• Nenhum resultado encontrado

A Lei Suplicy de Lacerda (1964) e a ausência da UEP na cena política de

5   ESTRATÉGIAS DE FORMAÇÃO DAS LIDERANÇAS ESTUDANTIS DA

5.4   EDUCAÇÃO INFORMAL: POLÍTICO-PARTIDÁRIA 124

5.4.10   A Lei Suplicy de Lacerda (1964) e a ausência da UEP na cena política de

Nas eleições municipais de 1958, houve uma tentativa vã de se eleger um vereador como representante dos estudantes. A referida empreitada teve sucesso quatro anos depois, em 1962, com a eleição de Dercílio Ribeiro Amorim, então presidente da UEP. Em 1966 e 1970, a UEP não participou diretamente das eleições municipais, assim como também não surgiu um novo líder político no rol das lideranças estudantis da UEP.

É possível tentar compreender tal situação por vieses diferentes. A primeira explicação seria a simples ausência de novos líderes estudantis na política partidária patense nesse período, fazendo com que muitos estudantes acabassem apoiando os antigos líderes da entidade, candidatos às eleições naquele ano — no caso, Dercílio Ribeiro Amorim, a vice- prefeito e Altamir Pereira da Fonseca, a vereador, ambos eleitos pela UDN204.

Por outro lado, a outra explicação seria a Lei Suplicy de Lacerda, que proibia a participação de entidades representativas de estudantes de militarem na política partidária. Sobre a eleição de 1966, Flaviano Corrêa Loureiro (2009) confirma que “não houve

204 A vitória de Dercílio Ribeiro Amorim foi importante para o segmento estudantil da cidade, pois, mesmo não integrando mais a UEP, ele continuou sendo um parceiro da entidade em suas reivindicações. Altamir Pereira da Fonseca foi o primeiro secretário da UEP e também compôs os quadros diretivos do CCRB nos anos anteriores. Em 1968, Altamir da Fonseca apresentou à câmara municipal de vereadores um projeto de lei em que a UEP e o CCRB foram declarados entidades de utilidade pública. (Cf. UEP e CCRB declarados de Utilidade Pública.

envolvimento da UEP”. Explicitemos a lei: no artigo 14º, a legislação trazia a seguinte redação: “É vedada aos órgãos de representação estudantil qualquer ação, manifestação ou propaganda de caráter político-partidário [...]”; o artigo 18º deixa claro como devia se portar uma entidade estudantil: “Poderão ser constituídas fundações ou entidades civis de personalidade jurídica para o fim específico de obras de caráter assistencial, esportivo ou cultural de interesse dos estudantes”; o artigo 20º obriga à reforma de Regimentos e Estatutos das entidades ou órgãos de representação estudantil já constituídos, e pede que os mesmos sejam submetidos às autoridades competentes em prazo improrrogável de 60 dias para possíveis adequações205.

Nesse sentido, ainda que a UEP possuísse líderes estudantis com capital eleitoral (não duvidamos disso) e disposição para pleitearem uma vaga no legislativo patense, a entidade não poderia envolver-se diretamente na campanha dos seus candidatos, pois estava cerceada por lei federal.

Mesmo assim, as eleições municipais de 1966 tiveram importância significativa para a história, senão do movimento estudantil patense (por materializar, uma vez mais, os sonhos de seus ex-líderes), ao menos para dois de seus principais personagens, Dercílio Ribeiro de Amorim e Altamir Pereira da Fonseca. A vitória de ambos os candidatos foi importante para a UEP, pois ampliou a rede de influências dessa entidade no cenário local, facilitando a realização de antigos projetos como, por exemplo, o início do processo que desencadearia na construção da sede própria206.

Situação semelhante ocorreu nas eleições municipais de 1970. Independente do contexto político da época e das motivações das lideranças estudantis, o novo Decreto-lei nº

205 BRASIL, Lei nº 4.464, de 9 de novembro de 1964. Disponível em: <http://www.prolei.inep.gov.br/exibir.do;jsessionid=A58D61BCD78A3EFDD2891E9BDBAA4375?URI=http% 3A%2F%2Fwww.ufsm.br%2Fcpd%2Finep%2Fprolei%2FDocumento%2F-4304781947315736058>. Acesso em: jan. 2009).

206 “Dia 7 próximo passado foi um dia histórico para a classe estudantil patense. É que naquela data, os estudantes iniciaram as bases de um movimento visando a construir a sua sede social. A primeira dificuldade que estavam encontrando prendia-se à aquisição do terreno. Mas na mesma noite do dia 7, o Sr. Prefeito Municipal, através do Vice-Prefeito, Dercílio Ribeiro de Amorim, do Dr. Antônio Cirino Sobrinho e do autor dessa coluna, prometia doar à U.E.P. o terreno a que tanto aspirava [...] Para edificar a sede social da UEP, era necessário adquirir um terreno, bem como todos os materiais necessários à construção do prédio também deveriam ser arrecadados. Assim, entusiasmados com a promessa do Vice-Prefeito Dercílio Ribeiro Amorim de doar à UEP um terreno, cogitava-se, a partir de então, realizar uma campanha para conseguir os materiais de construção, a fim de tornar o antigo sonho uma realidade. “Aconselhamos os nossos jovens estudantes que evitem realizar movimentos para conseguir todo o numerário para a edificação da Sede Social da Entidade. Seria mais interessante que à proporção que erguessem os alicerces fôssem feitas campanhas com títulos mais ou menos assim: campanha dos tijolos, dos vidros, das telhas, da areia, do serviço de carpintaria, da pintura dos móveis, etc. Dessa maneira, acreditamos que mesmo uma pessoa muito humilde possa colaborar com os nossos tão vibrantes jovens estudantes”. [sic]. (SEDE Social da UEP. Folha Diocesana, 15 jun. 1967, nº. 411, p. 1). Apesar da aquisição do terreno a sede própria não foi construída, não nesse ano e nesse terreno. Somente em 1974, ela, enfim, foi edificada, mas em um outro local.

228, de 28 de fevereiro de 1967, que revogou e substituiu a Lei Suplicy de Lacerda, confirmou a proibição do envolvimento das entidades estudantis na política partidária207. Nas eleições daquele ano, Dercílio Ribeiro Amorim, então vice-prefeito, foi novamente eleito, dessa vez como vereador.

207 De acordo com o artigo 11º do Decreto-lei nº 228, “É vedada aos órgãos de representação estudantil qualquer ação, manifestação ou propaganda de caráter político, partidário, racial ou religioso, bem como incitar, promover ou apoiar ausências coletivas escolares”. (BRASIL, Decreto-lei nº 228, de 28 de fevereiro de 1967. Disponível em: http://br.vlex.com/vid/lei-fevereiro-reformula-estudantil-34166304>. Acesso em: jan. 2009)