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A interiorização da Defensoria Pública da União

5. A AUTONOMIA DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO COMO MEIO DE

5.2 Atividades passíveis de ampliação com a concessão da autonomia da Defensoria Pública

5.2.1 A interiorização da Defensoria Pública da União

A assistência jurídica prestada pela Defensoria da União é realizada

predominantemente nas capitais do Brasil. Apenas algumas cidades do interior possuem unidades do órgão para atuação na defesa dos direitos dos beneficiários locais. Isso prejudica muito o acesso à justiça à boa parte da população brasileira. Das 264 (duzentos e sessenta e quatro) seções judiciárias espalhadas pelo Brasil, apenas 58 (cinquenta e oito) delas apresentam unidades da DPU, sendo 31 (trinta e uma) localizadas no interior, correspondendo a uma cobertura de apenas 22%.113

Apesar da existência de algumas unidades no interior, nesses locais há um grande déficit do número de defensores para atender a totalidade da população que necessita dos serviços do órgão. Dessa forma, boa parte daqueles que vivem no interior e não têm condições para custear os honorários advocatícios nem o transporte para cidades onde a Defensoria da União está presente permanecem juridicamente desassistidos.

Em face dessa necessidade de se efetivar o acesso à justiça também àqueles habitantes das cidades do interior do Brasil, a Defensoria estabeleceu um projeto de interiorização com a finalidade de criação de novas unidades e o provimento de cargos de defensores nesses locais, facilitando o acesso daqueles ao órgão.

Atualmente, já existe atendimento da DPU nas seguintes cidades do interior: Santarém/PA, Arapiraca/AL, Feira de Santana/BA, Vitória da Conquista/BA, Juazeiro/BA, Petrolina/PE, Caruaru/PE, Campina Grande/PB, Mossoró/RN, Cárceres/MT, Dourado/MS, Linhares/ES, Juiz de Fora/MG, Uberlândia/MG, Governador Valadares/MG, Baixada Fluminense/RJ, Niterói, São Gonçalo, Itaboraí/RJ, Volta Redonda/RJ, ABC/SP, Campinas/SP, Guarulhos/SP, Ribeirão Preto/SP, Santos e São Vicente/SP, São José dos Campos/SP, Sorocaba/SP, Umuarama/PR, Cascavel/PR, Londrina/PR, Foz do Iguaçu/PR, Rio Grande/RS, Bagé/RS, Pelotas/RS, Santa Maria/RS, Uruguaiana/RS, Joinville/SC.114

Com a finalidade de expandir o atendimento da Defensoria no interior dos estados, surgiram alguns movimentos para a criação de mais cargos de defensores e que fossem destinados a esses locais. Um deles foi a já citada promulgação da Lei nº 12.763/2012, com o objetivo de criar mais 789 (setecentos e oitenta e nove) cargos de defensores públicos da União a serem providos de forma gradual.

Outro movimento é pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição - PEC nº 247/2013, conhecida como PEC das Comarcas, de autoria dos deputados federais

113 Internet. Disponível em: <http://www.dpu.gov.br/inicio/imprensa/noticias21/11193-camara-dos-deputados-

cria-comissao-especial-para-discutir-pec-das-comarcas> e

<http://www.dpu.gov.br/inicio/imprensa/noticias21/15809-unidade-da-dpu-recem-instalada-em-santarem-pa- beneficia-populacao>. Acesso em: 23.10.13.

Alessandro Molon (PT/RJ), André Moura (PSC/SE) e Mauro Benevides (PMDB/CE), que tem como objetivo o aumento do número de defensores em todas as unidades jurisdicionais, sejam comarcas ou seções judiciárias, ao longo de oito anos, de modo que seja proporcional à efetiva demanda pelo serviço da Defensoria Pública e à respetiva população, dando-se prioridade à lotação nas unidades das regiões com maiores índices de exclusão social e adensamento populacional.115

Com a referida proposta, pretende-se alterar, na Constituição Federal, a Seção III (Da Advocacia e da Defensoria Pública) do Capítulo IV (Das Funções Essenciais à Justiça) do Título IV (Da Organização dos Poderes) para dividi-la em duas: Seção III (Da Advocacia) e Seção IV (Da Defensoria Pública), estabelecendo-se uma seção própria em vista de suas normas e estatutos jurídicos próprios da mesma forma que o Ministério Público e a Advocacia Pública.

Altera-se também o caput do artigo 134116 e adiciona-se o § 4º que passam a ter os seguintes textos:

Art. 134 A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, orientação jurídica a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do artigo 5º desta Constituição.

[...]

§4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se também, no que couber, o disposto no artigo 93 e no artigo 96, II, desta Constituição.

Essa alteração visa incorporar à Constituição elementos estruturantes e conceituais da instituição, como seu caráter permanente e sua vocação para soluções extrajudiciais dos litígios, além da proteção dos direitos individuais e coletivos e a promoção dos direitos humanos. São também reforçados os princípios da Defensoria, já positivados na Lei Complementar nº 80/90. Prevê também a aplicação do artigo 93 e 96, II, no que couber, como a fixação da residência nas respectivas comarcas; normas objetivas para estabelecer a promoção por merecimento; a necessidade do número de defensores, na unidade, ser proporcional à efetiva demanda judicial e à respectiva população; e a atribuição de propor, ao

115 Internet. Nova PEC revê falta de defensores públicos no Brasil. Internet. Disponível em: <http://www.dpu.gov.br/inicio/imprensa/dpu-na-midia/15041-nova-pec-reve-falta-de-defensores-publicos-no- brasil>. Acesso em 24.10.13.

116 Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV. BRASIL.

respectivo Legislativo, observado o artigo 169, a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares, bem como a fixação do subsídio de seus membros.

Também é adicionado o artigo 98 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias com a seguinte redação:

Art. 98 O número de defensores públicos na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda pelo serviço da Defensoria Pública e à respectiva população. § 1º No prazo de oito anos, a União, os Estados e o Distrito Federal deverão contar com defensores públicos em todas as unidades jurisdicionais, observando-se o disposto no caput deste artigo.

§ 2º Durante o decurso do prazo previsto no § 1º deste artigo, a lotação dos defensores públicos ocorrerá, prioritariamente, atendendo as regiões com maiores índices de exclusão social e adensamento populacional.

Tal proposta se fundamenta nos dados, coletados de setembro de 2012 a fevereiro de 2013, do estudo denominado “Mapa da Defensoria Pública no Brasil” realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, fundação vinculada à Presidência da República, pela Associação Nacional dos Defensores Públicos – ANADEP e pelo Ministério da Justiça. De acordo com essa pesquisa, existem 8.489 (oito mil, quatrocentos e oitenta e nove) cargos de defensor dos Estados e do Distrito Federal criados, mas apenas 5.054 (cinco mil e cinquenta e quatro) estão providos, ou seja, apenas 59%. Desse total, atendem apenas 28% das comarcas brasileiras. Já em relação à da União, dos 1.270 (mil duzentos e setenta) cargos de defensor público federal criados, somente 521 foram providos. Esse número atende nas 58 (cinquenta e oito) seções judiciárias das 264 (duzentos e sessenta e quatro), uma cobertura de apenas 22%.117

Até o presente momento, a Proposta de Emenda à Constituição 247/2013 já foi aprovada, na Câmara dos Deputados, pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, em 10.04.2013, e pela Comissão Especial, em 18.09.2013.118

Enquanto existente essa escassez de profissionais na maioria das unidades, a Defensoria Pública da União tomou a iniciativa de criar dois projetos, DPU Itinerante e DPU

117 “A ausência de defensores é ainda mais preponderante nas comarcas menores, com menos de 100 mil habitantes, onde geralmente o IDH da população é menor e as pessoas são mais carentes. Outro aspecto importante revelado no estudo é a discrepância dos investimentos no sistema de justiça. Para se ter uma ideia, os estados contam com 11.835 magistrados, 9.963 membros do Ministério Público e 5.054 defensores públicos. Ou seja, na grande maioria das comarcas brasileiras, a população conta apenas com o estado-juiz e com o estado-acusação, mas não conta com o estado-defensor, que promove a defesa dos interesses jurídicos da

grande maioria da população, que não pode contratar um advogado particular”. INTERNET. ANADEP e Ipea

lançam Mapa da Defensoria Pública no Brasil. Disponível em:

<http://www.ipea.gov.br/sites/mapadefensoria>. Acesso em: 24.10.13.

118 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projetos de Leis e outras proposições. Internet. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=567197>. Acesso em: 21.10.13.

na Comunidade, que serão abordados em tópico próprio, para atender nas comunidades em que os serviços não são prestados ou o são precariamente.

Além disso, de acordo com o Relatório de Gestão do Exercício de 2012 da Defensoria Pública da União, o órgão tem o plano estratégico de aumentar suas unidades, em média 25% ao ano, para o número de 200 até 2015.119

Diante do exposto, tenta-se preencher as lacunas existentes no interior dos Estados de modo que a Defensoria possa atender em todas as unidades jurisdicionais e garantir o acesso à justiça aos economicamente e juridicamente hipossuficientes domiciliados nessas regiões.

5.2.2 Assistência jurídica integral na Justiça do Trabalho

Outra atividade a ser ampliada com o fortalecimento da Defensoria Pública da União é a prestação da assistência jurídica no âmbito laboral.

A previsão de que a Defensoria irá oferecer assistência jurídica às lides trabalhistas está presente na Constituição Federal, em seus artigos 5º, inciso LXXIV, (o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos) e 134 (A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV). Pela leitura dos dispositivos, percebe-se que a Constituição determina que a assistência jurídica, prestada pelo Estado aos que comprovem insuficiência de recursos, será feita pela Defensoria e de forma integral, não havendo qualquer restrição a qualquer matéria, abrangendo, por isso, a trabalhista.

Além desses dispositivos da Lei Maior, há também, na legislação infraconstitucional, a obrigação da prestação da assistência gratuita na área trabalhista. Prevê a Lei Complementar nº 80/90, no artigo 14, que a Defensoria Pública da União atuará nos Estados, no Distrito Federal e nos Territórios, junto às Justiças Federal, Trabalhista, Eleitoral, Militar, Tribunais Superiores (STF, STJ, TST, TSE e STM) e instâncias administrativas da União (Tribunal de Contas da União, Tribunal Marítimo, INSS, etc.). Por sua vez, a Lei nº 5.584/70, recepcionada pela Constituição de 1988, em seu artigo 14, dispõe: “Na Justiça do Trabalho, a assistência judiciária a que se refere a Lei nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950, será

119 BRASIL. Defensoria Pública da União. Relatório de Gestão do Exercício de 2012. Defensoria Pública da União. Ministério da Justiça. Internet. Disponível em: <http://www.dpu.gov.br/inicio/principais/relatorio-de-gestao>. Acesso em: 27.10.13. p. 19.

prestada pelo Sindicato da categoria profissional a que pertencer o trabalhador”. Por mais que esteja prevista a prestação da assistência pelo sindicato, para que essa Lei esteja de acordo com a Constituição, deve-se fazer interpretação conforme para que também seja prestada pela Defensoria e independente de associação ao respectivo sindicato, caso queira ser representado por aquela.120121

Dessa forma, o trabalhador ou o empregador têm o direito subjetivo de escolher a melhor forma que entender ser representado judicialmente, podendo ser através de sindicato,122 pessoalmente,123 124 por advogado particular ou pela Defensoria Pública da União.

Todavia, caso comprove insuficiência de recursos ou hipossuficiência jurídica e escolha ser representado pela Defensoria, possivelmente não receberá essa assistência. Isso ocorrerá porque a maioria das unidades desse órgão não presta assistência no âmbito trabalhista em razão da escassez do orçamento destinado a ele, gerando uma má estrutura e uma carência de defensores e demais servidores para atuarem nessa área. Escolheu-se atuar

120 Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: […] III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou

administrativas; (…) V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato; BRASIL. Constituição Federal de 1988.

121 PINHEIRO, Rodrigo de Melo. Do jus postulandi à defensoria pública: a problemática no acesso do trabalhador hipossuficiente à justiça do trabalho. Fortaleza, CE, 2009. 103 f.; TCC (graduação) - Universidade Federal do Ceará. Faculdade de Direito, Fortaleza (CE), 2009. p. 14.

122 Art. 513. São prerrogativas dos sindicatos :a) representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias os interesses gerais da respectiva categoria ou profissão liberal ou interesses individuais dos associados relativos á atividade ou profissão exercida;

Art. 791 - Os empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final;

§ 1º - Nos dissídios individuais os empregados e empregadores poderão fazer-se representar por intermédio do sindicato, advogado, solicitador, ou provisionado, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. BRASIL.

Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-

lei/del5452.htm>. Acesso em: 02.11.13

123 A capacidade de postular individualmente em juízo é conhecida como jus postulandi, que permite ao empregado e ao empregador praticarem os atos processuais independentemente de representação. “No ordenamento trabalhista brasileiro, o jus postulandi nasceu como uma tentativa de facilitação do acesso do trabalhador ao órgão estatal responsável pela proteção de seus direitos, visto ser ele parte frágil da relação

processual trabalhista, numa espécie de resistência básica e amplo acesso ao Judiciário.” PINHEIRO, Rodrigo de

Melo. op. cit., . p. 20.

124 Todavia, o jus postulandi, na área trabalhista, não abrange todas as instâncias e todas as ações. Nesse sentido, decide o Tribunal Superior do Trabalho: AGRAVO DE INSTRUMENTO. IRREGULARIDADE DE REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL DO RECURSO DE REVISTA. JUS POSTULANDI NA JUSTIÇA DO TRABALHO. ALCANCE. "O jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT, limita-se às Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho". Agravo de instrumento a que se nega provimento. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. AIRR: 6478420105070014 647-84.2010.5.07.0014. Relator: Lelio Bentes Corrêa, Data de Julgamento: 24/04/2013, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 26/04/2013. Disponível em: <http://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23127734/agravo-de-instrumento-em-recurso-de- revista-airr-6478420105070014-647-8420105070014-tst>. Acesso em: 25.10.13. Corrobora, em idêntico sentido,

o disposto na Súmula nº 425 do TST: “O jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT, limita-se às

Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o

em outras áreas nas quais a assistência gratuita fosse mais necessária, como nas causas previdenciárias e criminais.

Em 08 de janeiro de 2007, foi expedida a Portaria nº 01, pelo Defensor Público Geral da União, Eduardo Flores Vieira, que regulamenta a impossibilidade da DPU de assistir no âmbito trabalhista sob o fundamento da Reserva do Possível:

CONSIDERANDO que a Defensoria Pública da União ainda está implantada em caráter emergencial e provisório;

[...]

CONSIDERANDO o reconhecimento da cláusula da reserva do possível pelo Supremo Tribunal Federal;

CONSIDERANDO que a Lei n. 5.584, de 26 de junho de 1970, estabelece em seu art. 14 que aos sindicatos impõe-se à obrigação de prestar assistência jurídica em matéria trabalhista;

CONSIDERANDO a necessidade de atuação integral junto aos órgãos da Justiça Federal nas localidades em que já se encontra instalada a Defensoria Pública da União;

RESOLVE regulamentar a assistência jurídica prestada pela Defensoria Pública da União em todo o país da seguinte forma:

[...]

Art. 3º. A atuação da Defensoria Pública da União no âmbito das causas trabalhistas deverá ocorrer de forma integral nas Unidades em que isso for possível, ou seja, no atendimento a população carente junto à Justiça do Trabalho dar-se-á preferencialmente aos hipossuficientes não sindicalizados.

Art. 4º. Nos casos de impossibilidade de prestação de assistência jurídica integral e gratuita junto à Justiça do Trabalho, deverá o Defensor Público informar ao requerente a impossibilidade do deferimento da assistência jurídica em razão da falta de estrutura da Defensoria Pública no prazo de cinco dias contados da data do atendimento inicial.

Parágrafo único. Caso o requerente da assistência não seja comunicado no prazo de cinco dias, a assistência jurídica deverá ser regularmente prestada se presumida ou comprovada a necessidade.

Art. 5º. O Defensor Público-Chefe deverá remeter, mensalmente, cópia dos Procedimentos de Assistência Jurídica em que não se patrocinar ação, por ser manifestamente incabível ou inconveniente aos interesses do assistido (art. 44, XII, LC 80/94), bem como relatório resumido com o número total de negativas de assistência relativas às causas Trabalhistas.

Art. 6º. Todos os Chefes das Unidades da Defensoria Pública da União deverão encaminhar ao Defensor Público-Geral da União, no prazo de 30 (trinta) dias contados da publicação da presente Portaria, solicitação fundamentada para a não prestação de assistência jurídica integral e gratuita na área trabalhista.

Assim, em face da Reserva do Possível, que é a limitação fática e/ou jurídica, mesmo que de forma relativa, para a implementação dos direitos fundamentais125, nesse caso, o acesso à justiça, a Defensoria da União deixa de prestar assistência jurídica integral, obrigada pela Constituição.

Apenas em algumas unidades é prestada assistência no âmbito laboral. Uma das

125 NOVELINO, Marcelo. Manual de direito constitucional. 8ª.ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método. 2013. p. 621.

que tem esse serviço é a do Distrito Federal, que, desde 2010, possui quatro ofícios trabalhistas. Nesse local, foi assinado um termo de cooperação com o Tribunal Regional do Trabalho da 10º Região para facilitar o atendimento com o auxílio entre os órgãos.126

Apesar do benefício trazido à parcela da população, no mais dizer aos pobres, a medida encontrou resistência da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal que entregou um abaixo-assinado, com assinatura de 352 advogados, solicitando o fim do convênio e da prestação da assistência pela Defensoria. Foi alegado que o órgão pode se concentrar em outros ramos do Direito, nos quais o cidadão carente não tem como arcar com as causas que já apresentam custos logo no início do processo, visto que, na Justiça do Trabalho, o representado de baixa renda não tem despesas iniciais e somente irá pagar os honorários advocatícios em caso de êxito da ação, prejudicando, assim, considerável parcela dos advogados particulares.127

Mesmo com essa oposição da Ordem dos Advogados, o serviço ainda continua a ser prestado em algumas unidades da DPU. Existe a intenção de estendê-lo para todas as outras e aumentar o número de defensores que atuam nessa área, garantido e ampliando o direito fundamental do acesso à justiça.

Além disso, descabe alegar o fundamento da reserva do possível para deixar de prestar assistência jurídica integral aos necessitados porque o direito de acesso à justiça, direito fundamental de segunda dimensão, deve ser considerado dentre àqueles integrantes do mínimo existencial128, pois, através dele, poderá ser garantido todos os outros.129

5.2.3 Concretização e ampliação dos Projetos Especiais da Defensoria Pública da União

Como já foi dito, a Defensoria Pública deve prestar assistência jurídica integral e

126 Internet. Falta de estrutura impede atuação da Defensoria em causas trabalhistas. Publicado em

09.05.11. Disponível em: <http://ultimainstancia.uol.com.br/justica-do-trabalho/falta-de-estrutura-impede-

atuacao-da-defensoria-em-causas-trabalhistas/>. Acesso em 27.10.13.

127 Internet. DPU na Mídia. Publicado em 14.04.11. Disponível em: <http://www.dpu.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4180:o-risco-do-

desamparo&catid=34&Itemid=223>. Acesso em 27.10.13.

128 “O mínimo existencial é exatamente o conjunto de circunstâncias materiais mínimas a que todo o homem tem direito; é o núcleo irredutível da dignidade da pessoa humana. É, portanto, a redução máxima que se pode fazer em atenção aos demais princípios (menos interferência possível na competência de Legislativo e Executivo e menor custo possível para a sociedade). Pela ponderação, extrai-se da norma programática que consagra o princípio da dignidade da pessoa humana um núcleo básico, que é transformado em regra diretamente sindicável pelo Poder Judiciário: o mínimo existencial. A regra do mínimo existencial, assim como todas as demais, é biunívoca, se a ela não é defeso opor os princípios da separação dos poderes e da reserva do orçamento.” MARQUES JÚNIOR, William Paiva. Os direitos fundamentais sociais dos servidores públicos ante os novos

paradgmas do direito administrativo. 2009. 240 f.; Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Ceará,

Faculdade de Direito, Fortaleza-CE, 2009. p. 35.

gratuita, que envolve a resolução dos conflitos judiciais e extrajudiciais, além de exercer uma posição de prevenção e de consulta, orientando as pessoas sobre os seus direitos e minimizando os litígios na sociedade. Para isso, a Defensoria Pública da União desenvolve Projetos Especiais, em parceria com a sociedade civil e outros órgãos públicos, para atender