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2 APORTES TEÓRICOS

2.3 ESTRATÉGIAS DE LEITURA

Levando-se em consideração a leitura enquanto ato individual, Kleiman (2002) questiona a relação entre o ensino da leitura e o que diz respeito à viabilidade desse ensino, formulando assim uma reflexão onde se questiona se não há uma discrepância entre as tentativas de ensino da leitura com a natureza da atividade, uma vez que a leitura é um ato individual de

construção de significado num contexto que se configura mediante a interação entre autor e leitor.

Estratégias de compreensão leitora “são procedimentos de caráter elevado, que envolvem a presença de objetivos a serem realizados, o planejamento das ações que se desencadeiam para atingi-los, assim como sua avaliação e possível mudança”. (SOLÉ, 1998, p. 70). Realizando esses procedimentos antes, durante e após a leitura, os quais se configuram indispensáveis à compreensão de textos, o leitor desenvolverá a habilidade de leitura.

Ainda segundo Solé (1998, p. 70), “se considerarmos que as estratégias de leitura são procedimentos de ordem elevada que envolvem o cognitivo e o metacognitivo, no ensino elas não podem ser tratadas como técnicas precisas, receitas infalíveis ou habilidades específicas”. Ao usar as estratégias, o leitor adquire a capacidade de perceber problemas durante a leitura e, assim, pode tentar encontrar possíveis soluções. Se o leitor percebe quando e o que compreende e ainda quando não compreende o texto, é um leitor proficiente.

O leitor ativa os conhecimentos prévios necessários para a produção de sentido, quando utiliza as estratégias durante o processo de leitura, estabelecendo, assim, uma relação de interatividade com o texto.

Para Kleiman (2002):

Quando falamos de estratégias de leitura, estamos falando de operações regulares para abordar o texto. Essas estratégias podem ser inferidas a partir da compreensão do texto, que por sua vez é inferida a partir do comportamento verbal e não verbal do leitor, isto é, do tipo de respostas que ele dá a perguntas sobre o texto, dos resumos que ele faz, de suas paráfrases, como também da maneira com que ele manipula o objetivo: se sublinha, se apenas folheia sem se deter em parte alguma, se passa os olhos rapidamente e espera a próxima atividade começar, se relê (KLEIMAN, 2002, p. 49).

Na concepção de Solé (1998), as estratégias não detalham nem prescrevem totalmente o curso de uma ação, são suspeitas inteligentes e arriscadas, sobre o caminho mais adequado para seguir. Segundo a autora, a autonomia no ato da leitura é possibilitada pelas estratégias que podem ser avaliadas em função dos objetivos, podendo o processo de leitura apresentar retrocesso ou um avanço.

2.3.1 Estratégias cognitivas

Kleiman (2002) define-as como processos sem controle consciente do leitor. Assim,

As estratégias cognitivas da leitura seriam aquelas operações inconscientes do leitor, no sentido de não ter chegado ainda ao nível consciente, que ele realiza para atingir algum objetivo da leitura. Por exemplo, o fatiamento sintático é uma operação necessária para a leitura, que o leitor realiza, ou não, rápida ou cuidadosamente, isto é, de diversas maneiras, dependendo das necessidades momentâneas, e que provavelmente não poderá descrever. (KLEIMAN 2002, p. 50)

Atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento, linguagem e ação são as estratégias cognitivas, apresentadas por cada indivíduo, que mobilizam o processo de aprendizagem e levam o leitor a reconstruir a mensagem do autor mediante pista encontrada no texto.

2.3.2 Estratégias metacognitivas

Diferentemente das estratégias cognitivas, as metacognitivas estão ligadas ao conhecimento processual, haja vista o leitor ter consciência do processo, no momento da realização da tarefa e do percurso para obtenção de mais eficiência na leitura.

A flexibilidade na leitura é a característica mais saliente do leitor proficiente, conforme sugere Kleiman (2002). Por essa flexibilidade, entendem-se os vários e possíveis procedimentos utilizados pelo leitor para chegar aonde quer.

Kleiman (2002) ainda menciona que o leitor experiente torna a leitura uma atividade “consciente, reflexiva e intencional” (KLEIMAN, 2002, p. 51). Entendemos, assim, que o indivíduo exerce o controle consciente da atividade que está realizando. Esse controle é demonstrado quando o leitor auto avalia a própria compreensão, recorrendo a diversos procedimentos para tornar o texto inteligível e quando determina um objetivo para a leitura apoiado no conhecimento prévio.

A atividade de leitura envolve estratégias cognitivas e metacognitivas. Em relação as estratégias metacognitivas, o leitor experiente utiliza técnicas como releitura, procura do significado de palavra-chave, resumo, exemplo de um conceito, entre outros.

Segundo Kleiman (2002), o ensino da leitura é um empreendimento de risco, se não estiver fundamentado numa concepção teórica firme sobre os aspectos cognitivos envolvidos na compreensão do texto.

2.3.3 Estratégias de leitura na escola

Ensinar a ler corretamente é um dos grandes desafios enfrentados pela escola. A aquisição da leitura é um fator necessário para agir como indivíduo, independente em uma sociedade letrada, ficando assim em desvantagem, aquele que não conseguiu adquiri-la.

Segundo os PCN de Língua Portuguesa (2001), a leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem, etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas.

Nesse sentido, ensinar estratégias de compreensão leitora é necessário para a formação de leitores autônomos com capacidade de enfrentar textos diversos (SOLÉ, 1998).

Para melhor explanar a respeito da leitura e do ensino das estratégias que a tornam possível, Solé (1998) apresenta três ideias associadas à concepção construtivista. A primeira considera a situação educativa como um processo de construção conjunta (Edwards e Mercer, 1988) quando professor e aluno compartilham progressivamente significados mais amplos e complexos, tornando-se mais adequados para entender e incidir sobre a realidade. Na segunda ideia (Coll, 1990), o professor exerce uma função de guia garantindo o elo entre a construção que o aluno pretende realizar e as construções socialmente estabelecidas, “assim, estamos perante um processo de construção conjunta que se caracteriza por constituir o que Rogoff (1984) denomina participação guiada” (SOLÉ, 1998, p. 76). A terceira ideia denominada

andaimes (Wood, Bruner e Ross, 1976), consiste em utilizar essa metáfora do andaime para

desafios do ensino são andaimes que deverão ajudar na construção da aprendizagem do aluno, e, depois de concluído o trabalho, deverão ser retirados progressivamente para que o edifício não caia, ou seja, o aluno deverá se mostrar mais competente e ter a capacidade de controlar sua aprendizagem.

É necessário que a escola promova o ensino da leitura uma vez que essa habilidade não é inata e para melhor desenvolver esse processo o professor pode usar as estratégias de compreensão leitora, a fim de que os alunos também se apropriem adequadamente do uso desse recurso para se tornarem capazes de entender textos dos diferentes tipos e sobre os mais variados assuntos ao longo de toda a sua vida escolar, atribuindo sentido ao que leem.

Segundo Solé (1998), as estratégias de leitura são as ferramentas necessárias para o desenvolvimento da leitura proficiente. Sua utilização permite compreender e interpretar de forma autônoma os textos lidos e pretende despertar o professor para a importância em desenvolver um trabalho efetivo no sentido da formação do leitor independente, crítico e reflexivo.

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