• Nenhum resultado encontrado

Recomendações da Organização dos Estados Americanos para a existência de uma

4. AUTONOMIA DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

4.1 Recomendações da Organização dos Estados Americanos para a existência de uma

A Defensoria Pública da União, como visto, tem a função de garantir o acesso à justiça aos hipossuficientes econômicos, jurídicos, sociais, etc., de modo a efetivar os preceitos constitucionais previstos nos incisos XXXV e LXXIV do artigo 5º e no artigo 134 da CF/88.

Sua atuação, iniciada em 1995, todavia, não era livre para atender apenas aos interesses dos seus beneficiários. A instituição se mantinha atrelada aos interesses do Poder Executivo, visto que vinculada ao Ministério da Justiça, de forma que dependia politicamente e financeiramente daquele. Assim, muitas vezes, os anseios da instituição e dos assistidos eram prejudicados em razão da ingerência estatal, o que prejudicava sua independência funcional.

Dessa forma, o acesso à justiça realizado pela Defensoria Pública da União se conformava aos limites estabelecidos pelo órgão ao qual estava vinculado, mesmo que em confronto com as recomendações internacionais que estabeleciam a necessidade de autonomia para atuação daquela.

As resoluções e as recomendações são exemplos do denominado Soft Law, fonte contemporânea do direito internacional, sem força vinculativa formal, mas com grande eficácia interpretativa material, capazes de provocar sanções morais e políticas, além de serem utilizadas como fundamentos de decisões judiciais em Cortes Internacionais.

É um meio mais brando e diplomático de se chegar a consensos internacionais, mais rápido que o direito consuetudinário tradicional, e é etapa anterior aos Tratados (ou mesmo, muitas vezes, uma etapa preparatória aos tratados), tendo significativa força

hermenêutica realizadora, muito maior quando se trata de meios de concretizar direitos já pactuados por Tratados, tal qual o de assistência jurídica integral e gratuita, ora em análise.8788

Uma das recomendações desrespeitadas era a Resolução AG/RES 2.656 (XLI- 0/11), aprovada, no dia 07 de junho de 2011, em San Salvador, El Salvador, durante a 41ª Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos - OEA, que trata especificamente das garantias para o acesso à justiça. Esse documento foi o primeiro a reconhecer o acesso à justiça como um direito pela Organização e contém as seguintes resoluções:89

1. Afirmar que o acesso à justiça, como direito humano fundamental, é, ao mesmo tempo, o meio que possibilita que se restabeleça o exercício dos direitos que tenham sido ignorados ou violados.

2. Apoiar o trabalho que vêm desenvolvendo os defensores públicos oficiais dos Estados do Hemisfério, que constitui um aspecto essencial para o fortalecimento do acesso à justiça e à consolidação da democracia.

3. Afirmar a importância fundamental do serviço de assistência jurídica gratuita para a promoção e a proteção do direito ao acesso à justiça de todas as pessoas, em especial daquelas que se encontram em situação especial de vulnerabilidade.

4. Recomendar aos Estados membros que já disponham do serviço de assistência jurídica gratuita que adotem medidas que garantam que os defensores públicos oficiais gozem de independência e autonomia funcional.

5. Incentivar os Estados membros que ainda não disponham da instituição da defensoria pública que considerem a possibilidade de criá-la em seus ordenamentos jurídicos.

6. Instar os Estados a que promovam oportunidades de cooperação internacional para o intercâmbio de experiências e boas práticas na matéria.

7. Incentivar os Estados e os órgãos do Sistema Interamericano a que promovam a celebração de convênios para a oferta de capacitação e formação dos defensores públicos oficiais.

8 Apoiar o trabalho da Associação Interamericana de Defensorias Públicas (AIDEF), no fortalecimento da defesa pública nos Estados membros.

9. Solicitar ao Conselho Permanente que informe o Quadragésimo Segundo Período Ordinário de Sessões da Assembléia Geral sobre a implementação desta resolução, cuja execução estará sujeita à disponibilidade de recursos financeiros no orçamento- programa da Organização e de outros recursos. (Grifo do autor).

Posteriormente, para reiterar e reforçar a necessidade de uma Defensoria Pública autônoma nos Estados americanos, foi aprovada a Resolução AG/RES 2.801 (XLIII-O/13), na 43ª Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos, em Antígua, Guatemala, na

87 ROCHA, Amélia Soares da. Defensoria Pública: fundamentos, organização e funcionamento. 1ª. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 41.

88 O Soft Law se contrapõe ao Hard Law, que se refere ao Direito Tradicional. Com aquele é possível criar preceitos que ainda possuem fraco caráter vinculante, mas de grande importância aos sujeitos internacionais, pois permite a elaboração de orientações de forma mais célere, não precisando seguir todas as etapas jurígenas e oferecendo soluções rápidas aos problemas sociais. PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito

Internacional Público e Privado. 4ª Edição. Bahia. Juspodivm. 2012. p. 90 e 91.

89 SOUBHIA, Fernado Antunes. Defensoria Pública, III Pacto Republicano e PEC 487/2006: A necessidade

do reconhecimento da autonomia da Defensoria Pública da União como primeiro passo a um sistema de acesso à justiça democrático. Encontro Nacional do CONPEDI (21: 2012: Uberlândia, MG). Anais do

data de 05 de junho de 2013, que trata da autonomia da defesa pública oficial como garantia de acesso à justiça. Esse documento, que reconhece que “os Estados membros têm a obrigação de respeitar e garantir o exercício dos direitos reconhecidos nos tratados internacionais em que são partes e em suas legislações internas, eliminando os obstáculos que afetem ou limitem o acesso à defensoria pública, de maneira que se assegure o livre e pleno acesso à justiça”, estabelece, em relação ao tema abordado, as seguintes resoluções:

[...] 4. Reiterar uma vez mais aos Estados membros que já dispõem do serviço de assistência jurídica gratuita que adotem medidas destinadas a que os defensores públicos oficiais gozem de independência e autonomia funcional, financeira e/ou orçamentária e técnica.

5. Sem prejuízo da diversidade dos sistemas jurídicos de cada país, destacar a importância da independência e da autonomia funcional, financeira e/ou orçamentária da defesa pública oficial, como parte dos esforços dos Estados membros para garantir um serviço público eficiente, livre de ingerências e controles indevidos da parte de outros poderes do Estado que afetem sua autonomia funcional e cujo mandato seja o interesse de seu cliente.

[...]

11. Incentivar uma compilação de boas práticas sobre acesso à justiça e defesa pública na região, em cumprimento do parágrafo resolutivo 6 da resolução AG/RES. 2656 (XLI-O/11) e do parágrafo resolutivo 9 da resolução AG/RES. 2714 (XLII- O/12), com as recomendações que estime pertinentes, com vistas a consolidar, paulatinamente, o sistema de defesa pública autônoma e independente no continente.

Assim, diante dessa vinculação da Defensoria Pública da União ao Poder Executivo, o Estado brasileiro descumpre as recomendações internacionais de garantir o acesso à justiça por um órgão autônomo e mais capaz de atender os interesses dos seus beneficiários.

Em face dessa pressão internacional, os governantes brasileiros, para atender a essas recomendações, passam a deliberar sobre a autonomia da Defensoria Pública, como meio de ampliar o direito de acesso à justiça no país.

4.2 Promulgação da Emenda Constitucional nº 45/2004: concessão da autonomia às