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5   ESTRATÉGIAS DE FORMAÇÃO DAS LIDERANÇAS ESTUDANTIS DA

5.4   EDUCAÇÃO INFORMAL: POLÍTICO-PARTIDÁRIA 124

5.4.9   A vitória nas eleições municipais em 1962 127

Os discursos de “independência partidária” sustentados durante a eleição de 1958 persistiram ao longo dos quatros anos que precederam a eleição de 1962. Prova disso foi a

fundação de um novo partido político em Patos de Minas naquele ano, o Partido Democrata Cristão (PDC), pelo qual se candidatou e foi eleito vereador o presidente da UEP, Dercílio Ribeiro de Amorim, com 446 votos198: “Eu fui eleito com uma votação muito boa, expressiva, e tive o apoio da classe” (AMORIM, 2009).

Segundo Marcos Martins de Oliveira, Pe. Almir Neves de Medeiros, apesar de não influenciar os jovens em relação à política partidária, teria tido um papel importante na fundação do PDC em Patos de Minas199:

[...] Ele tentou articular um partido em Patos que foi o PDC, de onde o Dercílio surge. Pe. Almir foi um dos fundadores desse PDC, que era um partido que tava muito em voga, começando no Brasil. [...] Ele tentou romper com o que havia de UDN e PSD. Ele foi buscar uma alternativa no meio e não conseguiu! [...] Depois (posteriormente) ele se recolhe em termos partidários. (OLIVEIRA, 2009)

Dercílio Ribeiro Amorim, até aquela época, havia sido o vereador mais jovem da história do município; além se ser presidente da UEP, ele também integrava o CCRB. Sua vitória nas eleições para o legislativo municipal pode ser considerada uma demonstração da força do movimento estudantil patense, servindo para materializar, pela primeira vez, as intenções e os sonhos de muitos líderes estudantis dessa entidade, qual seja, a carreira político partidária.

A trajetória política tanto estudantil quanto partidária de Dercílio Ribeiro Amorim teve início no final de década de 1950. Suas primeiras aparições públicas foram noticiadas pela imprensa no ano de 1959, quando foi preso em decorrência de um episódio curioso:

Há pouco, por exemplo, prendeu-se um estudante somente porque observava a prisão de umas ciganas. [...] Mas esperamos que o soldado agressor seja punido devidamente, se ainda Patos merecer o nome de cidade de lei e de ordem. Bela e exemplar foi a atitude dos estudantes em remetendo um baixo-assinado ao Delegado de Polícia, pedindo providências nêsse sentido. [sic]. (OBSERVATÓRIO..., 1959, p. 8)200

Compreendemos que a situação referida acima foi constrangedora e desagradável por um lado, mas, por outro lado, serviu para promover o estudante entre seus pares, uma vez que foi realizada uma manifestação favorável a sua libertação e contra a atitude do soldado que o havia prendido de forma autoritária e intransigente. Na edição seguinte do mesmo jornal, o

198 Os candidatos a prefeito e vice pelo PDC, os médicos Paulo Ximenes de Moraes e Benedito Corrêa da Silva Loureiro, respectivamente, perderam as eleições, saindo vitorioso o PSD, do candidato a prefeito Pedro Pereira dos Santos.

199 Conforme o artigo ANTÔNIO Paulo Ximenes de Moraes – “Doutor Ximenes”, disponível em: <http://www.paragonbrasil.com.br/conteudo.php?item=1945>, (acesso em: 27 mai. 2009), o PDC foi “criado pelo saudoso Pe. Almir Neves de Medeiros, na tentativa de amenizar a política entre UDN e PSD em Patos de Minas”.

caso foi novamente referendado: “Como ficou dito no numero anterior do Observatório não descansaríamos enquanto os superiores do soldado Corvino não o punissem por ter maltratado e prendido o estudante Dercílio Ribeiro de Amorim”. [sic]. (O CASO..., 1959, p. 8)201.

Não houve resposta oficial da polícia, divulgada na imprensa, ao pedido das lideranças estudantis para a reparação da prisão do jovem Dercílio Ribeiro Amorim e punição do soldado responsável. Diante do silêncio da polícia, foi enviado novamente o seguinte recado àquela instituição:

Se querem ser rigorosos, tratando uma pessoa humana como um irracional, comecemos de baixo. Comecemos fechando as casas de jogatina, cuidando dos menores desamparados, prendendo os ladrões de bicicletas, desarmando os que não deviam andar armados, engaiolando os criminosos, enfim, começando a cumprir a lei do alto, de onde vivem os nossos policiais. Se fizer isso, aí então nos calaremos e pediremos ao nosso “caro” soldadinho de chumbo, usar uma “coleira” para trancafiar os estudantes que lhe ferem a alta “personalidade” com um gesto, uma palavra ou mesmo um olhar. [sic]. (O CASO..., 1959, p. 8)202

Chama atenção nesse trecho a ousadia das lideranças estudantis ao referirem-se às autoridades policiais. Essa situação acabou desencadeando uma enorme sensibilização do público estudantil em favor da “Causa Dercílio”. Aos poucos, o jovem estudante foi aumentando seu prestígio, tanto que, dois anos depois do evento de sua prisão, apresentou-se como candidato natural à presidência da UEP. Exímio orador, Dercílio Ribeiro Amorim foi eleito presidente da entidade, e, no ano seguinte, alçou vôos maiores ao disputar e conquistar uma vaga no legislativo patense pelo PDC. Consolidada sua vitória, Dercílio Ribeiro Amorim recebeu uma homenagem do CCRB:

Não desmereça nunca a confiança dos moços. Dê testemunho de fé, de amor, de esperança e de mocidade aos que se lhe avantajam em anos. Cumprindo, como presumo, com honra e dignidade, o seu mister, as raízes que o Centro Cultural Rui Barbosa fêz desenvolver-se em sua pessoa irão, tenho certeza, transformar-se em flôres e frutos. [sic]. (DISCURSO..., 1962, p. 6)203

Por meio desse discurso, os companheiros de Dercílio Ribeiro Amorim delegavam a ele uma responsabilidade ainda maior em relação às causas sociais do município (principalmente as juvenis), no pleito municipal que estava por vir. Os centristas atribuíram a sua entidade grande contribuição para a vitória que o presidente da UEP e integrante do CCRB acabara de conquistar, pois consideravam a CCRB uma das responsáveis pela

201 O CASO Dercílio. Folha Diocesana, 31 mai. 1959, nº 81, p. 8. 202 Ibidem, loc. cit.

203 DISCURSO proferido pelo estudante Altamir Pereira da Fonseca na sede do CCRB na ocasião em que esta Entidade homenageava o Centrista Dercílio Ribeiro de Amorim, eleito vereador nas eleições próximas passadas.

formação intelectual dos jovens, potenciais eleitores de Dercílio Ribeiro Amorim. De certa forma, a vitória do militante, além de ter sido fruto da integração do movimento estudantil em Patos de Minas, também contribuiu para o fortalecimento do mesmo.

Por outro lado, pode-se dizer que, em linhas gerais, o sucesso do PDC em Patos de Minas foi parcial. Elegeu Dercílio Ribeiro Amorim vereador, mas não teve um resultado satisfatório para o executivo. Apesar do partido não ter conseguido o resultado esperado nas eleições municipais de 1962, o principal motivo que levou à sua extinção foi o Ato Institucional nº 2, decretado pelo Regime Militar, em 1965.

Nesse sentido, a fundação do PDC pode ser considerada uma tentativa de se constituir uma nova via política em Patos de Minas. Entretanto, o desfecho dado à democracia pelos militares nos impossibilita de fazer análise mais específica sobre a história do partido no município.

5.4.10 A Lei Suplicy de Lacerda (1964) e a ausência da UEP na cena política de Patos de