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3   A CONSTITUIÇÃO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL SECUNDARISTA

3.4   O PAPEL DA IMPRENSA 57

A imprensa local85 — especialmente a Rádio Clube de Patos e o jornal Folha

Diocesana — teve participação significativa no processo de popularização das idéias e ações

83 O jornal Folha Diocesana teria tido publicação mensal apenas até o final do ano de 1956; a partir de 1957 passou a ser publicado semanalmente. Nas suas duas primeiras edições teve como responsável o Pe. Josias Tolentino de Araújo, passando, a partir da terceira edição, para a direção do Pe. Almir Neves de Medeiros, que ampliou significativamente as medidas do suporte do jornal: o formato do periódico passou de 22 cm de largura por 32 cm de comprimento para 32 cm de largura por 45 cm de comprimento.

84 AUTO-Apresentação. Folha Diocesana, 28 out. 1956. nº 1. p. 1.

85 A Rádio Clube de Patos foi inaugurada em 29 de novembro de 1940, após a legalização na capital do Brasil, então cidade do Rio de Janeiro, junto ao Departamento de Imprensa e Propaganda, DIP. Mesmo iniciando com um pequeno transmissor, ela foi a pioneira na radiodifusão da região do Alto Paranaíba. (Cf. A RÁDIO. Rádio

dos estudantes, uma vez que se tornou parceira na formação da entidade e na posterior consecução de seus objetivos. Não menos importante foi o Jornal dos Municípios: apesar de não estar diretamente ligado ao movimento estudantil, esse também divulgou as ações estudantis, quando lhe fosse solicitado ou conveniente.

Em relação à Rádio Clube de Patos, a parceria foi facilitada pelo fato de que vários estudantes compunham o quadro de funcionários da estação, dentre os quais Rubem Corrêa da Costa, que exercia o cargo de diretor, viabilizando sobremaneira o acesso de seus colegas aos microfones da Rádio na interlocução com a comunidade patense e região.

De acordo com Amorim (2009), além da abertura que os estudantes possuíam na Rádio, eles contavam ainda com um programa específico denominado A Hora da Estudante, criado no ano de 1962. Esse programa noticiava as ações estudantis, especialmente da UEP e do CCRB, mas também quaisquer informações relacionadas à cultura e à educação. O rádio, assim como a imprensa escrita, serviu como instrumento de persuasão social, permitindo a inculcação dos valores defendidos pelos estudantes.

O Jornal Folha Diocesana, órgão de imprensa da Igreja Católica local, possuiu durante muito tempo uma coluna especial para noticiar as ações dos estudantes, intitulada

Observatório Estudantil. O periódico também contava com estudantes em seu quadro

profissional, dentre os quais, destacava-se o jovem Agostinho Rodrigues Galvão, que exercia a função de revisor no jornal e que, mais tarde, veio a ser eleito o primeiro presidente da UEP. Mas, sem dúvida alguma, um dos maiores aliados dos estudantes na Folha Diocesana foi seu próprio diretor, o Pe. Almir Neves de Medeiros.

Logo, o jornal Folha Diocesana mostrou-se um importante instrumento de divulgação das ações estudantis patenses. Por meio de seus registros, pudemos acompanhar as ações estudantis ocorridas no período que interessa a nossa pesquisa, ora com maior, ora com menor cobertura sobre os fatos em questão. Nesse sentido, há que se referendar a importância da imprensa escrita na pesquisa histórica. Ao ser abordada como fonte para compreensão de uma trama qualquer, ela apresenta apenas uma versão da realidade, mas pode contribuir bastante

2008). No entanto, é necessário ressaltar que os aparelhos de rádio ainda não haviam sido popularizados na cidade nas décadas de 1950 e 1960, basicamente em função do elevado valor econômico do produto no mercado. Nessa época, aparelhos de televisão eram ainda mais escassos e de difícil acesso do que os de rádio. A Folha Diocesana foi fundada em 28 de outubro de 1956 por influência do Bispo Diocesano, D. José André Coimbra. Possuía edição semanal e tiragem de 2.500 exemplares. O Jornal dos Municípios foi fundado em 24 de maio de 1956 pelo jornalista José Maria Vaz Borges. Possuía edição semanal e tiragem de 5.000 exemplares nos primeiros anos de sua edição. Entretanto, a tiragem foi reduzida para 3.000 no ano de 1963, quando foram interrompidas suas edições. Posteriormente, reaparece em 1968 com tiragem de 2.000 exemplares. Ambos constituíram-se nos maiores e mais influentes veículos de comunicação escrita da cidade no período em questão. Vale ressaltar que a população urbana do município nas décadas de 1950 e 1960 eram, respectivamente, 10.324 e 37.203 habitantes.

para elucidação de fatos. Carvalho (2004, p. 47) legitima tal proposição ao afirmar que “a imprensa periódica vem sendo (re)visitada por pesquisadores pelo fato de, na maioria das vezes, estar diante de reflexões muito próximas dos acontecimentos”.

É notório o poder e a influência exercidos pela imprensa na sociedade, tanto que alguns críticos chegam até a aferir-lhe, informalmente, o status de quarto poder. Para Melo (1994),

[...] as mensagens jornalísticas penetram na sociedade, bem como os demais meios de reprodução simbólica, são ‘aparatos ideológicos’, funcionando, se não monoliticamente atrelados ao Estado, (...) pelo menos atuando como uma ‘indústria da consciência’ (...) influenciando pessoas, comovendo grupos, mobilizando comunidades, dentro das contradições que marcam as sociedades. São portanto veículos que se movem na direção que lhes é dada pelas forças sociais que os controlam e que refletem também as contradições inerentes às estruturas societárias em que existem. (MELO, 1994, p. 20, apud CARVALHO, 2004, p. 47).

Foi nessa perspectiva que utilizamos os jornais para compreender o processo de constituição do movimento estudantil em Patos de Minas. Analisamos os fatos e suas respectivas circunstâncias, conforme apresentados nos periódicos, porém, conscientes de suas limitações no que diz respeito à explicação da estrutura social vigente. Como salienta Carvalho (2004, p. 48), o jornal não é neutro nem imparcial perante os acontecimentos e não está à margem da realidade social e política: “na verdade, constitui-se num instrumento de veiculação e manipulação de interesses diversos (públicos e privados), passa a atuar na vida social e, consequentemente, não fica alheio à realidade histórica, na qual está inserido”.