram a globalização um processo mais recente, intensificado nos anos 1980 com as desregulamentações generalizadas das economias, possibilitando e gerando condições de concorrência no âmbito mundial. Também, com o surgimento da III Revolução Industrial, conhecida como Era da Informação e da Revolução Tecnológica, houve o desenvolvimento dos meios de transportes e das telecomunicações, encurtando distâncias e rompendo fronteiras, facilitando, assim, a globalização das economias (PETRAS apud MARCONDES, 2006).

De acordo com Souza (2004), a primeira onda de globalização foi entre 1870 e 1914 com o aumento do fluxo internacional de capitais e de mão de obra. A segunda onda foi entre 1950 e 1980 com a integração comercial entre as economias avançadas. Já a terceira onda, com início em 1980, teve como estímulo o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação e transporte e o surgimento da Internet. Apesar das contradições em relação ao início do processo globalizante, verifica-se que “[...] a globalização não é um fenômeno novo: é um novo nome que compreende diferentes processos sociopolíticos e econômicos” (PETRAS apud MARCONDES, 2006, p. 01).

Da mesma forma que há dificuldade e contradições em periodizar o início desse processo, o tema também é de difícil conceituação, pois envolve diversos segmentos das relações sociais, impactando diversas áreas. Pode-se defini-lo tanto como um processo econômico, quanto social, político, cultural e/ou religioso. Até mesmo se considerarmos apenas o lado econômico, o processo apresenta uma variedade de fenômenos, podendo ser conceituado numa perspectiva comercial, produtiva ou institucional.

Do ponto de vista econômico, globalização é a movimentação dos bens e serviços através das barreiras regionais, nacionais e/ou internacionais. Envolve o comércio

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internacional, onde as trocas unem os mercados. Segundo Baumann (1996a) e More (2006), como depende das ações de agentes individuais, ou seja, das empresas, é considerado um processo microeconômico e centrífugo, apesar das ações governamentais por meio de políticas comerciais e cambiais, por exemplo, facilitarem e estimularem essas trocas.

Na perspectiva comercial e produtiva, há homogeneização da demanda e da oferta, gerando ganhos de economia de escala, aumento do acordo cooperativo entre empresas para ampliar o acesso a tecnologias e redução de custos, entre outros. Segundo Palmeira (2005), a globalização produtiva está associada à revolução dos métodos de produção em que, por exemplo, as fases de produção de uma determinada mercadoria podem ser realizadas em qualquer lugar do mundo.

Do lado institucional, há o surgimento de outros atores internacionais com capacidade de influenciar o Estado-nação (BAUMANN, 1996a). Há a criação de novas instituições, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) (STIGLITZ, 2002). Assim, a globalização causa, de certa forma, perda de soberania econômica e política. A política nacional passa a ser subordinada a condicionantes externos e a incluir em sua agenda fatores supranacionais, como questões relativas ao meio-ambiente (BAUMANN, 1996a).

Segundo Hisrt (1998), a globalização é a interação de três processos distintos, mas dependentes e simultâneos. O primeiro diz respeito à expansão dos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais. A internacionalização produtiva ocorre quando residentes de um país têm acesso a bens e serviços de outros, podendo ser através do comércio internacional, do investimento direto estrangeiro e das relações contratuais. O segundo corresponde ao aumento da concorrência internacional. E o terceiro à maior integração das economias nacionais. Todos esses processos afetam tanto a área financeira como a comercial, produtiva e tecnológica das relações econômicas internacionais.

Também, segundo esse mesmo autor, os fatores determinantes do processo de globalização são tecnológicos, institucionais e sistêmicos. O fator tecnológico está relacionado à revolução tecnológica, especialmente nas áreas de informática e telecomunicações. Os fatores institucionais e políticos dizem respeito à ascensão das ideias

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neoliberais, ocasionando as desregulamentações na economia. Já o fator sistêmico refere-se à crise de realização da produção nos países desenvolvidos – insuficiência de demanda interna – e, consequentemente, a procura de novos mercados para a realização do capital, promovendo, assim, o comércio internacional.

Stiglitz (2002, p. 36) conceitua a globalização como sendo a

[...] integração mais estreita dos países e dos povos do mundo que tem sido ocasionada pela enorme redução dos custos de transporte e de comunicações e a derrubada das barreiras artificiais aos fluxos de produtos, serviços, capital, conhecimento e (em menor escala) de pessoas através das fronteiras.

Esses diversos conceitos, devido à grandeza do fenômeno, são parciais e dependem do foco de análise dado pelo autor. Atualmente, o processo de globalização corresponde a uma nova ordem nos padrões de relacionamento econômico entre os Estados, seus mercados e seus capitais produtivos e financeiros (SOUZA, 2006). Com a globalização um novo cenário mundial é definido, com uma nova geopolítica e novos centros hegemônicos, com a formação de blocos econômicos através de acordos bilaterais e/ou multilaterais e tratados internacionais, e com alterações nas relações econômicas. Há o crescimento da cooperação entre as empresas; a internacionalização dos mercados financeiros; e o aumento da importância das empresas transnacionais como atores influentes no cenário internacional (BAUMANN, 1996b).

Atualmente, a produção deixou de ser em massa e rígida como pregavam os modelos de produção Taylorista e Fordista, visando à produção em maior escala para atingir um menor preço. Esses modelos produtivos deixaram de ser compatíveis com a globalização. Essa gerou um novo perfil de produto, demandado por um novo tipo de mercado consumidor. Agora, a produção é mais flexível e enxuta. Verifica-se um aumento da eficiência econômica em razão da especialização, da redução de custos e das economias de escala; homogeneização da cultura e dos padrões de demanda mundial ao mesmo tempo em que ocorre diferenciação dos produtos e fragmentação do processo produtivo. Segundo Baumann (1996a, p. 48), “um paradoxo adicional associado à globalização é, portanto, a individualização da produção como contrapartida da universalização do consumo”.

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A abertura econômica também possibilita o crescimento de nações que cresceriam muito menos caso não houvesse a abertura de suas economias. Ademais, ao impulsionarem o crescimento econômico, o aumento das exportações leva ao desenvolvimento da nação, pois verifica-se um aumento na expectativa e no padrão de vida das pessoas ao redor do mundo; um maior acesso ao conhecimento e à informação; a introdução de novas tecnologias; o acesso a novos mercados; e a criação de novos setores produtivos, gerando mudança nas vantagens comparativas das economias (STIGLITZ, 2002).

O enfraquecimento do poder dos Estados é uma das consequências da globalização devido o surgimento de outros atores internacionais, com personalidade jurídica. Esses novos atores são capazes de formular leis e regras que deverão ser seguidas pelos Estados-membros e não membros em virtude do poder coercitivo que tais instituições exercem. Há a subordinação das políticas nacionais a condicionantes externos, ocasionando a perda do poder dos governos para exercer sua política monetária e fiscal, entre outras (HIRST, 1998).

O perigo reside no fato de que as políticas ditadas por essas instituições internacionais, como o FMI, beneficiam, na maioria das vezes, os países desenvolvidos em detrimento dos em desenvolvimento, e as políticas governamentais macroeconômicas ficam reduzidas. Da mesma forma, as empresas transnacionais e os mercados financeiros internacionais também afetam as decisões políticas, pois as atividades econômicas não mais correspondem ao território nação, e sim ao nível global e transnacional.

Com a perda de parte da autonomia dos Estados, os mesmos deveriam contribuir e não atrapalhar o processo de globalização (HIRST, 1998). Muitas vezes, apesar de acreditarem agir corretamente com a regulamentação e contenção de gastos públicos, podem, dessa forma, prejudicar a competitividade da economia nacional, afastando os investimentos diretos estrangeiros. A crença de que os Estados perdem sua autonomia também faz com que os mesmos se deixem dominar pelas economias ricas e pelos mercados financeiros internacionais. Dessa forma, segundo Hirst (1998), a globalização poderia ser vista como um ‘mito’ que tende a paralisar as iniciativas nacionais, servindo como desculpa para a submissão e inação das economias em desenvolvimento e para a isenção de responsabilidades por parte dos governos pelas suas ineficientes políticas econômicas.

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Para Stiglitz (2002), o problema não se encontra na globalização em si, a qual apresenta muitos benefícios do seu ponto de vista, mas sim na forma como está sendo gerida, provocando um efeito negativo principalmente sobre as economias em desenvolvimento, sendo as economias ricas do Ocidente as líderes do processo. Para as instituições internacionais, o processo só gera progresso, sendo os efeitos negativos, como o aumento da pobreza, considerados de curto prazo e custos necessários que os países devem arcar. Já para os países em desenvolvimento e para a maior parte da população, a globalização não tem gerado os benefícios econômicos prometidos. Além de não reduzir a pobreza, não cria estabilidade. As políticas de liberalização impostas às nações pobres pelos ricos não são seguidas por esses últimos, que acabam adotando políticas protecionistas de cunho não liberal, prejudicando as economias menos favorecidas.

Assim, o impacto da globalização não é homogêneo e está atrelado à realidade socioeconômica de cada nação. Tal processo

[...] tem a seu serviço a hegemonia quase global do ideário neoliberal, o poderio econômico das empresas transnacionais, o enfraquecimento do Estado-nação, a desregulamentação, a privatização e a liberalização das economias, a debilitação dos movimentos sindicais, a liberação do trabalho humano na produção, o controle sobre o desenvolvimento científico e tecnológico e, principalmente, a crise do “socialismo real”. No entanto, tem como desabono a elevação dos níveis de desigualdade social, de miséria, de desemprego, a saturação do setor terciário e, sobretudo, a possível crise estrutural do processo de acumulação capitalista. Trata-se, pois, de uma questão política, de uma questão de poder (SOUZA, 2006, p. 11).

Os países periféricos estão mais sujeitos às imposições das políticas neoliberais adotadas pelos países considerados centrais porque no mundo globalizado há o predomínio desses ideais, visando à abertura da economia, à liberalização, à privatização e à desregulamentação dos mercados; contrários à presença do Estado e das regulamentações na economia. Esses ideais neoliberais, ou seja, as ideias dos liberais do século XX, surgiram após a II Guerra Mundial nos Estados Unidos (EUA) e na Europa como reação ao Estado intervencionista e de Bem-Estar Social proposto por Keynes. Tais ideias derivam do liberalismo clássico de Adam Smith, onde os indivíduos são vistos como seres egoístas. Assim, a busca das satisfações individuais levaria, consequentemente, as da sociedade em geral. A função do Estado seria, portanto, garantir que os interesses individuais fossem atingidos, ou seja, assegurar a liberdade individual e a liberdade de mercado (SOUZA, 2004).

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Foi nos anos 1980, com a ascensão das ideias liberais, que houve o aumento da desregulamentação dos mercados e a intensificação dos processos de globalização.

Se os acordos internacionais, que visam reduzir as barreiras à livre circulação de mercadorias, serviços e/ou fatores de produção, e as políticas impostas às economias em desenvolvimento pelos organismos internacionais, como o FMI, BIRD e OMC, forem revistos, a globalização poderá trazer mais vantagens e os aspectos positivos poderão ser compartilhados igualmente entre os povos, inclusive ter o “[...] potencial de enriquecer todas as pessoas do mundo” (STIGLITZ, 2002, p. 11). Segundo o mesmo autor, apesar da necessidade de reforma nessas instituições, elas são essenciais para gerir uma comunidade considerada global. Porém, as regras devem ser efetivamente seguidas, justas e elaboradas de forma imparcial. O governo e o mercado seriam instituições complementares, devendo ambos atuar em parceria.

A mudança mais fundamental e necessária para fazer a globalização funcionar da maneira que deveria é uma modificação na sua governança. Isso exige, no FMI e no Banco Mundial, uma alteração nos direitos de voto e em todas as instituições econômicas internacionais, alterações que garantam que não sejam apenas as vozes dos ministros do comércio que serão ouvidas na OMC, ou vozes dos ministros das finanças e tesouros que serão ouvidas no FMI e no Banco Mundial [...]. Depois [...] a maneira mais importante de garantir que as instituições econômicas internacionais sejam mais responsivas [...] é uma maior abertura e transparência (STIGLITZ, 2002, p. 274).

Ao se falar em globalização outro termo relacionado é digno de nota – a regionalização. Num primeiro momento, esses processos podem parecer antagônicos. A regionalização corresponde a um movimento centrípeto e macroeconômico, onde as decisões públicas o influenciam, e não as estratégias empresariais, estando relacionado à preservação e ao estímulo de valores locais (MORE, 2006). Ao passo que, de acordo com Oman (apud BAUMANNM, 1996b), a globalização é um processo centrífugo referente às empresas e ao movimento de fatores de produção através das fronteiras, tendo seu impulso primário em variáveis microeconômicas.

A regionalização caracteriza-se pelo movimento em direção à formação de blocos econômicos. Com isso em vista, a globalização mostra-se contrária a esse movimento, pois, na medida em que visa à eliminação de certas alianças ou restrições comerciais, propugnando

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o livre comércio e fronteiras flexíveis, promove o declínio dos blocos comerciais protecionistas que promovem o isolamento de certas regiões. No entanto, a regionalização elimina as barreiras existentes entre países ao formar blocos, pelo menos entre os países membros (SOUZA, 2004). A formação de blocos intergovernamentais elimina as fronteiras econômicas e comerciais entre os países membros, podendo-se constatar que a regionalização é sim uma forma de implementar barreiras protecionistas, mas entre os megablocos (MAGNOLI, 2002). Na ótica econômica, a regionalização pode ser definida como “[...] o conjunto de medidas tomadas pelo Estado para aumentar, ou diminuir, os obstáculos às trocas, aos investimentos, aos fluxos de capitais e aos movimentos de fatores entre os grupos de países envolvidos” (MORE, 2006, p.5).

Apesar das aparentes diferenças entre a globalização e a regionalização, esses processos são convergentes e compatíveis, se complementam e, muitas vezes, se reforçam. Segundo Ianni (1996, p. 192), “[...] o local e o global determinam-se reciprocamente, umas vezes de modo congruente e consequente, outras de modo desigual e desencontrado”. De acordo com More (2006), a regionalização seria uma resposta macroeconômica do Estado aos problemas microeconômicos dos mercados – a globalização. Ademais, esses processos são considerados inevitáveis e inerentes ao capitalismo. Num primeiro momento, a globalização refere-se à expansão do capitalismo devido sua busca incessante pelo lucro e, consequentemente, necessidade de novos mercados. Após, através da integração dos mercados – regionalização – e da abertura ao comércio e ao capital internacional, as economias tornam-se interdependentes.

2.1.2 A abertura econômica e a formação de blocos regionais

Uma das características da regionalização é a formação de blocos econômicos, ou seja, a integração econômica. Integrar significa juntar as partes de uma forma favorável, fazendo com que o resultado seja melhor do que antes da integração. Sabe-se que os países visam empregar da melhor maneira possível os seus recursos escassos para satisfazer as necessidades insaciáveis dos seres humanos. A integração econômica, a qual corresponde à integração dos sistemas econômicos, tem como objetivo a agregação de países com o intuito de melhorar e ampliar esses recursos para melhor atender seus cidadãos. Como os países possuem diferenças entre si, uns são melhores dotados em recursos naturais, enquanto outros

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possuem capital financeiro. Assim, é por meio da integração que as nações procuram compensar suas deficiências através da complementaridade, minimizando suas limitações (DAL BELLO, 2006).

Porém, a integração econômica em si tem outras características e o comércio internacional vem antes mesmo dos processos de formação de blocos econômicos, sendo pertinente compreender, primeiramente, por que os países comercializam entre si. Uma tentativa de explicar essa questão é através do “Princípio das Vantagens Comparativas” – teoria econômica clássica elaborada por David Ricardo em 1817. Essa teoria fundamenta-se na ideia de que cada país deve se especializar na produção da mercadoria para a qual possua vantagem comparativa, ou seja, cuja produção seja relativamente mais eficiente ou possua um custo de produção relativamente menor que o de outra mercadoria. Levando em consideração esse princípio, todos os países se beneficiariam do comércio internacional, não importando se um país possui vantagem absoluta em mais de uma mercadoria. Se assim fosse, ainda seria vantajosa a especialização. Assim, essa teoria defende a liberalização comercial, sendo contrária às medidas protecionistas. Foi alvo de críticas por se mostrar irrealista e estática, considerando apenas um fator de produção – o trabalho –, a inexistência de mobilidade internacional do trabalho, um mercado em concorrência perfeita e a não evolução da oferta e da demanda nem das preferências dos agentes econômicos (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).

Um dos críticos foi Raul Prebisch, defensor da corrente estruturalista, por considerar a existência de mudanças na estrutura da demanda à medida que a economia cresce. Certos produtos são mais elásticos do que outros, ou seja, uma alteração na renda altera a sua demanda. Por exemplo, um aumento da renda aumentaria o consumo de tecidos, porém o consumo de vinho não aumentaria na mesma proporção, sendo esse menos elástico do que o produto anterior. Isso, no longo prazo, causaria uma deterioração nos termos de trocas – relação entre os preços da exportação e da importação –, retirando os ganhos provenientes do comércio internacional. Essa teoria, também conhecida como cepalina, justifica o atraso das economias em desenvolvimento por terem se especializado na produção de produtos primários, menos elásticos, onde um aumento na renda não acarretaria um aumento na demanda na mesma proporção, deteriorando os termos de troca e prejudicando a economia exportadora do bem (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONEDO Jr., 2002).

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Outra crítica à teoria clássica é referente aos fatores de produção. O modelo de Heckscher-Ohlin considera que os países diferem quanto à dotação dos fatores capital e trabalho, especializando-se na produção da mercadoria que utiliza intensivamente o fator de produção mais abundante no país. Dessa forma, as economias desenvolvidas se especializariam naqueles bens intensivos em capital, enquanto que as economias em desenvolvimento ficariam com a produção dos bens intensivos em mão de obra. Porém, o paradoxo de Leontieff constatou que os Estados Unidos exportam produtos intensivos em trabalho apesar de serem uma economia com capital abundante. Outros dizem que tal modelo deveria considerar outros fatores de produção, tais como recursos naturais e mão de obra qualificada (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONEDO Jr., 2002).

Há, também, o comércio internacional entre produtos similares – comércio intra-indústria (dentro da mesma intra-indústria) – não destacado nas teorias anteriores. Esse tipo de comércio ocorre devido à existência de economias de escala e de demanda similar entre certos países, segundo Gremaud, Vasconcellos e Tonedo Jr. (2002). Ademais, os mesmos autores expressam a ideia do ciclo do produto elaborada por Vernon, onde cada produto possuiria um ciclo. No período de introdução, a produção ficaria a cargo dos países desenvolvidos; no período de maturação, onde o produto não seria mais novidade e passaria a ser padronizado, a produção se destinaria aos países em desenvolvimento.

Apesar da existência de diversas teorias e críticas sobre o porquê do comércio internacional, o mesmo continua sendo uma opção vantajosa em relação à autarquia – produzir e consumir sem comercializar internacionalmente. Foi após a II Guerra Mundial que o comércio internacional se intensificou. Porém, isso não significa que nesse período as barreiras protecionistas foram reduzidas ou até mesmo abolidas. Pelo contrário, houve o aumento de práticas protecionistas por meio do aumento de restrições não tarifárias, como as quotas de importação e as normas fitossanitárias. O que possibilitou o aumento das trocas internacionais nesse período foram fatores como a desregulamentação dos mercados financeiros; o aparecimento da Tecnologia da Informação; a adoção de políticas mais liberais; o aumento da participação de empresas multinacionais; a proliferação de acordos regionais de comércio; entre outros referente à intensificação dos processos de globalização e regionalização da economia mundial (PINHO; VASCONCELLOS, 1999).

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Na década de 1980, tomaram impulso em todo o mundo políticas de abertura econômica e expandiram-se as tentativas de integração regional. A América Latina teve estímulos para a implementação de associações regionais. De acordo com Bauman (1999), além dos exemplos de integração econômica de outras regiões, como o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA); a recuperação do nível de atividade econômica, a retomada dos regimes democráticos, o início de negociações multilaterais na Rodada Uruguai, e as pressões por parte dos Estados Unidos para a formação de uma área de livre comércio no continente americano também são fatores que contribuíram para a intensificação dos esforços de aproximação e integração das economias.

Em relação à economia brasileira, os anos 1980 foram marcados por graves desequilíbrios internos e externos. Internamente, o país passava por uma grande recessão, conhecida como a década perdida. Nesse período, a economia brasileira enfrentava queda no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e dos investimentos, aumento da inflação, crescimento dos déficits públicos e aumento das dívidas internas e externas. A estagnação econômica e as altas taxas de inflação pelas quais passava a economia geraram um período de estagflação. No âmbito externo, tem-se a turbulência internacional causada pela moratória da dívida externa mexicana em 1982. Diante desse cenário da época, a abertura econômica do Brasil tornou-se inevitável para gerar eficiência alocativa dos fatores de produção, proporcionando o crescimento necessário e atingindo o desenvolvimento econômico com melhoria na qualidade de vida da população. Nesse mesmo período, o Brasil também apresentava atraso tecnológico em relação a outros países. Sendo assim, a abertura da economia e a reestruturação industrial beneficiaram os consumidores, proporcionando uma maior disponibilidade de bens e serviços. Além desses aspectos negativos, a economia brasileira também sofria, e ainda sofre, com as altas cargas tributárias, juros elevados, falta de infraestrutura e excessiva burocracia (REGO; MARQUES, 2003).

Nos anos 1990, a redução das barreiras protecionistas intensificou-se nas economias latino-americanas. A estratégia adotada para isso constituiu-se na adoção de medidas comerciais regionalistas através, por exemplo, da assinatura de tratados de livre comércio e da formação de blocos regionais (MAGNOLI, 2002). No Brasil, iniciou-se e intensificou-se a abertura e a liberalização econômica motivadas pela desregulamentação dos mercados internacionais e pelo esgotamento do modelo de substituição de importações voltado para o

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abastecimento do mercado interno. Com isso, muitas empresas tiveram que se adaptar para sobreviverem a um mercado mais competitivo e com concorrentes internacionais (REGO; MARQUES, 2003).

Ao analisar o grau de abertura da economia brasileira de 1995 até o ano de 2010 (Gráfico 1), constata-se que nos anos de crise, como ocorrido em 2008, há um maior fechamento da economia do que nos períodos de bonança internacional.

Gráfico 1 – Grau de abertura da economia brasileira

Fonte: IBGE, 2013a.

Nota: Resultados referente ao ano de 2011 ainda não encontram-se disponíveis. (*) Resultados preliminares obtidos a partir das Contas Nacionais Trimestrais

A liberalização da economia brasileira se deu de forma generalizada e não seletiva, abrangendo tanto a área monetário-financeira como as áreas produtiva, comercial e tecnológica. Quanto à inserção internacional do Brasil, esta varia tanto de acordo com o quadro político e econômico interno, como também com a evolução da economia mundial (GONÇALVES, 1993).

É através dos processos de integração econômica que as barreiras, tanto sociais como econômicas, são reduzidas ou até mesmo eliminadas entre os países participantes. Segundo Mirdall (apud MORE, 2006), a integração econômica elimina os entraves à livre circulação de mercadorias, serviços, capital, mão de obra, entre outros, dependendo do nível atingido de

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