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Nesta proposta de intervenção pedagógica, procuramos respostas para os nossos questionamentos em relação às dificuldades dos alunos para desenvolverem sua competência leitora e quais procedimentos poderiam ser adotados para a contribuir na formação de leitores proficientes. Esses questionamentos encontram-se presentes na introdução deste trabalho.

Sabemos que a leitura é a base para as relações interacionais do convívio em sociedade, assim, é necessário pô-la em prática para que sejam adquiridos os saberes que possibilitem uma plena participação social.

A escola enquanto espaço que proporciona o ato de ler, fica responsável pela criação de estratégias que impulsionem os alunos a adquirirem o gosto pela leitura, contribuindo assim, para a formação de alunos proficientes, críticos que consigam sentir-se agentes transformadores da sociedade a qual fazem parte.

No que concerne a esta intervenção, desenvolvemos a partir de SD, estratégias de incentivo à leitura usando o gênero conto, visto que o texto literário ultrapassa os limites dos modos de ver a realidade, oportunizando outra mediação de sentidos entre o sujeito e o mundo, o que torna a leitura bastante instigante e desafiadora.

Nas atividades da SD, proporcionamos momentos de interação, mediados pelo professor, após a leitura de contos onde os alunos tanto expuseram quanto ouviram opiniões acerca do que ficou compreendido. A maioria dos alunos participou ativamente das discussões, o que nos permitia concluir, naqueles momentos, que eles estavam compreendendo os textos. Conforme íamos promovendo as conversas, os alunos aderiam com mais segurança às interações. Na sequência, os alunos foram convidados a (re)visitar a ONG Casarão de Poesia, por se tratar de um ambiente favorável à leitura, onde conversaram com uma escritora a respeito da sua relação com a leitura e escrita literárias. A produção final da SD consistiu na apresentação dinâmica de contos lidos pelos alunos. Essas apresentações se deram por meio da confecção de outros gêneros os quais constituíram-se como material da nossa análise.

Os contos utilizados para a leitura e a forma como seriam apresentados foram escolhidos pelos próprios alunos que divididos em grupos com três/quatro componentes se articularam para a realização da atividade.

As imagens mostradas a seguir, são o resultado da leitura do conto O primeiro beijo, de Clarice Lispector onde o grupo optou pela confecção de uma carta direcionada para um(a) colega da classe sugerindo o livro que leram.

Ilustração 1 – Texto do Inf. A1

Observamos que o Inf. A1 utiliza dois recursos a fim de convencer o colega a ler o livro sugerido. A primeira é a estratégia de tentar aguçar a curiosidade quando faz uma pequena descrição do fato que dá início ao conflito da narrativa e encerra com reticências. O segundo é o uso de palavras e expressões positivas, tais como: “ótima”, “surpreendente”, “envolventes” e “bem estruturado”. Nota-se, então, que é um aluno que tem contato próximo com a leitura uma vez que é conhecedor de recursos apurados. Possui bom vocabulário e é conhecedor das normas gramaticais.

Na tentativa do convencimento à leitura do conto, o Inf. A2 direciona a atenção do leitor para a questão do relacionamento amoroso quando especifica, no início da carta, que o casal protagonista se amava. Justificando o título do texto, descreve uma passagem a qual é envolvida por uma linguagem representativa do amor, o beijo na boca. Outro incentivo à leitura presente no texto é o pedido, no final da carta, para que o colega leia e depois relate o que mais gostou, o que proporciona a ação da interatividade onde poderão compartilhar suas compreensões sobre o conto pautadas em novas impressões, ideias, vivências.

Ilustração 3 – Texto do Inf. A3

O Inf. A3 indica, não somente a leitura do conto O primeiro beijo, da Clarice Lispector, bem como, indiretamente, aponta outros textos da escritora quando informa seu nome no início do texto. Tenta chamar a atenção do colega relatando um momento de lazer bastante atrativo

para os jovens, a excursão. Também procura aguçar a curiosidade do colega utilizando a estratégia de descrever um pouco o enredo deixando o final a descobrir, bem como em usar expressões positivas a respeito do conto, tais como: “tantas qualidades” e “bem humorístico”. Percebemos que o aluno tem vivência significativa com a leitura, pois consegue escrever e se expressar com fluência.

Ilustração 4 – Texto do Inf. 4

Percebemos que o Inf. 4 focalizou o que já está expresso no título, o primeiro beijo, na intenção de atrair o colega para a leitura. Não faz a descrição do momento, apenas explicita que o personagem “relembra como foi o seu primeiro beijo”, o que pode deixar o seu leitor bastante curioso para ler o texto. Também utiliza as palavras “interessante” e “gostei” para expressar sua visão sobre o conto, bem como atrair a atenção para a leitura do mesmo. Com a intenção de promover um momento de interação, surge um convite para dialogar sobre o conto à medida

que o colega o leia. Mais uma vez surge a oportunidade do compartilhamento de compreensões sobre o texto lido.

A partir da leitura e análise das cartas produzidas mediante a leitura do conto O

primeiro beijo, de Clarice Lispector, percebemos que para o grupo a leitura foi prazerosa como

demonstrado pelos Inf. A1, A3 e A4 que expressaram sua satisfação pela leitura através de palavras e expressões positivas, tais como: “ótima”, “surpreendente”, e “envolventes”; “tantas

qualidades”; “interessante” e “gostei”, respectivamente. Entenderam sua função comunicativa

que corresponde ao entretenimento e à reflexão sobre amor, primeiro beijo, ciúme. A função emotiva do conto foi evidenciada pelo Inf. A4 no momento em que é dito: “Ele descreve bem

a sensação do personagem em seu primeiro beijo”. No tocante aos elementos composicionais,

foram evidenciados os personagens protagonistas e o conflito. Em relação ao propósito da interação, os Inf. A2 e A4 convidam os colegas a quem as cartas foram destinadas, para que façam a leitura e depois possam dialogar a respeito do que foi lido.

A imagem seguinte ilustra o resultado do trabalho de outro grupo o qual definiremos por Inf. A5. Após a leitura do conto Chapeuzinho vermelho, de Charles Perrault, o grupo de alunos optou pela produção de um poema no qual o tema é o enredo do conto.

Observamos na produção do poema que o Inf. A5 conseguiu expressar as características da personagem principal “delicada”, “desobediente” e “contente”, igualmente alcançou o objetivo proposto de inserir o enredo como tema. Demonstram saber que o conto é destinado ao público infantil quando produzem o poema utilizando gravuras, letras coloridas e linguagem acessível às crianças. A característica “desobediente” da personagem principal deixa claro o entendimento quanto a uma das propostas comunicativas do conto.

A escolha desse conto nos chamou a atenção pelo fato da turma participante da proposta de intervenção ser de alunos do 9º ano e o referido conto, na versão apresentada, se tratar de um texto literário voltado para um público infantil. Como mencionado anteriormente, a escolha dos contos a serem apresentados foi feita de maneira autônoma, o que algumas vezes ocasiona a preferência por livros em que já se tenha desenvolvido uma certa proficiência. Entendemos que para o momento da apresentação, os alunos se sentem mais seguros em mostrar um conto que eles já conhecem.

A seguir, será apresentado o trabalho de outro grupo o qual trataremos Inf. A6. O conto escolhido foi O sal e a água, de Teófilo Braga. Para a apresentação do conto foi escolhido a confecção de um cartaz seguindo a estrutura de uma receita culinária, que indica os procedimentos ideais para uma leitura agradável: a escolha do que ler, em que local, por onde começar, com quem trocar ideias, etc.

Quadro 3 – Conto O sal e a água

O SAL E A ÁGUA Teófilo Braga

Um rei tinha três filhas; perguntou a cada uma delas por sua vez, qual era a mais sua amiga. A mais velha respondeu:

– Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol. Respondeu a do meio:

– Gosto mais de meu pai do que de mim mesma. A mais moça respondeu:

– Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.

O rei entendeu por isto que a filha mais nova o não amava tanto como as outras, e pô-la fora do palácio. Ela foi muito triste por esse mundo, e chegou ao palácio de um rei, e aí se ofereceu para ser cozinheira. Um dia veio à mesa um pastel muito bem feito, e o rei ao parti- lo achou dentro um anel muito pequeno, e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquele anel. Todas quiseram ver se o anel lhes servia: foi passando, até que foi chamada a cozinheira, e só a ela é que o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo apaixonado por ela, pensando que era de família de nobreza.

Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de princesa. Foi chamar o rei seu pai e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho para casar com ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para as festas de noivado convidou-se o rei que tinha três filhas, e que pusera fora de casa a mais nova. A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não botou sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia? Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento da filha:

– É porque a comida não tem sal.

O pai do noivo fingiu-se raivoso, e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha botado sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo, e confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe tinha dito, que lhe queria tanto como a comida quer o sal, e que depois de sofrer tanto nunca se queixara da injustiça de seu pai.

Fonte:

http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/literatura/obras_completas_literatura_brasileira_e_p ortuguesa/TEOFILOBRAGA/SAL_E_AGUA/SAL_E_AGUA_TEXTO.HTML

Quadro 4 – transcrição da receita – cartaz

Para fazermos a receita precisamos de:

* 2/4 de xícara de uma narração (preferência personagens)

* 1kg de enredo de discursos coerente de certa forma mal interpretada por um pai e suas filhas.

* 1 pitada de conflito

* 2 colheres de sopa de introdução * ½ quilo de complicação

* 2 copos de clímax * 200g de desfecho

Modo de preparo: Misture todos esses ingredientes e leve ao forno em 50minutos.

Percebemos que, nesse caso, o Inf. A6 não conseguiu cumprir com o objetivo proposto de transformar o conto em uma receita que estimule a leitura. Como podemos observar, foi feita apenas uma relação dos elementos da narrativa mesclados com os de uma receita. A proposta de criação do cartaz orienta que nele apareça a indicação dos procedimentos ideais para uma leitura agradável, tais como: a escolha do que ler, em que local, por onde começar, com quem trocar ideias, etc. O que não aconteceu. Vale salientar que essas propostas foram orientadas em sala de aula onde foi escrito no quadro sugestões para a produção do cartaz.

A finalidade de apresentar um trabalho que não correspondeu às expectativas é a de expor que em algumas vezes, mesmo com todo um planejamento, nos deparamos com resultados insatisfatórios, os quais nos orientam para uma reflexão sobre a nossa prática a fim de investigarmos o que pode não ter dado certo que fez com que o aluno não compreendesse o objetivo proposto a ele.

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