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A INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA PRÁTICA DE LEITURA

2 APORTES TEÓRICOS

2.4 A INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA PRÁTICA DE LEITURA

Entendemos por intervenção pedagógica uma mediação feita por um profissional da educação, seja ele um professor, um pedagogo ou um psicopedagogo, a qual é executada sobre o processo de aprendizagem do indivíduo que apresenta disfunções referentes a esse ato. Sendo assim, durante a intervenção, há a interferência no processo através do procedimento adotado com o objetivo de compreendê-lo, explicitá-lo ou corrigi-lo a partir da adoção de novas técnicas. Faz-se necessária a admissão de novos recursos para que o indivíduo sinta a necessidade de romper padrões anteriores de convívio com o mundo através de novos pensamentos, elaborações.

No tocante ao trabalho com a leitura em sala de aula, com suas especificidades, seus pormenores, as intervenções surgem quando o professor se depara com situações de desinteresse, incapacidades, analfabetismo por parte da maioria dos alunos em relação ao ato de ler. A partir desses problemas, o professor busca construir um bom planejamento didático de intervenção, que indispensavelmente inclui nas atividades de leitura um trabalho seletivo com os gêneros que surjam do cruzamento de linguagens variadas e, evidentemente, com textos literários que criam a possibilidade do indivíduo explorar dimensões não usuais do imaginário coletivo e pessoal, dado que “o tratamento do texto literário oral ou escrito envolve o exercício

de reconhecimento de singularidades e propriedades que matizam um tipo particular de uso da linguagem” (BRASIL, 2001, p. 27).

Para que se tenha um bom êxito no desenvolvimento das atividades com gêneros, durante a intervenção, como resultados satisfatórios, o educador precisa antes responder alguns questionamentos norteadores: “Por que os alunos não se interessam pela leitura proposta em sala de aula?”. “O que queremos que os nossos alunos leiam?”; “Com que propósito solicitamos essa leitura?”; “Deixamos claro para os nossos alunos quais os usos e funções da leitura nas relações cotidianas?”. À medida em que busca soluções para essas questões, o professor deve fazer pesquisas, análises, avaliações, levantamento de dados com a finalidade de encontrar uma proposta de intervenção pedagógica que contenha estratégias de leitura práticas e motivadoras e que melhor atendam às necessidades dos seus alunos. Refletindo sobre esses objetivos, outro questionamento surge: Quais procedimentos utilizar nessas atividades? Quais parâmetros seguir para desenvolver competências e habilidades no ato de ler?

Objetivando encontrar respostas para esses últimos questionamentos podemos observar a seguinte orientação dada pelos PCN, que assim diz:

O grau de exigência da tarefa refere-se aos conhecimentos de natureza conceitual e procedimental que o sujeito precisa ativar para resolver o problema proposto pela atividade. [...] A leitura de um texto, compreende, por exemplo, pré-leitura, identificação de informações, articulação de informações internas e externas ao texto, realização e validação de inferências e antecipações, apropriação das características do gênero. (BRASIL, 2001, p. 38)

Ainda em relação à mediação na realização das tarefas aplicadas durante o processo, os PCN reforçam

A articulação desses fatores – necessidades dos alunos, possibilidades de aprendizagem, grau de complexidade do objeto e das exigências da tarefa – possibilita o estabelecimento de uma sequenciação não a partir da apresentação linear de conhecimentos, mas do tratamento em espiral, sequenciação que considere a reapresentação de tópicos, na qual a progressão também se coloque no nível de aprofundamento com que tais aspectos serão abordados e no tratamento didático que receberão. (BRASIL, 2001, p. 39)

Assim, a escola juntamente com o professor são responsáveis pela articulação de tais fatores não levando apenas em consideração o planejamento, situações didáticas de aprendizagem, porém, deve-se pensar, também, na organização da sequência das atividades.

Essa organização deve estar em função da intervenção além de estar atendendo às necessidades dos alunos.

Para falar da utilidade das estratégias, Solé (1998, p. 69) recorre a Valls (1990) afirmando que tem “sua utilidade para regular a atividade das pessoas, à medida que sua aplicação permite selecionar, avaliar, persistir ou abandonar determinadas ações para conseguir as metas a que nos propomos”.

Atualmente, percebemos algo contraditório no que diz respeito ao trabalho com a leitura em sala de aula, uma vez que de um lado estão os estudos incentivadores para uma prática do ato de ler voltada à interatividade, utilizando gêneros diversos, bem como a utilização de estratégias motivadoras, do outro, ainda presenciamos o desenvolvimento de algumas atividades centradas na superficialidade do simples reconhecimento dos aspectos linguísticos, gramaticais e de decodificação.

A esse respeito, Almeida (2010, p. 44) expõe que a leitura não se resume a “ter condições para lidar com os signos linguísticos, com aspectos semânticos, gramaticais ou fonológicos”. A leitura de mundo é a confluência entre o que se lê e o que se viveu ou vive, e nunca será dissociada da política ou cidadania, posto que, “[...] ler significa muito mais do que decodificar signos, ler significa, a partir de então, interagir com um mundo novo, repleto de descobertas, repleto de situações novas e desconfortantes que, muitas vezes, serão pontes entre um mundo e outro [...]” (ALMEIDA, 2010, p. 45).

Consoante às afirmações anteriores no que diz respeito à abordagem do trabalho com leitura como decodificação, Koch e Elias (2015) asseveram que:

A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência (Koch e Elias, 2015, p. 12).

Segundo Almeida (2010, p. 44), “ler é, acima de tudo, ação cidadã”. A partir do momento em que o indivíduo compreende o processo de leitura, existe a possibilidade de desencadear leituras do mundo, através da sua experiência, percepção ou por sua formação.

“Ler o mundo é compará-lo, desconstruí-lo e reinventá-lo a seu modo. Mas, para isso acontecer, é preciso também ter técnica, competência didática e linguística” (ALMEIDA, 2010, p. 44).

Quando o professor se propõe a incluir em suas práticas pedagógicas estratégias que auxiliem o aluno no melhoramento das suas habilidades e competências leitoras, elevando assim o seu grau de aproveitamento, deve levar em consideração os processos de leitura denominados de cognitivos e metacognitivos, uma vez que através desses processos pode haver um maior esclarecimento sobre os mecanismos que os alunos utilizam, ou não, para a compreensão durante a leitura e que ajudará a definir o tipo de leitor.

Sobre o processo cognitivo, Leffa (1996, p. 47) o denomina conhecimento declarativo, o qual se trata do envolvimento apenas da consciência da tarefa a ser executada, ou seja, se o professor propor a leitura de um livro o qual não desperta interesse no aluno esse irá fazer a leitura apenas como cumprimento de uma tarefa. A respeito do processo metacognitivo, ou conhecimento processual, o autor esclarece que além de haver o envolvimento da consciência, há também a consciência da consciência, dado que

Essa avaliação envolve não apenas o produto do conhecimento, mas o controle do próprio processo necessário para se chegar ao produto, ou seja, o sujeito não tem apenas consciência do resultado da tarefa mas também consciência do processo que deve seguir para chegar ao resultado. (LEFFA, 1996, p. 49)

Para o processo metacognitivo, podemos usar o mesmo exemplo da proposta de leitura de um livro feita pelo professor, entretanto, nesse caso o livro desperta o interesse do aluno que o favorecerá ao monitoramento da própria compreensão durante a leitura a fim de tomar medidas adequadas quando a compreensão falha.

As estratégias de leitura direcionaram nossas ações de intervenção com o gênero conto, no que concerne à motivação, associada aos objetivos da leitura, e a abordagem dos conhecimentos e experiências prévias dos alunos.

Buscamos essas estratégias para direcionar os alunos a construírem sentidos com a leitura do gênero conto e as consideramos como bastante influentes para alcançarmos o nosso objetivo.

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