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Funções institucionais da Defensoria Pública

3. ASPECTOS DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

3.4 Funções institucionais da Defensoria Pública

As funções a serem exercidas pela Defensoria estão previstas no artigo 4º da Lei Complementar nº 80/94. Contudo, tal previsão não é taxativa, mas numerus apertus, podendo ser ampliada através de Lei, desde que respeitadas as finalidades institucionais estabelecidas na Constituição.

Dispõe o referido artigo:

Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:

I – prestar orientação jurídica e exercer a defesa dos necessitados, em todos os graus;

II – promover, prioritariamente, a solução extrajudicial dos litígios, visando à composição entre as pessoas em conflito de interesses, por meio de mediação, conciliação, arbitragem e demais técnicas de composição e administração de conflitos;

III – promover a difusão e a conscientização dos direitos humanos, da cidadania e do ordenamento jurídico;

IV – prestar atendimento interdisciplinar, por meio de órgãos ou de servidores de suas Carreiras de apoio para o exercício de suas atribuições;

V – exercer, mediante o recebimento dos autos com vista, a ampla defesa e o contraditório em favor de pessoas naturais e jurídicas, em processos administrativos e judiciais, perante todos os órgãos e em todas as instâncias, ordinárias ou extraordinárias, utilizando todas as medidas capazes de propiciar a adequada e efetiva defesa de seus interesses;

VI – representar aos sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos, postulando perante seus órgãos;

VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes;

VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos, coletivos e individuais homogêneos e dos direitos do consumidor, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal;

IX – impetrar habeas corpus, mandado de injunção, habeas data e mandado de segurança ou qualquer outra ação em defesa das funções institucionais e prerrogativas de seus órgãos de execução;

X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados, abrangendo seus direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela;

XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado;

XII - (VETADO); XIII - (VETADO);

XIV – acompanhar inquérito policial, inclusive com a comunicação imediata da prisão em flagrante pela autoridade policial, quando o preso não constituir advogado;

XV – patrocinar ação penal privada e a subsidiária da pública; XVI – exercer a curadoria especial nos casos previstos em lei;

XVII – atuar nos estabelecimentos policiais, penitenciários e de internação de adolescentes, visando a assegurar às pessoas, sob quaisquer circunstâncias, o exercício pleno de seus direitos e garantias fundamentais;

XVIII – atuar na preservação e reparação dos direitos de pessoas vítimas de tortura, abusos sexuais, discriminação ou qualquer outra forma de opressão ou violência, propiciando o acompanhamento e o atendimento interdisciplinar das vítimas; XIX – atuar nos Juizados Especiais;

XX – participar, quando tiver assento, dos conselhos federais, estaduais e municipais afetos às funções institucionais da Defensoria Pública, respeitadas as atribuições de seus ramos;

XXI – executar e receber as verbas sucumbenciais decorrentes de sua atuação, inclusive quando devidas por quaisquer entes públicos, destinando-as a fundos geridos pela Defensoria Pública e destinados, exclusivamente, ao aparelhamento da Defensoria Pública e à capacitação profissional de seus membros e servidores; XXII – convocar audiências públicas para discutir matérias relacionadas às suas funções institucionais;

§ 1º (VETADO).

§ 2º As funções institucionais da Defensoria Pública serão exercidas inclusive contra as Pessoas Jurídicas de Direito Público.

Observa-se, portanto, que, em resumo, as atribuições da Defensoria abrangem três vertentes:

a) a prestação do serviço de assistência judicial integral e gratuita nas mais diversas áreas de atuação, tais como direitos humanos, previdenciário, criminal, entre outras; b) a atuação extrajudicial para a resolução dos conflitos às pessoas físicas e jurídicas e as mais diversas instâncias da Administração Pública Federal, uma vez que cabe ao Defensor Público realizar acordos entre as partes em conflito, o que contribui sobremaneira para a redução das demandas que chegam ao Poder Judiciário; e c) a prestação de assistência jurídica preventiva e consultiva, que funciona para a minimização dos conflitos de interesse no seio da sociedade, o que contribui para a formação da cidadania plena.73

As funções institucionais são divididas pela doutrina em funções típicas e atípicas.74 As primeiras se referem àquelas prestadas exclusivamente aos economicamente carentes, ou seja, àqueles que não têm recursos para custear as despesas processuais e os honorários advocatícios, qualquer que seja a atividade prestada.75 Já as segundas funções, relacionam-se àquelas atividades proporcionadas, independentemente de análise econômica do assistido, a exemplo da defesa técnica do réu no processo penal, seja ele carente ou não.

Segundo Frederico Rodrigues V. de Lima, existem dois fundamentos que possibilitam a Defensoria a atuar nas funções atípicas. Um deles é a inexistência de taxatividade quanto às atribuições previstas na Constituição, sendo a defesa dos necessitados

73 BRASIL. Defensoria Pública da União. Relatório de Gestão do Exercício de 2012. Brasília. DF. Março de

2013. p. 07. Disponível em:

<http://www.dpu.gov.br/images/stories/relatorios_gestao/relatorio_de_gestao_2012.pdf>. Acesso em 11.10.13. 74 LIMA, Frederico Rodrigues Viana de. Defensoria Pública. 2ª Edição, 2ª tiragem. Bahia. Juspodivm. 2012. p. 164. 75“A presunção de hipossuficiência econômica foi regulamentada pelo Conselho Superior da Defensoria Pública da União – CSDPU, por meio da Resolução CSDPU n.º 13, de 25 de outubro de 2006, de forma que “presume-se necessitado todo aquele que integre família cuja renda mensal não ultrapasse o valor da isenção de pagamento do

imposto de renda.” BRASIL. Defensoria Pública da União. Relatório de Gestão do Exercício de 2012. Brasílía.

DF. Março de 2013. p. 06. Disponível em:

apenas uma delas. O outro é a possibilidade de interpretação ampliativa dos termos “insuficiência de recursos” e “necessitados”, utilizados respectivamente nos artigos 5º, inciso LXXIV e 134 da Constituição Federal. Segundo esse argumento, os dois termos não são utilizados apenas no âmbito econômico, podendo ser aplicado também para os casos em que exista alguma forma de vulnerabilidade a um determinado grupo social, como no plano jurídico ou organizacional, a exemplo dos consumidores, de um grupo que utiliza determinado meio ambiente, os idosos, etc.76

Cabe razão ao autor, pois, ao se adotar tal entendimento, possibilita uma atuação mais elástica desse órgão ao proteger os economicamente necessitados e os grupos sociais vulneráveis, ampliando o acesso à justiça a um número maior de brasileiros.

Em que pese a abrangência de funções da Defensoria Pública, essa instituição ainda enfrenta obstáculos de ordem material e de recursos humanos, que dificultam um efetivo acesso à justiça aos seus usuários.77 A seguir, demonstra-se a atual situação em que ela se apresenta.