• Nenhum resultado encontrado

2.3 Aspecto histórico-teológico: a necessidade da superação da denominacionalização e

2.5.1 A investigação da dinâmica sócio-comunitária

Já em 2000, havíamos registrado o duplo significado da palavra “social” em Wesley. “A expressão de João Wesley, `Não haver religião cristã, se não for social, não haver santida- de, se não for uma santidade social´, fala, em primeiro lugar, da necessidade da comunhão, em segundo da atividade social além do individual.”318 Mais recentemente, encontramos uma afirmação e distinção parecida em Albert Truesdale: “Para Wesley, não há uma santidade se não for santidade social. Wesley usou essa frase para contrariar o atomismo religioso dos mís- ticos. Mas isso não é somente aplicável à koinonia da igreja, mas também às dimensões soci- ais do evangelho.” 319

Em geral, porém, define-se o uso desse termo à participação em dois ramos distintos. Por um lado, limita-se o social ao aspecto comunitário-eclesiológico

Segundo a compreensão de Wesley da natureza de Deus e dos requisitos da redenção e libertação humana, a salvação é necessariamente de natureza comunitária. Isso quer dizer que a salvação sempre envolve a morte de uma independência pecaminosa [...] e ser integrado em algo maior e mais signi- ficativo, mais explícito, o corpo de Cristo, a comunidade dos redimidos, a igreja.320

318 Helmut RENDERS. Crescendo na aliança com deus, da forma mútua e íntegra: os pequenos grupos numa perspectiva metodista. Mosaico. Apoio Pastoral. São Bernardo do Campo: Faculdade de Teologia da Igreja Me- todista, Centro de Teologia e Filosofia da Universidade Metodista de São Paulo, Ano VIII – n. 17, abril/maio de 2000, p. 7, roda-pé 7.

319 Albert TRUESDALE. Christian holiness and the problem of systematic evil. Wesleyan Theological Journal, vol. 19, n. 1, primavera 1984, p. 51.

Na perspectiva de Collins, a religião social se torna completamente privada. Faz parte dessa perspectiva, a defesa do social como programa, como uma obra adicional, depois de ter feito o realmente essencial. É esta a única forma de uma soteriologia relacionar dois aspectos da vida? Concordamos, ao invés disso, com Margaret Jones que destaca “Nós precisamos en- contrar um jeito de falar que possibilite que a realidade interna e externa possam se enriquecer mutuamente”, e afirma: “O metodismo tem um discurso [...] disponível: seu compromisso de (trans)formação-em-comunhão / comunidade que exige que as pessoas permaneçam fieis tan- to a sua própria experiência de vida como à experiência de vida da tradição cristã.”321 Isto re- presenta uma leitura teológica e não, predominantemente, sociológica: a religião social e a santidade social descrevem o caminho da fé e os caminhos da salvação como por “natureza” relacional, interativa e comunitária. Isto não exclui a ênfase num compromisso com um certo grupo social, mas inclui, talvez de forma ideal, o tipo de relacionamento com este grupo. Isso faz da dinâmica sócio-coumunitária um eixo importante da re-leitura soteriológica proposta nesta tese.

2.5.2 O aspecto étnico-cultural da dinâmica sócio-comunitária

Valentin Dedji, teólogo africano, enfatiza também a importância do aspecto comunitá- rio do metodismo, mas focaliza mais o aspecto a partir do olhar étnico-cultural. Ele vincula uma experiência essencial africana – o “pertencer a” ou o “fazer parte de” (belonging to) – com o sucesso do sistema de classes, bandas e sociedades metodistas no continente africano. Segundo ele, a membresia na Igreja Metodista do Brasil segue a mesma lógica que, por sua vez, explicaria o contínuo crescimento dessa igreja.322 Uma comparação extensa de desenvo l- vimentos regionais da Igreja Metodista – ou outras igrejas – vinculando o aspecto étnico e es- truturas eclesiásticas que enfatizam o aspecto comunitário não existe, e um rápido olhar indica que pode ser um, mas não o único parâmetro para explicar um enraizamento da igreja em di- ferentes contextos étnico-culturais brasileiros. Mas a soteriologia social como parte de uma

theologia viatorum é sempre vivenciada em mundos de vida concretos. Costumes étnico-

Wesleyan Theological Journal, vol. 33, n. 1, 1998. Disponível em: < http://wesley.nnu.edu/wesleyan_theology

/theojrnl/31-35/33-1-9.htm >. Acesso em: 13 jun. 2004: “…given Wesley’s understanding of the nature of God and the requisites for human redemption and liberation, salvation is necessarily communal in nature. That is, sal- vation ever involves a death to sinful independence, pride, and exploitative self-will to become a part of a larger and more meaningful whole, namely, the body of Christ, the community of the redeemed, the church.”

321 Margaret JONES. Growing in grace and holiness. Unmasking Methodist Theology. MARSH, Clive et al. (eds.). New York & London: Continuum, 2004, p. 164.

culturais favorecem, impedem e transformam eclesiologias soteriológicas propostas. Um país como Brasil com uma topografia étnico-cultural tão rica e diversa precisará talvez de diversas soteriologias sociais acentuadas.

2.5.3 O aspecto lingüístico: O desafio da análise de discurso de Wesley

Wesley trata da questão da relação entre teologia e linguagem de diversas formas. Por um lado, para ele a “...teologia é nada mais do que a gramática da linguagem do Espírito San- to”323 e gramática é art de falar e escrever de um assunto de forma adequada324. Apesar disso, Wesley reconhecia também os limites do discurso teológico, por exemplo, em relação à sua capacidade de explicar o que se chama hoje a Trindade imanente. Como veremos mais adian- te, Wesley recorria, aqui, à idéia do mistério. Outro desafio do discurso teológico, reconheci- do por Wesley, era em relação aos/às seus/suas ouvintes. Por um lado, Wesley optou por um discurso que seguia, o quanto fosse possível, a linguagem bíblica. Nossa impressão é que isso não era somente uma decisão por meras razões teológicas. Houve também razões sociológicas no sentido de uma preocupação com a mediação adequada do conteúdo a grupos alvos distin- tos. Partindo de uma clássica distinção entre ad scholam, ad populum... Wesley faz uma op- ção clara em favor do povo e entre o povo o grupo dos pobres. Ela nos interessará ainda mais adiante. Apesar disso, Wesley dialogará com grupos diferentes e pode se esperar uma lingua- gem diferenciada. Terceiro, o discurso de Wesley era um discurso desafiante, ele não foi construído na tranqüilidade da academia, num ambiente favorável e amigável ao aumento de conhecimento, mas na apologia e organização de um movimento dinâmico, diverso, plurifo r- mo e até antígono. Quarto, o discurso escrito por Wesley se alimenta de diversas fontes. Quem lê suas afirmações fora dos seus múltiplos contextos e objetivos será obrigado, quase automaticamente, a mal entendê-los. A multiciplidade de ramos espirituais e tradições doutri- nárias que contribuíram, com compreensões distintas de metáforas parecidas, é um dos exe m- plos que deve motivar cuidados dobrados em relação ao uso de textos isolados de Wesley para fazer afirmações generalizadoras.

Uma última observação quanto à diversidade de formas usadas nas quais os irmãos Wesley apresentam os seus discursos. Manter um diário é um exercício espiritual original do Theology. MARSH, Clive et al. (eds.). New York & London: Continuum, 2004, p. 214.

323 NTJW, 1754, p. 6 – Introdução, §6.

meio puritano e pietista que, por Wesley, é ampliado para um uso apologético.325 O uso de sermões é considerado um meio “protestante”, apesar da tradição das homilias na igreja pri- mitiva. Como veremos mais adiante, os sermões de Wesley pretendem se dirigir ad populum, porém, sem seguir algumas das clássicas formas da pregação puritana da sua época. Registra- remos também que Wesley produziu poucos tratados teológicos, no sentido mais restrito. Car- tas são um outro meio muito importante usado por Wesley, tanto as cartas escritas para pesso- as com as cartas enviadas aos jornais da época. Tratados éticos, políticos, econômicos e espi- rituais, guias de oração e cancioneiros mostram a abrangência de uma fé pública.

Quanto às canções e o grande número de poesias reproduzidas nos hinários e no Armi-

nian Magazine e na Coletânea de Poemas, precisa-se saber que antes de Daniel Defoe (1660-

1731), o inventor da novela inglesa [english novel], histórias ou narrativas de acontecimentos foram transmitidas por extensas poemas, e isso não somente na Inglaterra.326 É a arte do pai Samuel Wesley que transforma até o livro Jó numa extensa poesia. Pode-se perguntar se essa forma não era também uma forma mais popular por ser composto por frases curtas fáceis de decorar pelo seu ritmo e por suas rimas. Charles Wesley herdou a habilidade poética do seu pai. Mas enquanto a novela substituiu, no século XVIII, o poema pela narração de eventos, a narração poética mediante canções estava somente começando. Os irmãos Wesley emprega- ram essa contribuição do compositor puritano Isaac Watts e tornaram as canções imensamente populares no meio metodista para narrar a história do caminho da salvação, sem substituir plenamente o canto de salmos, tão característico para o culto anglicano. Olhando para toda es- ta diversidade de formas usadas por Wesley, para a promoção do movimento metodista, pare- ce-nos que a grande maioria delas tem um ponto em comum: trata-se de formas mais popula- res da comunicação de idéias e ações e acessíveis para o povo.

325 De fato, Wesley manteve também um diário pessoal que ele não publicou. 326 Veja, por exemplo, a Comédia Divina de Dante.

SOTERIOLOGIA SOCIAL: A DESCONSTRUÇÃO DE

CAMINHOS CONTEMPORÂNEOS POR WESLEY

Enfoque sistemático-teológico I

No primeiro capítulo investigamos as grandes tendências na interpretação da práxis e teologia de John Wesley e refletimos, ao final, sobre a finalidade desse empreendimento. Chegamos a duas conclusões: primeiro, trata-se de re-leituras a partir de interesses e necessi- dades de cada época, contexto e vertentes distintas. Segundo, as re-leituras aparecem em mo- mentos de crise, em busca da inspiração e da visão inicial do movimento. Isso, entretanto, não pode impedir que esse empreendimento teológico se tornesse, cada dia mais, dependente das exigências institucionais da igreja. De repente, não se discute mais a missão, mas uma boa parte da reflexão sobre a essência da identidade wesleyana tem a tarefa de justificar ou estabe- lecer posições das diversas ramificações do metodismo dentro do seu corpo eclesiástico, tanto no nível nacional como no nível mundial, mediante a comprovação da sua ortodoxia e da sua fidelidade em relação ao seu carisma original. Em termos soterioló gicos, pode-se dizer que se passou da promoção do evangelho aos menos privilegiados à busca da salvação da instituição, da administração de grupos de poder, da manutenção eclesiástica. Poder-se-ia interpretar isso como uma mudança de foco soteriológico. Ho uve uma honrosa tentativa de escapar dessa ar- madilha ou auto-amputação eclesiástica: a ênfase soteriológica na promoção do Reino de Deus, que se tornou o discurso oficial da igreja metodista brasileira segundo os seus docu- mentos principais, especialmente, a partir de 1982, discurso que, contudo, não marca o meto-

dismo brasileiro de 2006.

Neste segundo capítulo, investigamos como Wesley interpretou o drama eclesiástico da sua época e como desenvolveu a sua proposta. Antecipando um dos resultados, parece-nos evidente que Wesley não colocou o drama eclesiástico da sua época em primeiro lugar, mas o drama do seu mundo. A sua ênfase era soteriológica, e a nossa hipótese é que essa ênfase ca- racterizou outros loci da teologia. Conseqüentemente, isso transformaria a sua eclesiologia, por exemplo, numa eclesiologia soteriológica. Há mais debates interessantes diante da tentati- va de substituir o soteriocentrismo por um cristocentrismo ou um pneumatocentrismo teológi- co. Segundo a nossa hipótese, a ênfase de Wesley, então, também não era pneumatológica, mas ele sustentou a sua soteriologia por uma pneumatologia soteriológica. Além disso, a a- brangência da sua visão soteriológica deveu-se ao entrelaçamento com um movimento maior, com dimensões internacionais e “ecumênicas” e um mergulho profundo na tradição cristã em geral.

Gostaríamos, então, de mostrar que as necessidades da vida e da missão levaram John Wesley a um amplo diálogo e a uma criteriosa adaptação, às vezes, transformação, mas cer- tamente, acentuação de doutrinas clássicas do cristianismo, como ele as encontrou preserva- das nas igrejas e nos movimentos da sua época. A originalidade do trabalho teológico de John Wesley não está tanto na invenção ou criação de novas doutrinas – fato que ele mesmo não cansou de repetir – mas na combinação de propostas dinâmicas, na identificação e rejeição de doutrinas opostas à sua visão do objetivo principal da soteriologia: ser útil para operacionali- zar ações salvíficas concretas.327 Neste segundo capítulo, documentamos, então, este trabalho teológico de desconstrução e reconstrução em Wesley e, no capítulo seguinte, iremos apro- fundar a hipótese que esta desconstrução e reconstrução feitas por Wesley seguem uma age n- da estabelecida segundo a sua própria inserção social. Neste caminho, John Wesley abraçou sucessivamente, em termos gerais, o meio popular como seu ambiente de atuação, e em ter- mos especiais, o ambiente dos pobres.

327 Em 1742, porém, Wesley se defende contra a crítica que a doutrina metodista representasse uma mera mistura inconsistente de doutrinas cristãs. WJW, vol. 9, 1742, p. 65 – The principles of a Methodist, §30: “That I may say many things which have been said before, and perhaps by Calvin or Arminius, by Montanus or Barclay, or the Archbishop of Chambray, is highly probable. But it cannot thence be inferred that I hold "a medley of all their Principles; – Calvinism, Arminianism, Montanism, Quakerism, Quietism, all thrown together." There might as well have been added, Judaism, Mahometanism, and Paganism. It would have made the period rounder, and been full as easily proved; I mean asserted. For no other proof is yet produced.”

1. A desconstrução das soteriologias herdadas em John

Wesley

O método da desconstrução e da reconstrução, a chamada re-leitura, é um velho co- nhecido na pesquisa brasileira e foi aplicado, a partir da década de 80, nas interpretações de John Wesley e do metodismo nascente328. Paralelamente, a re-leitura dentro de uma perspec- tiva mais intimista da fé nunca desapareceu plenamente, ela, meramente, não dominou a aca- demia.329 As novas reconstruções teológicas acompanharam o amplo debate sobre a adequada desconstrução e reconstrução do papel social do movimento metodista na historiografia ingle- sa. Essa perspectiva da história social foi introduzida no debate teológico e enriqueceu a com- preensão da soteriologia do metodismo nascente na sua dimensão de compromisso social e com abrangência pública. Além disso, introduzimos aqui a relevância das observações e dis- tinções lingüísticas, a desconstrução e re-construção do seu discurso. Essa mistura de métodos sociológicos,330 teológicos e lingüísticos fornece um conjunto de perspectivas mais ricas do que os olhares metodologicamente unilaterais que se concentram ou na diversidade de tradi- ções teológicas, comparando discursos, ou nas interações com grupos sociais.

Mas, a re-leitura não somente aumenta a nossa compreensão de Wesley no seu tempo, ela deve ser também usada para analisar e apresentar o método teológico do próprio Wesley como uma re-leitura das diversas tradições espirituais vitais da sua época.331 Essas releituras das releituras de John Wesley parecem, porém, até mais recentemente, bastante estreitas e li- mitadas a uns ou outros ramos eclesiásticos, teológicos ou espirituais. Da mesma forma, for- maram-se escolas sociológicas que, por exemplo, baseadas numa perspectiva historiográfica marxista, certamente enriqueceram a nossa compreensão do metodismo nascente. Por outro lado, utilizou-se a re-leitura da re-leitura de Wesley para defender posições parecidas com as do capítulo anterior. Às vezes, concentrava-se em procurar, em Wesley, referências que com- provassem a ortodoxia do próprio eixo temático preferido, sem olhar para a riqueza de pers- pectivas abordadas por Wesley e sua forma de dialogar entre elas. Assim, falta uma aproxi-

328 Veja VV.AA. Luta pela vida e evangelização: A tradição metodista na teologia latino-americana. Piracicaba, SP / São Paulo, SP: Editora Unimep / Edições Paulinas, 1985.

329 Talvez não seja acidental que a harmatologia tenha perdido seu destaque explicito nos planos do ensino, mesmo que ainda estivesse incluída nos grandes temas da antropologia e escatologia.

330 No terceiro capítulo introduzimos ainda algumas reflexões do cunho mais jurídico em relação às leis para os pobres [poor laws].

331 E para adiantar, iremos usar esse método também para uma releitura do metodismo brasileiro em busca de descrição de um projeto soteriológico no Brasil contemporâneo.

mação que enfatize a releitura do próprio Wesley como capacidade, primeiro, de interagir e dialogar com diversos grupos e, segundo, como convite para re-construir ou reformar mutua- mente a igreja e a nação e para dedicar suficiente energia nessa comunicação e interação. Para usar uma imagem, as re-leituras de Wesley mexem com um tecido teológico de uma época como uma totalidade, não com alguns fios isolados, e, como a proposta de Wesley é pública, ele precisa interagir com toda topografia sociocultural e suas subseqüentes práticas. Temos, então, dois desafios: enriquecer a leitura intra-teológica e relacioná-la com a leitura da vida. Quem lê o metodismo como uma aula de história da doutrina, gosta de identificar os seus fios soltos, e não vai muito além de registrar como eles ficam entre si, às vezes mais finos e, às vezes mais grossos, como eles, às vezes ficam abaixo de outros e, em outros momentos, aci- ma. Em vez disso partimos da imagem de um tecido teológico que acompanha – interpreta – a topografia sócio-cultural e as bases fundantes da sua tradição religiosa.

Abrimos aqui mais um parêntese. Compreender o metodismo como um tecido que a- companha a topografia maior da vida, da sua época e do seu contexto, tem mais um efeito. O que vale para o passado deve valer também para hoje. A teologia metodista fiel ao seu passa- do, simplesmente, não pode se manter por uma repetição de posições ou práticas identificadas e comprovadas num certo momento e local na história, sem se relacionar com a topografia contemporânea marcada pela cultura e por suas características sociais, econômicas, políticas e religiosas. Angela Shier-Jones alerta, com toda razão, que “Não há nenhuma razão de supor que posições teológicas particulares que motivaram a criação, implementação e ou modifica- ção de uma particular Standing Order, Act and Declaration – os `Cânones´ da Igreja Metodis- ta da Inglaterra – sejam hoje ou evidentes ou representem uma verdade incontestável (tru-

e).”332 Na mesma direção afirma Long: “Os/As metodistas devem fazer o que Wesley diz, mas

não sempre como ele fez. Precisamos nos basear nos recursos mais abrangentes da igreja uni- versal, sem a qual nos iríamos deteriorar rapidamente na pior forma de sectarismo.”333 Essa observação é desafiadora, não facilmente assimilada por estruturas eclesiásticas. Certamente, ela não deve ser confundida com uma simples ausência de reflexões responsáveis ou uma de- claração categórica da inutilidade das experiências do passado. Diferente disso, o método de desconstrução e reconstrução e o método da re-leitura, usados de forma responsável, ou seja, em diálogo, abrem um caminho e levam à direção de uma verdadeira teologia a partir da vida,

332 Angela SHIER-JONES. Being methodical: theology within church-structures. Unmasking Methodist Theol-

ogy. MARSH, Clive et al. (eds.). New York & London: Continuum, 2004, p. 30.

sob consulta do passado e da experiência coletiva da igreja de todos os séculos.

Quais foram os grupos ativos na época de metodismo nascente que contribuíram para o seu tecido soteriológico? Usando o método da história literária de idéias, Isabel Rivers in- terpreta a linguagem de John Wesley como interação com as linguagens do latitudinarismo, do não-conformismo e da tradição antiga dos dissidentes, e destaca nessas linguagens os ele- mentos “Bíblia, razão e experiência”.334 Uma breve e meramente quantitativa investigação i- nicial das obras de Wesley mostra quantos grupos distintos estiveram presentes nas suas di- versas iniciativas publicitárias.