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5   ESTRATÉGIAS DE FORMAÇÃO DAS LIDERANÇAS ESTUDANTIS DA

5.2   A IGREJA CATÓLICA E A AÇÃO CATÓLICA BRASILEIRA (ACB) EM

5.2.1   A Missa dos Estudantes 102

A partir de agosto de 1958, durante a campanha de Waldemar Mendes para vereador nas eleições municipais, o Pe. Almir Neves de Medeiros passou a celebrar uma missa semanal destinada exclusivamente aos discentes e docentes de Patos de Minas, denominada Missa dos

Estudantes, que perdurou ao longo de toda a década de 1960. Uma crônica escrita por Waldir

Nascimento e lida pelo estudante Edson Nunes no programa de rádio “O Tempo Marcha”, da Rádio Clube de Patos, publicada na imprensa local, comentava a celebração para a comunidade patense.

Pe. Almir iniciou, na catedral, o Santo Ofício da Missa dos Estudantes, aos domingos e Dias Santos de Guarda. Somente para estudantes e professores, e nenhuma pessoa mais. Assistimos a primeira, toda ela recitada em voz alta, numa dialogação belíssima. De um lado, as jovens estudantes e suas mestras. Do lado direito, os estudantes rapazes e seus professores. E durante todo o respeitoso e sacrossanto ofício que repete as cenas sagradas do Calvário de Cristo, estudantes, professores, vão acompanhando as diversas partes da Missa enquanto o sacerdote a celebra no altar. É de uma beleza admirável. Vale a pena tomar parte nesse sagrado ofício. Pode-se dizer mesmo que é u’a Missa diferente, mais impregnada de fervor, mais assistida de fé dos participantes... [sic]. (A MISSA..., 1958, p. 6)148

Acerca da importância da celebração desta missa, assim como também do papel do Pe. Almir Neves de Medeiros junto aos estudantes patenses, Agostinho Rodrigues Galvão afirma que,

“O padre Almir tinha uma influencia muito grande com a juventude. Tanto assim, que ele era chamado de padre dos jovens. Então, ele morava lá na casa episcopal e lá tinha um departamento de receber os estudantes. Ele tinha orientação espiritual com estudantes...”. (GALVÃO, 2009)

Vários ex-militantes estudantis da UEP admitem a importância dessa missa e a grande influência do Pe. Almir Neves de Medeiros sobre a comunidade estudantil de Patos de Minas. Para Dercílio Ribeiro Amorim, “a participação do padre Almir, através da missa do estudante, foi fundamental para que outros movimentos sadios pudessem acontecer durante muitos anos pela frente, porque ele dava o recado” (AMORIM, 2009). Marcos Martins de Oliveira, por sua vez, relata: “mantínhamos essa parte religiosa dentro do movimento estudantil. [...] Padre Almir foi uma presença marcante na historia de Patos, sobretudo na formação da juventude” (OLIVEIRA, 2009). Já Jurandi Gomes Ferreira afirma que “padre Almir era um conselheiro nosso, num sentido de formação, entendeu? De despertar para a vida, para o bom caminho, paras as boas coisas... [...] Qualquer dúvida que a gente tinha, a gente procurava era o padre Almir” (FERREIRA, 2009). Segundo Paulo Amâncio de Araújo, “[...] o padre Almir celebrava essa missa com a ajuda da UEP, principalmente da UEP, e a igreja estava sempre lotada! [...] Ele conseguia dominar o ímpeto nosso de estudante” (ARAÚJO, 2009). Sobre a realização da missa no ano de 1968, o ano da contestação, o ex-militante da UEP faz algumas considerações:

O padre Almir sabia que ali dentro da Igreja estava um barril de pólvora que podia estourar a qualquer momento! Então ele usava a missa e os sermões que ele fazia pra abrandar o ambiente. Eu acho que o papel principal da missa foi esse; manter o estudante dentro de uma calmaria possível. Porque, na época, a coisa já estava em ebulição! Parecia aqueles vulcões adormecidos, mas já estava dando aqueles tremores de terra e o padre Almir sabia do risco! [...] Então, o padre Almir conseguiu, com o apoio total da UEP, fazer com que essa missa fosse um ponto... fosse a ‘bandeira branca’ do movimento estudantil. [sic] (ARAÚJO, 2009)

Carlos Roberto Ribeiro avalia o religioso como um amigo do jovem, um amigo do estudante:

Ele punha aquele estudante pra frente. Ele dava as idéias... ele tinha umas idéias novas! [...] No bom sentido, padre Almir era um agitador! Ele queria agitar o jovem. [...] Eu acho que isso é que dava uma motivação maior do crescimento dos movimentos que Patos de Minas tinha. Ele foi aquela mola pro jovem sair da apatia e brigar, e não ficar com medo do momento que estávamos que era a Revolução. (RIBEIRO, 2009)

Segundo Jorge Caixeta,

O Almir foi um grande educador... ele foi, vamos dizer, pelo movimento da JEC, e eu ouvia ele contar... a influencia da igreja com formadora, ela entrou pesado pra formar a UEP, sem duvida! E a cabeça disso em Patos foi o padre Almir. O Almir conseguia com a fala levantar o movimento estudantil na cidade. (CAIXETA, 2009)

Nos depoimentos desses ex-dirigentes da UEP fica clara a presença efetiva do Pe. Almir Neves de Medeiros junto às lideranças estudantis. Os termos “conselheiro”, “companheiro” e “educador” traduzem o que o padre representava na comunidade estudantil patense. A celebração da Missa dos Estudantes era o momento oficial da relação estabelecida entre o religioso e os estudantes; funcionou como um veículo de transmissão de crenças, costumes e valores necessários à vivência em sociedade, mas sempre respeitando os limites e possibilidades de ação dos estudantes frente à realidade posta no cenário patense. Ademais, a Missa dos Estudantes serviu para fortalecer o sentimento de união, solidariedade e identidade entre os próprios estudantes, motivando a sua participação em inúmeras atividades de cunho político, econômico, social e cultural realizadas ao longo da história da UEP.

Outro evento que comprova a influência de Pe. Almir Neves de Medeiros sobre a comunidade patense é a Festa Nacional do Milho (Fenamilho), em sua 51ª edição atualmente. Em entrevista concedida ao Jornal Patos Urgente, em 1967, o padre se diz o idealizador da primeira edição da festa, em 1959149 , cujo objetivo era a aquisição de recursos para a compra de um prédio onde pudesse funcionar o recém-criado Colégio Municipal (posteriormente denominado Colégio Estadual Professor Zama Maciel). O religioso ressalta também o papel da ação estudantil na realização do evento.

De fato: a idéia foi minha. Eu fora o idealizador desta festa. Os estudantes estão profundamente ligados à criação da festa do milho. [...] Nós queríamos arranhar dinheiro para a compra de um prédio, para o funcionamento imediato do Colégio Municipal, recém fundado. [...] A prefeitura não tinha verbas. [...] procurávamos todos os meios de angariar dinheiro para isso. Pensamos em organizar bailes e festas e tudo mais. Nada servia. Foi então que me surgiu a idéia da Festa do Milho. Lendo a da Uva em uma revista, pensei em organizar coisa semelhante em Patos. Marcamos uma reunião do Centro Cultural Rui Barbosa e foi o mesmo que colocar fogo no pasto... Tudo se transfigurou. (COURY, 2008, p. 37).

O que interessa observar é que a Festa do Milho de Patos de Minas constituiu o primeiro evento na cidade, com o objetivo de angariar fundos para uma demanda estudantil, no caso a aquisição de prédio para a instalação de uma escola pública. No entanto, conforme relata o próprio Pe. Almir Neves de Medeiros na mesma entrevista, o dinheiro arrecadado

149 Há, porém, outra versão sobre o surgimento da Festa do Milho. De acordo com o artigo intitulado “Festa Nacional do Milho – Fenamilho (Patos de Minas/MG)”, publicado no site de divulgação cultural, Paragon Brasil Edições e Produções Ltda. (disponível em: <http://www.paragonbrasil.com.br/conteudo.php?item=606>), o evento teria começado como uma festa estudantil das Escolas Combinadas “Monte Castelo”, (atual Escola Estadual João Barbosa Porto), no povoado de Bom Sucesso, (atual Distrito de Bom Sucesso), em 29 de junho de 1956. A idealizadora e executora da primeira festa teria sido a Professora Célia Santos de Lima. Góes (1997) atesta a pertinência dessa versão, pois, conforme o depoimento da professora Célia Santos, “a intenção era colocar em prática a idéia da Festa do Milho Verde, presenciada em Ibirité/MG. Dessa forma, homenagearia a grande produção de milho de Patos de Minas e, acima de tudo, homenagearia o homem do campo”.

com a festa não pôde ser usado para a compra do prédio onde funcionaria o Colégio Municipal, mas teria sido empregado em outra causa nobre, o Seminário Diocesano Pio XII.