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2.3 Comércio e Desenvolvimento

2.3.2 O comércio como propulsor do desenvolvimento econômico

Muitos estudos questionam-se sobre a melhora desses indicadores de desenvolvimento perante o processo de liberalização da economia e sua inserção internacional. De acordo com a teoria do comércio exterior, fica clara a relação entre comércio e desenvolvimento na medida que a mesma defende uma melhora na eficiência alocativa dos fatores de produção através da teoria das vantagens comparativas, gerando bem-estar e desenvolvimento (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).

Ademais, outro autor (ERKENS, 2007) lembra que muitas economias reduziram os níveis de pobreza não em virtude de políticas e ajudas ao desenvolvimento, mas pelo fato das mesmas terem se tornado economias de mercado, inseridas na economia globalizada, gerando um maior crescimento econômico e a melhora no índice de pobreza. Com essas observações alerta-se para a busca de uma análise correta das causas-efeitos. A luz dos dados, poder-se-ia concluir que a redução da pobreza foi em virtude de políticas de desenvolvimento. Porém, através de uma análise mais criteriosa, notar-se-á que a mesma foi em virtude de outros fatores – refere-se aqui a dados do relatório anual do Banco Mundial, de 2007, com relação a redução do nível de pobreza mundial (SOUZA, 2004).

Também questiona-se a inviabilização dos modelos de desenvolvimento único do norte às economias do sul pela não assimilação de tal projeto pelos agentes econômicos locais. Isso ocorre não apenas pelas diversidades culturais, mas também pela falta de conhecimento. Dessa forma, o auxílio às economias em desenvolvimento intensifica ainda mais as desigualdades sociais presentes e a pobreza, pois a falta do know how e do “aprender fazendo” faz com que toda a forma de investimento, seja financeiro ou não, não perdure, caia no desuso. “[...] tanto no plano da vida das empresas quanto no de uma macroeconomia da performance de uma nação, o capital humano e o capital social estão adquirindo papel

essencial na prosperidade econômica e para a sustentabilidade das sociedades humanas” (ZAOUAL, 2003, p.78).

A adoção e a implementação de modelos de crescimento e desenvolvimento econômico por um Estado, levando em consideração os ajustes necessários para sua implementação na sociedade em questão, poderiam ser atingidos com êxito se a sociedade tiver capacidade de assimilar tal projeto. Caso contrário, o mesmo sofrerá uma entropia e cairá no desuso.

Tenório (2008) salienta que os modelos e as estratégias organizacionais, mesmo que elaborados por estudiosos locais, são construídos com base num contexto econômico, cultural, social e político diferente da economia local, ou seja, distintos da situação dos países “terceiro-mundista”, pois utilizam-se de referências “forasteiras”. Sugere que o ideal seria “[...] reduzi-los ao nosso status de país em desenvolvimento, periférico. [...] em direção à utopia de um mundo melhor no interior das organizações e de seus resultados em prol da sociedade” (TENÓRIO, 2008, p. 162-164).

Por essa razão, um modelo único de desenvolvimento, que condiciona uma cultura única, não pode ser pensando sem considerar adaptações às tradições locais, entre outros aspectos. Devido às diferentes culturas e tradições existentes no mundo, o modelo de desenvolvimento único formulado pelos países do Norte e aderido pelas economias do Sul não produziram o desenvolvimento esperado. Pelo contrário, verifica-se um aumento da dependência externa e das desigualdades regionais.

É nesse contexto que se questiona a real eficácia das propostas de crescimento e desenvolvimento “impostas” pelas economias do norte às economias do sul. Em grande parte, essas propostas de desenvolvimento eram impostas pelas economias ditas do norte às do sul como pré-requisito para a obtenção de empréstimos com o intuito de alavancar o crescimento de tais economias e tirá-las da condição de subdesenvolvimento. Por muito tempo, as economias em desenvolvimento procuraram adotar como estratégia de desenvolvimento esses modelos implementados nas economias do Norte – consideradas desenvolvidas. Porém, essas políticas não correspondiam às necessidades das regiões menos favorecidas.

Como o produto base das economias desenvolvidas trata-se de mercadorias com bastante valor agregado, e, por outro lado, a base do comércio exterior das economias em desenvolvimento é, na sua maioria, composta por produtos de baixo valor agregado, pois tratam-se de commodities, há um grande desequilíbrio na balança comercial dessas economias que já apresentam outros problemas sociais, estruturais e históricos. Dessa forma, tais problemas – concentração de renda, carência de infraestrutura, corrupção, entre outros – se agravam, sem somar a forte dependência externa que se cria em virtude do financiamento externo desses modelos.

Foi em 2004, na XI Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento – UNCTAD, órgão direcionado principalmente para os países em desenvolvimento, contribuindo para o aperfeiçoamento do sistema multilateral de comércio envolvendo esses países, que o conceito “espaço para políticas nacionais” (policy space) foi consolidado. O mesmo

[...] reconhece, como atribuição autônoma de cada país, a formulação e a escolha de políticas e regulamentações com vistas ao desenvolvimento, e ressalta a importância de preservar essa possibilidade no contexto da negociação de compromissos internacionais ou das políticas de ajuda ou financiamento aos países em desenvolvimento (MRE, 2012, p. 02).

“Do ponto de vista liberal [...] o subdesenvolvimento não cai do céu, mas remonta a causas criadas pelos próprios homens” (ERKENS, 2007, p. 43). Ainda, de acordo com Rivero (apud VEIGA, 2010, p. 27), a causa maior do subdesenvolvimento de algumas nações poderia estar relacionada ao “[...] processo de seleção darwiniana da globalização e da revolução tecnológica [...]”. Esses dois fatores seriam uma das causas do não desenvolvimento dos países “terceiro mundistas” pelo fato da importação de bens de capitais ser superior, em ternos de valores, a exportação de alimentos, levando assim a um desequilíbrio na balança comercial e, consequentemente, na seleção natural preconizada por Darwin. Esse autor salienta a necessidade de elaboração de um novo paradigma para sair desse círculo perverso. Outra solução poderia ser a redução da natalidade e a modernização dos processos produtivos – mais intensivos em tecnologia.

Em relação aos argumentos da teoria do comércio internacional a favor do livre comércio como propulsor do desenvolvimento, através da Teoria das Vantagens Comparativas, o mesmo aceita o fato de que essa liberalização pode gerar malefícios a curto

prazo. Rios (2006) diz que a teoria do comércio internacional também admite que “[...] no curto prazo, a liberalização comercial pode provocar danos e [que] [...] podem ser críticos para aqueles que ficarão na pobreza mesmo no longo prazo. A evidência mostra que a abertura econômica por si mesma não tem sido capaz de lidar com [essas] questões [...]”. Ou seja, verifica-se que o comércio é fundamental, mas não suficiente para gerar sozinho condições de desenvolvimento. O mesmo deve estar atrelado a políticas públicas capazes de minimizar os efeitos negativos e perversos gerados por esse processo globalizante, mas necessário.

Os efeitos do comércio exterior sobre o desenvolvimento local é diferente de país para país, dependendo do papel que as instituições exercem sobre as “falhas do mercado” e das estruturas vigentes. Por exemplo, os efeitos mais positivos sobre essas variáveis foram verificados em países cuja legislação trabalhista é mais flexível e onde há políticas de qualificação da força de trabalho. Apesar da dificuldade em analisar essa questão, através dos estudos feitos pode-se inferir que sim, a liberalização comercial contribui para a redução da desigualdade e pobreza de uma nação (RIOS, 2006). Isso se dá, por exemplo, através do mercado de trabalho, sendo esse o principal mecanismo de transferência dos efeitos liberalizantes sobre a renda e pobreza. A autora conclui que

Os efeitos da liberalização comercial sobre o mercado de trabalho se dão fundamentalmente na estrutura do emprego e na remuneração relativa dos trabalhadores. A liberalização dos movimentos de capital, quando combinada a políticas macroeconômicas, afeta o nível de emprego e de salários (RIOS, 2006, p. 06).

Segundo a autoraVentura-Dias (2005, p. 20),

A relação entre o comércio e a pobreza é complexa, e difícil de ser capturada em um modelo simples, porque muitos efeitos são indiretos, por exemplo, pela via do mercado de trabalho. [...] A literatura destaca, porém, que uma liberalização que favoreça a redução da pobreza deve estar acompanhada de políticas públicas de apoio à integração da população mais pobre às instituições de mercado [...].

O fato é que a liberalização provoca ganhos, mas também danos. Como ganhos, pode- se citar que o aumento da concorrência repercute sobre os custos e preços dos fatores, ou seja, na renda dos trabalhadores. Há também ganhos provenientes do aumento da eficiência produtiva e bem-estar. Isso possibilita a redução da pobreza, embora a mesma deva ser

atrelada a outras políticas públicas em virtude dos ganhos não serem distribuídos proporcionalmente entre os fatores de produção – terra, capital e trabalho – devido a questões estruturais. Samuelson (1962 apud VENTURA-DIAS, 2005, p. 04), destaca que “[...] a transferência de recursos para compensar os que são prejudicados pela abertura comercial permitiria conciliar a eficiência resultante de um maior comércio com questões de justiça distributiva”.

Quanto aos danos, as economias menos favorecidas devem ter o cuidado para que o comércio exterior não deteriore os seus termos de troca, sendo as negociações unilaterais mais eficientes em se tratando de pequenas economias. Ademais, os danos são considerados de curto prazo e transitórios, sendo sanados com políticas públicas. Devido o aumento da concorrência, o setor industrial, por exemplo, passou por uma reestruturação. Os trabalhadores das indústrias não competitivas migraram para as demais indústrias e para outros setores em crescimento – comércio e serviços. Essa migração da mão de obra possibilitou que a taxa de desemprego não fosse elevada. Porém, quando da sua saturação e da queda de emprego nos demais setores, a taxa de desemprego voltou a crescer. Esse movimento de fatores produtivos intra-indústria é possibilitado no médio a longo prazo. No curto prazo, verifica-se sim os danos causados pela liberalização, sendo os mesmo sanados quando da adaptação dos trabalhadores ao novo processo produtivo – no médio e longo prazo –, e através de políticas públicas eficientes (VENTURA-DIAS, 2005).

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Tendo como base o referencial teórico apresentado anteriormente, será exposto a seguir os dados e as tabelas referente ao estudo, bem como as análises das mesmas e das relações internacionais entre os principais países membros do MERCOSUL – Brasil e Argentina. Tais dados tem como foco tanto a economia nacional como regional, buscando dar um panorama da economia do Brasil e do RS, enfatizando o desempenho do setor industrial e as relações com o parceiro vizinho. Posteriormente a exposição desses dados gerais, que servem de base para as análises conclusivas realizadas, versar-se-á sobre as políticas nacionais praticadas por esses dois países, principalmente no que diz respeito às práticas comerciais e industriais, repercutindo sobre a política de comércio exterior. Por fim, apresentar-se-á uma análise de como essas políticas nacionais interferem sobre as negociações internacionais no contexto do MERCOSUL, impactando o desenvolvimento socioeconômico da região.

3.1 A Economia Nacional e Regional com Foco no Setor Industrial e suas Relações com a