• Nenhum resultado encontrado

Uma autonomia limitada: restrição quanto à iniciativa legislativa para propor alterações de

5. A AUTONOMIA DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO COMO MEIO DE

5.1 Uma autonomia limitada: restrição quanto à iniciativa legislativa para propor alterações de

A conquista da autonomia pela Defensoria Pública da União, pela promulgação da Emenda Constitucional nº 74/13, é um marco fundamental para o fortalecimento do órgão, permitindo uma maior efetividade das suas funções institucionais.

Todavia, a autonomia da Defensoria Pública da União, nos moldes do § 3º do artigo 134 da Constituição Federal, efetivou-se de forma mais restrita do que a concedida ao Ministério Público da União. Quanto a este órgão, esse mesmo diploma prevê em seu artigo 127, § 2º o seguinte:

Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento.105

Tal previsão é inexistente às Defensorias nem há norma infraconstitucional que regulamente sua autonomia financeira de forma que essa instituição, apesar de ter iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na Lei de Diretrizes Orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º, ainda não possui a capacidade de

105 "O Ministério Público pode deflagrar o processo legislativo de lei concernente à política remuneratória e aos planos de carreira de seus membros e servidores. Ausência de vício de iniciativa ou afronta ao princípio da harmonia entre os Poderes (art. 2º da CB)." BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Ação direta de

Inconstitucionalidade nº 603. Relator: Ministro Eros Grau. Brasília, 11.08.2006. Disponível em:

iniciativa para apresentar projetos de lei que tratem de assuntos internos, como a criação e a extinção de seus cargos e a remuneração dos seus servidores, restando resquícios de sua vinculação ao respectivo Executivo. Assim, conforme o disposto no artigo 61, § 1º, alínea “a”106

da Constituição Federal, ainda cabe ao Chefe do Executivo a referida iniciativa e não ao próprio órgão, destoando-se sua autonomia com a do Ministério Público e do Judiciário.107

Resta concluir que a Defensoria possui autonomia financeira para gerir seus recursos e para propor ao Legislativo seu orçamento nos limites estabelecidos na Lei de Diretrizes Orçamentárias, mas toda vez que precisar criar ou extinguir cargos, determinar ou aumentar a remuneração de seus membros, necessariamente através de lei, deverá solicitar ao Chefe do Executivo para que apresente o projeto de lei ao respectivo Legislativo.

Em 2012, quando a Defensoria da União ainda não possuía autonomia, tentou-se aprovar o Projeto de Lei Complementar nº 114/11, que regulamentava a autonomia financeira das Defensorias Públicas Estaduais. O projeto era de autoria do Senador José Pimentel (PT- CE) e pretendia realizar uma adequação da Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2001, para a nova disposição constitucional que concedia autonomia àquelas Defensorias, conferida com a EC nº 45/04. Tratava-se de dissociar o orçamento dessas defensorias do orçamento do Poder Executivo Estadual, individualizando as responsabilidades de cada um e permitindo a autonomia concedida a esses órgãos. Impunham-se direitos e deveres específicos aos gestores das defensorias e um limite máximo para o gasto com pessoal, de 2 % da receita líquida do Estado a ser implementada em cinco anos, independente do gasto do Executivo.108

Tal projeto, que permitia a concretização da autonomia das Defensorias Públicas Estaduais e vinculava um percentual mínimo da Receita Estadual a elas, de modo a fortalecê- las e permitir uma ampliação do acesso à justiça no âmbito estadual, foi vetado pela Presidente Dilma Rousseff. Ele foi aprovado definitivamente no Congresso em apenas um ano e seis meses, pois tramitava em regime de urgência, tendo apoio unânime das duas Casas Legislativas. Mesmo com esse apoio dos parlamentares diante da necessidade do fortalecimento desses órgãos para defender os direitos dos necessitados, o projeto foi vetado integralmente com o argumento de era contrário ao interesse público, pois alegou-se que a

106 § 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II - disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração; BRASIL. Constituição Federal de 1988.

107 NETTO, André L. Borges. A autonomia financeira da Defensoria Pública estadual e sua iniciativa

reservada para projetos de leis. Internet. Disponível em: <http://www.ambito-

juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=539>. Acesso em 19.10.13.

108 CASTRO, André Luís Machado de. Veto a autonomia financeira da Defensoria surpreende. Internet. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2012-dez-31/andre-luis-veto-autonomia-financeira-defensoria- publica-surpreende>. Acesso em: 21.10.13.

restrição do limite de gasto do Poder Executivo Estadual ensejaria sérias dificuldades para as finanças subnacionais.109

Além desse argumento jamais ter sido sustentado antes, não dando nenhuma oportunidade aos parlamentares e aos cidadãos de conhecer e debatê-los, a alegada restrição do limite de gastos seria mínima, pois o projeto só seria implementado gradualmente, ao longo de cinco anos.

Essa redução paulatina do limite seria acompanhada da imediata retirada de toda a despesa com a Defensoria Pública do cálculo das despesas do Poder Executivo, em uma proporção em que elas praticamente se equivalem. Além disso, outros artigos do projeto, que nada se relacionavam com essa matéria e apenas tratavam de aprimorar os mecanismos de controle administrativo e financeiro da instituição, também foram vetados.110

Até a presente data, o veto presidencial está em apreciação no Congresso Nacional para análise de sua manutenção ou de sua derrubada. Espera-se que as Casas Legislativas permaneçam com sua posição anterior e decidam por não manter o veto, possibilitando o fortalecimento e a efetivação da autonomia das Defensorias Públicas Estaduais.111

O Projeto de Lei Complementar nº 114/11 se refere apenas às Defensorias Públicas Estaduais porque, na época em que foi proposto, somente estas possuíam autonomia, adquiridas no ano de 2004. À Defensoria Pública da União e à do Distrito Federal e Territórios foi concedida autonomia apenas no ano de 2013, motivo pelo qual foram excluídas dessa regulamentação.

Assim, além da necessidade da derrubada do veto presidencial, para que a instituição se fortaleça como um todo, é essencial que semelhante regulamentação se estenda à Defensoria Pública da União e à do Distrito Federal e Territórios, visto a sua recente conquista da autonomia.

A dissociação do orçamento da Defensoria Pública da União ao do Executivo Federal; a vinculação de uma receita mínima ao órgão, na forma em que é concedida ao Ministério Público; além da já concedida liberdade para gerenciar seus recursos e direcioná- los para as funções que considerem mais essenciais; e a possibilidade de iniciativa para deflagrar o processo legislativo de lei concernente à política remuneratória e aos planos de carreira de seus membros e servidores; possibilitará que a instituição se estruture e seja capaz

109 CASTRO, André Luís Machado de. Veto a autonomia financeira da Defensoria surpreende. Internet. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2012-dez-31/andre-luis-veto-autonomia-financeira-defensoria- publica-surpreende>. Acesso em: 21.10.13.

110 Ibidem.

111BRASIL. Câmara dos Deputados. Disponível em:

de prestar assistência jurídica de modo mais eficaz e ampliar o acesso à justiça a um número maior de hipossuficientes econômicos e jurídicos.

Dessa forma, a conquista da autonomia funcional, administrativa e financeira da Defensoria Pública da União, com a promulgação da Emenda Constitucional nº 74/13, foi apenas o primeiro passo para que o órgão se estruture e possa melhor atender seus beneficiários sem os entraves políticos e econômicos já relatados. A partir da autonomia ampla, somada à futura majoração da receita destinada ao órgão, será possível uma maior efetivação das atividades já realizadas normalmente e ampliação daquelas pouco ou sequer prestadas.

5.2 Atividades passíveis de ampliação com a concessão da autonomia da Defensoria